Antonio Carlos Gomes (1836-1896): O Piano Brazileiro de Carlos Gomes [Acervo PQPBach] [link atualizado 2017]

Um Disco Antológico !

Presente de dia das Mães!

Fonogramas fornecidos pelo musicólogo Prof. Dr. Paulo Castagna (CD) e por Alisson Roberto Ferreira de Freitas (LP).

Em 1980, Fernando Lopes gravou a obra integral para piano de Carlos Gomes. É disco de cabeceira! É obra que devemos conhecer. Aqui temos o Carlos Gomes que foi além das óperas, que mostrou-se influenciado por outros compositores contemporâneos e que introduziu inovações em seu tempo. Aqui o vemos mais por completo: Carlos Gomes é muito, mas muito mais do que o compositor d’O Guarani!

O título já é bastante significativo: o Piano Brazileiro de Carlos Gomes, e brasileiro com “Z”, quer deixar bem claro que trata-se de música do século XIX, quando a grafia mais utilizada do nome deste país era assim: Brazil, e que as obras aí contidas, por maiores que fossem as preocupações nacionalistas de Carlos Gomes, não conseguem perder a influência europeia (e italiana) que o compositor sofreu.

E Carlos Gomes mostra que era um compositor acima da média, sim! Suas obras para piano são de grande qualidade e de rara beleza melódica. É inegável: o compositor campineiro era um melodista de primeira. No entanto, como eu já afirmei em postagem anterior, tais obras nunca tiveram uma preocupação didática e muito menos de exploração e desenvolvimento da técnica pianística: não vamos encontrar um Chopin nem um Rachmaninov aqui. Essas músicas eram danças de salão, peças para recitais. Nessa visão, encontramos um belo panorama da música do século XIX nas obras gomianas. Há modinhas, tão caras ao gosto brasileiro, valsas, e, como não poderia faltar à verve nacionalista de Nhô Tonico, mulato, quadrilhas e danças de negros, com destaque para A Cayumba, uma dança de negros composta no longínquo ano de 1857, 32 anos antes da Abolição! Carlos Gomes procurava, ainda que com dificuldade de se desvencilhar dos padrões preestabelecidos da música europeia, fazer uma leitura dos ritmos brasileiros.

No encarte do LP/CD, Brunio Kiefer, fala mais sobre essa e outras obras:
Num primeiro contato com a quadrilha Quilombo, o ouvinte pode ficar intrigado por duas razões: uma delas decorre da presença da dança A Cayumba. O artigo definido sugere que Carlos Gomes tenha composto uma só dança com esse nome, o que estaria de acordo com os registros que temos. Mas, e a dança de mesmo nome na face oposta [do disco, aqui faixa 12]? A nosso ver, A Cayumba, que integra a referida quadrilha, deriva da que inicia esta gravação. O autor simplificou, encurtou e modificou aí aspectos rítmicos.  Razões de pressa, de extensão? Não temos base para responder. Além disso, a dança original está um pouco mais próxima de uma possível dança de negros. Infelizmente não conhecemos a data da composição da quadrilha. A Cayumba (Dança de Negros) original foi composta em 1857 e ocupa um lugar histórico em nossa música. A outra razão decorre da presença do titulo Bamboula, que corresponde a uma dança negra das Antilhas. Somos levados a pensar, imediatamente, em Gottschalk, famoso pianista-compositor americano que esteve entre nós em 1869 e exerceu notável influência tanto como pianista como pelas composições. Entre estas figurava uma Bamboula (gravada na série Música na Corte Brasileira nº 4 [na faixa 07, o álbum foi postado aqui no PQP], por iniciativa da Rádio MEC). Se ouvirmos ambas, tornar-se-á patente que Carlos Gomes tirou seu material temático da peça de Gottschalk, sem a menor preocupação de disfarçar a origem! A peça do compositor brasileiro, no entanto, é mas curta. Na décima faixa encontramos, baseado em material impresso, cinco peças designadas por Quadriglia: Caxoeira (sic), Santa Maria, Morro Alto, Saltinho e Mogy-Guassú. Segundo registro de Juvenal Fernandes (Carlos Gomes – do Sonho à Realidade), as mencionadas peças integram o Ramalhete de Quadrilhas (sic. no plural). Na faixa n 11, está registrado Mormorio (Improviso), de belo efeito. De um modo geral, as peças desta gravação não apresentam uma fisionomia definida. São, no entanto, bem-construídas, fluentes e agradáveis. Música de salão de século passado! E européia, antes de mais nada! Nem tudo se encontra em impresso. A execução de Anemia, por exemplo, foi baseada em manuscrito. E por falar em execução: a desta gravação merece destaque. (Bruno Kiefer – extraído do encarte)

É lindo! Ouça, ouça! Deleite-se!

Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
O Piano Brazileiro de Carlos Gomes

01. A Cayumba (Dança dos negros)
02. Niny (Polca Salon)
03. Anemia (Preludietto)
04. Grande valsa de bravura
05. Uma paixão amorosa
06. Caxoeira (Quadriglia)
07. Santa Maria (Ouadriglia)
08. Morro alto (Quadriglia)
09. Saltinho (Quadriglia)
10. Mogy-Guassu (Ouadriglia)
11. Murmúrio (Improviso)
     Quilombo
(quadrilha brasileira, sobre os motivos dos negros de Ramalhete de Quadriglias nº 22)
12. I. A Cayumba
13. II. Bananeira
14. III. Quimgombô
15. IV. Bamboula
16. V. Final

Fernando Lopes, piano
Gravado na Sala Cecília Meireles, Rio de Janeiro, 1980
Coordenação: Edino Krieger
Remasterizado em 1997

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

FLAC (159Mb) encartes a 5.0 Mpixel
MP3 (103Mb) encartes a 5.0 Mpixel

Partituras e outros que tais? Clique aqui

 

Carlos Gomes = Brasil!

Bisnaga

5 comments / Add your comment below

  1. Um presentão, sem dúvida. E parece que o povo tá muito ocupado com as mães para agradecer. Então estou aqui, primeirona da fila. Belíssima postagem, pra deixar as mães felizes! Valeu!

  2. “Musica Brasileira” 10 Lps
    Sabemos que a música de concerto é o um dos principais segmentos do Blog
    A Coleção “Música Brasileira” são 10 Lps produzidos por encomenda do Ministério das Relações Exteriores, em 1956-57
    Sem fins comerciais, para divulgação da Musica Erudita Brasileira, através das embaixadas e consulados .
    Como muitas cópias ficaram por aqui, nos anos 70 e 80 podiam ser facilmente encontradas nos sebos de discos do centro do Rio de Janeiro
    No contorno do selo dos 10 Lps não aparece a mensagem “Reservados todos os direitos de reprodução…” isto resolve o exagerado problema dos direitos autorais
    Está escrito no selo, em letras garrafais, Minstério das Relações Exteriores.

    Existem Gravações únicas de Francisco Mignone em dois volumes.
    (ver os dois volumes )
    http://www.crocko.com/8B1073BBF10C42838D02DF64034B7BEA/OsDois.jpg
    Volume 2
    Iára – Quinteto de Cordas e piano
    Jaci – Quinteto de Cordas e piano
    Seresta – Octeto de Cordas do Rio de Janeiro
    Festa na Bahia – Octeto de Cordas e piano

    Volume 3
    Sexteto, 3a Seresta e Bahianinha
    Quarteto de Cordas Municipal de São Paulo
    (está assim mesmo, não me pergunte como um Quarteto executa um Sexteto)
    Por favor, por favor…Toda ajuda possível para postar seria muito bem vinda, mesmo porque estaremos cumprindo o objetivo dessa produção que é a divulgação da música de concerto brasileira

  3. Esse álbum é maravilhoso!

    Acompanho o blog há alguns anos e apesar de raras vezes comentar, resolvi deixar meu agradecimento aqui pela postagem, apesar dela ser antiga. Acontece que não conhecia as obras para piano de Carlos Gomes e adorei!
    Mais uma vez o PQP Bach me tirando da ignorância…

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