Dentre meus inúmeros defeitos está o de não ser um grande apreciador de Vivaldi. Porém, há tanta gente que o ama que reconheço tranquilamente: o problema deve ser meu. Este CD ganhou todos os prêmios que se possa imaginar. Levou o Diapason d’Or e vários Grand Prix. É bom mesmo. A voz do contratenor Gérard Lesne era efetivamente notável em 1992, ano desta gravação. O CD traz muita gente que se “tornaria genial” anos depois. Bruno Cocset gravaria a melhor versão das suítes para violoncelo de Bach e Marc Minkowski dispensa apresentação. Nada acontece por acaso. E nos refugiemos na beleza porque aguentar a República Teocrática do Brasil não vai ser fácil.
Antonio Vivaldi (1678-1741): Música Sacra
1-4: Vestro principi divino (Motet RV 633)
5-13: Stabat Mater (RV 621)
14-16: Filiae maestae Jerusalem (Introduzione Al Miserere RV 638)
17-25: Nisi Dominus (Psaume 126)
Gérard Lesne (contralto)
Ensemble Il Seminario musicale
Bernadette Charbonnier
Myriam Gevers
Jacques Maillard
Marc Minkowski
Bruno Cocset
Pascal Monteilhet
Richard Myron
Jean-Charles Ablitzer
“Diapason d’Or” de Diapason-Harmonie n°355
“10” de Répertoire n° 21-2
“un événement exceptionnel” de Télérama n°2084
“Recommandé” par Classica n°18
“Grand Prix de l’Académie Charles Cros”
PQP
Uma pena que a maravilhosa música sacra do padre ruivo seja menos conhecida que sua obra violinística. É sempre uma alegria para mim quando encontro um cd sacro de Vivaldi, alegria dobrada quando há nomes de peso envolvidos na produção. Muito obrigado pela postagem.
É preciso muita beleza vivaldina para aguentar a teocracia brasileira contemporânea mesmo, PQP! Dá vontade de dormir como a Bela Adormecida, ouvindo “Cum dederit dilectis suis somnum”, e só acordar uma geração após… Ai! E que Vivaldi nos console!
Que teocracia?? No país do funk pornográfico, da bunda de fora e do carnaval? Onde acontecem as maiores paradas gays do planeta? Vivemos em um país onde se é livre para ir à missa no domingo, e ao terreiro na sexta-feira. Teocracia é onde mulher tem que andar coberta, aqui acontece outra coisa! Viva a liberdade, senhores, e ouçamos Vivaldi com a consciência tranquila!
Leonardo,
A minha consciência está tranquila, mas não meu país. O Brasil é um dos países com a maior desigualdade de renda do mundo. O Carnaval é mais antigo que o funk, a pornografia é tão antiga quando a civilização greco-romana, as paradas gays (infelizmente ainda) não conseguem (de)mover preconceitos homofóbicos e quem vai ao terreiro é filho do diabo.
Então, liberdade mesmo – daquelas que só se produzem em países cujo governo é mesmo laico e em que discriminação é punida para que se aprenda que a convivência com a diferença não é um fardo desagradável a suportar – ainda não temos.
Vivaldi viveu num tempo em que, para ser músico e viver da música, era preciso ser padre ou servo de nobre. Houve, sim, avanços, mas ainda somos bem barrocos… e, portanto, teocráticos!
Mas, sim, ouçamos Vivaldi!
Caro Rameau, permita-me educadamente discordar. O carnaval e a pornografia são antigos, mas não é esse o ponto. O que eu quis dizer foi que, no Brasil, há um grau de tolerância grande. Na cidade onde moro, no litoral de SP, as religiões africanas são muito fortes, e sempre vejo as pessoas de branco batendo tambores e soltando ao mar seus barquinhos para Iemanjá. Dizer que isso é coisa de filho do diabo ficou no passado, felizmente. E o Brasil é um dos melhores países do mundo para ser gay. Ou, pelo menos, não é dos piores. Apesar do que diz a militância gay profissional – uma categoria política à parte -, o grande problema do Brasil é a violência urbana, que não atinge os gays em especial, mas a todos os brasileiros, principalmente os mais pobres. Nosso país se formou dentro de uma mentalidade ibérica e católica, então é claro que não dá para comparar a sociedade brasileira com, digamos, uma Holanda; mas compare, por exemplo, com uma Rússia – nem é preciso apelar para os países islâmicos.
É claro que nossa sociedade pode melhorar muito, em diversos aspectos. Mas eu não gastaria a palavra “teocracia” para descrevê-la, pois essa é uma palavra demasiado forte. Eu me lembrei agora de Ariano Suassuna dizendo, em um vídeo famoso: “se eu gasto um adjetivo como ‘genial’ com o Chimbinha, que adjetivo poderei usar para Beethoven?” Se dissermos que o Brasil é um país teocrático, como poderemos descrever o Irã?
República Teocrática do Brasil, sim. Basta ver nosso Congresso. Os evangélicos e os caras do agronegócio são os novos donos do país. A sociedade urbana, que gerou o PT e o PSDB está sendo soterrada politicamente pelas periferias e pela nova elite agrária. Gente bruta, inculta e reacionária. Tempos de música sertaneja “universitária”, gospel e funk.
Não é batendo o pezinho e gritando em negrito “é teocrática sim” que se vai mudar o fato óbvio de que: não, senhores, não é república teocrática coisa nenhuma. Chamar o Brasil de república teocrática é um assalto ao sendo das proporções. Nos tempos de Vivaldi, por exemplo, se poderia falar de teocracia.
Concordo totalmente com Pqp. Haja vista o calendário nosso. São feriados para todos os gostos e quase na sua totalidade religiosos. Agora mesmo, aí dia 26 é feriado de Corpus Christi…poderia enumerar um rosário deles ao longo do ano. O que tenho eu a ver com o corpo de Cristo? Deixemos isso para os religiosos de carteirinha. Não é necessário parar o Brasil, o comércio, as fábricas…
abraços
manuel
bueno… como a politica Ptha gorica deriva da musica e da matematica…
teo cracia é o poder de Deus.
só que esse Deus do Olimpo nao é MESMO o deus do dinheiro evangelico (judaico). houve um esvaziar do profundo conceito simbolico de Deus, expresso nas musicas ate o barroco, eu diria, para um conceito de relativizacao total – com a consequente perda de profundidade – que começa na revolução francesa… e dai o romantismo ser o inicio da ‘doença’.
existem partes no Brasil onde uma coisa é mais tolerada que outra… mas nao é analisando uma parte que podemos falar do todo. os ritos afros estão sendo deslocados da Bahia para o RJ e de la para a extinçao (pela perseguição). nosso congresso é uma entrega da alma nacional a alma da matrix – global. infelizmente voltamos à idade média, sem ter um referencial cósmico, apesar da belissima obra de Jung. (assim que percebo os tempos atuais)