Busquei as informações abaixo na Wikipedia. Na verdade, procurei este disco — que é consistentemente bom e bem interpretado — por causa dos muitos filmes que imortalizaram sua música. Acho que vocês vão gostar ou, no mínimo, achar curioso ouvir Rota fora daquilo que parecia ser seu habitat, o cinema.
Nino Rota (Milão, 3 de Dezembro de 1911 — Roma, 10 de Abril de 1979) foi um compositor italiano, célebre por suas composições executadas no cinema.
Ficou conhecido por ter composto música para filmes de Federico Fellini, Luchino Visconti e Francis Ford Coppola.
Biografia
Nascido em Milão em 1911, no seio de uma família de músicos, Nino Rota foi inicialmente estudante da Orefice e Pizzetti. Ainda em criança, mudou-se para Roma onde terminou os seus estudos no conservatório de Santa Cecília em 1929 com Alfredo Casella. Entretanto, tornou-se num ‘enfant prodige’, famoso tanto como compositor, quanto como maestro. A sua primeira actuação, ‘L’infanzia de San Giovanni Battista’, foi realizada em Milão e Paris no ano de 1923, e a sua comédia lírica, ‘Il Principe Porcaro’ foi composta em 1926.
De 1930 a 1932, Nino Rota viveu nos Estados Unidos da América. Ganhou uma bolsa de estudos no Curtis Institute of Philadelphia, onde frequentou as aulas de composição de Rosario Scalero e as aulas de orquestra dadas por Fritz Reiner.
Regressou à Itália onde se licenciou em literatura na Universidade de Milão. Em 1937, iniciou a sua carreira docente que o levou à direcção do conservatório de Bari, um título que manteve desde 1950 até a data do seu falecimento em 1979.
Carreira
Após as suas composições ‘juvenis’, Nino Rota escreveu as seguintes óperas: ‘Ariodante’ (Parma, 1942), ‘Torquemada’ (1943), ‘Il cappello di paglia di Firenze’ (Palermo, 1955), ‘I due timide’ (RAI, 1950, Londres, 1953), ‘La notte di un neurastenico’ (Premio Italia, 1959, La Scala, 1960), ‘Lo scoiattolo in gamba’ (Veneza, 1959), ‘Aladino e la lampada magica’ (Nápoles, 1968), ‘La visita meravigliosa’ (Palermo, 1970), ‘Napoli milionaria’ (Spoleto Festival, 1977).
Escreveu também os seguintes ballets: ‘La rappresentazione di Adamo ed Eva’ (Perugia, 1957), ‘La Strada’ (La Scala, 1965), ‘Aci e Galatea’ (Roma, 1971), ‘Le Molière Imaginaire’ (Paris e Bruxelas, 1976) e ‘Amor di poeta’ (Bruxelas, 1978) para Maurice Bejart.
Para além destes, há uma quantidade infindável de trabalhos seus para orquestra, interpretados antes da Segunda Grande Guerra, que ainda hoje se fazem ouvir em todo mundo.
Cinema
O seu trabalho no mundo do cinema data desde os anos 40. A filmografia inclui nomes de practicamente todos os realizadores notáveis da sua época, dos quais se eleva incontornávelmente o nome de Federico Fellini. Rota compôs para todos os filmes de Fellini, desde o ‘The White Sheik’ de 1952, até ao ‘The Orchestra Rehearsal’, de 1979. A lista dos outros realizadores inclui os nomes de Renato Castellani, Luchino Visconti, Franco Zeffirelli, Mario Monicelli, Francis Ford Coppola, King Vidor, René Clément, Edward Dmytryk e Eduardo de Filippo. Também compôs a música de várias produções teatrais de Visconti, Zefirelli e de Filippo.
Nino Rota (1911-1979): Música de Câmara (Kremerata)
1.Piccola Offerta Musicale for wind quintet (1943)
2.Sarabanda e Toccata per Arpa (1945) – 1 Sarabanda
3.Sarabanda e Toccata per Arpa (1945) – 2 Toccata
4.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 1 Allegro ma non troppo
5.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 2 Andante sostenuto
6.Trio per flauto, Violino e Pianoforte (1958) – 3 Allegro vivace con spirito
7.Ippolito gioca per Pianoforte (1930)
8.Il Presepio for soprano and string quartet (1958)
9.Catilena (1971)
10.Intermezzo per Viola e Pianoforte
11.Puccettino nella giungla (1971)
12.Nonetto (1959) – 1 Allegro
13.Nonetto (1959) – 2 Andante
14.Nonetto (1959) – 3 Allegro con spirito
15.Nonetto (1959) – 4 Canzone con Variazioni
16.Nonetto (1959) – 5 Vivacissimo
Kremerata Musica:
Anna Maria Pammer: soprano
Felix Renggli: flute
Sharon Bezaly: flute
Markus Deuter: oboe
Heinz Holliger: oboe
Bernhard Zachhuber: clarinet
Elmar Schmid: clarinet
Radovan Vlatkovic: horn
Volker Altmann: horn
Klaus Thunemann: bassoon
Lorelei Dowling: bassoon
Maria Graf: harp
Hanna Weinmeister: violin
Gidon Kremer: violin
Gérard Caussé: viola
Firmiam Lermer: viola
Howard Penny: cello
Erich Hehenberger: double bass
Alena Chernushenko: piano
Mascha Smirnov: piano
Marino Formenti: piano
Oleg Maisenberg: piano
Hagen Quartet: string quartet
Formada em 2009, a sensacional banda de rua Tuba Skinny evoluiu de uma coleção avulsa de músicos de rua para um conjunto sólido dedicado a levar o som tradicional de Nova Orleans ao redor do mundo. Com base em uma ampla gama de influências musicais — do spirituals ao blues da era da Depressão, do ragtime ao jazz tradicional — seu som evoca a rica herança musical de sua casa em Nova Orleans. A banda conquistou seguidores por meio de seu som distinto, seu compromisso em reviver canções há muito perdidas e suas performances ao vivo arrasadoras. Se você for ao YouTube, vai se impressionar com a competência do grupo, com destaque para as mulheres. Este é o terceiro CD do Tuba. Este é o tipo de música de Nova Orleans que faz uma pessoa sorrir e bater os pés quando uma música é alegre e gemer com um sorriso cúmplice quando é triste.
Tuba Skinny: Garbage Man
1 Broken Hearted Blues 3:45
2 Any Kind-A-Man 4:04
3 Frosty Morning 5:34
4 How Do They Do It That Way 3:07
5 Sweet Mama Hurry Home 3:42
6 Mother’s Son-In-Law 3:46
7 Nobody’s Blues But Mine 5:57
8 Some Of These Days 4:30
9 Weary Eyed Blues 4:49
10 Minor Drag 3:23
11 Muddy Water 4:00
12 Garbage Man 3:02
Cornet – Shaye Cohn
Guitar, Vocals – Kiowa Wells
Trombone – Barnabus Jones
Tuba – Todd Burdick
Vocals – Erika Lewis
Washboard – Robin Rapuzzi
O lendário pianista morávio Alfred Brendel faleceu pacificamente ontem de manhã, aos 94 anos, em sua casa em Hampstead, Londres.
Era outubro de 1996 e estávamos embarcando no primeiro Ciclo de Grandes Intérpretes da SCHERZO. A grande novidade daquele outono foi que, no dia 15 daquele mesmo mês, o grande pianista Alfred Brendel (Loučná nad Desnou, Tchecoslováquia, 5 de janeiro de 1931) finalmente retornou a Madri pela primeira vez, interpretando as três últimas sonatas de Beethoven após uma longa ausência da capital, de mais de 22 anos. Foi um concerto memorável!
Após aquele primeiro concerto Scherzo, iniciou-se uma intensa e amigável relação pessoal com ele e com Maria Makhno, sua companheira inseparável nos últimos 30 anos. Brendel retornou à série Scherzo até oito vezes, a última em 22 de maio de 2007. Todos os seus concertos foram grandes eventos, com suas interpretações completas de obras essenciais de Haydn, Mozart, Beethoven, Schumann e Schubert. Ele era um mestre absoluto do repertório, começando com aquela primeira coleção completa de Beethoven para o selo austríaco Vox (1957-63), que surpreendeu a todos e se tornou uma referência em gravação por muitos anos, até que ele as gravou novamente em formato digital entre 1992 e 1995, desta vez para o selo Philips, onde foi artista exclusivo por quase quatro décadas.
O grande pianista morávio foi um dos Grandes , o penúltimo sobrevivente de uma geração de pianistas incríveis como Gulda, Pollini, Lupu e Ashkenazy (que ainda está vivo, embora aposentado dos palcos há vários anos). Homem culto, era um grande amante do cinema (seu cineasta favorito era Buñuel, a quem adorava e sabia todos os seus filmes de cor), conhecedor do mundo das artes em geral e da pintura em particular. Escritor brilhante, era também um ávido leitor de literatura e poesia.
Brendel era um músico completo e um grande amante da música (e enfatizo isso porque nem todos os artistas o são). Ele era frequentemente encontrado na plateia de grandes salas de concerto, grandes casas de ópera e festivais de verão, especialmente em Salzburgo, no London Proms e na Schwarzenberg Schubertiade, onde se apresentava regularmente.
Cuenca, 2016
Entre as muitas ocasiões em que nos encontramos e compartilhamos uma refeição, houve uma muito especial há quase nove anos (outra em 4 de setembro de 2016). Foi uma viagem inesquecível a Cuenca com os dois e Juan Carlos Garvayo e sua família, outro grande amigo do maestro. Brendel apreciou muito aquela viagem, e sempre nos lembraremos do impacto que o Museu de Arte Abstrata de Cuenca, fundado por Zobel, teve sobre ele. Nos encontramos várias vezes depois disso, e ele sempre nos lembrava daquela viagem e daquela cidade maravilhosa que tanto o impressionara.
A última vez que tivemos a oportunidade de nos encontrar foi durante um almoço em sua casa em Londres, há pouco menos de um ano, em 4 de setembro de 2024. Curvado e com aparência mais velha, ele ainda conservava uma lucidez incrível e seu senso de humor perspicaz. Ele nos contou que passava até seis horas escrevendo textos para suas próximas palestras todas as manhãs e estava trabalhando arduamente em um novo livro.
Hampstead, Londres, setembro de 2024
Soubemos da triste notícia de seu falecimento no início da tarde de ontem. Paradoxalmente, naquela mesma manhã acordei com outra notícia, desta vez mais agradável: a Associação Franz Schubert de Barcelona havia me concedido o Prêmio Franz Schubert em sua terceira edição, a mesma distinção que Alfred Brendel recebeu na primeira edição, em 2021. O júri o considerou “uma referência absoluta no reconhecimento da obra pianística de Schubert”.
Em suma, aqueles de nós que tiveram a imensa sorte de conhecer e interagir de perto com o Maestro Brendel podem se considerar privilegiados. Ele foi um grande presente da vida. Sem dúvida, sentiremos sua falta, mas Brendel sempre permanecerá conosco. Sempre guardaremos suas interpretações magistrais, sua escrita impecável, mas, acima de tudo, guardaremos com carinho aquelas experiências únicas que ele guardou para sempre em nossas memórias. Ele viveu uma vida rica e intensa e teve a sorte de gozar de ótima saúde mental até seus momentos finais. Era uma pessoa muito cativante, com uma sensibilidade muito especial. Que ele descanse em paz.
Antônio Moral
Alfred Brendel sobe ao piano para seu recital final na série Great Performers, em maio de 2007. Foto: Rafa Martín / Fundação Scherzo.
Obs: Todas as fotos são de Rafa Martin / Fundação Scherzo
Fazer o quê? Um bom CD com a pianista fictícia Svetlana Stanceva e o maestro também fictício Alberto Lizzio. Bom som, boa interpretação, tudo comprado baratinho no século XX atrás da chamada Cortina de Ferro e lançada no mundo ocidental sob nomes falsos, orquestra falsa, tudo falso, tudo criado pelo esperto produtor e regente Alfred Scholz, que não apenas existiu como escreveu uma biografia de Lizzio. Mas ouçam: a coisa é de primeira linha. Aliás, sugiro a leitura do excelente romance Leopold, de Luiz Antônio Assis Brasil. Há muito de Mozart nesta história centrada em seu pai. Um dos três melhores livros brasileiros lançados em 2024, certamente.
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 23 e 26 / Fantasia K. 397 para Piano (Stanceva, Lizzio)
Klavierkonzert Nr. 23 A-Dur, K. 488 / Piano Concerto No. 23 In A Major, K. 488
1 Allegro 10:47
2 Andante 5:53
3 Presto: Allegro Assai 7:53
Klavierkonzert Nr. 26 D-Dur K. 537 ‘Krönungskonzert’ / Piano Concerto No. 26 In D Major K. 537 ‘Coronation’
4 Allegro 14:31
5 Larghetto 5:45
6 Allegretto 12:14
7 Phantasie D-Moll, K. 397 / Phantasy In D Minor, K. 397 4:57
W. A. Mozart (1756-1791): Concertos para Piano Nº 20 e 21 / Rondo alla Turca K. 331 (Stanceva, Lizzio)
Klavierkonzert Nr. 20 D-Moll, K. 466 – Piano Concerto No. 20 In D Minor, K. 466
1 Allegro 13:50
2 Romanze 8:42
3 Rondo: Allegro Assai 8:01
Klavierkonzert Nr. 21 C-Dur, K. 467 ‘Elvira Madigan’ – Piano Concerto No. 21 In C Major, K. 467 ‘Elvira Madigan’
4 Allegro Maestoso 14:32
5 Andante 5:35
6 Andante Vivo Assai 7:02
7 Rondo Alla Turca Aus Sonata Nr. 11 A-Moll, K. 331 – Rondo Alla Turca From Sonata No. 11 In A Minor, K. 331 3:33
IM-PER-DÍ-VEL !!!! é pouco para esta criação e recreação de Glenn Gould. Talvez seja a mais radical experiência do pianista com seu amado Bach. Aqui, ele usa da mesma ousadia que utilizou com Mozart e Wagner e o resultado é estupendo. Conheci Gould através destas gravações onde ele canta enquanto toca e nas quais as partes lentas se arrastam e as rápidas voam. Glenn Gould obedeceu ao significado do termo “Toccata” de forma exemplar: afinal, a Toccata) é um gênero que enfatiza a destreza do intérprete. São composições para teclado nas quais uma das mãos e depois a outra realizam corridas virtuosísticas e brilhantes passagens em cascata contra uma acompanhamento de acordes na outra mão. A tocata barroca tem mais seções e aumentou de tamanho, intensidade e virtuosidade em relação à versão Renascentista, com frequência possui corridas rápidas e arpejos alternando com acordes ou seções de fuga. Algumas vezes falta a indicação regular de tempo e quase sempre tem um sentido de improvisação. Podem acreditar: Glenn Gould entendeu direitinho o espírito da coisa.
Indico fortemente este CD a todos os pequepianos.
J. S. Bach (1685-1750): 7 Toccate BWV 910-916 (Glenn Gould 1963/79/80)
01.Toccata in re maggiore BWV 912 (14:01)
02.Toccata in fa diesis minore BWV 910 (11;43)
03.Toccata in re minore BWV 913 (17:08)
01.Toccata in do minore BWV 911 (11:13)
02.Toccata in sol minore BWV 915 ((8:44)
03.Toccata in sol maggiore BWV 916) (8:52)
04.Toccata in mi minore BWV 914 (8:39)
Minha mentalidade de quinta série não sossegou enquanto não conheceu Cabasso. Esta é a primeira entrada dele em nosso blog. Antes, ele arrebentou na minha casa com enorme sucesso. Cabasso é um pianista que aborda as amadas Toccatas de Bach com competência e originalidade. As Toccatas para Teclado, BWV 910–916, são sete obras escritas originalmente para cravo. Embora as peças não tenham sido originalmente organizadas em uma coleção pelo próprio Bach (como a maioria de suas outras obras para teclado, como o Cravo Bem Temperado e as Suítes Inglesas, Francesas, etc.), elas compartilham muitas semelhanças e são frequentemente agrupadas e executadas juntas sob um título coletivo. As primeiras fontes das Toccatas BWV 910, 911 e 916 aparecem em manuscritos de 1707 — quando Bach tinha 22 anos — e 1713. As obras têm seções altamente contrastantes, rapsódicas e passagens em fugas, em oposição ao formato mais familiar de prelúdio e fuga de dois movimentos.
J. S. Bach: Todas as Toccatas (Laurent Cabasso)
1. Toccata in G Major, BWV 916 (07:15)
2. Toccata in C Minor, BWV 911 (10:44)
3. Toccata in D Minor, BWV 913 (12:39)
4. Toccata in E Minor, BWV 914 (07:21)
5. Toccata in F-Sharp Minor, BWV 910 (10:47)
6. Toccata in G Minor, BWV 915 (08:18)
7. Toccata in D Major, BWV 912 (10:33)
Esplêndido CD com Emma Kirkby — musa ruiva preferencial de FDP Bach — em grande forma. Junto com ela e também na ponta dos cascos, a Academy of Ancient Music sob a direção de Christopher Hogwood. Um disco já antiguinho, mas delicioso com as duas Cantatas profanas mais famosas de nosso pai. Se você ouvir bem, sairá cantarolando as melodias por todo o fim-de-semana. Elas grudam, viu?
Schlendrian é um pai grosseiro e está preocupadíssimo porque sua filha Lieschen entregou-se à nova mania de tomar café. Todas as promessas e ameaças para desviá-la de tão detestável hábito foram infrutíferas até que, para dissuadi-la, ofereceu-lhe um marido. Lieschen aceita a idéia com entusiasmo e o pai parte apressadamente para conseguir-lhe um. Esta é a idéia principal da Cantata do Café, obra cômica de J. S. Bach, uma mini-ópera, que foi apresentada entre 1732 e 1735 na Kaffeehaus de Zimmermann, em Leipzig. A primeira Kaffeehaus da cidade foi aberta em 1694 — o café chegara à Alemanha em 1670 — e em 1735 a burguesia podia escolher entre oito privilegiadas casas.
A Kaffeekantate, BWV 211, foi encomendada a Bach por Zimmermann e é, em parte, uma ode ao produto (sim, puro merchandising) e, de outra parte, uma punhalada no movimento existente na Alemanha para impedir seu consumo pelas mulheres. Acreditava-se que o “negro veneno” pudesse causar descontrole e esterilidade ao sexo frágil, mas Bach, em troca do pagamento de Zimmermann, ignorou estes terríveis perigos. Senão, talvez não musicasse uma ária que diz: “Ah, como é doce o seu sabor. / Delicioso como milhares de beijos, / mais doce que um moscatel. / Eu preciso de café”; e nem nos brindaria com estas delicadezas…: “Paizinho, não sejas tão mau. / Se eu não beber meu café / as minhas curvas vão secar / as minhas pernas vão murchar / ninguém comigo irá casar”.
Bach aprendera muito bem, em sua vida familiar e em seu trabalho como professor, que influenciar os jovens não era assim tão fácil. Portanto, adicionou um recitativo no qual os planos de Lieschen são revelados: o homem que quiser casar com ela terá de consentir numa cláusula: o contrato matrimonial preverá que ela possa tomar café sempre que lhe apetecer.
No final, há um breve coro de três cantores, onde o café e a evolução são admitidos como coisas inevitáveis. Esta Cantata — ao lado de outras poucas obras vocais profanas — é uma evidente exceção na obra de Bach. O compositor, que possui a injusta fama de sério, aceitou o convite de Zimmermann para compor uma propaganda de seu Café e, como quase sempre fazia, produziu uma obra-prima, uma pequena comédia que funciona tanto no palco quanto nas salas de concertos. O efeito da primeira apresentação deve ter sido consideravelmente ampliado pelo fato de que às mulheres não era permitido cantar em cafés (nem em igrejas) e o papel de Lieschen foi, provavelmente, interpretado por um cantor em falsete. Bach, com o auxílio do poeta Picander, construiu dois personagens muito humanos e verossímeis: um pai resmungão e rústico e uma filha obstinada e cheia de caprichos. O compositor parece estar à vontade ao traçar a caricatura do pai com o baixo pesado, os ritmos acentuados e a prescrição con pompa, enquanto os violinos rosnam para indicar seu temperamento irascível.
Quando ele ameaça privar Lieschen de sua saia-balão de última moda, Bach indica seu tremendo diâmetro de forma escandalosa. A ária de Lieschen em louvor ao café é convencional, tão convencional que parece que o compositor quer insinuar que ela futilmente adotara tal hábito apenas para seguir a moda, o que seria um gol contra para Zimmermann. Entretanto, seu entusiasmo por um possível marido não é simulado… A alegria expressa na melodia em ritmo de dança popular é contagiosa. Para os puristas, o divino e sacro Bach chega a ser grosseiro: afinal, quando Lieschen diz que quer um amante fogoso e robusto, os violinos e as violas silenciam, como para deixar bem clara aos ouvintes a afirmativa sem rodeios. O Café Zimmermann deve ter vindo abaixo…
J.S. Bach (1685-1750): Cantata do Café e dos Camponeses
1. “Coffee Cantata” BWV211 – Schweigt stille, plaudert nicht…Hat man nicht mit seinen Kindern 4:10
2. “Coffee Cantata” BWV211 – Ei! wie schmeckt der Coffee susse 5:08
3. “Coffee Cantata” BWV211 – Mädchen, die von harten Sinnen 3:49
4. “Coffee Cantata” BWV211 – Heute noch 7:06 Album Only
5. “Coffee Cantata” BWV211 – Die Katze lässt das Mausen nicht 4:24
6. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 1. Ouverture The Academy of Ancient Music 2:10
7. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 2-3. Mer hahn en neue Oberkeet…Nu, Mieke, gib dein Guschel immer her 1:18
8. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 4-5 Ach es schmeckt doch gar zu gut 1:20
9. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 6-7. Ach, Herr Schösser, geht nicht gar zu schlimm 1:34
10. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 8-9. Unser trefflicher, lieber Kammerherr 2:06
11. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 10-11: Das ist galant, es spricht niemand 1:51
12. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 12-13. Fünfzig Taler bares Geld 1:08
13. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 14-15: Klein-Zsocher müsse so zart und süße 5:51
14. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 16-17: Es nehme zehntausend Dukaten 0:58
15. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 18-19: Gib, Schöne, viel Söhne 0:48
16. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 20-21: Dein Wachstum sei feste 5:57
17. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 22. Arie: Und daß ihr’s alle wißt 1:12
18. Mer hahn en neue Oberkeet Cantata, BWV 212 “Peasant Cantata” – 24. Chor (Duetto): Wir gehn nun, wo der Dudelsack 1:04
Emma Kirkby
David Thomas
Academy of Ancient Music
Christopher Hogwood
Sem exagero, este é um dos melhores CDs de minha coleção de mais de 3000 CDs e 1300 LPs. Ele contém três peças de Shostakovich, uma muito conhecida e premiada e outras duas mais obscuras: as obscuras são as “Duas peças para quarteto de cordas” e os “Sete canções sobre poemas de Alexander Blok” e a célebre é o “Quinteto para piano”. A primeira vez que ouvi o Quinteto para Piano de Shostakovich foi na rádio da Ufrgs. Fiquei profundamente comovido. Dentre as muitas peças de Shostakovich, esta é uma obra-prima que transmite fortemente tanto o efeito da performance quanto da profundidade introspectiva. É maravilhoso como tanto Ashkenazy, quanto o Quarteto de Cordas Fitzwilliam, ressoam profundamente este o trabalho de Shostakovich. A música soa poderosa. É da categoria de da música de câmara, mas chega gigante. O Quinteto recebeu o Prêmio Stalin. As Sete Canções é uma peça rara em que um solista é acompanhado por um trio de piano em arranjos variados (os três primeiros movimentos são acompanhados por solos para cada instrumento). Aqui também, a execução resoluta de Ashkenazy no piano é chocante, fazendo você sentir como se estivesse finalmente ouvindo a essência de Shostakovich. As “Duas Peças para Quarteto de Cordas” são uma gravação rara. É típico Shostakovich, oscilando entre a tristeza e o sarcasmo.
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Two Pieces for String Quartet / Seven Romances On Poems Of Alexander Blok / Piano Quintet (Fitzwilliam Str Qtt, Söderström, Ashkenazy)
Two Pieces For String Quartet
1 Elegy
2 Polka
Seven Romances, Op. 127
3 Ophelia’s Song
4 Hamayun, The Prophetic Bird
5 We Were Together
6 The City Is Asleep
7 The Storm
8 Secret Sign
9 Music
Piano Quintet, Op. 57
10 Prelude
11 Fugue
12 Scherzo
13 Intermezzo
14 Finale
Ensemble – Fitzwilliam String Quartet
Piano – Vladimir Ashkenazy
Soprano Vocals – Elisabeth Söderström
Este concerto veio pré-instalado em minha mente. Quando me dei por gente, Tchaikovsky, Beethoven, Chopin e Mozart já estavam em minha memória. Meu pai realizou a instalação quando eu era um bebê. Ele não parava de ouvir música, mais ou menos como eu comecei a fazer depois… Então, cada nota deste Concerto para Violino é conhecida de mim há várias décadas e posso asseverar que a gravação de Janine Jansen é efetivamente MUITÍSSIMO BOA. Tudo aqui é lindo e descomplicado. E, no entanto, Jansen é romântica à moda antiga. Seu jeito com o tempo rubato e com os contrastes dinâmicos é desavergonhadamente livre. Ela distorce o som como uma excelente cantora, levando-o para o subito pianíssimo no verdadeiro estilo bel canto. Ela o faz de forma bastante recatada e sugestiva. Há uma intimidade em sua execução que se adapta bem à Orquestra de Câmara Mahler; mas eu não gostaria de dizer que os elementos introvertidos do concerto ofusquem de alguma forma a extroversão. De muitas maneiras, é o final com dança cossaca que coloca esta versão na órbita do que há de melhor disponível. A parceria com Daniel Harding dificilmente poderia ser melhor. Uma performance arrasadora, portanto. A peça de apoio – Souvenir d’un lieu cher – nos dá a chance de ouvir o movimento lento original do concerto em um belo arranjo para violino e cordas do maestro romeno-holandês Alexandru Lascae. Mais uma vez, temos a sensação de Jansen é a primeira dentre os atuais.
P. I. Tchaikovsky (1840-1893): Concerto para Violino e Souvenir d’un lieu cher (Jansen, Harding)
Um CD barulhento de peças avulsas, famosas e populares de compositores russos. O incrível é que eu estava fazendo o almoço quando coloquei o CD para tocar bem alto. Quando chegou o momento do primeiro canhão o amplificador fez PUM (de canhão, não dos intestinos do genocida) e desligou totalmente. Foi demais pra ele. Talvez a vibração, sei lá. Botei o CD novamente para rodar e o aparelho suportou o ataque. Aqui temos interpretações muito boas de coisas muito ouvidas. Sou totalmente apaixonado pela “Grande Páscoa Russa” e posso garantir que Neeme Järvi e seus sinfônicos de Gotemburgo foram dignos da obra, assim como das outras. Cuidem-se com os canhões! Não vão ficar surdos tá?
Tchaikovsky / Borodin / Rimsky-Korsakov: Abertura 1812 e Marcha Eslava / Nas Estepes da Ásia Central e Danças Polovtsianas / A Grande Páscoa Russa e Capricho Espanhol (Neeme Järvi)
PETER TCHAIKOVSKY
1 Overture Solennelle “1812” Op.49
Bells – Churchbells Of Gothenburg
Brass – Gothenburg Symphony Brass Band
Chorus – Gothenburg Symphony Chorus
Chorus Master – Ove Gotting
Percussion [Cannon] – Gothenburg Artillery Division
16:18
2 Marche Slave Op.31 9:39
ALEXANDER BORODIN
3 In The Steppes Of Central Asia 7:21
Polovtsian Dances (From The Opera “Prince Igor”)
Bass Vocals [Khan Konchak] – Torgny Sporsén
Chorus – Gothenburg Symphony Chorus
Chorus Master – Ove Gotting
(11:24)
4.1 Flowing Dance Of The Polovtsian Maidens
4.2 Men’s Dance
4.3a General Dance
4.3b Dance Of The Polovtsian Slaves
4.4a Young Men’s Dance
4.4b Men’s Dance
4.5a Flowing Dance Of The Polovtsian Maidens
4.5b Slow Dance Of The Maidens; Fast Dance Of The Young Men
4.6a Young Men’s Dance
4.6b Men’s Dance
4.7 General Dance
N. RIMSKY-KORSAKOV
5 Russian Easter Festival Overture Op.36 (On Liturgical Themes For Large Orchestra) 14:53
Capriccio Espagnol Op.34 (15:48)
6.1 Alborada: Vivo E Strepitoso – Attacca
6.2 Variazioni: Andante Con Moto – Attacca
6.3 Alborada: Vivo E Strepitoso – Attacca
6.4 Scena E Canto Gitano: Allegretto – Attacca
6.5 Fandango Asturiano
Uma sinfonia decididamente mahleriana. Shostakovich estudara Mahler por vários anos e aqui estão ecos monumentais destes estudos. Sim, monumentais. Uma orquestra imensa, uma música com grandes contrastes e um tratamento de câmara em muitos episódios rarefeitos: Mahler. A duração, o tamanho da orquestra, o estilo da orquestração e o uso da melodia banal, justaposta, todas vieram de Mahler. O maior mérito desta sinfonia é seu poderoso primeiro movimento, que é transformação constante de dois temas principais em que o compositor austríaco é trazido para as marchas de outubro, porém, minha preferência vai para o também mahleriano scherzo central. Ali, Shostakovich realiza uma curiosa mistura entre o tema introdutório da quinta sinfonia de Beethoven e o desenvolve como se fosse a sinfonia “Ressurreição”, Nº 2, de Mahler. Uma alegria para quem gosta de apontar estes diálogos. O final é um “sanduíche”. O bizarro tema ritmado central é envolvido por dois scherzi algo agressivos e ainda por uma música de réquiem. As explicações são muitas e aqui o referencial político parece ser mesmo o mais correto para quem, como Shostakovich, considerava que a URSS viera das mortes da revolução de outubro e estava se dirigindo para as mortes da próxima guerra.
A Sinfonia n.º 4 em Dó menor de Dmitri Shostakovich (opus 43) foi composta entre setembro de 1935 e maio de 1936, após o abandono de alguns esboços. Em janeiro de 1936, na metade de sua composição, Pravda – um jornal sob as ordens de Joseph Stalin1 – publicou um edital chamado “Bagunça invés de Música”, que denunciava o compositor e especificamente sua ópera Lady Macbeth de Mtsensk. Depois dos ataques e da grande opressão política, Shostakoivch não apenas concluiu sua sinfonia, como também planejou sua estreia, programada para dezembro de 1936 em Leningrado. Em algum momento dos ensaios, ele mudou de ideia. O trabalho foi finalmente apresentado dia 30 de dezembro de 1961 pela Orquestra Filarmônica de Moscou, conduzida por Kirill Kondrashin.
A gravação de Rozhdestvensky é 100% russa. Isto é, temos aqui um Shostakovich com seu sotaque original. Recuse imitações!
Dmitri Shostakovich (1906-1975): Sinfonia Nº 4 – AO VIVO
1. Symph. No.4 in c, Op.43: Alleretto Poco Moderato
2. Symph. No.4 in c, Op.43: Moderatto Con Moto
3. Symph. No.4 in c, Op.43: Largo. Allegretto
E aqui temos outro exemplar de grande CD dedicado aos Concertos para Piano de Mozart. A portuguesa Maria João Pires já meteu Clara Haskil e até Uchida no bolso neste quesito. Sua dicção mozartiana é impecável, limpa e cheia de surpreendentes nuances. Para melhorar, utiliza as mais belas cadenzas já escritas para estes dois belos concertos. Abbado, que já gravou este mesmo repertório com Pollini, está muito à vontade em torno da Maria João. É notável e maravilhosa a forma como as gravações que antes julgávamos insuperáveis vão caindo uma após outra. Ouçam bem esta aqui e comprovem a forma como este dois grandes artistas demonstram empatia para com a serena ousadia de Mozart. E é simplesmente estarrecedor que estas composições da maturidade do compositor — que alcançava expressão mais livre e pessoal — , contrariassem o público e os críticos de Viena e fossem, de forma inequívoca, o princípio de seu fim.
Mozart (1756-1791): Piano Concertos Nos. 17 & 21
1. Piano Concerto No.17 in G, K.453 – Cadenzas: W. A. Mozart – 1. Allegro (Cadenza: K.624/22) 12:06
2. Piano Concerto No.17 in G, K.453 – Cadenzas: W. A. Mozart – 2. Andante (Cadenza: K.624/24) 9:53
3. Piano Concerto No.17 in G, K.453 – 3. Allegretto 7:25
4. Piano Concerto No.21 in C, K.467 – Cadenza: Rudolf Serkin – 1. Allegro – Cadenza: Rudolf Serkin 14:11
5. Piano Concerto No.21 in C, K.467 – 2. Andante 6:10
6. Piano Concerto No.21 in C, K.467 – Cadenza: Rudolf Serkin – 3. Allegro vivace assai – Cadenza: Rudolf Serkin 6:42
Maria João Pires
The Chamber Orchestra of Europe
Claudio Abbado
Este disco foi gravado em 2009, para as comemorações dos 100 anos da polonesa Grażyna Bacewicz, uma pioneira dentre as compositoras mulheres. O CD envolve apenas músicos polacos e é muitíssimo bom. Zimerman e seu grupo dá interpretações de altíssima temperatura emocional às obras de sabor neoclássico de Bacewicz.
Uma grande surpresa: um CD de primeira linha dedicado a uma compositora que não tinha obras postadas aqui no PQP! (Postagem original de 2017)
Grażyna Bacewicz (1909-1969):
Sonata para Piano Nº 2 e Quintetos para Piano Nº 1 e 2
Piano Quintet No.1
1. 1. Moderato molto espressivo [8:19]
2. 2. Presto [4:31]
3. 3. Grave [8:02]
4. 4. Con passione [5:11]
Sonata No. 2 for Piano
5. Maestoso [6:15]
6. Largo [8:56]
7. Toccata [3:36]
A gravação definitiva, enquanto não chegar outra para ocupar o cargo.
Não vou escrever longamente sobre todos os registros das Suítes que ouvi nos últimos… bem, mais de quarenta anos, certamente. Gostava imensamente de Maurice Gendron e custei muito a passar minha preferência para Janos Starker, com quem fiquei por pouco tempo, logo passando a Anner Bylsma.
As famosíssimas versões de Yo-Yo Ma, Antônio Meneses e Mstislav Rostropovich são muito, mas muito mesmo, insatisfatórias. O trio é merecidamente famoso por trabalhos realizados fora da música barroca. Não é fácil adaptar-se à sonoridade toda própria destas obras. Eu, particularmente, acho muito chata a gravação para cumprir tabela do grande Rostropovich. É apenas correta. Os críticos a detonaram… Mas vende mais do que qualquer outra… Em razão da ignorância dos ouvintes, claro. O próprio Rostropovich, em entrevista à Gramophone na edição em que seu CD sofria críticas bastante severas, sugeriu discretamente que não tinha nada a acrescentar a um repertório que lhe era estranho.
Vamos a Cocset! Bruno Cocset não é apenas um violoncelista especializado no barroco que interpreta as suítes com um senso de estilo claro e definido. Sua gravação, realizada para a maravilhosa Alpha – que lhe fez uma belíssima caixa – tem algumas novidades que julgo muito boas. Não tenho condições de avaliar a utilização da corda mais alta estar afinada para sol em vez de lá na Quinta Suíte, nem da Sexta Suíte possuir uma quinta corda afinada para mi adicionada às quatro cordas habituais do cello (são exigências do compositor que Cocset obedeceu e não creio que outros além de Bylsma o tenham feito). O que me interessa é a tomada do som. Cada suíte foi gravada continuamente, sem interrupções, como num concerto. Cocset pensou que isso daria maior integridade à execução. Funcionou! Não houve correções e nós ouvimos alguns sons de marcenaria que a mim não incomodam nem um pouco. Até pelo contrário, gosto muito e o resultado é um ambiente de concerto que me deixa meio hipnotizado. Bom, opiniões…
O registro foi gravado em outubro de 2001 em Paris, na Chapelle de l`Hôpital Notre-Dame de Bon Secours . E é arrepiante de cabo a rabo.
Suítes para Violoncelo Solo
CD 1:
1. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Prelude
2. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Allemande
3. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Courante
4. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Sarabande
5. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Menuett
6. Suite No. 1, S. 1007 In G Major: Gigue
7. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Prelude
8. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Allemande
9. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Courante
10. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Sarabande
11. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Menuett
12. Suite No. 2, S. 1008 In D Minor: Gigue
13. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Prelude
14. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Allemande
15. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Courante
16. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Sarabande
17. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Bouree
18. Suite No. 3, S. 1009 In C Major: Gigue
CD 2:
1. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Prelude
2. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Allemande
3. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Courante
4. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Sarabande
5. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Bourree
6. Suite No. 4, S. 1010 In E-Flat Major: Gigue
7. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Prelude
8. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Allemande
9. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Courante
10. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Sarabande
11. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Gavotte
12. Suite No. 5, S. 1011 In C Minor: Gigue
13. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Prelude
14. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Allemande
15. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Courante
16. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Sarabande
17. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Gavotte
18. Suite No. 6, S. 1012 In D Major: Gigue
Uma parceria entre Amandine Beyer e Giuliano Carmignola não tem como dar errado, apesar das diferenças. São dois grandes solistas. O Bach de Beyer é esplêndido e é dela a gravação das Sonatas e Partitas para Violino Solo que mais gosto de ouvir. O Bach de Carmignola é esquisito, é quase Vivaldi, não gosto muito. Mas já o ouviram tocando Vivaldi? É sensacional. Aqui, eles se unem para interpretar alguns Concertos para Dois Violinos do Prete Rosso, acompanhados por Gli Incogniti, conjunto de música barroca dirigido por Beyer. O resultado é soberbo, maravilhoso. As meninas do Ospedale della Pietà ficariam boquiabertas se ouvissem. E você, seu tarado, se pensa que aquelas jovens abandonadas formavam um harém, leiam o que escreveu Jean-Jacques Rousseau em uma passagem por Veneza:
As Vésperas (…) são tocadas por trás de uma galeria gradeada, somente por meninas, das quais a mais velha não terá mais de vinte anos. Não posso conceber nada mais voluptuoso, nada mais emocionante que esta música. O que me afligia era estas meninas exiladas, de quem apenas sua música se permitia atravessar as grades que ocultavam os anjos adoráveis que julgava serem. Calei-me. Um dia comentei o fato em casa de Messer le Bond. ‘Se estais tão curioso’, disse-me ele, ‘para ver estas mocinhas, posso facilmente satisfazer-vos a vontade. Sou um dos administradores da casa, e vos convido a lanchar com elas’. Quando me dirigia com ele à sala que abrigava aquelas desejadas beldades, senti tamanha agitação de amor como jamais experimentara. Messer le Bond foi me apresentando uma após outra daquelas afamadas cantoras, cujas vozes e nomes me eram já todos conhecidos. ‘Vem, Sophie’… ela era horrenda. ‘Vem, Cattina’ …. era cega de um olho. ‘Vem, Bettina’… a varíola a havia desfigurado. Mal haveria uma ou outra sem qualquer defeito considerável. Duas ou três eram toleráveis; só o que faziam era cantar no coro. Fiquei desolado. Durante o encontro, quando brincamos, elas se alegraram. A feiúra não exclui o charme, e encontrei charme em algumas delas. Finalmente minha maneira de as considerar mudou tanto que quase me enamorei daquelas meninas disformes.”
É, a vida real é complicada… Mas o pessoal do Gli Incogniti é bem bonitinho!
Beyer e Gli Incogniti
Antonio Vivaldi (1678-1741): Concertos para Dois Violinos
Concerto per due Violini in Do Maggiore, RV 507
1 Allegro 5:16
2 Largo 3:01
3 Allegro 4:18
Concerto per due Violini in Sib Maggiore, RV 529
4 Allegro 3:57
5 Adagio 3:33
6 Allegro 3:20
Concerto per due Violini in Do Minore, RV 510
7 Allegro 3:05
8 Largo 1:45
9 Allegro 2:22
Concerto per due Violini in Do Maggiore, RV 505
10 Allegro 3:45
11 Andante 2:38
12 Allegro non molto e cantabile 3:44
Concerto a 4 in Re Minore, RV 127
13 Allegro 1:30
14 Largo 2:03
15 Allegro 1:34
Concerto per due Violini in Sib Maggiore, RV 527
16 Allegro 3:51
17 Largo 2:41
18 Allegro molto 2:46
Concerto per due Violini in Re Maggiore, RV 513
19 Allegro molto 5:38
20 Andante 3:43
21 Allegro 5:27
Amandine Beyer & Giuliano Carmignola
Gli Incogniti
Aapo Häkkinen toca junto com ninguém menos que Pierre Hantaï, seu ex-professor, estes Concertos para 2 Cravos de (dos) Bach. Temos 3 Concertos de Papai Bach acompanhado de uma obra raramente tocada, mas muito interessante, de Wilhelm Friedmann Bach. Este último é o concerto para dois cravos (sem orquestra). Duas reconstruções de concertos para cravos do círculo íntimo de Bach são tocadas. O som gravado privilegia os teclados sobre as cordas, com microfones fixados diretamente no corpo de cada cravo. Os cravos soam ricos e ressonantes. Estas são performances admiravelmente livres e fluidas. Ambos os solistas têm um senso aguçado para o rubato e os fraseados eficazes, mas na maioria dos casos isso é tão sutil que você precisa realmente ouvir para descobrir como é feito. As cordas são igualmente vibrantes, com excelente conjunto e belo timbre rico para sustentar os solistas. À primeira audição, o disco pode parecer austero. A escala da instrumentação, embora historicamente justificada, parece muito pequena, um sentimento que é exacerbado pelos microfones muito próximos e pelo som relativamente seco. Mas o nível de musicalidade é excelente e, embora a clareza da textura seja o objetivo principal, o interesse musical nunca esmorece. O CD foi multipremiado. Merecido!
J. S. Bach (1685-1750) / W. F. Bach (1710-1784): Concertos para 2 Cravos (Hantaï / Häkkinen)
Concerto In C Minor, BWV 1060
Composed By – J.S.Bach*
1 Allegro 5:03
2 Largo 4:38
3 Allegro 3:26
Concerto In C Major, BWV 1061
Composed By – J.S.Bach*
4 Allegro 7:02
5 Adagio 4:23
6 Vivace 5:43
Concerto In C Minor, BWV 1062
Composed By – J.S.Bach*
7 Allegro 3:52
8 Andante 5:40
9 Allegro Assai 4:41
Concerto In F Major, Fk 10, For 2 Harpsichords
Composed By – Wilhelm Friedemann Bach
10 Allegro Moderato 8:51
11 Andante 4:43
12 Presto 4:10
Harpsichord – Aapo Häkkinen, Pierre Hantaï
Orchestra – Helsinki Baroque Orchestra
Eu desconhecia Hasse. Portanto, foi totalmente inesperado ouvir este baita CD cheio de sonoridades surpreendentes. Fortemente indicado para quem gosta de música barroca!
(Desculpem as poucas frases. É falta de tempo mesmo.)
Johann Adolf Hasse (1699-1783): Sonatas of the Galant Time (Umbach & Consorten)
1. Sonata In G Major (1-4)
2. Sonata In D Major (5-8)
3. Sonata In G Major Op.i, Iv (9-12)
4. Sonata In E Minor Op.5 (13-16)
5. Sonata In G Major Op.5, Iii (17-19)
6. Sonata In A Major Op.5, Ii (20-22)
7. Sonata In D Major Op.i, Vi (23-26)
8. L’amero, Saro Costante
Umbach & Consorten
Elke Martha Umbach, flute
Daniel Rothert, flute
Christian Zinke, viola da gamba
Axel Weidenfeld, gallichon, theorbo
Klaus Westermann, harpsichord, fortepiano
Com inteira justiça, o pianista, cravista e organista Keith Jarrett é conhecidíssimo e famosíssimo. Este The Köln Concert é um de seus grandes momentos — talvez o maior deles. Jarrett começou sua carreira no jazz com Art Blakey e Miles Davis. Depois foi contratado como grande estrela da ECM, criou dois quartetos, um americano e outro escandinavo, gravou montes de concertos solo, criou um trio com Gary Peacock e Jack DeJohnette, fez esplêndidas duplas com meio mundo, virou pianista e cravista erudito, gravou O Cravo Bem Temperado, os 24 Prelúdios e Fugas de Shostakovich e também Mozart, Barber, Handel, Pärt, etc., sempre com notáveis resultados artísticos. Creio ter intuído a futura carreira erudita do moço quando ouvi um solo dilacerante de Nude Ants (1979) e vaticinei que ele queria mesmo era tocar Bach. Bem, sei lá se ele já estava tocando clássicos em 79. Bom, mas o que interessa é que The Köln Concert é um trabalho fundamental, principalmente o solo inicial de 26 minutos que contém uma súmula do que é capaz Mr. Jarrett.
Detalhando, The Köln Concert é uma gravação de um concerto ao vivo com improvisações para solo de piano executadas por Keith Jarrett na Ópera de Colônia no dia 24 de janeiro de 1975. O álbum em vinil duplo foi lançado em 1975 pela ECM e tornou-se o álbum solo mais vendido da história do jazz e o álbum de piano mais vendido, com mais de 3,5 milhões cópias comercializadas. Não pouca coisa e é justo que assim tenha sido.
O show foi organizado por Vera Brandes, de 17 anos, então a mais jovem promotora de shows da Alemanha. A pedido de Jarrett, Brandes selecionou um piano de cauda Bösendorfer 290 Imperial. No entanto, houve uma confusão por parte da equipe da Ópera e, em vez disso, eles pegaram outro Bösendorfer nos bastidores — um muito menor — e, presumindo que este fosse o solicitado, colocaram-no no palco. O erro foi descoberto tarde demais para que o Bösendorfer correto fosse colocado no local do show a tempo do concerto da noite. O piano que eles trouxeram era destinado apenas para ensaios e estava em más condições e exigia várias horas de afinação e ajuste para torná-lo tocável. O instrumento era pequeno e pouco agudo nos registros superiores e fraco nos registros graves. Os pedais também não funcionavam bem. Consequentemente, Jarrett frequentemente usou ostinatos e figuras rítmicas da mão esquerda durante sua apresentação para dar o efeito de notas de baixo mais fortes e concentrou sua execução na parte central do teclado. O produtor da ECM Records, Manfred Eicher, disse mais tarde: “Provavelmente Jarrett tocou do jeito que tocou porque não era um bom piano. Como ele não conseguia se apaixonar por seu som, ele encontrou outra maneira de tirar o máximo proveito isto.”
Jarrett chegou à Ópera no final da tarde, cansado após uma longa viagem exaustiva desde Zurique, na Suíça, onde havia se apresentado alguns dias antes. Ele não dormia bem havia várias noites, sentia dores nas costas e precisava de um aparelho ortodôntico. Depois de experimentar o piano e saber que o instrumento substituto não estava disponível, Jarrett quase se recusou a tocar e Brandes teve que convencê-lo a tocar, pois o show estava programado para começar em apenas algumas horas. Além disso, Brandes tinha reservado uma mesa em um restaurante italiano local para Jarrett jantar, mas uma confusão da equipe causou um atraso na refeição que estava sendo servida e ele só conseguiu beber alguns goles de água antes de ir para o concerto. Parecia que tudo ia dar errado e, no final das contas, Jarrett decidiu tocar principalmente porque o equipamento de gravação já estava configurado.
O concerto começou às 23h30. O horário tardio era o único que a administração colocara à disposição da jovem Brandes para um concerto de jazz — o primeiro na Ópera de Köln. O show lotou, com mais de 1.400 pessoas pagaram 4 marcos por cada ingresso. E vocês sabem o que é aquilo que ele faz com a mão esquerda logo no começo da música? Aqueles 4 toques meio solenes? Pois é, ele inicia imitando as badaladas do sino que abre a cortina da Oper Haus em Köln, que são inspiradas no toque dos sinos da Catedral de Colônia. Digo a vocês que, apesar dos obstáculos, a atuação de Jarrett foi… Bem, ouçam: É OBRIGATÓRIO.
Jarrett trouxe calma e lirismo à improvisação livre. Nada neste programa foi preparado antes que ele se sentasse para tocar. Todos os gestos e harmonias intrincadas, as linhas melódicas, os gritos e suspiros do homem, tudo é espontâneo. Embora tenha sido um concerto contínuo, a peça foi dividida em quatro seções porque teve que ser dividida para formar os quatro lados um LP duplo.
Pois bem, a partir do momento em que Jarrett dá seus acordes iniciais e começa a meditar sobre as harmonias, construindo figuras melódicas, combinações de glissandos e temas em ostinato, a música mudou. Para alguns ouvintes, mudou para sempre naquele momento. O som íntimo de Jarrett envolveu os ouvintes em sua busca por beleza e significado.
A genialidade de Keith Jarrett é demonstrada não apenas por seu claro domínio da tradição do jazz, mas também em como ele se desvia dela. A gravação de The Köln Concert demonstra a indefinição de fronteiras de gênero usando temas hipnóticos e improvisações sem fim, criando uma experiência quase religiosa para o ouvinte. Apesar de receber críticas desfavoráveis de alguns fãs de jazz mais conservadores, este álbum é certamente um testemunho do notável senso de improvisação, composição e espontaneidade de Jarrett.
Ainda me lembro do meu primeiro encontro com The Köln Concert. Eu tinha uns 20 anos e estava vasculhando as caixas de jazz e eruditos da extinta King`s Discos aqui em Porto Alegre. O Júlio, lendário atendente da loja, colocou um disco para tocar. Quando as notas de abertura começaram a serem ouvidas, pude sentir imediatamente a mudança no ambiente da loja. Os clientes ergueram os olhos e gradualmente concentraram sua atenção na música que saía dos alto-falantes. Então, algo inesperado aconteceu. Um cliente foi até o Júlio para perguntar o que era aquilo. E adquiriu o vinil duplo. Logo um segundo cliente fez o mesmo. O terceiro fui eu. Imaginem meu desespero se acabasse!
Eu ouvia muito jazz, mas o verdadeiro mistério era o motivo pelo qual os outros clientes, que estavam olhando discos de rock e pop, estavam comprando Jarrett. Uma coisa ficou logo muito clara: aquilo não soava como qualquer outra coisa no mundo da música dos meados dos anos 70. Mesmo quando comparado aos álbuns de jazz, o novo som de Jarrett era diferente. Nos anos 70, o jazz estava fazendo coisas pouco acústicas. Chick Corea e Herbie Hancock, por exemplo, estavam com os dois pés no piano elétrico e as bandas fusion pululavam.
The Köln Concert era o oposto. Jarrett não apenas tocava um piano de cauda (cada vez mais conhecido como piano acústico, naquela conjuntura, para diferenciá-lo dos teclados elétricos), mas também com um grau de sensibilidade e nuance que você não encontraria em outro lugar na música comercial. Ele até arrisca certo sentimentalismo, uma franqueza emocional que muitos artistas de jazz teriam se envergonhado de imitar — especialmente em meados dos anos 70, quando a ironia estava em ascensão como atitude cultural.
No entanto, nos meses seguintes, assisti com espanto ao The Köln Concert entrar na cultura mainstream, alcançando um público que eu poderia ter considerado imune ao apelo de um piano.
E Jarrett fez isso violando quase todas as regras da música comercial. As faixas do The Köln Concert eram longas improvisações de fluxo livre gravadas ao vivo em um recital na Alemanha. Elas careciam de estrutura. Pior ainda, eles eram longas demais para serem tocadas nas rádios. A abertura tinha 26 minutos de duração, e as próximas duas faixas tinham 15 e 18 minutos de duração. Apenas o bis de 7 minutos seguiu algo semelhante a uma forma de música divulgável, mas mesmo isso parecia um mundo à parte dos singles de sucesso do dia. Como tornou-se um tremendo sucesso?
Você pode pensar que os amantes do jazz aceitariam facilmente a música. Mas mesmo eles ficaram céticos. The Köln Concert evitava as síncopes e os sotaques familiares que permeavam os outros álbuns de jazz. Muita gente dizia que o disco não soava muito a jazz.
No entanto, de alguma forma Jarrett contornou tudo isso e conseguiu se tornar um sucesso através do método mais antigo de todos, o boca a boca, o contato pessoal com amigos que possuíam o disco. As vendas enormes nem sempre são recebidas com entusiasmo na comunidade do jazz e uma reação foi inevitável. A franqueza emocional da música e seu melodismo descarado deixaram o álbum especialmente exposto à crítica daqueles que sentiam que a forma de arte do jazz exigia algo mais abrasivo. Quando a horrorosa New Age floresceu alguns anos depois, houve inúmeros imitadores de menor talento imitando (e diluindo) a visão estética das improvisações de Köln e talvez até o próprio Jarrett se perguntasse “o que fiz?”.
Eu entendo as críticas dos jazzistas conservadores, mas não concordo com elas. Jarrett fez algo novo (e honesto) naquela noite. Ele criou um trabalho visionário que ainda chama a atenção dos ouvintes de primeira viagem hoje — da mesma forma do que naquele dia em meados dos anos 70, quando o ouvi pela primeira vez em uma loja de discos. A música se manteve, era na verdade muito melhor do que muitos dos projetos carregados de pose e que pareciam muito mais progressivos na época.
Claro, a maioria do público que descobriu Keith Jarrett com The Köln Concert nunca abraçou o resto de sua obra. Eu teria ficado encantado em ver Facing You ou o Concerto de Bremen ou os álbuns dos quartetos de Jarrett do período — e os de outros artistas de jazz merecedores — também encontrarem o grande público. Dessa perspectiva, a promessa de Köln nunca foi cumprida. Mas não podemos culpar Jarrett por isto. E ele certamente também não pode ser culpado por seus imitadores banais, ou repreendido por suas vendas. De sua parte, ele não almejava um disco de sucesso e, ao contrário de muitos de seus contemporâneos na cena do jazz, nunca fez a menor tentativa de impor uma tendência ou mesmo abraçar as fórmulas aceitas de discos comerciais. Além disso, nunca tentou recriar o ambiente especial daquela apresentação. Ele viu aquele dia como um evento único. Simplesmente confiou em sua música, em seu talento, e corajosamente se lançou. E, afinal, não é disso que trata o jazz?
Keith Jarret – The Köln Concert
1. Köln, January 24, 1975, Part I 26:01
2. Köln, January 24, 1975, Part IIA 14:54
3. Köln, January 24, 1975, Part IIB 18:14
4. Köln, January 24, 1975, Part IIC 6:56
POSTADO POR PQP BACH EM 17/1/2012, REVALIDADO POR VASSILY EM 2015 e 2025
Concordo com o patrão PQP: esta é a melhor gravação disponível da obra-prima pianística do século XX. Apesar de Tatiana Nikolayeva ter sido a inspiradora, consultora e intérprete da première da obra de Shostakovich, a verve e a clareza de Jarrett soam-me como o padrão-ouro.
Questão de opinião, claro, até porque o páreo é duro e nele não precisamos de vencedores.
Vassily
POSTAGEM ORIGINAL DE PQP BACH EM 17/1/2012
Pois, meus filhos, vou lhes dizer uma coisa. Penso que Keith Jarrett realizou a melhor gravação dos 24 Prelúdios e Fugas de Shostakovich. O blog oferece ou ofereceu versões de Konstantin Scherbakov, Tatiana Nikolayeva e Vladimir Ashkenazy. A única que se segura ao lado da de Jarrett é a de Nikolayeva, esqueça as outras. Como nos outros posts dedicados a esta obra já colocamos longas análises a respeito, utiizo desta vez uma pequena e bela apresentação encontrada aqui.
Esta coleção é certamente a obra mais importante da produção pianística de Shostakovich. As peças foram compostas logo depois de sua visita a Leipzig por ocasião das solenidades do segundo centenário da morte de J. S. Bach, e, como tais, representam sua homenagem ao autor do Cravo bem-temperado. O que originalmente fora pensado como uma simples série de exercícios polifônicos acabou por tornar-se uma obra em grande escala, plenamente desenvolvida, na qual os gêneros pianísticos mais díspares são admiravelmente integrados em um painel coerente. A diversidade de estilos e técnicas aproxima-se às vezes do pastiche, mas a coleção é notável como ponto de consolidação das anteriores vertentes composicionais do autor, e a música, por certo, é Shostakovich em sua melhor forma, com aquela peculiar mistura de verve e pathos da qual deriva sua perene fascinação.
Shostakovich: 24 Prelúdios e Fugas, Op. 87
Keith Jarrett, piano
Disco 1
1. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 1 In C Major
2. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 2 In A Minor
3. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 3 In G Major
4. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 4 In E Minor
5. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 5 In D Major
6. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 6 In B Minor
7. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 7 In A Major
8. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 8 In F Sharp Minor
9. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 9 In E Major
10. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 10 In C Sharp Minor
11. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 11 In B Major
12. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No. 12 In G Sharp Minor
1. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.13 In F Sharp Major
2. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.14 In E Flat Minor
3. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.15 In D Flat Major
4. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.16 In B Flat Minor
5. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.17 In A Flat Major
6. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.18 In F Minor
7. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.19 In E Flat Major
8. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.20 In C Minor
9. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.21 In B Flat Major
10. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.22 In G Minor
11. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.23 In F Major
12. Preludes And Fugues Op. 87: Prelude And Fugue No.24 In D Minor
Então vocês pensavam que iam ficar livres de fazer downloads? Nada disso! Recebemos o golpe do MegaUpload, perdemos muitos links de uma só vez e seguimos. Já sei que receberemos muitos pedidos de revalidações de links, essas coisas. Bem, digo com todo o respeito, fodam-se. Se você não comprou aquele HD externo e guardou tudo, só lamento. Por sorte, as minhas postagens permanecem pelo fato de eu usar sempre o detestado, bom e velho Rapidshare. Pura sorte, pois não creio que a Suíça seja menos subserviente aos EUA do que a Nova Zelândia. Ah, já leram isso?
Keith Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette. Não preciso apresentar ninguém. O CD começa com uma faixa chamada Meaning of the Blues… Olha, numa boa, I Felt in Love Too Easily.
Keith Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette: Standards, Vol. 1 e 2
CD 1
1. Meaning of the Blues
2. All the Things You Are
3. It Never Entered My Mind
4. The Masquerade Is Over
5. God Bless the Child
Do começo ao fim, somos brindados com uma mistura de humores neste primeiro trabalho de Keith Jarrett e seu quarteto escandinavo. Astuto e consistente, Belonging traz cada músico em ótima forma. Todos têm seu momento de destaque. O trabalho de Jarrett é, claro, soberbo do começo ao fim, mas é a energia subjacente à sua execução que realmente parece impulsionar as coisas. O álbum é ziguezagueante, indo habilmente do abandono de balançar a cabeça para a escuridão pesada. As baladas constituem as passagens mais longas de Belonging. Na maior parte, sax e piano são unificados, como se estivessem caminhando em ambos os lados da mesma rua, embora às vezes pareçam olhar em direções opostas, como se estivessem envolvidos em um longo debate, inseguros se a reconciliação pode ser alcançada no meio de tanta conversa.
.: interlúdio :. Keith Jarrett Quartet: Belonging
A1 Spiral Dance 4:08
A2 Blossom 12:18
A3 ‘Long As You Know You’re Living Yours 6:11
B1 Belonging 2:12
B2 The Windup 8:26
B3 Solstice 13:15
Bass – Palle Danielsson
Drums – Jon Christensen
Piano, Composed By – Keith Jarrett
Soprano Saxophone, Tenor Saxophone – Jan Garbarek
Mais uma excelente gravação de Keith Jarrett no terreno da música erudita. Diferentemente do que fez com Bach, aqui Keith utiliza o piano em vez do cravo. Sem problemas. A gravação de Jarrett destas sete suites de Handel é deliciosa. Sempre a serviço do compositor, ele é consistentemente lírico, nunca é apressado ou agitado, sempre tem algo quente e rico a dizer. Cada suíte tem personalidade própria e Jarrett trata de impregná-las com profundidade e humanidade diversas. Estão notáveis o prelúdio da Suite 1, No. 1 (HWV 426), a pureza da allemande que a segue assim como a melancolia da courante. E o que dizer do adágio de abertura da Suite 1, No. 2 (HWV 427) e da peculiar beleza que Jarrett dá ao prelúdio-fuga da Suite 1, No. 8 (HWV 433)?
Baixa logo, meu.
G. F. Handel (1685-1759): Suites for Keyboard (Keith Jarrett)
1. Suite in G minor, HWV 452 – 1. Allemande 2:47
2. Suite in G minor, HWV 452 – 2. Courante 3:00
3. Suite in G minor, HWV 452 – 3. Sarabande 2:15
4. Suite in G minor, HWV 452 – 4. Gigue 1:21
5. Suite No.15 in D minor for Harpsichord, HWV 447 – 1. Allemande 2:06
6. Suite No.15 in D minor for Harpsichord, HWV 447 – 2. Courante 2:31
7. Suite No.15 in D minor for Harpsichord, HWV 447 – 3. Sarabande 1:51
8. Suite No.15 in D minor for Harpsichord, HWV 447 – 4. Gigue 1:05
9. Harpsichord Suite Set II No.7 in B flat major, HWV 440 – 1. Allemande 2:00
10. Harpsichord Suite Set II No.7 in B flat major, HWV 440 – 2. Courante 2:05
11. Harpsichord Suite Set II No.7 in B flat major, HWV 440 – 3. Sarabande 2:38
12. Harpsichord Suite Set II No.7 in B flat major, HWV 440 – 4. Gigue 1:22
13. Harpsichord Suite Set I No.8 in F minor, HWV 433 – 1. Prélude – Fuga 5:03
14. Harpsichord Suite Set I No.8 in F minor, HWV 433 – 2. Allemande 2:54
15. Harpsichord Suite Set I No.8 in F minor, HWV 433 – 3. Courante 2:39
16. Harpsichord Suite Set I No.8 in F minor, HWV 433 – 4. Gigue 2:09
17. Harpsichord Suite Set I No.2 in F major, HWV 427 – 1. Adagio 2:45
18. Harpsichord Suite Set I No.2 in F major, HWV 427 – 2. Allegro 2:48
19. Harpsichord Suite Set I No.2 in F major, HWV 427 – 3. Adagio 1:46
20. Harpsichord Suite Set I No.2 in F major, HWV 427 – 4. Allegro 2:00
21. Harpsichord Suite Set I No.4 in E minor, HWV 429 – 1. Fuga 3:37
22. Harpsichord Suite Set I No.4 in E minor, HWV 429 – 2. Allemande 2:07
23. Harpsichord Suite Set I No.4 in E minor, HWV 429 – 3. Courante 2:53
24. Harpsichord Suite Set I No.4 in E minor, HWV 429 – 4. Sarabande 3:23
25. Harpsichord Suite Set I No.4 in E minor, HWV 429 – 5. Gigue 1:52
26. Harpsichord Suite Set I No.1 in A major, HWV 426 – 1. Prelude 2:31
27. Harpsichord Suite Set I No.1 in A major, HWV 426 – 2. Allemande 3:29
28. Harpsichord Suite Set I No.1 in A major, HWV 426 – 3. Courante 3:13
29. Harpsichord Suite Set I No.1 in A major, HWV 426 – 4. Gigue 3:15
Apresento este belíssimo CD de Keith Jarrett. Trata-se de um concerto solo gravado teatro La Scala em 1995 que difere um pouco de outros que Jarrett gravou antes e depois. Há uma Parte I de 45 minutos de uma improvisação lenta e triste, belíssima. FDP me disse que é apaixonado por este trabalho. A Parte II é mais moderninha e também excelente. A surpresa fica para uma interpretação de Over the Rainbow ao final. Ficou bonito.
Keith Jarrett – La Scala
1. La Scala – Part I
2. La Scala – Part II
3. Over the Rainbow (Arlen, Harburg)
Certamente, este No End concorre ao prêmio de CD de Jazz Mais Chato de Todos os Tempos ou, pelo menos, ao de Disco Mais Chato de Jarrett. Nele, em gravação de estúdio realizada em 1986, Keith Jarrett toca tudo — guitarra, baixo, percussão, tablas, o diabo — , até piano em alguns poucos momentos. O resultado é algo sem graça e indirecional: não sabe bem de onde ele saiu nem onde quer chegar com suas improvisações quase sem temas, só de climinhas pseudo-exóticos. Há momentos legais em meio à maior diluição, mas a coisa simplesmente não para em pé. Ouçam e me digam o que acharam.
Keith Jarrett — No End (2013)
Disc: 1
1. I
2. II
3. III
4. IV
5. V
6. VI
7. VII
8. VIII
9. IX
10. X
Disc: 2
1. XI
2. XII
3. XIII
4. XIV
5. XV
6. XVI
7. XVII
8. XVIII
9. XIX
10. XX
Keith Jarrett: electric guitars, fender bass, drums, tablas, percussion, voice, recorder, piano.
Imaginem um mundo ainda pior do que o nosso, um mundo onde Haydn (1732), Mozart (1756) e Beethoven (1770) tivessem sucumbido à alta mortalidade infantil de suas épocas. Bem, neste caso, Hummel seria muito famoso. OK, você, que é inteligente, dirá que se o trio fundamental acima não tivesse produzido nada, o Hummel que ouvimos seria outro, pois ele foi formado por Haydn e Mozart e foi contemporâneo de Beethoven. Concordo e peço que não levem tão a sério minha ficção. O que desejo dizer é que Hummel é um sub-Beethoven que não merece o pouco caso que nossa época dá a ele. Tudo porque ele é MUITO BOM. Estas sonatas para piano gravadas por Stephen Hough para a sensacional Hyperion deveriam fazer parte do repertório usual de pianistas que tocam obras do período clássico. Peço a vocês que confiram. Se as sonatas de Hummel não superam as de Mozart e Beethoven, deixam longe as de Haydn e as de quase todos os compositores do período. Ah, não acreditam? Então ouçam. BAITA CD.
Johann Nepomuk Hummel (1778-1837): Sonatas para Piano, Op. 81, 106 e 20 (Hough)
Piano Sonata in F sharp minor, Op 81
1. Allegro
2. Largo Con Molt’espressione
3. Vivace
Piano Sonata in D major, Op 106
4. Allegro Moderato, Ma Risoluto
5. Un Scherzo All’antico: Allegro, Ma Non Troppo
6. Larghetto A Capriccio
7. Allegro Vivace
Piano Sonata in F minor, Op 20
8. Allegro Moderato
9. Adagio Maestoso
10. Presto
Stephen Hough
Stephen Hough é um tremendo pianista que, dentre outros, especializou-se em Hummel