IM-PER-DÍ-VEL !!!
Meus amigos, este disco foi muito famoso durante alguns dias. Acontece que na capa esteve escrito MESSIEAN e não MESSIAEN. Houve uma gritaria geral, os franceses reclamaram de desrespeito à cultura e à língua francesas… E, enfim, a Sony recolheu o todos os exemplares do CD e relançou-o corretamente. Sabem?, não sou um apaixonado por Janine Jansen, mas acho que devo rever meus conceitos. Ela e um extraordinário grupo de músicos nos trazem aquela que talvez seja a melhor versão desta obra de fundamental do século XX. Tudo canta aqui, principalmente os pássaros, onipresentes na obra do compositor francês.
O Quarteto para o Fim dos Tempos foi estreado diante de todos os prisioneiros no pátio gelado do campo de concentração de Stalag VIII A de Görlitz, na fronteira sudoeste da Polônia. Era o dia 15 de janeiro de 1941 e nevava. Há pouco mais de um ano, aproximadamente, a França entrara na Segunda Guerra Mundial. Messiaen fora chamado para servir o exército e, poucos meses depois, em maio de 1940, durante uma ofensiva alemã, foi capturado e levado para o campo de concentração.
O Quarteto foi estreado por Messiaen ao piano, mais Henri Akoka (clarinete), Jean le Boulaire (violino) e Étienne Pasquier (violoncelo). Nenhum dos três era músico profissional. Acontece que o oficial nazista responsável pelo campo de Stalag gostava de música e, quando soube da presença de Messiaen, permitiu que o compositor trabalhasse a fim de realizar um recital com música inédita. Seu nome era Karl-Albert Brüll, um apreciador da música do compositor. Ele proporcionou a Messiaen “condições ‘excepcionais” de trabalho. Deu-lhe lápis, borrachas e papel de música. Também foi-lhe permitido isolar-se num quarto vazio com um guarda de plantão à porta. Tudo a fim de evitar que ele fosse incomodado.
Messiaen escreveu, para os únicos outros instrumentistas que lá estavam presos (um violoncelista, um violinista e um clarinetista), um breve trio que foi posteriormente inserido na obra como quarto movimento. Depois, com a chegada de um piano, Messiaen compôs o resto da obra, assumindo o instrumento.
O católico Messiaen propôs que sua obra fosse uma meditação sobre o Apocalipse de João (10, 1-7). A partitura é encabeçada com o seguinte excerto: “Vi um anjo poderoso descer do céu envolvido numa nuvem; por cima da sua cabeça estava um arco-íris; o seu rosto era como o Sol e as suas pernas como colunas de fogo. Pôs o pé direito sobre o mar e o pé esquerdo sobre a terra e, mantendo-se erguido sobre o mar e a terra levantou a mão direita ao céu e jurou por Aquele que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: não haverá mais tempo; mas nos dias em que se ouvir o sétimo anjo, quando ele soar a trombeta, será consumado o mistério de Deus”.
A estruturação do Quarteto em oito movimentos é explicada por Messiaen da seguinte forma: “Sete é o número perfeito, a criação em seis dias santificada pelo sábado divino; o sete deste repouso prolonga-se na eternidade e se converte no oito da luz inextinguível e da paz inalterável”.
Essa música emergiu de horror e teve sua estreia no frio, com guardas e prisioneiros como público. Então, você pode esperar tristeza e brutalidade? Nem tanto. O intensamente religioso Messiaen busca tocae o sublime e o êxtase. E este CD deve ter a melhor versão disso.
Olivier Messiaen (1908-1992): Quatuor pour la fin du Temps
1 I. Liturgie de cristal 02:43
2 II. Vocalise, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps 05:01
3 III. Abîme des oiseaux 08:10
4 IV. Intermède 01:42
5 V. Louange à l’éternité de Jésus 08:48
6 VI. Danse de la fureur, pour les sept trompettes 06:04
7 VII. Fouillis d’arcs-en-ciel, pour l’Ange qui annonce la fin du Temps 07:28
8 VIII. Louange à l’immortalité de Jésus 07:23
Personnel:
Martin Fröst, clarinet
Lucas Debargue, piano
Janine Jansen, violin
Torlief Thedeen, cello
PQP