Música Contemporânea – parte 1: Olga Neuwirth (Lost Highway, Vampyrotheone…)

É difícil ter noção das coisas quando estamos no meio de um redemoinho. E falar de música contemporânea é pior que isso. Nossa música, muitas vezes, não é necessariamente “moderna”, temos hoje ótimos compositores que pararam em Sibelius. Tem até quem ache Boulez um charlatão ou aqueles que nunca tiveram qualquer afeição com a música de Schoenberg (John Adams, por exemplo). As correntes musicais estão tão fragmentadas que um só compositor pode representar todo um modelo. Alfred Schnittke passou por uma puta crise no início dos anos 1970. O que fazer quando todas as portas já tinham sido abertas? A sua sinfonia n.1 foi mais ou menos a representação dessa situação. O poliestilismo que, fundamentalmente, faz uso de todas as correntes já existentes foi sua única saída. Mas como não cair numa obra que soe como retalhos de outros compositores? Na verdade, não podemos afirmar que este fenômeno é apenas da nossa época: ouvimos Buxtehude na obra de Bach, Haydn na obra de Beethoven, Schumann na obra de Brahms, Wagner em Schoenberg…mas esses compositores tinham um modelo que podiam explorar ou destruir. Hoje não há. Desta maneira, toda música escrita hoje é simplesmente pessoal e dificilmente será taxada de subversiva ou formadora de paradigma daqui pra frente. Depois dos 4´33´´ de Cage, só enfiando os dedos na tomada.

Nesta série vou lançar uma variedade de compositores relativamente jovens que vem se destacando nas salas de concertos e em outros meios. Todos compositores super competentes e que precisam ser conhecidos. Creio que todos eles já superaram esse peso do passado ou mesmo nunca tiveram. Ainda bem, pois tenho ouvido ótima música nesses últimos meses.

A primeira da lista é uma compositora – Olga Neuwirth. Nascida em 1968 na Áustria, Olga é uma mulher bastante competente e muito elogiada, vem fazendo concertos ao redor do mundo e, recentemente, algumas de suas obras vem sendo gravadas. Não diria que é discípula de Boulez, mas é quase isso. No entanto sua influências estão muito próximas também do cinema e da pintura. Escreveu uma semi-ópera baseada no filme de David Lynch – Lost Highway, uma de suas obras mais executadas e discutidas. Esta gravação que disponibilizo foi digerida num mês inteiro, mas as recompensas são enormes. Não vejo a hora de ver isso em vídeo.

Olga é formada também em música eletro-acústica. É criadora de uma espectro sonoro invejável e muitas vezes surpreendente. Sua música é muito visual (não é uma visão bonita de se ver). O segundo disco que trago pra vocês tem a parte instrumental de uma outra ópera – Bählamms Fest. Olga trabalha aqui com a ideia do medo, não necessariamente de algo, mas do medo do próprio medo. É preciso cuidado para ouvir isso aqui, mas não interpretem mal no início, a música te envolve até para mundos mais sutis e ternos. Olga Neuwirth já não é mais uma promessa.

Trago também um filme experimental de Viking Eggeling de 1924 com trilha sonora escrita pela Olga. Muito bacana.

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Faixas (Lost Highway):

Disco 1
1. Lost Highway, opera: Begin
2. Lost Highway, opera: Intro
3. Lost Highway, opera: Scene 1 [Part 1]
4. Lost Highway, opera: Scene 1 [Part 2]
5. Lost Highway, opera: Scene 2 [Part 1]
6. Lost Highway, opera: Scene 2 [Part 2]
7. Lost Highway, opera: Scene 2 [Part 3]
8. Lost Highway, opera: Scene 3 [Part 1]
9. Lost Highway, opera: Scene 3 [Part 2]
10. Lost Highway, opera: Scene 3 [Part 3]
11. Lost Highway, opera: Scene 4
12. Lost Highway, opera: Scene 5 [Part 1]
13. Lost Highway, opera: Scene 5 [Part 2]
14. Lost Highway, opera: Scene 5 [Part 3]
15. Lost Highway, opera: Scene 5 [Part 4]
16. Lost Highway, opera: Scene 5 [Part 5]
17. Lost Highway, opera: Scene 6 [Part 1]

Disco 2
1. Lost Highway, opera: Scene 6 [Part 2]
2. Lost Highway, opera: Scene 6 [Part 3]
3. Lost Highway, opera: Scene 6 [Part 4]
4. Lost Highway, opera: Scene 6 [Part 5]
5. Lost Highway, opera: Scene 7 [Part 1]
6. Lost Highway, opera: Scene 7 [Part 2]
7. Lost Highway, opera: Scene 8 [Part 1]
8. Lost Highway, opera: Scene 8 [Part 2]
9. Lost Highway, opera: Scene 9 [Part 1]
10. Lost Highway, opera: Scene 9 [Part 2]
11. Lost Highway, opera: Scene 9 [Part 3]
12. Lost Highway, opera: Scene 10 [Part 2]
13. Lost Highway, opera: Scene 11 [Part 1]
14. Lost Highway, opera: Scene 11 [Part 2]
15. Lost Highway, opera: Scene 11 [Part 3]
16. Lost Highway, opera: Scene 12

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Vampyrotheone/Hooloomooloo/Instrumental-Inseln (1 CD)

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Olga
A austríaca Olga Neuwirth (1968).

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14 comments / Add your comment below

  1. Eu aprecio algumas coisas ditas “contemporâneas” (ou é pós-modernas? avant-garde?), mas confesso que, de um modo geral, a nossa realidade musical (e a literária e a pintura também) ilustra bem o célebre poema de T. S. Eliot:

    “Fôrma sem forma, sombra sem cor
    Força paralisada, gesto sem vigor;”

    Os exageros de alguns compositores tornam essas manifestações sonoras sem forma, sem conteúdo, sem presença. Fôrmas sem forma, prontas para significar qualquer coisa justamente por não serem nada. Tal é o destino de 4’33 e outras tantas.

    Enfim, desprovida de forma, a música acaba por torna-se um mero meio para satisfazer a vaidade do compositor, a qual significa nada mais nada menos do que o desejo bobo pela ressonância social de sua “composição”. Paciência.

    Difícil mesmo é encontrar músicos que ainda valorizam a música ao invés de sua obsessão em ser estranho ou até mesmo bizarro.

    Abraço,

  2. Doni França,

    “Estranho” e “bizarro” não são elementos do nosso mundo?

    O negócio é ouvir pra julgar, se não simpatizar com essa, quem sabe na próxima.

    1. CDF,
      Sim, claro que sim; mas, ao menos para mim, em alguns casos, essa estranheza ou bizarrice não é provinda da música, mas do desejo do compositor de querer ser visto assim. Como se ele quisesse que eu gostasse da sua música dela pela sua, digamos, “proposta”. Veja, por exemplo, o caso de 4’33.

      Mas não pense que sou do tipo conservador ou progressista. Ao contrário do que possa ter ficado subtendido no primeiro comentário, aprecio bastante música contemporânea. Vàrese, Boulez e uma infinidade de bandas influenciadas por esses músicos (Univers Zero, Henry Cow, Present, Magma e etc) estão na minha lista de preferências.

      Continue postando. Sempre é bom saber por onde anda a música!

      Abraço

  3. Acho da maior importância o conhecimento da música contempo-
    rânia.Nossas antenas não devem estar apenas viradas para o
    passado.O difícil é vencer o estranhamento e perceber a rele-
    vância desta música.Frequentemente, os impasses que geraram
    estas obras sugerem que a sua fruição estética está mais no
    ouvinte do que na própria música.Este deslocamento pode ser
    até necessário mas raramente é satisfatório.Será que ainda há
    caminho para a grande música?Será que o melhor da música já
    foi composto?Nós ouvintes reclamamos da auto indulgência dos
    compositores.Será que também não somos auto indulgentes tam-
    bém na hora de ouvir esta nova música?

    1. Confesso minha vergonha de nunca ter ouvido falar de Valen – pensei até que era brincadeira, um cara fictício.

      Fui consultar a Wikipédia e o YouTube e tive de respeitar o norueguês de imediato. Dez a zero em Webern.

      Lindas as obras, mesmo sendo atonais (no caso, devo dizer: justamente por serem atonais).

      1. Também pesquisei e ouvi alguma coisa do tal Valen e logo inferi: a música do cara é realmente do CARALHO!!!!

        Porém é fácil observar que sua música anda de mãos dadas com a de outro mestre: Arnold Schoenberg.

  4. Pegando o bonde de músicas contemporâneas, sugiro uma postagem com obras de John Adams, tais como pianola, harmonielehre, phrygian gates, ou até mesmo a ópera Nixon in China… particularmente, gosto muito das músicas dele, mas há muita gente que não gosta também =)

    Geralmente, a mídia classifica sua música como “pós-minimalista”.

    Enfim, fica a dica para o pessoal que não conhece, e gostaria de conhecer mais músicas “contemporâneas”…

  5. Caro amigo, parabéns pelas publicações.
    Apenas um reparo: a afirmação de John Adams não tem qualquer apreço pela música de Schoenberg não corresponde nem um pouco à realidade. O conhecimento, respeito e flerte com Schoenberg estão presentes em suas composições (pós-minimalistas, certamente) e em vários textos e entrevistas.
    Forte abraço.

  6. Sabem dizer se tem algum blog ou página especializada em música eletroacústica e estilos relacionados onde eu possa achar mais material? Voces não curtem esse estilo ou tem outro motivo que nunca postam música eletroacústica aqui?

    Mas a iniciativa é boa, eu mesmo gostaria de conhecer mais do que é feito hoje em dia em termos de variedade de estilos. Sei que posso encontrar em lojas online por aí, mas se não tiver alguém pra fazer resenhas mínimas, dar ao menos os nomes dos compositores mais interessantes, fica difícil orientar-se.

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