Berlioz é um compositor bastante singular: autor de obra relativamente breve, teve seu nome gravado na história da música não apenas pelo veio melódico que marcou os primórdios do romantismo, mas também pela inovação, ousadia e inventividade principalmente no quesito orquestração. Berlioz foi virtuose de apenas um instrumento: a orquestra sinfônica. Mas é uma obra de altos e baixos. Ao mesmo tempo grandiloquente e apelativa, ruidosa como apelo romântico, mas educada pela polidez francesa, é uma obra contraditória, e, contudo, fascinante.
Confesso que considero muitos de seus momentos tediosos, mas a originalidade na combinação de timbres acaba por deixar a maioria deles no ostracismo, revelando, afinal, um compositor de gênio.
Este é o caso desta obra, a Grande Sinfonia Fúnebre e Triunfal. Ofuscada pelos hits mais populares, como a Sinfonia Fantástica, Haroldo na Itália, o Réquiem ou o Te Deum, fora suas irresistíveis aberturas sinfônicas, apesar de não ter o mesmo apelo, não deixa a desejar no quesito originalidade. Escrita para uma grande orquestra de sopros (leia-se Banda Sinfônica), foi encomendada para comemorar o décimo aniversário da revolução de 1830, e seus enormes recursos instrumentais (exige 200 músicos e coro para uma execução que se destinava ao ar livre) limitam muito suas apresentações. Ademais, é uma obra dramática, contemplativa, pouco adequada à apresentações de Bandas, o que faz dela basicamente uma obra negligenciada. Felizmente temos a gravação. Só para constar, talvez a melhor frase que a defina tenha sido dita por Wagner, que estava na sua estréia: “extraordinária da primeira à última nota”.
O disco tem, de quebra, um monte de outras peças de compositores franceses, não muito contemporâneos de Berlioz, mas que escreveram música baseados no mesmo propósito: a Revolução Francesa e suas consequencias, incluindo uma excelente versão da Marselhesa. Vale cada minuto.
Berlioz: Grande Symphonie Funèbre Et Triomphale
Gossec: Symphonie Militaire
Jadin: Overture in F
Gossec: Marche Lugubre
Cherubini: Hymne à la Victoire
Lefevre: Hymne à l’Agriculture
Rouget de Lisle: Hymne à la liberté (La Marseillaise)
The Wallace Collection, John Wallace
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Arquivo FLAC, 242Mb
Chucruten
Disco interessantíssimo, que permite perceber muito bem as influências desta música “revolucionária” e “engagée” nas sinfonias de Beethoven.
Basta comparar, por exemplo, o “Hymne à l’Agriculture” de Lefevre com a 3.º movimento da 6.ª Sinfonia (“Pastoral”) do grande LvB.
A este propósito estão disponíveis no Youtube uns vídeos muito eloquentes de John Eliot Gardiner:
https://www.youtube.com/watch?v=kvzr9T9nij4&list=PL088B09657235627C
E muitos parabéns por este extraordinário site!
Berlioz representava o Romantismo antigermânico: Menos exagerado, menos sentimental, mais aristocrático. Conforme amadureceu, sua tendência para o clássico ficou mais pronunciada; ele esquivou-se de fantasias extrovertidas como a Fantastique e disse que “deve-se tentar fazer friamente as coisas mais ardentes”.