A Missa de Alcaçuz – Danilo Guanais – Madrigal da UFRN e Orquestra

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Missa de Alcaçuz
Madrigal da UFRN e Orquestra

REPOSTAGEM

Imagine os romances medievais de Dona Militana sendo contados numa ópera, de forma erudita, ou as músicas do rabequeiro Fabião das Queimadas apresentadas pela Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte! Essa mistura do popular com o erudito produz um composto único que inspirou o escritor paraibano Ariano Suassuna a criar o Movimento Armorial.

Conforme o autor do Auto da Compadecida, a “Arte Armorial Brasileira” é aquela que tem como traço comum a ligação dos folhetos do Romanceiro Popular do Nordeste (Literatura de Cordel), com a música de viola, rabeca ou pífano que acompanha seus cantares, e com a Xilogravura que ilustra suas capas, assim como a forma das artes e espetáculos populares.

Lançado oficialmente em 1970, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas em Recife, o Movimento Armorial tem como objetivo mostrar que é possível criar uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular, passeando pelas mais diversas manifestações artísticas como pintura, música, literatura, cerâmica, dança, escultura, tapeçaria, arquitetura, teatro, gravura e cinema.

Em Natal, um desses “influenciados” é Danilo Guanais. Músico, compositor, maestro e professor da UFRN, Danilo Guanais iniciou carreira artística participando de festivais como compositor, tendo sido premiado no V Festival de Teatro de Pelotas, no Rio Grande do Sul e no II Festival Internacional de Artes Cênicas de Resende, no Rio de Janeiro.

Em 1999, Danilo Guanais participou do CD “Nação Potiguar”, gravado em homenagem aos 400 anos da cidade de Natal. No mesmo ano, se apresentou no palco do Teatro Alberto Maranhão, dentro do Projeto Seis e Meia. Guanais compôs as músicas para o CD “Missa de Alcaçuz”, no qual combinou a sonoridade do latim tradicional com elementos da cultura popular, com um forte clamor armorial como acorde musical principal do disco, gravado pela UFRN.

A Missa de Alcaçuz foi composta para a celebração dos 30 anos de atividades do Madrigal da UFRN. O compositor ressalta que a Missa é uma seqüência de movimentos baseados no texto litúrgico tradicional da missa, segundo o que preconiza a igreja. Guanais revela que optou por adotar uma estética mais armorial em alguns movimentos.

Danilo disse que sua musicalidade contém influências eruditas de Bach e Mozart, atrelados aos elementos oriundos da tradição cultural popular, como os cantadores, romanceiras, vaqueiros, rabequeiros e repentistas. “A Missa não chama atenção por um contraponto renascentista, nem por uma fraseologia medieval. Chama a atenção por um ritmo de baião que está em baixo, por uma percussão que soa com sotaque mais da cultura popular”, observa.

Segundo Danilo, a “Missa de Alcaçuz” se tornou o CD de música erudita mais vendido do País. Já foram feitas três edições e todas estão esgotadas. Um sucesso que foi acontecendo aos poucos, graças ao boca-a-boca e a ajuda dos madrigalistas que difundiram a obra.

O título da missa, Alcaçuz, veio da pequena localidade litorânea, a 40 quilômetros de Natal, onde os romances foram coletados pelo folclorista Deífilo Gurgel, autor de um pequeno volume chamado “Romanceiro de Alcaçuz”, que traz toda a história musical dos romances da comunidade e do cancioneiro popular.

Atualmente, Danilo Guanais faz parte do duo de violões Álvaro e Danilo, que tem se apresentado pela cidade, expandindo a música armorial em Natal. O maestro Guanais garante que vai continua com a busca dos acordes armoriais, criando a sofisticação da música erudita com elementos da cultura popular potiguar.
(http://grandeponto.blogspot.com/2008/12/musicalidade-armorial-de-danilo-guanais.html)

***

Avicenna me pediu para escrever algumas linhas sobre a obra, já que ela não está dentro dos domínios da música colonial, caríssima a ele, e sim do armorial que tanto prezo. Mas, com o que já foi exposto acima, não quero jogar mais informações. Acrescento somente que a missa foi o gênero que produziu as obras mais extensas e mais respeitadas dentro do repertório armorial, que inclui:

  • O Kyrie e o Gloria da Missa Sertaneja (1971), que Cussy de Almeida nunca concluiu – já postados neste blog (vide tag Música Armorial)
  • A Grande Missa Nordestina (1978), de Clóvis Pereira – postada
  • A Grande Missa Armorial (1982), de Capiba – idem
  • Esta Missa de Alcaçuz (1996) de Danilo Guanais, a única de um não pernambucano – agora postada
  • A Missa do Descobrimento (2001), de Cussy de Almeida – não gravada

CVL

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Comentário de nosso atento leitor Alex Herculano de Araújo:
Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de Parahyba, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, filho de Rita de Cássia Vilar Suassuna e João Suassuna, seu pai era o presidente do estado, cargo que a partir da Constituição de 1937 passou a ser denominado pelo povo como “governador”, Ariano nasceu nas dependências do Palácio da Redenção em João Pessoa, sede do Executivo paraibano. No ano seguinte, o pai deixa o governo da Paraíba, e a família passou a morar no Sertão, na Fazenda Acauã, em Sousa no alto sertão paraibano. Com a Revolução de 1930, João Suassuna foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro, e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral. Também morou em Campina Grande na Paraíba.
Apenas em 1942 passou a viver em Recife.
Ariano é um escritor Paraibano e não Pernambucano como diz(ia) na redação desse texto.

A Missa de Alcaçuz – Danilo Guanais – Madrigal da UFRN e Orquestra
1 . Kyrie
2. Gloria
3. Laudamus
4. Gratias Agimus
5. Domine Deus
6. Qui Tollis
7. Quoniam
8. Cum Sancto Spiritu
9. Credo
10. Deum de Deo
11. Qui Propter
12. Et Incarnatus
13. Crucifixus
14. Et Ressurrexit
15. Et in Spiritum Sanctum
16. Confiteor
17. Et Vitam Venturi
18. Sanctus
19. Hosanna
20. Benedictus
21. Hosanna
22. Agnus Dei

A Missa de Alcaçuz – 1996
Madrigal da UFRN e Orquestra
Regente: André Oliveira

Nossos agradecimentos ao Sr. Wottan por nos ter enviado esta obra musical com o respectivo encarte.

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 192 kbps – 70,5 MB – 46 min
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Avicenna

29 comments / Add your comment below

  1. Caro Avicena:

    Por curiosidade, o que é o arquivo .DS_Store que aparece neste e em alguns dos arquivos postados?

    Nunca é de mais em dizer: parabéns triplo, aos dois editores do blog e ao autor da peça.

    Obrigado.

    Hélio.

    1. Sei não, Hélio, sei não!
      Baixei o arquivo e não deu nenhum .DS_Store.
      Edito tudo num Macintosh e esse arquivo DS_Store é típico da plataforma Windows. Talvez seja por aí. O importante é que seja saudável.
      Sim, parabéns quádruplo! Faltou o mais importante: nossos diletos ouvintes!!!!!!

  2. Olá Caro Conterrâneo!

    Bela, muito bela postagem! A composição (não quero chamar de mistura pois não é o caso e seria menosprezar o trabalho em questão) com elementos populares e eruditos (estou certo?!) ficou belíssima! Superou a minha expectativa, eu achei que as músicas teriam muita percussão típica nordestina, mas olha, o coral deu uma robusta unidade ao conjunto.

    Até o próximo post!

    P.S.: Sendo a música religiosa a sua especialidade, o canto gregoriano não estaria incluído nesta?

    1. Eu também fiquei agradavelmente surpreso, Adriano.Foi uma contribuição de um ouvinte. Tomara que venha mais. Tem muito tesouro escondido e sem divulgação. Fui à Livraria Saraiva hoje, no Shopping Ibirapuera, procurar algo sobre música sacra brasileira e fiquei frustrado …

      Canto gregoriano: você conhece “The Benedictine Monks Of Santo Domingo De Silos”? São maravilhosos. Cantam “Ave Mundes Spes Maria” que foi um grande sucesso pop na Europa, anos atrás!!!! Isso mesmo, sucesso POP!

  3. Avicenna…,

    Adorei a peça (é realmente impressionante), mas dei por falta da faixa 22 (agnus dei) que consta no encarte, mas não está incluída na pasta…

  4. Prezado companheiro de gostos musicais de elevado nível,
    Como sempre por acaso, descobri teu blog e de cara me encantei com o imenso e maravilhoso repertório musical! Só coisas maravilhosas, curiosas, raríssimas! Parabéns!
    Pena que passei rápido demais do êxtase à frustração: Como a grande maioria dos outros itens, os links já não estão disponíveis…
    Claro que adquirir legalmente as músicas que nos tocam os corações é o ideal; mas para dar conta da quantidade de itens que gostaríamos de adquirir, isso falando somente neste blog, precisaríamos ter condições plenas para encarar os ainda altos preços cobrados pelo mercado fonográfico via internet. Continuamos aguardando soluções mais viáveis. Enquanto isso, o jeito é ir pesquisando e baixando nos sites gratuitos.
    Entendemos perfeitamente as dificuldades. Mas que seria maravilhoso se pudesses repetir estes links em sites válidos… Rapaaaz!!! Teríamos que adquirir, no mínimo, mais três HDs portáteis!
    Forte abraço, e novamente parabéns pela excelência do trabalho!

    1. Alcides,

      Testei o link desta Missa de Alcaçuz e êle está está funcionando bem.
      Por gentileza, tente de novo.

      Obrigado pela sua presença,

      Avicenna

  5. Caro amigo,

    Fiquei deveras feliz em ver minha missa veiculada num sítio tão bem elaborado, interessante e com bom conteúdo como o seu. A Missa de Alcaçus já foi realizada nas principais cidades brasileiras (Brasília, São Paulo, Manaus, Cuiabá, João Pessoa, etc) e em várias cidades mundo afora (Veneza, Milão, Oklahoma City, Gênova, etc) e tem me dado muita alegria por tê-la composto. Ver a obra veiculada assim, com respeito e seriedade me dá alegria também. Neste momento componho a minha “Paixão”, que, a partir da Missa de Alcaçus, e passando pela 1a Sinfonia (Adão), formam um tríptico de obras em que estão presentes escritos antigos e cultura popular. O nome “Alcaçus”, com “s” mesmo, refere-se a um local próximo a Natal, onde foram recolhidos romances ibéricos que aparecem como filigranas em meio ao discurso musical na missa. Continue sempre, abraços,
    Danilo Guanais

    1. Prezado Danilo Guanais,
      Tomo aqui a liberdade de escrever em nome de todos do P.Q.P.Bach. Ficamos extremamente lisonjeados quando o próprio compositor reconhece que o trabalho de divulgação da música que fazemos é importante. A preocupação dos membros do site, pelo que eu (inocentemente o mais novo na equipe) vejo, sempre foi de falar da música como amantes, e não como técnicos. Nos interessam as paixões, não as medidas.
      Agora, pessoalmente, tenho que lhe render elogios: sua missa é uma das obras que eu mais aprecio! Aliás, há uma produção erudita de vanguarda e interessantíssima nos estados do nordeste brasileiro.
      Eu gostaria ainda de ser petulante a ponto de dizer-lhe que, caso queira compartilhar outras obras suas ou de seus conhecidos e conterrâneos conosco, entre em contato (pode ser pelo [email protected]) que nos será de um imenso prazer poder replicar seu nome no elenco de compositores que ostentamos orgulhosos aqui ao lado.

      Um caloroso abraço.

      Bisnaga

  6. Tive o grande prazer de cantar essa missa com o Coral da Universidade de Brasília. Obra linda, gostosa de cantar e encantadora de ouvir. Na ocasião tivemos a honra da presença do Danilo Guanais, que encantou a todos com sua simpatia. Só elogios para o compositor e sua obra.

    Abs.

    Lucas.

    PS: sou o mais novo fã do site. Obrigado por enriquecer meu universo musical.

      1. E, Avi e pessoal, pra quem se interessa ou tem curiosidade por missas estilizadas, recomendo/sugiro a audição da “Prayer Wheel” de Karen Asatrian, para coro e jazz ensemble, recentemente lançada no CD revelado neste link: http://republicofjazz.blogspot.com.br/2017/06/karen-asatrian-prayer-wheel-missa-for.html

        Com a licença dos administradores deste batcanal, pela qual de antemão agradeço…Quem tiver interesse poderia deixar o e-mail numa resposta a esta mensagem, que eu mando o link do “mirror” ou do servidor preferido do interessado, bLz?

  7. Ariano Vilar Suassuna nasceu na cidade de Parahyba, atual João Pessoa, no dia 16 de junho de 1927, filho de Rita de Cássia Vilar Suassuna e João Suassuna, seu pai era o presidente do estado, cargo que a partir da Constituição de 1937 passou a ser denominado pelo povo como “governador”, Ariano nasceu nas dependências do Palácio da Redenção em João Pessoa, sede do Executivo paraibano. No ano seguinte, o pai deixa o governo da Paraíba, e a família passou a morar no Sertão, na Fazenda Acauã, em Sousa no alto sertão paraibano. Com a Revolução de 1930, João Suassuna foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro, e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.Também morou em Campina Grande na Paraíba.
    Apenas em 1942 passou a viver em Recife.
    Ariano é um escritor Paraibano e não Pernambucano como diz na redação desse texto.

    1. Corrigido, Alex, obrigado pelas informações. Inclui-as no texto da postagem.
      (Recentemente fui a Bananeiras conhecer a origem de minha família)

      Um abraço,

      Avicenna

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