SHOW DE BOLA !!!
Postado originalmente por CVL em 5 de março de 2010, repostado por Bisnaga.
Aqui, as palavras do colega CVL: Inexplicavalmente marginalizadas, as obras para violino e orquestra de Guarnieri são das poucas do gênero que realmente valem alguma coisa no repertório nacional. Graças ao Centro Cultural São Paulo e ao maestro Lutero Rodrigues, elas foram resgatadas e ganharam a primeira gravação mundial em DVD (no caso do Concerto n° 1, é a primeira gravação mundial, seja em áudio, seja em vídeo).
Se maestro Lutero estudou as obras como ninguém, mais ainda pode-se elogiar quanto ao jovem violinista Luiz Filíp, que mora atualmente na Alemanha. Realmente foi um projeto de grande envergadura, nunca feito antes no Brasil, nem mesmo com Villa-Lobos. Conheça os pormenores clicando aqui.
Seguem os comentários de Lutero Rodrigues, reproduzidos do respectivo site.
Concerto nº 1
Todos os seus temas são derivados do tema do 1º movimento, que inicia a obra. Este movimento é monotemático, pela mesma origem dos temas, mas tem um segundo tema bem definido, derivado do primeiro. Em seus comentários, Guarnieri deu, ao tema gerador, a origem “ameríndia”. O 2º movimento é monotemático. O 3º movimento tem a forma “sonata”, com dois temas: o primeiro, de caráter nordestino, e o segundo, vindo da música caipira do interior do Estado, em terças paralelas. Não há interrupção entre os movimentos da obra.
Chôro
A orquestra expõe o tema, na forma de entradas imitativas que se sucedem, até a entrada do solista. O movimento é monotemático como seu correspondente do Concerto nº 1, ou seja, o tema é desenvolvido pelo solista, como se fossem variações e, mais tarde, surge uma variação que atua como segundo tema. Depois dele, há uma verdadeira cadência para o instrumento solista, com acompanhamento orquestral, vindo em seguida a reexposição. O 2º movimento é monotemático e o 3º é bitemático, ambos de cores nordestinas. Como a obra anterior, não há interrupção entre seus movimentos.
Concerto nº 2
Como uma surpresa, a obra começa com uma grande e difícil cadência do Violino solo, em que já se ouvem alguns de seus futuros temas. Desta vez, o 1º movimento é realmente monotemático. O 2º movimento é também monotemático, mas há uma frase melódica (clarinete solo) que antecede o tema e sempre o acompanha. O 3º movimento é novamente bitemático; seu segundo tema tem caráter nordestino, enfatizado pela percussão que o acompanha. Há interrupção entre os movimentos da obra.
Eu, se fosse você, não perdia a oportunidade de ouví-lo!
Ouça! Ouça! Deleite-se!
Mozart Camargo Guarnieri (Tietê, SP, 1907 – São Paulo, SP, 1993)
Três concertos e a Missão
01. Concerto n° 1 – I. Heroico
02. Concerto n° 1 – II. Com grande calma
03. Concerto n° 1 – III. Muito alegre e ritmado
04. Concerto n° 2 – I. Lento
05. Concerto n° 2 – II. Triste
06. Concerto n° 2 – III. Allegro giocoso
07. Choro para violino e orquestra – I. Andante
08. Choro para violino e orquestra – III. Calmo
09. Choro para violino e orquestra – IIII. Allegro ritmado
10. Trailer Doc sobre Camargo Guarnieri – NOTAS SOLTAS SOBRE UM HOMEM SÓ
Luiz Filíp, violino
Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo
Lutero Rodrigues, regente
Teatro Municipal de São Paulo, 2008
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Partituras e outros que tais? Clique aqui
Sabe aquela coisa de fazer um comentário? Eu ainda gosto. Pode comentar, pessoal!
CVL
Repostado/recauchutado por Bisnaga
Pqp, desculpe-me formular a pergunta aqui, mas poderia me ajudar a encontrar partituras para piano de uma música chamada “Angolinha” e “O café”, acho que são do Villa-Lobos…
abs,
NIlson
Grandes obras de Guarnieri, perfeita interpretação da Osesp, esse merecia o I M P E R D Ì V E L!
Certeza, Pedro. Só veja que a orquestra foi a Sinfônica Municipal, não a Estadual, de SP.
Somente posso dizer Muitíssimo obrigado!!!
Luiz Felipe, nosso representante na BPO!!!
Sensacional, CVL!
Curiosidade: o Luiz Filipe não tem sobrenome, como se fosse um zagueiro do Caxias? (Ou tipo o Nigel Kennedy, ex-Kennedy, ex-Nigel Kennedy?)
Ter, tem. Mas ele não o adota artisticamente, pelo visto.
Tem coelho nessa cartola, CVL:
http://en.wikipedia.org/wiki/Luiz_Filipe_Coelho
De repente ele eliminou seu sobrenome por sua dificuldade de pronúncia (para estrangeiros). Nada que tenha atrapalhado a carreira internacional do Paulo Coelho, por exemplo.
Enfim, o que importa é que ele toca bem pra burro!
Fantástico, CVL.
Estava revisitando uns posts antigos e vi um da Clara Schumann. Vcs sabem por onde ela anda? o que tem feito da vida? etc… Ela sempre tinha excelente gosto para postagens.
Raineiri, a Clara sumiu depois que se desligou do blog. Ela estava envolvida com seu doutoramento, e além disso seu pai tinha feito uma cirurgia muito delicada, e precisava dos cuidados dela.. ela nunca mais mandou notícias.
Enviei-lhe uma mensagem nos Comentários sobre o CD do Kronos Quartet tocando Piazzolla. Como, talvês você não leia com frequencia notas sobre postagens antigs, estou mandando este lembrete. A oferta continua vigorando. Aguardo notícias. Ramires
Que cd bonito, uma obra de arte, agora bem que vocês poderiam postar a versão da OSESP para a integral dos Choros do Villa-Lobos.
Fantástico.
Não sou chegado a exageros ao elogiar.
Também não sou fã incondicional de toda a música brasileira, e percebo que há muito ufanismo quando se elogia toda e qualquer música brasileira.
No entanto, esta postagem do Camargo Guarnieri, interpretado por um dos mais brilhantes violinistas brasileiros (e virtualmente desconhecido, na gloriosa pátria do Créu), tem um valor incalculável.
Só quem tem décadas de “fuçagem” na seara da música erudita é capaz de perceber a verdadeira dimensão desta gravação: seja por 1) trazer uma ótima versão das “inexplicavelmente marginalizadas” obras do MCG para violino e orquestra; 2) documentar o atual estado da escola violinística brasileira, (se é que se pode dizer que há uma), em nome de um de seus mais vitoriosos representantes; 3) conter, simplesmente, música da mais alta qualidade.
Me pergunto se algum dia uma realização desse porte (um magnífico compositor erudito brasileiro interpretado por um magnífico violinista brasileiro) será divulgada e valorizada como merece pela mídia em geral. Enquanto isso, que todos acessem o PQP Bach.
Parabéns, com ênfase, ao blog.
Obrigado, Gardel. Não gosto de ufanismo também não, mas valorizo bastante o que temos de bom. As cinco únicas obras que prestam no Brasil para vl. e orq. (que eu conheça) são essas três do Camargo Guarnieri, o concerto do Hekel (por mais meloso que seja) e, em primeiro lugar, o concerto de Henrique Oswald, cuja gravação mais decente eu ouvi em sessão privada mas que ainda se encontra no Master, sem previsão de lançamento.
As Cadências de G. Bauer são desafiadoras mas esteticamente estranhas e o Concertino de Clóvis Pereira carece de maior inspiração (ambas as obras já foram aqui postadas).
O concerto do Oswald está entre os cinco melhores da história, sem dever nada a Brahms, Sibelius, Beethoven ou Tchai-Tchai.
Gostei das opiniões, acrescentando que:
1 – o Desafio de Marlos Nobre tem algum valor, ao menos do ponto de vista técnico-violinístico;
2 – os concertos de Radamés Gnattali, apesar de nunca tê-los ouvido bem tocados, são de pouca inventividade;
3 – o Hekel Tavares já ouvi trechos, mas ainda não tive estômago para “encarar” o pacote completo;
4 – depois de ouvir muita gente boa dizer que a sonata de Oswald (que é muito boa) seria comparável a César Franck e Brahms (para mim, pessoalmente, não chega a tanto), fico sempre com um pé atrás em relação a esse compositor;
5 – realmente, suspeito que o bom repertório nacional para violino e orquestra não vá muito além disso.
1 – É verdade. Curioso é que esse desafio foi adaptado idiomaticamente por Marlos para quase todos os instrumentos da orquestra como solistas, sempre mantendo a estrutura em dois movimentos: um curto e um mais longo.
2 – Gnatalli não logrou bem mesmo nesse âmbito.
3 – A única gravação que ouvi me deu raiva, mas Hekel bate Gnatalli.
4 – Se o auê lhe faz ter esse pé atrás, blz – é reação prudente. Mas ouvi já esse concerto de cabo a rabo e foi uma das melhores audições que tive, até porque foi no estúdio do engenheiro de som, num aparelho daqueles.
5 – Já fiz um levantamento. Vai mesmo não.
As duas peças do Villa são muito boas, grandes obras mesmo, muito embora eu nunca tenha ouvido o Martírio dos Insetos inteiro na versão orquestral (quem quiser ouvir o terceiro movimento, pode desfrutá-lo com o Heiftz: http://www.youtube.com/watch?v=stZqOv_JHCs).
E, aliás, fiquei pensando, e o repertório brasileiro não é assim tão pequeno, e do que conheço, há coisas algumas com certeza mais interessantes do que o que foi citado acima. Particularmente, eu pensaria nas peças do Almeida Prado, como as Cartas Celestes 8 e o Concerto para violino e cordas, o Concertino do Guerra-Peixe. Mas nunca ouvi o concerto do Lorenzo Fernandez, acho que o Mignone tem algo tb. E há várias peças sem gravação (como, que eu saiba, o Martírio dos Insetos do Villa) que podem ser interessantes.
Wellington, o repertório pode não ser tão pequeno em quantidade, mas em qualidade me parece que é. O problema dessas obras nunca gravadas, ou pouco gravadas, é justamente esse: dependem de serem descobertas por um bom intérprete, que as coloque no lugar eventualmente merecido. Antes disso, são mero potencial. E a maioria delas decepciona, uma vez gravadas.
O concerto do Almeida Prado, que tem inclusive ótima gravação com Tibor Varga, é uma obra de vanguarda interessante, assim como tantas outras. Provavelmente o melhor concerto brasileiro nesse estilo, se é que isso vale alguma coisa.
As obras de Guerra Peixe acho muito legais e agradáveis, mas de pretensões modestas.
O tal Martírio dos Insetos, sinto muito, mas também não me parece uma “grande obra”. Uma boa obra de efeito, talvez. Aguardo, de mente aberta, uma gravação que me convença do oposto, mas sou cético nesse ponto.
Enfim, me parece que esses Camargo Guarnieri se destacam muito do restante.
O repertório brasileiro de música de câmara é até bastante rico, mas, violino acompanhado de orquestra… sei não.
Na verdade o repertório mundial de violino e orquestra não é muito diferente em qualidade do nacional. Mesmo peças famosas, como o concerto do Tchaikovsky deixam muito a desejar. Belo solo, mas uma parte orquestral absolutamente estúpida. E na média, os concertos para violino são terrivelmente insossos (o que é normal, claro).
De verdade mesmo, gosto do concerto do Alban Berg, verdadeira obra prima. Gosto muito também do concerto do Ginastera e do do Schoenberg. Nenhum dos russos me impressiona muito na formação. O do Katchaturian é legal. Szymanowsky tb. Não gosto muito da do Berio, Penderecki também não me anima tanto. As duas peças do Lutoslawski são boas, mas não estão entre o que de melhor ele fez. Enfim, sobram peças menos conhecidas, que precisamos caçar como se pode caçar as brasileiras.
Sobre o Martírio dos Insetos, dizer que é obra de efeito não me diz muita coisa. Eu particularmente gosto muito da redução para violino e piano, com certeza muito mais do que dos concertos do Guarnieri (dos quais confesso esperava mais, já que os para piano são verdadeiramente brilhantes). Tenho também gravação da Fantasia de Movimentos Mistos e a acho uma peça muito interessante, e com certeza não é algo de pretensões modestas.
Mas, enfim, partir do pré-julgamento de que uma obra tende a ser ruim porque as outras que foram gravadas são ruins, como quem quer antecipar a catástrofe, me parece muito estranho, ainda mais que uma coisa são peças do Hekel ou do Radamés, outra é uma peça do Mignone (por sinal, ele tem um concerto para violino, de 1961, e um outro para violino e piano).
Então é necessário “caçar” bons concertos pra violino? São “terrivelmente insossos, o que é normal”??? O instrumento com maior variedade e qualidade de repertório disponível, depois do piano? Sinto muito, mas falta até paciência pra comentar. Recomendo buscar uma lista de concertos para violino no Google.
Com todo o respeito, agora só falta dizer o que está implícito no post: que você considera o concerto de Francisco Mignone superior ao de Tchaikowsky, rs… Você definitivamente é um patriota. E olha que gosto de Francisco Mignone.
Quanto a gostar do pessimamente orquestrado Katchaturiam e falar mal da orquestração do Tchaikowsky… Sem comentários. Mesmo.
Enfim, você muito, mas muito dificilmente mesmo, vai encontrar alguém da área que, em sã consciência, concorde com essas opiniões suas. Mas no fim das contas o gosto é seu, faça bom proveito dele.
Enfim, isso já está partindo para a ofensa pessoal, mas enfim, vejamos se conseguimos manter a discussão interessante.
Bem, usando da suas próprias palavras, o que não deixa de ser espúrio, quantidade não significa qualidade (mas isso é praticamente tautológico, já que a média tende a ser média, portanto, insossa). De qualquer forma, a verdade é mesmo que acho bem mais fácil achar bons concertos para cello, por exemplo. Exceto pelo concerto do Berg, não consigo pensar em nenhuma peça que me agrade tanto quanto o concerto para cello do Lutoslawski ou o segundo do Shostakovich, mas isso, claro, não me impede de gostar de outras peças, como o concerto do Katchaturian (ainda que possam ser feitas algumas ressalvas a ele) e de achar que a Fantasia de Movimentos Mistos do Villa é uma obra deliciosa (e com certeza deveria ser bem mais importante no repertório mundial que o concerto do Katchaturian). E, embora você possa duvidar, eu realmente ouvi muitos concertos.
O segundo ponto é o do Tchaikovsky. Não falei mal da orquestração dele. Mas sim da parte orquestral, que é insignificante. O concerto para violino dele é praticamente uma peça para violino solo com uma orquestra inteira não fazendo nada. Me irrita colocar uns 60 músicos para fazer só uma base mínima que só serve para não deixar o violino sozinho.
O terceiro ponto é o do Mignone. Se você ler com atenção, a comparação é com o Gnattali e o Hekel. Basicamente quero afirmar que o Mignone, além de ser um orquestrador muito mais refinado, costumava ser muito mais pretensioso. Por outro lado, como já tinha afirmado antes, não posso dizer que o concerto para violino do Mignone é melhor que o do Tchaikovsky, já que não o ouvi. Só posso dizer que, uma vez que ele é um compositor prolífico, seu concerto pode, sim, ser muito interessante.
O quarto é sobre a história de patriotismo. Eu poderia argumentar que tenho interesse por músicas de vários lugares e, portanto, seria necessário dizer que sou patriota de muitos lugares (como exemplo, recomendo compositores romenos, Stefan Niculescu e Pascal Bentoiu, que são fabulosos). Mas, enfim, a questão não é essa. O problema é que sua argumentação parte praticamente do ponto de vista de que o cânone clássico-romântico é, em grande medida, inatacável, por ser comprovada sua qualidade. E que um compositor como o Mignone, que não faz parte do cânone, não pode ser tão bom quanto um Tchaikovsky. Portanto, o único motivo para se falar bem dele é por puro nacionalismo. Indo ao ponto, não acho Tchaikovsky um compositor tão interessante, muito embora o reconheça um grande orquestrador e pontualmente goste de algumas peças dele, muito embora você possa criticar meu ponto de vista pelo fato de eu ter uma relação muito fraca com a música anterior ao século XX (o que não me impede de considerar Mussorgsky um verdadeiro gênio). O Mignone não é um gênio, tem uma obra extremamente irregular, mas tem grandes momentos. Ele é mais famoso por peças menos interessantes (que não são necessariamente ruins), como as Valsas de Esquina, a Festa das Igrejas e o Maracatu do Chico Rei. Mas pouco se fala da Sonata nº1 para piano, uma obra que me merece seu lugar no repertório pianístico, ou do Concerto para piano (que não é revolucionário, mas é grande, e sem dúvidas me interessa muito mais do que os concertos do Tchaikovsky para o instrumento).
E pensando bem, essa questão de os compositores serem conhecidos por obras menos interessantes, acontece com a maior parte dos compositores brasileiros, principalmente os modernistas. Uma vez que suas obras mais interessantes são mais difíceis de tocar, mais exigentes, com acesso mais difícil às partituras, apelam menos a um simples folk que possa agradar o público internacional que está à procura de exotismo (e que é o que mais divulgamos da nossa música), acabaram ficando muitas vezes relegadas a um plano menor. O fato de só agora os concertos 4 e 5 para piano do Guarnieri ou os Choros 9 e 12 do Villa terem recebido uma segunda gravação comercial bem demonstra o problema.
Enfim, todo o assunto é bem espinhoso e demanda algum cuidado (ou desprendimento). A única coisa que eu queria dizer mesmo é que o repertório brasileiro não pode ser medido pelos seis nomes que estavam sendo citados (Guarnieri, Nobre, Oswald, Bauer, Gnattali e Tavares).
Sinto muito se minha réplica lhe pareceu ofensa pessoal, amigo. Não foi minha intenção. O meu objetivo era simplesmente demonstrar que suas opiniões destoam bastante dos padrões normalmente aceitos no meio musical. Não significa que sejam ruins.
Reconheço, contudo, que minha ironia pode soar agressiva e nada sutil, e que devo prestar atenção nisso.
Agora, com sua “exposição de motivos”, fica claro que você tem uma boa noção do que está falando, ao contrário do que a brevidade de seus posts iniciais poderia fazer supor.
Confesso que também não sou fã incondicional de Tchaikowsky, apenas reconheço que seu concerto para o violino é bastante inspirado. Até aceito o argumento de que a parte de orquestra não é tão boa (talvez a crítica se adeque mais ao primeiro movimento), mas acho que o todo, no caso (violino + orquestra), consegue ser superior à soma das partes.
A questão de quais obras devem ser comparadas entre si, no final, não parece muito relevante para mim. O ponto central da discussão me parece ser a relativamente pouca importância (para não dizer mediocridade) das composições brasileiras para violino e orquestra, sob um ponto de vista “internacional”.
Que Villa-Lobos e Mignone têm importância superior a, digamos, Radamés Gnattali e Hekel Tavares, para mim é claro também. Mas, sinceramente, em termos de composições relevantes para a instrumentação violino + orquestra, me parece que suas contribuições não chegam a fazer tanta diferença assim.
E o que você falou sobre a irregularidade do Mignone poderia ser aplicada, guardadas as devidas proporções, ao Villa-Lobos também. E outra coisa, o Katchaturian não me agrada muito; dizer que alguma obra é melhor que a dele não me diz muita coisa.
Alguns exemplos de concertos para violino realmente bons, na minha opinião, seriam (só pra ficar no século XX e simplificar o trabalho): os dois de Prokofiev, Bartók, o próprio Berg, Schoenberg, Sibelius, Elgar, os dois de Shostakovitch, Walton, Britten, Carl Nielsen, Hindemith (fantástico!), Richard Strauss… Enfim, provavelmente seu gosto é diferente e o respeito, mas não vejo como escalar um brasileiro para essa seleção.
Sob um viés super generoso, eu até incluiria, no panorama das obras importantes, dentre as que você mencionou, o Almeida Prado e algum concertino mais inspirado de Guerra Peixe.
Bem, o melhor modo de você saber se as peças do Villa e do Mignone são significativas é ouvindo. Não deveria fazer isso, mas vou postar o link da Fantasia de Movimentos Mistos para que vc veja: http://www.mediafire.com/?emngmyh22o0. Assim que pegar, me avise, que vou deletar o link. Francamente, é uma obra que me entusiasma bem mais do que os concertos do Prokofiev e do Shostakovich. A forma como ele consegue dar uma sensação de convulsão no meio do primeiro movimento me impressiona. E o modo como ele consegue fazer aquele segundo movimento ser denso, inquieto, e bizarramente passar uma sensação de serenidade, é de tirar o chapéu. Do último movimento, gosto muito pelo fato de ele ir de um tom mais escuro para o radiante (e de como a alegria que aí desponta não a torna ligeira). O concerto nº2 do Bartók é uma obra de maior peso, mas por algum motivo que me foge, não me acerto bem com ela (ainda que goste bem mais do que do concerto do Tchaikovsky). Prefiro as rapsódias, ainda que às vezes elas me pareçam cair numa breguice bem incômoda. De qualquer forma, tenho realmente uma relação bem mais intensa da Fantasia de Movimentos Mistos e com a força expressiva que ele carrega, mesmo que o concerto do Bartók possa ser considerado mais maduro enquanto concepção e pelas soluções técnicas.
E não vejo a hora de ver como soa orquestralmente a Cigarra no Inverno, que é de uma delicadeza e uma introspecção indescritíveis no seu tour de force.
Já o Mignone, realmente não tenho como saber. É uma obra de um bom momento dele, mas ele é instável mesmo nos bons momentos (a se ver a diferença entre o Concerto para piano e a Burlesca e Tocata, que são do mesmo ano). E diferente da irregularidade do Villa, que é absorvida pelo estilo dele (amo uma frase dele dizendo que o Guarnieri voava só com gasolina de primeira, mas ele, Villa, voava com qualquer líquido combustível. Diz muito sobre a estética dele) e nunca faz suas obras perder uma expressividade e um humanismo difícil de achar por aí, o Mignone cai numa ligeireza bem menos interessante.
Por fim, outra obra interessante do repertório brasileiro para violino e cordas que conheço e a Sonâncias III do Edino Krieger.
É muito fraco o concertino do Guerra…
Já baixei, obrigado pelo link, Wellington.
Numa primeira audiçção, realmente é uma grande obra que desconhecia, dos momentos realmente inspirados de Villa-Lobos, e merece ser bem mais prestigiada pelos intérpretes, não só no Brasil mas no mundo. Gostei muito, muito mais que o Martírio dos Insetos. Numa primeira audição, parece até bem superior aos Camargo Guarnieri aqui postados, o que não os desmerece.
Por outro lado, os concertos de Bartók e Prokofiev, para ficar nos que você mencionou, provavelmente continuarão muito mais do meu agrado, seja do ponto de vista estritamente técnico-composicional, seja pela minha relação afetiva com as obras. Quem sabe eu passe a gostar mais da Fantasia do que dos Shostakovich, os quais não me atraem tanto, pelo simples fato de que tenho a tendência de gostar muito mais de Villa-Lobos.
Para manter o foco da discussão, enfatizo que não se trata, formalmente, de um concerto para violino. Assim, temos mais uma grande obra numa forma mais livre, talvez rapsódica, mas concerto para violino, propriamente, ainda temos muito poucos, com a possível adição do Mignone citado.
CVL, não conheço toda a obra do Guerra-Peixe para violino e orquestra, o concertino que ouvi realmente é fraco, mas supunha que existem outras obras equivalentes que eu não conheça… Se não existem, então me limito a assinar embaixo: é fraco mesmo. O Almeida Prado, por mais que não me cative tanto, não posso me limitar a chamar de fraco, é uma obra de certa densidade.
Prezados provedores de prazeres auditivos, este link caiu. Dá pra revalidar?
Muito obrigado, antecipadamente e eternamente!
Prezados provedores do PQPBach! por favor revalidem esse link q eu to precisando analisar esse concerto! por faaaavoooooorrrr!! seus uploads sao obrigatorios para a minha formacao analítica!
Ely, estranhamente, nosso SAC te atendeu e repostamos as obras! Abração
MUITISSIMO OBRIGADO, NAO TENHO DE FORMA NENHUMA COMO AGRADECER ESSA REPOSTAGEM ESSE CONCERTO ESTA SENDO ANALISADO AGORA HAHAHAHAAHHAHAAHAH
Eu apoio! 🙂
Adorei a repostagem! Já tinha a antiga, mas esse cd merece FLAC !! Valeu, obrigada! E achei muito interessante a discussão que se seguiu, conheci um pouco o wbujokas que conheci em outras paragens virtuais (no Soulseek) e que tem muito bom gosto…
Oi, Vivelo! Muito obrigado pela lembrança e pelo elogio! Como estão as coisas por aí? Por sinal, lembrando a discussão, agora temos gravação do Martírio dos Insetos e realmente acho a peça linda. Consegui também a partitura do concerto para violino do Mignone, mas ninguém ainda para tocá-lo. Estou doido de curiosidade, hehe.
Gente, não li todos os comentários e por isso corro risco de falar bobagem! O Luis Filip toca atualmente na Filarmônica de Berlim e tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente aqui em Berlim. Toca muito e é super simpático! Merece ser bem-sucedido como está sendo! Abraçao e obrigado pelas pastagens e pelo site maravilhoso!