A Nova História da Música é criticada com razão por ser uma espécie de “Eu e a Música”, mas Carpeaux freqüentemente escrevia coisas brilhantes. No parágrafo que segue, penso que ele põe em palavras uma opinião que está latente em nós:
A amplitude emocional da obra de Bach em conjunto é imensa: basta lembrar a solenidade majestosa das fugas, o misticismo gótico dos motetos, o sentimento comovido das árias e dos largos, o demoníaco de uma hora de rebeldia como no Concerto para piano em ré menor e a elegância aristocrática das suítes e o humorismo burlesco da Cantata dos camponeses e a inocente alegria paradisíaca como no Concerto para violino em mi maior. Bach resumiu tudo isso e muito mais. Mas não resumiu todas as possibilidades da música. Não encontro entre as obras de Beethoven algo tão perfeito como os Concertos de Brandenburgo. Mas não encontro entre as obras de Bach algo que tão intimamente tocasse o coração como o Concerto para piano n. 4 ou O Trio Arquiduque ou as variações da Sonata opus 111 nem abstrações tão transcendentais como o Quarteto opus 132 e as variações sobre a valsa de Diabelli nem uma despedida tão humana como a última obra, o Quarteto opus 135. Para variar, uma frase de Nietzsche: ‘Beethoven escuta e nota o que toca um músico celeste; Bach é esse músico celeste’. A arte de Beethoven é a mais alta música humana. A arte de Bach é menos humana porque é mais que humana. Os Concertos de Brandenburgo são um reflexo da ordem divina do Universo; uma mensagem do reino das idéias platônicas.
Otto Maria Carpeaux, 1960 – Recebido às 10h em e-mail deste grande escritor e colunista da Rascunho.
Sim, a música de Bach é grandiosa e tudo mais, Beethoven também, assim como Händel, Mozart, Brahms… Mas todo esse romatismo que se encontra no texto acima, e em muitos outros, já está me dando nos nervos! Não é nescessária essa coisa toda de colocar os compositores como se fossem “deuses”. Atualmente, niguém enxerga nenhum deus, nenhum compositor de nossos tempos ainda foi “endeusado”, ser “deus” é nescessário pra se fazer “público”. Não tendo “público”, não tem música, e é isso que tamos vendo por aí.
Bruno:
em parte, concordo com você, mas acho que não se trata simplesmente de “endeusar” os compositores. A busca humana por algo que está além do humano é uma das raízes da cultura ocidental e basta voltar aos gregos para comprovar.
Tudio bem. Quando Carpeaux diz que “os Concertos de Brandenburgo são um reflexo da ordem divina do Universo; uma mensagem do reino das idéias platônicas” – isso realmente soa metafísico demais e artístico de menos. A arte é colocada no patamar metafísico do sagrado. O artista toma o lugar do sacerdote. E isso, convenhamos, tem lá suas inconveniências. Um ateu como PQP há de corroborar essa opinião.
Mas o julgamento de Carpeaux (e de Nietzsche) sobre Beethoven e a caracterização da música de Beethoven como algo profudamente humano (mais humao do que Bach) – isso acredito ser algo inegável.
Basta ouvir os últimos quartetos para perceber que a arte de Beethoven, se busca alguma espécie de transcendência, é uma transcendência absolutamente humana, dentro da esfera humana da alegria e do trágico. Não há fuga ou consolo divino que aliviem ou sublimem o desepero e o júbilo demasiado humanos de Beethoven.
Abraços.
não gosto de comparações entre compositores… Bach e Beethoven são mundos diferentes, não acho relevante dizer q um é mais humano que o outro, ou mais divino. Para mim são igualmente humanos…
basta ouvir as Paixões de Bach, naquela música o sofrimento do Cristo é o sofrimento de todos os homens – Bach não é só um cara que alivia a tragédia humana na fé cristã e na perfeição polifônica, pelo contrário, nele o cristianismo e as tensões polifônicas são uma maneira pelo qual essa tragédia se manifesta.
Porém tenho que admitir, ao ouvir Bach se diz: Nossa, Como um ser humano sozinho fez isso?
ao ouvir Beethoven se afirma: Nossa, um ser humano sozinho fez isso.
para mim os pontos mais altos da música ocidental são as Paixões, a Missa, a Arte da Fuga e a obra para órgão de Bach, junto às últimas sonatas e quartetos de Beethoven…
Olá meus amigos.
Pessoalmente não encontro obstáculo algum em ouvir a mesma orbra tocada por intérptes diferentes. Acho que é até enriquecedor. Tampouco sinto como um demérito que pessoas ouçam compositores diferentes pois, até mesmo subconscientmente, relebrem o que cada um deles provocou em quem os ouviu. É mesmo fantástico que isto ocorra e as lições que essas reminicências deixam em nós são de uma profundidade que podemos fazer comparações pouco objetivas mas, do ponsto de vista da percepão estética, extremamente significativas. Também, não podemos esquecer que a interpretação musical envolve 3 elementos distintos e igualmente poderosos. São eles: a visão do compositor, a visão do intérprete e, finalmente, a visão do ouvinte. É incrível como podem se diferentes e enriquecedoras essas percepções. E é maravilhosos que assim seja. Pensem na monotonia musical que sero ouvir ou intérprete “A” fazer a mesma cois que o intérprete “B”. A arte acarai ali mesmo. Arte é criatividade e os criadores mergulham em áreas bem diferentes de seus subconscientes
Edson
Carpeaux é filistino demais, ou seja é um diletante que acha que os Brandenburgs, obra Bachiana de inspiração Barroco-Spaguetti ,muito homofônica ,seja a grande obra bachiana.
O próprio Bach nem bola deu para os Brandenburgs feitos com a finalidade uma promoçãozinha para Berlin e tão pouco fez a propalada dedicatória para oa tal Margrave.Desprezou a obra que foi encontrada em frangalhos.
O grande Bach viria com os seus 20 anos finais,inclusive depois que largou mão das cantatas também: O Cravo [finalizado] , Missa em si ( a maior obra musical de toda história da humanidade], PXS , Variação Goldberg,Oferenda ,Arte da Fuga e sua obras para orgão,as maravilhossas Variações ,Corais de Leipzig e Schubler….O Bach dos últimos anos que mandou às favas todas as autoridades e compôs como quis, só Deus ficou como sua autoridade máxima. O Filistino Carpeaux não tem o alcance da alma para entender isso.
Kaissor, você evidentemente nunca leu o livro do Carpeaux. Se tivesse lido, saberia que ele achava a Missa em si menor “a maior obra de Bach e, talvez, a maior obra de toda a música ocidental”. Dica: procure no dicionário o que significa “filistino”. Carpeaux foi, provavelmente, a pessoa menos filistina que esse país já teve. Evidentemente não era brasileiro.
Seu livro sobre a história da música, com todos os seus erros (que um bom editor poderia corrigir facilmente com notas de rodapé), é, disparado, o melhor livro sobre música disponível em português.
Carpeaux escrevia maravilhosamente bem e dava sua opinião. É o que basta.
Abs,
e ai pessoal eu penso que na verdade ambos os dois foram pessoas geniais …assim como outro já citados ,na realidade o que acontece e que cada um viu a vida de um modo diferente e expressou isso através da music de modos diferentes … se algum de vocês já executou a obras de Beethoven o Bach sabe que o quão difícil e executar elas !!! não sei se existirá algo mais complexo que suas obras principalmente as de Bach a quem o próprio Beethoven chamou de pai da composição …..resumindo tudo ambos São geniais