IM-PER-DÍ-VEL !!!
Dia desses, alguns membros do PQP estavam, com seus nomes civis, conversando animadamente entre outras pessoas no Facebook. E descobrimos algo curioso: a gente não gosta muito de Philip Glass. Pior: eu e Ranulfus somos decididamente hostis ao brilho sem graça do americano dentuço. Só para ficar na cena norte-americana, citei três caras realmente geniais: Adams, Reich e Riley. Estes não tem nada a ver com o Paulo Coelho do minimalismo. E eu disse que lançaria um torpedo no PQP Bach. Está aqui.
Vocês estão frente a um quarteto de cordas de 120 minutos — é um álbum duplo — , com 23 movimentos divididos em 5 seções da melhor música do século XX. Ah, não acredita? Vá ouvir!
Após quase 20 anos de vida, Salome Dances for Peace parece ser a obra-prima de Riley. In C recebe muito mais performances, mas Salomé é um trabalho mais profundo e mostra um compositor incrivelmente criativo e inspirado.
Salomé foi encomendada pelo Kronos Quartet, intérpretes desta gravação. Como muitas peças de Riley, é uma obra programática que envolve elementos da mitologia. O uso da mitologia é tipico de Riley. Mas se o programa é interessante, o trabalho para tranquilamente em pé sem ele.
As peças, mesmo as de mais intrincada composição, incluem improvisação. Riley conseguiu integrar os momentos de improviso e os compostos de forma perfeita, mal se nota o que são uns e outros. (Mérito também do Kronoa, claro). E é surpreendente que, mesmo que os temas e ritmos sejam diferentes, o efeito global seja o mesmo. bartokiano, eu diria.
O estranho (e legal) é que mesmo que soe a Bartók, nunca é austero. Salomé é uma dança de alegria de um dos compositores mais alegres do século 20.
Terry Riley (1935): Salome Dances for Peace (Kronos Quartet)
I. Anthem of the Great Spirit
1) The Summons
2) Peace Dance
3) Fanfare in the Minimal Kingdom
4) Ceremonial Night Race
5) At the Ancient Aztec Corn Races Salome Meets Wild Talker
6) More Ceremonial Races
7) Oldtimer at the Races
8. Half Wolf Dances Mad in Moonlight
II. Conquest of the War Demons
9) Way of the Warrior
10) Salome and Half Wolf Descend Through the Gates to the Undeworld
11) Breakthrough to the Realm of the War Demons
12) Combat Dance
13) Salome Re-enacts for Half Wolf Her Deeds of Valor
14) Discovery of Peace
15) The Underworld Arising
III. The Gift
1) Echoes of Primordial Time
2) Mongolian Winds
IV. The Ecstasy
3) Processional
4) Seduction of the Bear Father
5) The Gathering
6) At the Summit
7) Recessional
V. Good Medicine
8. Good Medicine Dance
KRONOS QUARTET:
David Harrington, violin
John Sherba, violin
Hank Dutt, viola
Joan Jeanrenaud, cello
Tempo total: 1h58min33
PQP
P.Q.P. também não gosto de Philip Glass.
Não gosto de (minha opinião) música vazia.
Devo admitir que não conheço Riley, devo baixar assim que possível (depois de terminar a caixa de Bach).
Porém venho aqui por outra razão. Se eu fosse comentar algo preferia comentar numa “postagem” de Bach. Uhauhauah!
Bom, pedi seu e-mail para enviar meu trabalho para divulgá-lo.
Como tive problemas para enviá-lo e tudo mais, não sei até agora se ao menos o tal foi enviado com êxito.
Deixei um comentário na postagem da última caixa de Bach.
Como não sei como o senhor funciona… então posto aqui novamente refazendo a pergunta: recebeu o e-mail?
Afirmo que esta será a última vez, para não incomodar mais do que já devo estar.
Até mais, obrigado desde já.
A comparação – Paulo Coelho (Glass) e Bartok (Riley) – é bem curiosa. Explica bem! Embora, pense que tenhas rebaixado demais o americano. Paulo Coelho não dá! Ainda prefiro o Glass.
Certamente rebaixei demais. Tens razão.
Caro P.Q.P. Bach:
Já tentei gostar de Glass, mas não consegui… não vai nem com quiabo…
Um amigo meu gostava muito do Glass e para seu grande escândalo eu disse sobre ele o que de fato penso: se você ouvir qualquer música sua, já ouviu todas. Tou falando do fundo de toda a minha ignorância musical, que piora em se tratando da segunda metade do século, mas foi a impressão que me ficou.
Só gosto do Glass quando não o estou ouvindo. Assim que começa a música começa a irritação.Ele deve ser um compositor bom pra uma tese acadêmica.
Ele deve ser um compositor bom pra uma tese acadêmica….
HAHAHAHAHAHAHA
Eu não sou o maior fã de Glass, mas acho que existe uma injustiça grande aí. Os compositores estadunidenses de sucesso me parecem levados a cair na repetição de fórmulas, o que o “minimalismo” torna mais evidente. Acho (uma especulação sem maior embasamento) que ser facilmente reconhecível pela audiência, permitir que todo mundo diga “isso é um Glass”, “isso é um Reich”, já nos primeiros acordes, tem seu valor de mercado. Isso vale mesmo para Adams, que em seus melhores momentos é absolutamente genial, para mim o maior de todos, ou para Riley, que parece ser um espírito mais livre, mas cujo melomisticismo, francamente, às vezes dá nos nervos. Glass, talvez por ter sido o de mais sucesso comercial de todos, me parece o mais repetitivo. Sou apreciador de óperas, mas as suas – Einstein on the beach, Akhnaten – são inescutáveis e, até onde vi, inassistíveis. Ainda sim, ele tem obras de grande força e beleza. O concerto para quarteto de saxofones, os ciclos de canções “de Miralepa” e para barítono e piano, as canções e poemas para violoncelo solo, as “Metamorfoses” para piano solo – não se encontrar obras deste nível dando sopa por aí. Sugiro especialmente o álbum “Songs”, de 2021, com o barítono Martin Achrainer e a pianista Maki Namekawa, e o registro das “Songs & poems for solo cello” com Wendy Sutter, de 2008.
O trabalho do Philip Glass, assim como grande parte daquilo que é rotulado de minimalista (seja na música, pintura, arquitetura), chega perto demais da monotonia. Pra mim, falta algo, um certo vigor ou intenção mais profunda, que deixe sua música com menos cara de algo mecânico. Mas, reconheço, tem seu público. E se algumas pessoas começam a se interessar pela música erudita por conta dele…
Terry Riley consegue aplicar mais criatividade. Mas sinceramente, o tema do programa me interessou mais do que a música.