Segundo o Dicionário Aurélio, entre outras tantas definições dadas para a palavra gênio, uma que se encaixa bem no que pretendo expor é “Altíssimo grau, ou o mais alto, de capacidade mental criadora, em qualquer sentido”, ou então “indivíduo de extraordinária potência intelectual”. Creio que ambas as definições se encaixam perfeitamente à Arthur Rubinstein, um indívíduo que esteve sempre à frente de seu tempo, e que soube como poucos transmitir emoções indescritíveis quando sentava-se frente a um piano. Sempre digo que existem músicos e “músicos”. Dentro desta segunda categoria, incluo facilmente Rubinstein, Heifetz e Oistrakh, a minha trinca de ouro, meus instrumentistas favoritos, aqueles que estiveram à frente no seu tempo, e que continuam até hoje a influenciar dezenas de novos músicos.
Arthur Rubinstein viveu noventa e cinco anos, quase um século, e até o final da vida, manteve-se fiel ao seu instrumento, realizando recitais no mundo inteiro, mesmo depois de completar noventa anos de idade. Tinha uma memória incrível e uma postura clássica impecável quando estava sentado em frente ao seu companheiro fiel. Olhos fechados, concentração absoluta.
Esta gravação que ora vos trago foi realizada entre 1975 e 1976, quando já estava chegando nos noventa anos. Não é a minha gravação favorita do Concerto Imperador entre as diversas que ele realizou no correr de sua vida (conheço cinco), mas mesmo assim, podemos identificar aqui sua genialidade. Ele impera soberano. O então jovem Daniel Baremboim apenas faz a sua parte, sem intervir muito, conduzindo a Filarmônica de Londres com a devida cautela, digamos assim. É assim que devemos nos portar diante de alguém que está em um degrau acima, alguém que admiramos a vida inteira, e que de repente, nos dá a oportunidade de acompanhá-lo. Lembro-me de uma frase, retirada de uma carta de Isaac Newton que diz que ” If I have seen further it is by standing on the shoulders of Giants.”. Em uma tradução livre, “Se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombros de gigantes”.
São estes os gigantes que nos guiam, que nos orientam, mesmo que seja “apenas” tocando piano.
1 Beethoven Piano Concerto No.5 in E-flat, Op.73 ‘Emperor’ – I. Allegro
2 Beethoven Piano Concerto No.5 in E-flat, Op.73 ‘Emperor’ – II. Adagio un poco
3 Beethoven Piano Concerto No.5 in E-flat, Op.73 ‘Emperor’ – III. Rondo. Allegro
4 Beethoven Piano Sonata No.18 in E-flat, Op.31, No.3 – I. Allegro
6 Beethoven Piano Sonata No.18 in E-flat, Op.31, No.3 – III. Menuetto. Moderato
7 Beethoven Piano Sonata No.18 in E-flat, Op.31, No.3 – IV. Presto con fuoco
Arthur Rubinstein – Piano
London Philharmonic Orchestra
Daniel Baremboim – Conductor