Ernest Chausson é um compositor que deveria fazer parte de nosso dia-a-dia musical. Considerando a música pós-romântica francesa, que tiveram nomes como D’Indy, Fauré, Pierné, Dukas e Duparc, a sua obra se destaca como uma das mais bem acabadas, de um refinada arquitetura e um discurso musical límpido, avesso à prolixidade.
Mais uma vez nos perguntamos o porquê de sua música, como de tantos outros em condições similares, ser tão negligenciada. Só nos resta saborear esta arte incomum, não para fazer jus à sua qualidade, mas simplesmente porque é música boa mesmo.
Chausson, como tantos outros de sua geração, também foi enfeitiçado por Wagner, cuja influência é bastante nítida, mas seu toque francês inconfundível trata a matéria sonora com singular bom gosto, com toda a sutileza que lhe é inerente. Uma fusão da grandiloquencia wagneriana com a severidade arquitetônica de um César Franck ou de um Brahms, que também Chausson admirava profundamente. A Sinfonia em Si bemol é sua única obra do gênero, e é realmente espantosa pela maneira como consegue não cair nos modelos saturados de padrões sinfônicos dos discursos pós-românticos germânicos. É música clara, original e grandiosa.
Os poemas sinfônicos que a seguem são igualmente belos, com nítido destaque para Viviane, inspirado nas lendas do Rei Arthur, que nutriam em Chausson fascínio especial (aliás, este era um tema recorrente em Chausson, sua única ópera versa sobre este assunto) e A Tempestade, sobre Shakespeare, outro tema caro aos compositores do romantismo extendido. Consta ainda que esta que foi a primeira obra a utilizar a Celesta, dois anos antes de Tchaikovsky em seu poema sinfonico Voyoveda e depois no Quebra-Nozes (dizem que Tchaikovsky esperneou porque queria ter sido o primeiro a usar, mas isso também é lenda).
Ernest Chausson (1855-1899)
Symphony in B-flat, op.20
Viviane, op.5
Soir de Fête, op.32
La Tempête, op.18
BBC Philharmonic Orchestra
Yan Pascal Tortelier
CHANDOS, 1999
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Arquivo FLAC, 287Mb
Chucruten
Bom ver o Chausson por aqui, admiro bastante o compositor, que é, realmente, como tantos outros artistas, um injustiçado. No entanto, creio que ele é melhor na música de câmara do que na sinfônica. Seu trio para piano, violino e violoncelo está entre os melhores que já ouvi, digno dos trios de Brahms (os melhores de todos, para mim), que combina originalidade com a tradição do gênero.