Te Deum (João de Sousa Carvalho, 1792) & Motetos (José António Carlos de Seixas, António Teixeira, Francisco António de Almeida) – Gulbenkian Chamber Orchestra & Chorus

2i7v6vtGravado em 1971 e remasterizado em 1997, esta apresentação em 2 CDs nos traz obras dos mais importantes compositores portugueses do século XVIII.

 

Harry Crowl Jr. nos brinda com alguns comentários sobre João de Sousa Carvalho e o Te Deum:

João de Sousa Carvalho, talvez o compositor mais importante da segunda metade do séc.XVIII em Portugal, foi o último português a ser enviado à Itália para realizar os seus estudos musicais. Durante o reinado de D.José I, ele foi enviado com “bolseiro” do rei para Nápoles, onde estudou no Conservatório de “San Onofrio a Capuana”, onde também foi colega de Giovanni Paisiello. Quando de sua volta a Portugal, tornou-se professor de contraponto no Seminário da Patriarcal. Em 1778, foi nomeado para o cargo de mestre dos príncipes e infantes, que fora exercido por David Perez. Dois discípulos seus foram importantes compositores: António Leal Moreira e Marcos Portugal. A sua produção concentra-se em óperas, serenatas e música religiosa, tendo escrito também alguma música para cravo. Apesar de sua importância para a música portuguesa, falta muito ainda para que possamos ter a real dimensão desse compositor. Suas óperas foram apresentadas com freqüência nos teatros de Lisboa e, como era o hábito na sua época, todas sobre libretos em italiano, seguindo o modelo napolitano de alternância entre recitativos e árias. A sua música religiosa, por sua vez, apresenta elementos de construção mais variados.

Até o momento, foram encontrados 4 Te Deum escritos por Sousa Carvalho. Este é o último. Escrito em 1792, é uma obra composta, muito provavelmente, para uma cerimônia na Capela Real de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa, em 1792. Podemos suspeitar que possa ter sido para o dia de São Silvestre (31/12), no qual era costume se apresentar um Te Deum em agradecimento às graças recebidas no ano que se findava. Trata-se de uma obra de enormes proporções para a época, afastando qualquer estereótipo a respeito do suposto atraso de Portugal em relação a outros países europeus.

São 5 solistas, coro duplo e orquestra, também dividida em duas. A obra está dividida em 16 partes com alguns longos trechos orquestrais, inclusive uma abertura. Todas as técnicas de uso da voz conhecidas na época aparecem na obra, como árias da capo e coros antifonais. Apesar de se aproximar muito de uma ópera, o que era costume nessa época, o compositor parece transitar com muito mais liberdade no terreno da música sacra do que da música de cena.

Sousa Carvalho faleceu em sua propriedade rural no Alentejo, em 1798. Sua vida parece ter sido cercada de glórias locais e certa comodidade financeira.”

No site http://musicantiga.com.sapo.pt, encontramos:

José António Carlos de Seixas, nascido em Coimbra, marca sem dúvida a música portuguesa da primeira metade do séc. XVIII, e as suas criações destacam-se pela sua elegância, inventividade, energia, e um apurado sentido estético. Tendo adquirido a sua formação musical com o seu pai, à morte deste, por volta dos seus catorze a dezasseis anos de idade, ocupou de imediato o seu cargo como organista da Sé de Coimbra, ganhando o mesmo salário que seu pai.

Por volta dos vinte anos de idade veio para Lisboa, onde arranjou posto como professor de cravo de famílias nobres da Corte, e rapidamente fez nome no meio musical lisboeta. Foi mais tarde nomeado vice-mestre da Capela Real, e no âmbito desta posição compôs belíssimas obras de música sacra, entre as quais se contam o “Ardebat Vicentius”, para a festa de S. Vicente, a Missa em Sol, e um “Te Deum” para duplo coro e orquestra, entretanto desaparecido muito provavelmente com o terramoto de 1755, tal como a maioria da sua obra. Desta constam ainda cerca de 700 sonatas para instrumento de tecla (umas para cravo e outras para órgão), das quais restam cerca de cem, um concerto para cravo, uma sinfonia em Si, uma abertura em Ré, e um outro concerto para cravo que lhe é atribuído.

É de notar que na música ibérica Carlos Seixas é único, e tal reflecte-se na sua obra: é incrível como um musico que se formou numa cidade de província, ainda que com grande talento, tenha criado obras como a abertura e outras como os concertos: em terras lusas é difícil crer que chegassem noticias dos concertos para cravo de Bach ou Haendel, sendo que até a maior parte dos concertos destes sejam ulteriores ao de Seixas. No entanto o compositor criou obras de inigualável graça e elegância. Já quanto à abertura, ao estilo francês, é o único exemplo do género na Península Ibérica e iguala em rigor formal, instrumentação, e grandeur, as aberturas de um Haendel ou um Telemann. Decerto, o compositor conhecia as composições do género criadas por Campra, Lully ou Rameau.

António Teixeira é outro dos compositores de maior importância da primeira metade do séc. XVIII, e um dos vários bolseiros em Roma de D.João V.
Teixeira destacou-se não só por ser bolseiro por D.João V, mas ainda pelo cargo ocupado de mestre de capela da Patriarcal, para a qual escreveu belíssimos motetes e outros serviços religiosos, como um “Te Deum” para 5 coros e orquestra. No entanto, Teixeira ainda compunha música profana, sendo o autor de cerca de oito óperas e diversas cantatas, entre as quais a belíssima “Gaudete, astra gaudete!”.

Na sua música, nota-se uma perfeita assimilação dos modelos com os quais contactou em Roma, onde se aperfeiçoou em contraponto, cravo e composição, e a sua música é uma das grandes glórias da corte de D.João V: o seu Te Deum é de uma dimensão e magnanimidade que está a par de obras de Vivaldi, Telemann ou Haendel, e as suas produções operáticas são de uma graça e expressividade inigualáveis, como a ópera feita em conjunto com António Silva (o Judeu), as Guerras do Alecrim e Manjerona, uma das suas poucas partituras que tem, desde o séc. XVIII, sido interpretadas com alguma regularidade até aos dias de hoje, devido principalmente à popularidade do texto de António Silva.

Francisco António de Almeida foi decerto, a par de Carlos Seixas, o maior compositor da primeira metade do séc. XVIII. Estudou como bolseiro de D.João V em Roma, e aí estreou as suas primeiras oratórias, entre as quais “La Giuditta”, a sua última oratória romana. Enquanto Carlos Seixas é o paradigma do compositor luso, de um colorido único e insuperável, Almeida representa sem dúvida “o estrangeirado”: a sua música é puramente italiana, e a instrumentação e construção tanto nos fazem lembrar Häendel como Pergolese, quer na grandeza, quer na elegância e maestria nos campos melódico, harmónico e contrapontistico.

Gulbenkian Chamber Orchestra & Chorus
João de Sousa Carvalho (Estremoz, 1745 – Alentejo, 1798)
01. Te Deum – 1. Overture for two orchestras
02. Te Deum – 2. O salutaris Hostia
03. Te Deum – 3. Te Deum Laudamus
04. Te Deum – 4. Tibo omnes Angeli
05. Te Deum – 5. Sanctus, sanctus, sanctus
06. Te Deum – 6. Te gloriosus Apostolorum chorus
07. Te Deum – 7. Patrem immensae majestatis
08. Te Deum – 8. Sanctum quoque Paraclitum Spiritum
09. Te Deum – 9. Tu Patris sempiternus
10. Te Deum – 10. Tu devicto mortis aculeo
11. Te Deum – 11. Judex crederis esse venturus
12. Te Deum – 12. Te ergo quaesumus
13. Te Deum – 13. Salvum fac populum tuum, Domine
14. Te Deum – 14. Per singulos dies benedicimus te
15. Te Deum – 15. Dignare, Domine, die isto
16. Te Deum – 16. Fiat misericordia tua, Domine
17. Te Deum – 17. Tantum ergo Sacramentum

José António Carlos de Seixas, (Coimbra, 1704 – Lisboa, 1742)
18. Ardebat Vincentius: Ardebat Vincentius extrinsecus-Sed maior illum intrinsecus/Intrepidus Dei athleta/Sed maior illum
19. Tantum ergo Sacramentum

António Teixeira (1707-1759)
20. Gaudete, astra – 1. Recitativo: Gaudete, astra, gaudete
21. Gaudete, astra – 2. Aria: In vallibus ad fontes
22. Gaudete, astra – 3. Recitativo: Refulsit alma lux
23. Gaudete, astra – 4. Aria: Aura infida

Francisco António de Almeida (ca.1702-1755)
24. O quam suavis – 1. O quam suavis est
25. O quam suavis – 2. Pane suavissimo de caelo praestito
26. O quam suavis – 3. Esurientes reples bonis
27. O quam suavis – 4. Alleluia
28. Beatus Vir – 1. Beatus Vir, Qui Timet Dominum
29. Beatus Vir – 2. Exortum Est In Tenebris Lumen Rectis
30. Beatus Vir – 3. Jucundus Homo
31. Beatus Vir – 4. Gloria Patri, Et Filio

Te Deum – 1971
Gulbenkian Chamber Orchestra & Chorus
Director: Pierre Salzmann

Este CD é mais uma excelente colaboração do maestro, compositor e musicólogo Harry Crowl Jr. Não tem preço!

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 320 kbps -362,3 MB – 2,2 h (2 CDs)
powered by iTunes 10.1

Boa audição.

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Avicenna

11 comments / Add your comment below

  1. Obrigado pela sua presença, António!

    Interessa-nos conhecer a música de Portugal do séc. XVIII, não só pela sua beleza, mas também pelo o que ela influenciou a música brasileira da época.

    Um grande abraço,

    Avicenna

  2. Eu realmente não encontro palavras para expressar minha gratidão pelo conhecimento que Este blog me proporciona, sobretudo em ralação aos compositores luso-brasileiros. Também são de grande apreço os compositores do Brasil colonial, infelizmente pouco conhecidos e pouco divulgados.

  3. Não tem como não se sensibilizar, Abel, ouvindo:

    07. Te Deum – 7. Patrem immensae majestatis
    08. Te Deum – 8. Sanctum quoque Paraclitum Spiritum

    Obrigado pela sua presença!

    Avicenna

  4. Nestas paragens e de buscas, realmente foi uma surpresa este blogue, e pelo que me é dado na sua pesquisa, tenho simplesmente agradeçer pela obra vastissíma de grandes compositores e não só. BEM HAJAM e dizer que fiquei muito surpreendido com esta obra que realmente é antológica.
    Saudações lusas para os nossos irmãos do Brasil.

    Funchal / Madeira – Portugal

    JMAbreu

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