Chopin: Estudos completos, Allegro de Concerto, Fantasia-Impromptu, Barcarola (Arrau, piano)

– Se eu lhe contar, doutor, que chorei como uma criança quando
soube da morte de Chopin, vosmecê se admira?
– Eu não me admiro de nada.
– Que Chopin? – perguntou Bibiana.
Luzia, paciente, voltou-se para a sogra.
– É um compositor, dona Bibiana. Um homem que escrevia músicas, lindas músicas. Aquela valsa que eu toco e que a senhora gosta é dele…
Bibiana sorriu enigmaticamente.
– Pois chorei, doutor – continuou Luzia. – E sabe por que chorei mais? Porque Chopin morreu em 1849 e só três anos depois é que fiquei sabendo […] (Erico Verissimo, O Tempo e o Vento)

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A compositora e pianista Dinorá de Carvalho escreveu no Correio Paulistano (12 jun 1956):

Mãos de Chopin
Chopin é o suave poeta dos “Noturnos”, cujas mãos exprimem doçura, carícia, amor…
Mãos que espalharam pelo mundo as mais deliciosas harmonias, trazendo numa vida de sonhos, esperanças e amores a história do seu sofrimento intérmino.
Mãos, como contavam alguns de seus discípulos, a princesa Czartoryska, Mme. Dubois, Georges Mathias, que [Chopin] colocava no teclado planas, horizontais; tocava com a ponta dos dedos para não ferir as teclas, obtendo assim efeitos estranhos nos “Estudos”.

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Para Maria Abreu, no Brasil “Chopin foi paradigma por ter sido espelho. O espelho que reproduziu nossa imagem sentimental.” (Do livro O Piano na Música Brasileira, 1992, p.45)

Essa “nossa imagem sentimental”, nas palavras da pianista e jornalista Maria Abreu (Porto Alegre, 1916-1995), se refere a uma certa fração do Brasil que ela conheceu quando jovem, não valendo para uma “imagem sentimental” brasileira em todos os tempos e lugares. Em todo caso, nota-se como a música do polonês, como um espelho, pode refletir imagens diferentes. O Chopin de Claudio Arrau tem essência diferente do de Guiomar Novaes que é diferente do Artur Rubinstein que é diferente do de Arturo B. Michelangeli que é diferente do de Samson François, para falarmos só de grandes pianistas em atividade nos anos 1950, década em que Arrau gravou os “24 Estudos” principais e os menos inspirados “3 Novos Estudos”. Essas gravações de Arrau foram todas feitas em Londres e saíram pelos selos Decca e Columbia. Depois, Arrau gravaria muito Chopin pelo selo Philips (anos 1970-80), mas os Estudos ele não gravaria nos anos finais da sua longa carreira. Os Estudos por Novaes também estão no acervo do blog. Rubinstein e Michelangeli fugiam desse repertório, tocando apenas estudos avulsos, nunca o conjunto inteiro.

Entre as características interessantes dessas gravações de Arrau, chamo atenção para a diferença de sonoridade entre as duas mãos em estudos como o opus 10 nº 6 e o opus 25 nº 6. Cada mão, ou seja, cada voz tem um tipo de dinâmica, de ataque nas teclas produzindo um timbre específico. Essa diferenciação fica ainda mais evidente no opus 10, de andamento Lento ma non troppo e apelido “Tristesse”, que tem praticamente três vozes, com alguns graves que fazem mais ou menos o papel dos pedais no órgão. Aliás, Chopin conhecia bem os Prelúdios e Fugas do Cravo Bem Temperado de Bach, que foram o ponto de partida para os seus próprios prelúdios, e é provável que conhecesse também algumas obras para órgão de Bach e as Invenções a duas e três vozes. Ou seja, Chopin compunha com um olho voltado para a polifonia do organista de Weimar e Leipzig e outro olho apontando para a melancolia que agradaria brasileiros (e até mais brasileiras, como as das três epígrafes acima). Na Barcarola, escrita 10 anos após os Prelúdios e também gravada aqui por Arrau, as harmonias mais cromáticas e os arpejos suaves apontam para sucessores franceses de Chopin como Fauré e Debussy.

Frédéric Chopin (1810-1849):
CD1
12 Études Op.10
Allegro de Concerto, opus 46
3 Nouvelles Études, op. posth.

CD2
12 Études Op.25
Fantaisie-Impromptu, opus 66
Barcarolle, opus 60

Claudio Arrau, piano
Recorded: 1956 (op. 10, 25, 46, posth.), 1953 (op. 60, 66)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mp3 320kbps)

Chopin (1835), em aquarela de Maria Wodzińska, com quem fumou mas não tragou, digo, noivou mas não casou

Pleyel

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