Sergiu Celibidache defeca sobre Herbert von Karajan

Uma entrevista de 1979 com Sergiu Celibidache, o mítico regente de Munique que, perguntado sobre alguns de seus colegas, disparou contra Karajan.

“Herbert von Karajan”, disse, “é o caso mais trágico de decadência dentre todos os maestros. Quando jovem, tinha potencial, mas depois sucumbiu a uma vaidade sem limites e chegou a uma completa incompreensão da música. Tornou-se um péssimo músico, na verdade tornou-se um não-musical”.

Perguntado por que o público adorava Karajan, Celi respondeu: eles adoram Coca-cola também.

Eu acho que as gravações falam por si. A maioria é mesmo uma merda.

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  1. Gosto muito deste site, mas que post mais gratuito e deselegante.

    A impressão que eu tenho é que as pessoas se sente cult por se tornarem contra tudo o que é comercial. E tanto a opinião do Celibidache e de quem postou isso reflete bem.

    Acho o Celibidache um regentaço, mas perdeu uma boa oportunidade de ficar calado naquela ocasião. Todo mundo sabe do rancor que ele nutriu pelo Karajan ao perder a Filarmônica de Berlim.

    Mas isso faz muito tempo. Vai entender por que este blog resolveu trazer isto a tona.

    Pra finalizar, apenas uma pergunta: Quem vocês acham que fez mais pela divulgação da música clássica no mundo? Celibidadache ou Karajan (desconsiderando sua opinião quanto a qualidade da sua regência)?

  2. Não sou lá grande crítico. mas em música tudo que é comercial é de fato de qualidade duvidável. não que os “famosinhos” não sejam bons. muitos são. mas a industria da música não trabalha com qualidade musical, mas com imagem.

    um músico, para se destacar na industria, deve ter um visual razoável, de preferencia bonito, interagir bem com o público, bem articulado e possuir uma certa aura de genio, de talentoso. ai vem um marketing e cima e pronto, eis uma estrela acabou. e são esses os que conseguem visibilidade, por isso são os que “mais fazem pela música”. o karajan é bom, sem dúvida, mas não é nem de perto um dos melhores.

    1. E que aconteceu com Mariss Jansons. Que houve com Weissemberg, que tanto gravava com Karajan. Abbado, que o sucedeu na Filarmônica? Pollini e Maazel era bonitinhos? Gilels? Ora, creio que há uma generalização, há certas atitudes de mercado incompatíveis com a música clássica e com um maestro que queira ser respeitado pelos outros, como Herbert era. Só se estivéssemos falando de uma máfia.

  3. Sendo um grande músico, com credenciais indiscutíveis a exibir, Celibidache teria direito à esta opinião. Assim como a outros, menos dotados, só restaria repeti-la — naturalmente com menos razão. Mas não posso deixar de pensar, quanto tempo ele precisou para proferir a frase? Se foi no mesmo andamento que aplica em Beethoven, deve ter fatigado o repórter mais do que ao público

  4. Concordo em gênero, número e grau!
    Karajan, o pior regente que já existiu!
    Este regente só prestou para reger Wagner (o mais intragável dos compositores) na Ópera de Paris, em 1940, logo após a ocupação da cidade pelos nazistas!
    Mas que garoto propaganda, hein!
    Voltando para a Música: Günther Wand x Karajan; há necessidade de algum comentário!

  5. Se levarmos em conta, são duas maneiras de se pensar bem diferentes as deles não é mesmo? Karajan gravou muito, demais da conta mesmo. Suas gravações pela EMI são memoráveis, principalmente as do início de carreira, quando ainda estava na Philharmonia em Londres, são simplesmente maravilhosas e cheias de sensibilidade. Suas gravações das Sinfonias de Sibelius são memoráveis, a ponto de o próprio Sibelius na época dizer que ele era o regente que melhor entendia sua música. Suas gravações de óperas são fantásticas, com algumas exceções é claro, como por exemplo seu Turandot um tanto diferente. Seus ciclos de Beethoven estão entre os melhores já gravados. Enfim ele fez muito pela divulgação da música sim, principalmente para as classes menos favorecidas que não têm a oportunidade de frequentar uma sala de concertos, deixando um legado enorme registrado desde o início dos anos 40. Já Celibidache, esse sim foi diferente. Se negava absolutamente a entrar em um estúdio para gravar. O pouco que se tem gravado dele se limita a apresentações em público. Mas porquê? Porque segundo ele cada execução de um obra é única e deve ser ouvida apenas uma vez. Não regia óperas de maneira nenhuma, o porquê não sei dizer. Mas foi um regente um tanto polêmico, com tempos muito lentos, costumando às vezes dobrar a duração de algumas obras. Fazia isso com o sentido de aproveitar ao máximo as melodias de uma certa música. O que eu particularmente adoro, principalmente em Bruckner, tornando suas sinfonias muito mais solenes e dramáticas. Não o julgo hora nenhuma em seu comentário, visto que são dois grandes mestres que muito fizeram, cada um à sua maneira, seja no teatro ou nos estúdios de gravação, para a divulgação da música clássica.

  6. Se fosse qualquer outro regente criticando o Karajan até que eu me preocuparia, mas o Celibidache sempre foi meio ranzinza. Ele atacou praticamente TODOS os regentes da sua época (incluindo Toscanini, Solti, Metha, Maazel, etc). Creio que só chegou a elogiar o Stokovsky.

    Há um texto muito interessante sobre ele neste link: http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/1343/mod_resource/content/1/Giron_Celibidache-Karajan.pdf

    O problema do Karajan está: 1- no seu narcisismo (principalmente a partir da década de 70), que o impedia de ver as gravações pavorosas que lançava no mercado; 2- no seu tino comercial e no seu marketing pessoal (o simples fato de ele reger de olhos fechados, independentemente dos motivos que o levaram a fazer isso, já é uma grande sacada de um gênio do marketing pessoal), que lhe trouxe sucesso comercial, mas fez com que, aparentemente, perdesse um pouco do senso artístico.

    1. Já me filmei em casa, imitando que regia. Com certeza, seria também de olhos fechados, como Karajan, devido a uma identificação. Não nos esqueçamos de sua afirmação muito difundida: “Eu me sinto como se estivesse entrando num templo quando piso numa sala de concerto”.

  7. Essa entrevista lembrou-me um causo.
    Todo mundo sabe o quanto inúmeros solistas judeus evitaram Karajan por causa de seus antecedentes duvidosos. Pois bem: depois de um concerto, Arthut Rubinstein foi abordado pela Sra. Karajan (então um mulheraço) que lhe disse na lata o quanto seu marido lamentava nunca ter feito música com o grande pianista. Rubi olhou aquele avião, sorriu e disse que era de um tempo em que um homem como ele jamais conversava com uma bela mulher sobre o marido dela…
    Moral da História: Gente fina é outra coisa.

  8. E o Carlos Kleiber dizia que o Celibidache era um charlatão. O que também não é de todo errado, pois o maestro romeno vendia-se como a síntese mais bem acabada da tradição da regência, coisa que, em que seu inegável talento, ele nunca foi. Ou seja, em um mundo de vaidades inflamadas, esse tipo de criticismo se esvazia sensivelmente nas camadas de antipatia mútua que muitos maestros nutrem entre si.

      1. Karajan era chegado mesmo ao poder.
        Bernstein buscava o aplauso e amor da platéia.
        Calibidache caminhava entre o místico e o mito.
        Na prática eu ouço muito pouco o Celibidache por conta da lentidão.
        Ouço muito o Karajan que de bobo nunca teve nada e tinha nas mãos a melhor orquestra da época.
        Já Bernstein tenho uma reverência especial por ser o mais culto e completo além da paixão como regia.
        Um forte abraço a todos do Dirceu.

        1. Prezado Dirceu. você foi muito feliz no seu comentário. Realmente na época de Karajan, a Filarmônica de Berlim era a melhor orquestra da época. E ouso dizer com uma larga vantagem.

          Vinte e cinco anos depois a orquestra não chega nem aos pés das suas irmãs Viena e Concertgebouw.

          Nada é de graça…

  9. Celibidache não falava mal apenas do Karajan, não, mas de praticamente tudo que tinha pernas e uma batuta na mão. Se não nesse vídeo (alemão é demais pra mim), a língua dele já atacou também Bernstein, Muti, Bohm, Furtwangler, Toscanini e já trocou farpas até com o Kleiber. Não acho que seja o marketing do Celi, mas que ele tinha uma convicção tão grande dos tempos (lentos, em maioria) e escolhas dele que não entendia o que os outros faziam, mesmo que esses outros fossem, justamente, muito mais fiéis ao compositor. Infelizmente.
    Aí existe essa carta anônima endereçada ao Celibidache, dizem que escrita pelo próprio Carlos Kleiber:

    “Telex from Toscanini (Heaven) to Celibidache (Munich):

    Dear Sergiu!
    We have read you in the Spiegel. You get on our nerves, but we forgive you. We have no choice anyway: forgiveness is in style Up Here. Potato-sack Karli made some objection, but after Kna and I had a heart-to-heart with him, he stopped whining.

    Wilhelm now all of a sudden insists that he has never even heard of you. Papa Josef, Wolfgang Amadeus, Ludwig, Johannes, and Anton all prefer the second violins on the right and claim that your tempi are all wrong. But actually, they don’t really give a damn about it. Up here, we are not supposed to care a damn about anything. The Boss does not allow it.

    An old Zen master who lives next door says you got it all wrong about Zen Buddhism. Bruno is totally cracked up by your comments. I have the suspicion that he secretly shares your views about me and Karli. Maybe you could say something mean about him for a change; otherwise, he feels so left out.

    I hate to break it to you, but everybody up here is totally crazy about Herbert. In fact, the other conductors are a little jealous of him. We can’t wait to welcome him up here in fifteen or twenty years. Too bad you can’t be with us then.

    But people say that where you will go the cuisine is much better, and the orchestras down there never stop rehearsing. They even make little mistakes on purpose, so that you have a chance to correct them for all eternity.

    I’m sure you will like that, Sergiu. Up here, the angels read the composers’ minds. We conductors only have to listen. Only God knows why I’m here.

    Have lots of fun,

    In old friendship,
    Arturo”

  10. Prezados,
    Talvez estejamos equivocados quanto ao foco do debate.

    O Celibidache, como já apresentado aqui, tinha suas idiossincrasias e motivos, mas fez esta declaração faz muito tempo, e já faleceu há quase 20 anos atrás. Os reais motivos dessa declaração talvez nunca saibamos.
    O que temos aqui é uma posição do presente blog, mais particularmente do seu dono, sobre Karajan, por trás desta declaração do Celibidache, como bem alertada pelo colega Leo acima.

    E só atentarmos para o título deselegante do presente post.
    O motivo por trás disso? Genuíno desdém pelo Karajan? Criar enquete? Não sei.

    Acho que o Karajan, como qualquer ser humano, tem muitos defeitos. Sejam pessoais ou profissionais. Mas acho seu legado para a música clássica indiscutível. Poderia listar diversas gravações maravilhosas como a sua ultima, a VII de Bruckner, ou equivocos como o Triplo Concerto de Beethoven, mas ficaria horas nisso. No entanto, em minha opinião, seu saldo foi extremamente positivo.

    Uma vez num outro site música clássica disse que não gosto do estilo do Simon Rattle, apesar de saber que ele era um ser humano de primeira. Fui criticado por alguns, outros concordaram comigo. Mas a discussão ficou na esfera musical e em alto nível.

    É nesse ponto que queria chegar. Será que um blog de música clássica não deveria começar um debate de outra forma, ao invés da rasa chacota? Será que sua opinião pessoal é tão importante assim?

    Talvez esteja dando muita bola pra isso tudo. Talvez esse seja o motivo…

  11. essa situação me lembra aquela inversão equivocada dos dizeres de nietzsche por uma parcela teísta :

    deus está morto – nietzsche
    nietzsche está morto – deus

    celibidache defeca em karajan – com palavras
    karajan defeca em celibidache – com gravações inteligíveis

  12. Celibidache X Karajan .´Judeu X Alemão, isso não vai dar certo ! Deixem a musica fluir, deixem os maestros se engalfinharem,( Já estão em outro plano) pois o que importa é o resultado da doce melodia.

  13. Conforme o critério de nacionalidade dos próprios alemães (jus sanguinis), Karajan não era assim tão alemão. Os Karajan eram, na verdade, gregos, com diversas outras ligações étnicas com a península balcânica. Quanto à música, respeito muito as controversas opiniões de Celibidache (que considero muito superior a Karajan), mas sinto falta da época em que tínhamos Karajan e não André Rieu.

  14. Ora, ora… Eu tenho mais de uma centena de CD’s de Herbert von Karajan e, apesar de não me alimentar tão corretamente a ponto de satisfazer todas as recomendações dos nutricionistas, não tenho o hábito de beber Coca-Cola. Não nego que gosto do molho de mostarda, talvez o catchup combinasse mais com o Karajan? A meu ver, não houve interpretações que captassem mais a alma germânica, a elegância de Karajan é inigualável. Só em Tilson Thomas eu ouvi algo tão harmônico e maravilhoso. É uma bobagem esperdiçar tantos esforços com aquilo que deveria ser, quando o que é é tão belo. E o que é belo é definido pelo que o apreciador do belo é. Particularmente, não sou muito neurótico, minha batuta, seu eu chegar a maestro um dia, também será desinibida, meu mijo será em público para engarrafarem e darem a quem quiser beber.

  15. Como tive espaço aqui para expressar minha opinião, irei divulgar/salientar mais uma do Sergiu sobre o Karajan, apesar de o poste ser tão antigo. Cheguei a chorar de tanto dar risadas, mesmo gostando do Karajan, o que revela o dom humorístico do maestro. Dizia ele, sobre sua antiga mágoa: “Ao reger, parece que ele está batendo uma maionese”. Tem sentido, e chegava no ponto quase sempre sem “quebrar”…

  16. algumas interpretações de karajan realmente me deixaram um tanto o quanto decepcionado, sherazade, de korsakov, por exemplo, o bolero, os quadros de uma exposição. mas ha o parsifal, o rosenkavalier, ariadne auf naxos, aida, com tebaldi e bergonzi, os poemas sinfonicos do proprio richard strauss, as sinfonias 2,3 e 4 de mendelssohnn, a holberg suite de grieg, as sinfonias de brahms, as de tchaikovsky – para mim uma das melhores interpretaçoes, senao a melhor – a integral das sinfonias de beethoven – embora a pastoral com bohm seja para mim inigualavel. enfim. karajan fez muita coisa boa. por exemplo, ouvi as sinfonias de sibelius com ele, e ate agora nao ouvi nada melhor, alias, sibelius dizia que karajan era para ele o unico maestro que o compreendia bem.

  17. Depois dessa coisa horrenda que foi o Latim com sotaque alemão do coro no Requiem de Mozart, acho que não vou dar outra chance ao Karajan não. 😀

  18. Detesto este regente,não gosto de quase nada dele,uma lentidão irritante,tornando sinfonias majestosas em música sonolenta e chata ao extremo,fuja das gravações dele.Já Karajan é um ótimo regente,suas gravações de Wagner, Sibelius, Brahms, Beethoven, Strauss são ótimas,experimentem ouvir com ele Parsifal e o réquiem alemão,gravações de qualidade etérea.

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