“Renaissance Brass” – Scheidt (1578-1654), Weelkes (1576-1623) etc.: canzone, madrigais etc. em quinteto de metais

RenaissanceBrass CAPA-FRENTEGosto demais deste disco! É verdade que o nome e a imagem da capa são enganosos: os instrumentos de metal que temos aqui não são renascentistas: são dois trompetes, uma trompa, um trombone e uma tuba, todos modernos, que constituem o quinteto da Eastman School of Music, de Rochester, estado de New York.

Mas ao dizer que a capa não corresponde ao conteúdo, não estou dizendo que o conteúdo seja de má qualidade: dentro de sua proposta, é impecável!

Transcrevendo das notas de Joel Israel Cohen na capa deste vinil de 1967:

   Para os puritanos de meados do século XX, a ideia de transcrever música de um meio para outro é definitivamente suspeita: a memória de um passado recente em que orquestras de bandolins tocavam rondós de Mozart e pianolas martelavam a Nona de Beethoven ainda persiste e causa estremecimentos embaraçados. Queremos nossa música pura e precisa, com os legatos do segundo oboé exatamente como o compositor os escreveu.

   Outras épocas, no entanto, foram decididamente indiferentes a isso. Durante a Idade Média, Renascimento e Barroco inicial a troca (interchangeability) dos meios de execução era antes a regra do que exceção. Uma composição podia ser cantada, soprada, dedilhada ou friccionada, dependendo das forças que houvesse à mão; nem parece ter existido a ideia da coloração sonora real, verdadeira e autêntica para uma determinada peça. Os madrigais de Thomas Weelkes, por exemplo: embora tenham sido escritos como música vocal, podiam ser e provavelmente eram executados também por instrumentos, e embora o compositor não fosse familiarizado com o timbre dos instrumentos de metal modernos, é improvável que ele fizesse objeção à presente reencarnação de suas obras.

Enfim: o monge Ranulfus acha isso extraordinariamente bonito, e sente algo assim como um efeito tranquilizante, consolador, ao ouvir essas frases com esses timbres. E espera que entre nossos leitores também haja quem venha a gostar!

“Renaissance Brass”
German and English music of the late renaissance “for brass”

  • MÚSICA ALEMÃ: Samuel Scheidt (1587-1654)
    A01 Canzona Gallicam 04’45
    A02 Benedicamus Domino 5’12
    A03 Galliard Battaglia 01’32
    A04 Wendet euch um ihr Äderlein 02’00
    A05 Canzona Aethiopicam 04’36
    A06 Canzona Bergamasca 04’35
  • MÚSICA INGLESA: Thomas Weelkes (1576-1623)
    B01 In Pride of May 01’58
    B02 O Care, Thou Wilt Despatch Me 02’15
    B03 Sit Down and Sing 01’09
    B04 Death Hath Deprived Me 04’43
    B05 As Wanton Birds 01’24
  • MÚSICA INGLESA: diversos
    B06 William Simmes (1575-1625): Fantasie 02’08
    B07 Alphonso Ferrabosco Jr (1575-1628): Four Note Pavan 02’12
    B08 Anthony Holborne (1545-1602): Galliard 01’54
    B09 John O’Koever (?-?): Fantasie 02’28
    B10 Orlado Gibbons (1583-1625): In Nomine 03’34

EASTMAN BRASS QUINTET
Daniel Patrylak and Philip Collins, trompetes
Verne Reynolds, trompa
Donald Knaub, trombone
Cherry Beauregard, tuba

Gravado em Nova York em setembro de 1967
Digitalizado por Ranulfus em junho de 2016

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Ranulfus

8 comments / Add your comment below

    1. Por pura casualidade, esta semana acabamos tendo uma espécie de “festival de metais” no PQP, não é mesmo, Wellington? O que me deixa muito feliz! Não sei explicar por que, mas poucas coisas me causam um “estado de graça” semelhante ao som de um trompete, de um flügel, ou mesmo de um trombone, conforme o caso. É um som dentro do qual eu me sinto não só com a cabeça ou com o sentimento, mas como se estivesse com o corpo inteiro dentro do som, viajando num estado de conforto incomparável!

      1. Verdade, foi uma profusão de metais, um festival ‘heavy metal’ rss. De fato, os timbres dos metais são avassaladores, uma das riquezas do arsenal sinfônico; musical, enfim. Abrs.

  1. Este trecho dá o que pensar:
    “Queremos nossa música pura e precisa, com os legatos do segundo oboé exatamente como o compositor os escreveu.
       Outras épocas, no entanto, foram decididamente indiferentes a isso. Durante a Idade Média, Renascimento e Barroco inicial a troca (interchangeability) dos meios de execução era antes a regra do que exceção.”

    Em outras palavras: Queremos nossa música conforme o compositor escreveu, mas não necessariamente desejou, que fosse executada. O excesso de individualismo acaba por desrespeitar o próprio indivíduo, na medida que este não pretendia necessariamente que sua individualidade fosse “congelada” no estado que ele a registrou…

    1. Interessante o seu pensamento, Cleverson… Acho que isso varia bastante de época para época, e até de compositor para compositor: alguns provavelmente fariam questão dessa exatidão, outros não. Mas uma coisa é certa: seja qual for a opção do executante, tem gente que vai gostar, e gente que não vai. Uns criticarão se ele for muito ousado, outros se for muito conservador… hehehe

  2. Sim sim. Entendo por exemplo que as execuções com instrumentos modernos e andamentos moderados são mais compatíveis com a grandiosidade de um Bach e por isso mesmo as interpretações informadas do ponto de vista histórico mas “desinformantes” do ponto de vista de grandeza de espírito não deveriam ter monopolizado o cenário como acontece hoje.

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