Brésil: Amérindiens d’Amazonie: Asurini et Araras (Acervo PQPBach)

eq71x4Mundos sonoros dos índios Asurinis: música da guerra, da aliança e dos espíritos.

Contactados em 1971 pelos karai (isto é, os brasileiros não-índios, os brancos), os Asurinis formam uma sociedade, ou antes, uma civilização, de cerca de 60 pessoas, localizada no estado do Pará, às margens do rio Xingu. São de língua tupi, como outros grupos ameríndios desta região isolada, onde os contatos pacíficos com os brancos foram tardios. Como a maior parte dos ameríndios da Amazônia, possuem uma economia baseada na agricultura (milho, mandioca, feijão), na caça e na pesca. Do ponto de vista sociológico, trata-se de uma sociedade sem instituições hierárquicas. O sistema de parentesco desempenha um papel central num jogo político complexo onde a prática musical aparece com frequência. Até o contato com os brancos, os Assurinis moravam em grupos separados, gozando de grande autonomia territorial; depois, foram agrupados numa só aldeia.

Desde então, dizimados pelas epidemias (gripe, tuberculose) que causaram sua fragilidade demográfica atual, os Asurinis reagiram incrementando suas práticas rituais tradicionais e em particular as xamânicas, e ao mesmo tempo integrando alguns artefatos dos brancos (utensílios, fuzis etc.) à sua cultura material. Cerca da metade dos homens adultos são puje (a palavra tupi de onde veio o português “pajé”) — isto é, curandeiros, mas também especialistas das dimensões cosmológicas da cultura asurini; os puje desempenham também com frequência papel político importante.

De maneira geral podemos dizer, como P. Menget no seu disco dedicado às músicas do Alto Xingu (Ocora C 580022), que nessas sociedades amazônicas a música não é autônoma: toca- se, canta-se e dança-se para organizar as interações sociais (evidenciando o importante papel político da prática musical), e/ou as interações entre homens e espíritos. A um tempo carregadas de sentido e cheias de humor, as práticas musicais coletivas, executadas muitas vezes entre os Asurinis sem nenhum espectador humano, constituem um elemento fundamental destas minúsculas civilizações.

Para os Asurinis, as produções musicais são centradas em três rituais principais : Inaraka, pajelança onde o canto desempenha um papel fundamental, tule, grande e complexo ritual centrado num conjunto de instrumentos do tipo do clarinete (cujo nome também é tule), e tiwagawa, dança cantada cujos temas são em parte ligados à guerra.

35c3q1dMundos sonoros dos índios Araras: músicas do ritual de retorno da caça.

Os Araras são um povo de língua caraíba que vive às margens do rio Iriri, afluente do Xingu, no estado do Pará. Em 1987, sua população era de 84 pessoas. A construção da rodovia Transamazônica (1970-71) e a chegada concomitante da “fronteira de expansão” da sociedade brasileira provovou uma dramática situação de guerra que iria durar dez anos. Esta se concluiu com a “pacificação”, pela FUNAI, da maioria dos Araras em 1981, 1984 e 1987. Como seus vizinhos, os Araras tem como atividades econômicas a caça, a pesca e a agricultura. A caça é extremamente valorizada entre os Araras, mesmo se sua importancia quantitativa na alimentação é menor que a dos vegetais. Como os Asurinis, estes formam uma sociedade sem instituições, onde o parentesco e os grupos residenciais organizam uma vida política complexa e movimentada ao sabor das alianças e querelas.

O ritual de volta da caça, do qual apresentamos aqui um “resumo sonoro”, participa deste jogo político, pois, como o tule assurini, opõe dois grupos : convidados e anfitriões. Os primeiros trazem a cerveja, os segundos a carne defumada, resultado de uma expedição de caça itinerante na floresta durante quinze dias. Uns e outros produzem músicas próprias, tocadas em instrumentos diferentes. Estes últimos são feitos de bambu, com a exceção dos tsingule, feitos de osso de aves.

Depois da preparação dos instrumentos na aldeia — fabricação dos tubos das erewepipo (flautas de Pã) e das palhetas dos tagat tagat (clarinetes), os participantes começam durante a tarde a primeira fase do ritual. As mulheres prepararam o pito (cerveja de mandioca doce) e os músicos começam a tocar tranquilamente alternando as pecas de tagat lagar (faixa 8), o consumo de pito e as peças de erewepipo (faixa 9). A noite chega e, pouco a pouco, homens, mulheres e crianças se reúnem em torno dos músicos, sem prestar real atenção à execução das peças – muito repetitivas, pois toca-se uma só forma de lagar togar e uma de erewepipo – mas aproveitando este momento de convívio para beber, rir e conversar. E a noite passa, com alguns momentos de repouso e um estado de ebriedade que não cessa de crescer…

De repente, exatamente ao nascer do sol, às últimas notas de uma peça de tagat tagat bem regada a pita, os caçadores invadem a aldeia, simulando um ataque e flechando as casas. A cena (faixa 10) é impressionante e muito rápida : os caçadores se reúnem na praça central e começam uma dança circular (fotografia da capa), gritando, batendo com os pés no chão e soprando seus tsingule (apitos). A gravação desta sequência se fêz inicialmente sem a presença do etnólogo, pois este, certo de que se tratava de um ataque real, dera com o pé na tábua, deixando atrás de si o gravador…

Um grande repasto coletivo, onde se consome a carne defumada trazida pelos caçadores, reúne em seguida o conjunto da aldeia, anfitriões e convidados. Aqueles executam em seguida suas músicas, com trompas tereret (faixa 12) e cantos aremule (faixa 11). O pita rola à vontade e o ritual termina pouco a pouco na tarde.

Amerindiens d’Amazonie
Índios Asurini do Xingu
01. Tiwamaraka
02. Tiwagawa – a dança do povo-onça
03. Ritual Tule 4. Kaui Tule
04. Ritual Tule 3. Itu Tule
05. Ritual Tule 2. Urukuku Tule
06. Ritual Tule 1. Warape Tule
Índios Asurini do Trocara
07. Musique Instrumentale
Índios Araras do Xingu
08. Música do ritual de retorno da caça 1. Tagat Tagat
09. Música do ritual de retorno da caça 2. Erewepipo
10. Música do ritual de retorno da caça 3. Arrivée des Chasseurs
11. Música do ritual de retorno da caça 4. Aremule
12. Música do ritual de retorno da caça 5. Tereret

Amerindiens d’Amazonie – 1990

CD do acervo do musicólogo Prof. Paulo Castagna. Não tem preço !!!

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XLD RIP | FLAC 396,5 MB | HQ Scans 33,3 MB |

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MP3 | 320 kbpm |192,6 MB – 1,1 h
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Boa audição.

Avicenna

20 comments / Add your comment below

  1. Avicenna ficou um tempo fora, lá com seus problemas internéticos, mas quando volta, volta com uma qualidade assustadora e, ainda por cima, ataca de batelada! Quatro álbuns geniais numa só tacada!
    Parabéns, Avicenna! “Baitas” postagens!!

  2. Estranho nObre Avicenna…estou aqui no “Brésil: Amérindiens d’Amazonie: Asurini et Araras” após ter clicado em “Musica indigena” na listagem ao lado, e…só vejo os 2 links de download do rapidshare…isso tbm acontece ao querer reacessar os novos posts dos discos indígenas…qual o mistério?
    abs…

    1. Você deve estar acessado essa postagem, dOtruk, através de um link antigo que você colocou como favorito ou guardou para acessar mais tarde.
      Experimente acessar a postagem indo para a lista à sua direita, Categorias, escolha -Música Indígena e escolha a sua postagem.

      Me avise se funcionou.

      Um abraço,

      Avicenna

  3. Prezado Avicenna! Cliquei no link ao lado seção Música indígena…e este aqui ainda me aparece apenas com links para download ligados ao rapid…onde está nosso PQP…hein?
    abs…

  4. Mas hein meu nobre Avicenna? Voce já sabe que acontece d’eu clicando no link ao lado Musica indígena e vindo aqui neste “Brésil: Amérindiens d’Amazonie: Asurini et Araras” e até mesmo nos outros que eu já consegui baixar pelo PQP…e só conseguir acessar seus downloads no antigo link, do rapid? Ajude-me por favor…acho que só vereri este no PqP se acessar uma resposta sua a este coment…não sei.

  5. OpA! Agora consegui! Através daquele link renovado! vaLeu demais meu caro Avicenna!! A propósito, sabe dizer se os links de jazz foram repostos no PqPshare tbm?

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