Leopoldo Hekel Tavares (1896-1969) – Concerto para Piano e Orquestra em Formas Brasileiras nº 2, André de Leão e o Demônio de Cabelo Encarnado (1º disco da OSESP) [link atualizado 2017]

ES-TU-PEN-DO !!!

(postagem especial para o colega pequepiano Itadakimatsu, que desejou ardentemente este disco e não lhe dei… Agora o terá digitalizado)

Este disco é simplesmente fantástico: álbum antológico, histórico e com músicas arrebatadoras! De cair o queixo!

Pra começar, temos Eleazar de Carvalho (1912-1996), um dos grandes nomes da regência brasileira no século XX, comandando a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – OSESP – em sua fase heróica, pré-Neshling, no afã de se tentar, com todas as dificuldades que o mundo e o sistema político e de finaciamento impunham, formar uma orquestra de nível internacional.

Temos, para melhorar, duas peças primorosas de Leopoldo Hekel Tavares, mais um daqueles compositores negligenciados que a gente escuta e fica se indagando “como esse cara não ficou famoso?”.

Pois é… Hekel Tavares era mais um da geração de compositores brasileiros que buscava nas formas populares de estruturação musical fazer uma música erudita genuinamente brasileira, ao lado de caras como José Siqueira, Francisco Mignone, Guerra Peixe e, claro, um pouco antes, Villa-Lobos. Há, inclusive, muitas de suas canções que foram gravadas por cantores da MPB (até Fagner já gravou coisas dele…).

Aqui temos, então, o portentoso Concerto para Piano e Orquestra em Formas Brasileiras nº 2, com esse nome comprido que parece a bíblia, mas que tenta exprimir, já no título, toda a intenção nacionalista do compositor alagoano. é, acredito, também a peça de concerto mais executada e gravada dele e, antes de mais nada: é MARAVILHOSO !!! (com três exclamações!). A primeira vez que eu o ouvi, não consegui parar. Acho que escutei o concerto seguido, todo, umas cinco vezes. Não espere uma peça muito de vanguarda: a forma e a melodia se parecem mais com composições do alto romantismo, e não do modernismo, mas é de um vigor e de uma beleza arrebatadores! Digo aqui sem pestanejar: é o meu concerto para piano predileto. Há até um livro de 1996 de Fernando de Bortoli, intitulado Hekel Tavares – O mais lindo concerto para piano e orquestra, Daí dá para se ter uma ideia da inspiração do compositor. Há uma versão ainda melhor com o Arnaldo Cohen ao piano no Música Brasileira de Concerto (aqui).

André de Leão e o Demônio de Cabelo Encarnado é um poema sinfônico em seis quadros de grande inspiração. Hekel Tavares se baseou no texto de Cassiano Ricardo (1895-1974) que narra a saga do encontro do personagem André de Leão com o Curupira. Tavares fez um movimento para cada estrofe da história de Cassiano Ricardo, procurando passar todas as sensações das situações que ocorrem (o encarte que está no arquivo tem o poema na íntegra). Uma espécie de Pedro e o Lobo, mas só que de brasileiríssimo texto e brasileira música, ainda que, como a anterior, mais calcada em moldes do romantismo. Do mesmo modo, muito bela, coisa de primeiríssima categoria.

Por fim, um puta disco! Estupendo! Não deixe de ouvir: seria um pecado mortal!

Leopoldo Hekel Tavares (Satuba, AL, 1896 – Rio de Janeiro, 1969)
Concerto para Piano e Orquestra em Formas Brasileiras nº 2
André de Leão e o Demônio de Cabelo Encarnado

Concerto pra Piano e Orquestra em Formas Brasileira nº2
01. I. Modinha
02. II. Ponteio
03. III. Maracatu
André de Leão e o Demônio de Cabelo Encarnado
04. 1º quadro (Andante con motto)
05. 2º quadro (tempo di marcia)
06. 3º quadro (Scherzo)
07. 4º quadro (andante ma non troppo)
08. 5º quadro (andante sostenuto)
09. 6º quadro (finale in modo di romanza)

Pietro Maranca, piano
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Eleazar de Carvalho, regente
São Paulo, 1982

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (147Mb)
…Mas comente… O álbum é do @#%%@, merece umas palavrinhas…

Partituras e outros que tais? Clique aqui

Bisnaga

15 comments / Add your comment below

  1. Prezado Bisnaga,
    Tanto concordo com vc que tenho uma coleçao de interpretações desse concertasso: além da versão Cohen/Tibiriçá (elétrica!) também Souza LIma/Hekel Tavares e Felicjia Blumental. Obrigado porque essa que voce postou eu não tinha. Abraços!

  2. Essa obra é maravilhosa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Mas não consigo acessar a versão com o Cohen (o “aqui” não remete para lã…)
    Obrigadíssimo!!!!!!!

  3. ouvi, muito belo mesmo. nem sei o que comentar, o cara tava inspirado.
    conhecia o compositor só de nome, ouvi coisa ou outra, mas depois dessa vou ouvir qualquer coisa que aparecer pela frente.

  4. Desde criança (tinha uns 11 anos de idade) que eu ouço com prazer as músicas de Hekel Tavares. Me refiro a Rádio MEC que com freqüência transmitia gravações de músicas de Hekel, muitas regidas por ele mesmo. Em comentário meu acerca da suposta “ruindade” dos compositores ingleses, disse que existe muito preconceito no meio da música clássica. Hekel Tavares foi por muitos desvalorizado como sendo um compositor de pouco valor por causa de sua formação musical deficiente, que se traduzia em obras com claros defeitos técnicos, e por sua opção pelo “fácil” e “popularesco”, sendo considerado uma espécie de Ferd Grofé brasileiro. Neste modo de pensar alguns dos melhores compositores russos, Gershwin e até Villa-Lobos seriam considerados compositores de 3ª categoria. Na verdade tudo isso é puro preconceito, a começar pelo própio Grofé, que foi um excepcional arranjador de música orquestral popular e na área da música clàssica são de sua autoria bons exemplos de suites sinfônicas (como a belíssima Suite Grand Canyon), além de ter ajudado muito (nos arranjos orquestrais) George Gershwin em seu início na música clássica. Hekel, assim como Villa-Lobos e outros, pode ter obras onde se nota sua formação musical deficiente de compositor do 3° mundo e de origem modesta, mas sua inspiração e força são incontestáveis, sendo óbvio que possuir as qualidades primordiais de inspiração e vigor tornam, por si só, qualquer compositor no mínimo muito importante para a arte musical de qualquer nação. Esse “negócio” de politicamente correto é um horror, mas certamente é preciso combater o preconceito. Um abraço.

    1. Fernando,
      Muito acertadas as suas observações. Música é, acima de tudo, sentimento. Há compositores complexos que fazem obras maravilhosas, assim como outros simplérrimos que nos brindam com peças da mesma forma arrebatadoras, sem serem necessariamente difíceis.
      Abraço

    1. Dá-lhe Strava!

      Sim! É lindo!
      Gosto mais do concerto para piano, mas o som saiu um pouco molenga. Talvez eu tenha que re-digitalizar…
      Hekel Tavares era muito djóia!

  5. Pessoal, por culpa de vocês acabei finalmente ouvindo esse concerto, que em meus tempos de infância-adolescência (e já se vão anos…) meu pai e meu avô me haviam apresentado; nunca mais eu havia tido acesso a essa maravilha… Obrigadíssimo uma vez mais! Essa versão Cohen/Tibiriçá é duca… Estou em busca daquela de Felicjia Blumental; alguém sabe onde acho?
    Abraços

  6. Eu tenho esse vinil. Comprei num sebo em Fortaleza por 5 mirréíś. É´ó´ḿéú´disco favorito em vinil. A múśíćá´éŕúdita é´tãõ˜desvalorizada que a gente encontra péŕóĺáś´ŕáŕíśśíḿáś´ćóḿ´ṕŕéḉóś´ŕidíćúĺóś.

  7. E dizer que a primeira vez que eu ouvi este concerto foi justamente no Teatro Cultura Artistica, com a OSESP, Eleazar de Carvalho regendo e Arnaldo Cohen ao Piano, naqueles concertos gratuitos que o Eleazar promovia todas as segundas-feiras nos anos 1980. Paixão à primeira vista. Ainda gritei Bis. E agora, onde achar o disco? Procurei em todas as lojas de São Paulo, e a maior parte nunca tinha nem ouvido falar de Heckel Tavares. Fui conseguir somente em uma loja de New York, com Arnaldo Cohen e Roberto Tibiriçá. Pensei logo: “Uma coisa linda dessas e só os Americanos dão valor!”.

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