Este CD é um horror e é, ao mesmo tempo, um dos maiores sucessos de todos os tempos de Karajan e da DG. Na minha opinião, as Fontane e os Pini di Roma são absolutamente chatos, mas tudo bem, tem gente que gosta. O Boccherini é um pouco melhor, mas então chega o falso Albinoni e fode tudo. Trata-se de uma “reconstrução” de 1945, feita por Remo Giazotto, a partir de um fragmento do movimento lento de uma trio sonata que ele NÃO descobriu entre as ruínas da Biblioteca Estatal. É um Adagio de Giazotto para grande orquestra. De barroco não tem nada. É totalmente romântico e os trouxas achem que é de Albinoni.
Karajan era um bom regente, mas sem tempo para pensar em algo além da autopromoção. Nasceu para ganhar dinheiro e este CD foi um de seus lances mais lucrativos e baixos artisticamente. O tom declamatório e melífluo do Adagio makes me sick. Vamos falar um pouquinho do tal Adagio?
Albinoni foi um compositor barroco veneziano relativamente obscuro. Então, em 1958, surgiu este “Adagio” que tem sido usado por companhias de balé, patinadores, filmes — lembram de Gallipoli, um filme de 1981 sobre a Primeira Guerra Mundial? — e, com letras, por uma série de vocalistas como Sarah Brightman, por exemplo. Esta peça é, no entanto, uma composição moderna. Conto o caso a seguir.
Manuscritos de Albinoni, incluindo uma série de partituras que nunca tinha sido publicada, estavam há muitos anos na Alemanha. Mas a biblioteca onde se encontravam foi destruída no bombardeio de Dresden, em fevereiro de 1945. Os papéis de Albinoni foram perdidos no incêndio. Porém, algumas obras do compositor tinham sido antes catalogadas por um musicólogo italiano chamado Remo Giazotto, autor de uma biografia de Albinoni. Em 1958, Giazotto introduziu esta peça como obra de seu biografado. Ele a teria reconstruído a partir de fragmentos de uma sonata.
Mas outros musicólogos tinham realizado as mesmas pesquisas e acharam tudo muito estranho. Denunciaram. Diante disso, como bom italiano enrolão — nem todos são –, a história de Giazotto mudou um pouco. Ele passou a dizer que tinha se baseado em alguns fragmentos de uma linha de baixo que estavam num manuscrito de Albinoni. Mais: ele alegou que tinha os fragmentos. E mais: disse que eles tinham sido enviados a ele por questões de segurança, quando a biblioteca em Dresden dispersou muitos de seus tesouros… Um cidadão imaginativo, sem dúvida. É fundamental saber que os direitos autorais da peça têm apenas o nome de Remo Giazotto. E que ele, é claro, jamais mostrou os tais manuscritos.
Karajan se daria bem com Giazotto. Dinheiro e embuste era com eles, arte não.
Respighi: Fontane di Roma, Pini di Roma, Antiche danze / Boccherini: Quintettino / Albinoni: Adagio
Respighi
1. Fountains of Rome – 1. The Valle Giulia Fountain at Daybreak (La fontana de Valle Giulia à l’alba) 4:14
2. Fountains of Rome – 2. The Triton Fountain in the Morning (La Fontana del Tritone al mattino) 2:45
3. Fountains of Rome – 3. The Trevi Fountain at Midday (La Fontana di Trevi al meriggio) 4:03
4. Fountains of Rome – 4. The Villa Medici Fountain at Sunset (La Fontana di Villa Medici al tramonto) 5:53
5. Pines of Rome – The Pines of Villa Borghese (I pini di Villa Borghese) 2:56
6. Pines of Rome – The Pines near a Catacomb (Pini presso una catacomba) 6:54
7. Pines of Rome – The Pines of the Janiculum (I pini del Gianicolo) 6:48
8. Pines of Rome – The Pines of the Appian Way (I pini della Via Appia) 5:17
9. Antiche danze ed arie per liuto, Suite III – 1. Italiana. Andantino 3:37
10. Antiche danze ed arie per liuto, Suite III – 2. Arie di corte. Andante cantabile-Allegretto-Vivace -Lento con grande espressione-Allegro vivace-Vivacis- simo-Andante cantabile 8:23
11. Antiche danze ed arie per liuto, Suite III – 3. Siciliana. Andantino 3:22
12. Antiche danze ed arie per liuto, Suite III – 4. Passacaglia. Maestoso – Vivace 4:54
Boccherini
13. Quintettino op.30, No.6, La musica notturna della strade di Madr. – 1. Introduzione 0:42
14. Quintettino op.30, No.6, La musica notturna della strade di Madr. – 2. Minuetto 1:50
15. Quintettino op.30, No.6, La musica notturna della strade di Madr. – 3. Largo assai, senza rigor di Battuta 2:35
16. Quintettino op.30, No.6, La musica notturna della strade di Madr. – 4. Passacalle 2:50
17. Quintettino op.30, No.6, La musica notturna della strade di Madr. – 5. Ritirata 2:20
Albinoni
18. Adagio for Strings and Organ in G minor 10:08
Wolfgang Meyer
Berlin Philharmonic Orchestra
Herbert von Karajan
PQP
Putz, pensei que só eu achava o Respighi chato. Mas um grande amigo meu, filho de italianos não pode ler isso, senão ele briga comigo, afinal, considera essa tal de Fontane di Roma uma das maiores obras já compostas, e eu, para não perder o amigo, me calo.
Pra mim Respighi se salva por UMA obra que acho linda, das minhas peças orquestrais mais queridas: TRITTICO BOTICELLIANO.
Pra variar, tenho em vinil. Se alguém encontrar…
Gosto dos “Pinheiros”, do “Tríptico” e, vá lá, das duas primeiras “Árias antigas” (a terceira dá um soninho! com Karajan é quase um convite ao suicídio). O resto de Respighi considero chatice: “Vitrais de igreja”, “Impressões brasileiras”, as reinvenções de Rossini etc etc.
Ranulfus, se quiser mando o “Tríptico” em som moderno.
Yes, SEM DÚVIDA aceito seu oferecimento do Tríptico. Não sei se a realização será comparável à que tenho com a Orquestra de Câmara de Praga (sem regente!), lançada em vinil no Brasil em 1977, na qual essa obra realmente se realiza, e se realiza como uma OBRA. Será ótimo ver se isso também acontece em outra interpretação (se for outra) –
… e inclusive avaliar se vale a pena compartilhar aqui, pra outros poderem opinar se estou errado em dizer que é uma realização maior, apesar de o compositor ser menor.
Como fazemos? Você sobe e me manda o link aqui? Ou se preferir podemos nos comunicar pelo email [email protected]
Publico aqui mesmo 🙂 Tenho duas versões: se não me engano, uma é da BBC galesa e outra é da orquestra de câmara do Richard Hickox. São boas gravações.
Aceito todas! 😀 Estou fazendo esforço pra não começar a comentar a peça agora; vou deixar pra depois.
Não estranhe se o sistema bloquear o aparecimento público de seu comentário com links. Ainda não o conheço bem, mas parece que ele muitas vezes faz isso. Aliás, creio que até mesmo por segurança é mais adequado mesmo a gente receber o link, metabolizar e liberar publicamente depois, não acha?
GRATÍSSIMO desde já!
A fodância da tabaca da chola bateu no mano PQP também. Vamos ver quem consegue queimar uma gravação.
Contribua não baixando essa m*.
A fodância da tabaca da chola bateu no mano PQP também. Vamos ver quem consegue queimar mais uma gravação.
Contribua não baixando essa m*.
Meu conhecimento sobre obra de Respighi se resume a Pinheiros e Fontes, portanto, não acho justo avaliá-lo só por essas. Ele é exageradamente lírico nessas peças, e acho que é exatamente isso que incomoda.
Os comentários do PQP continuam fodas!!!
Há dois grandes compositores que nunca foram postados aqui;
SILVIUS LEOPOLD WEISS – Grande compositor para alaúde da corte de Frederico da Prússia, inclusive grande amigo de Bach.Talvez o maior compositor que já houve para o alaúde.
MAX REGEL – Grande polifonista do final do século XIX, fanático por Bach.
Humildemente peço que em algum dia eles sejam postados.
um abraço.
Quanto a Weiss, não poderia concordar mais.
Quanto ao outro, não seria REGER? Nesse caso, tem um Cd dele perdido por aqui, sim.
Talvez eu tenha sido um sortudo, não sei… Mas o fato é que fui apresentado à obra de Respighi com o maravilhoso Tríptico Botticelliano e depois conheci, também de sua autoria, o mais maravilhoso ainda poema sinfônico Feste Romane. Deus do Céu!!! Quase choro lendo vocês falarem mal desse compositor que eu pouco conheço mas tanto admiro! Tanto mais que, apesar de Fontane e Pini não serem minhas peças favoritas, eu gosto de ambas, principalmente da primeira parte de Pini, “I pini di Vila Borghese”. Aquilo é genial! Fiz um upload desses 3 poemas sinfônicos de Respighi com a Orquestra Sinfônica da Rádio Bratislava regida por Ondrej Lenárd e posso fornecer o link [mediafire] caso interesse alguém. Infelizmente a primeira versão que ouvi de Feste Romane foi uma diferente desta, mas não faço idéia de quem a tenha realizado e a possuo apenas em fita cassete! Tô indo atrás de conhecer o restante da obra do italiano e acho que vocês deviam dar uma nova chance a ele! Grato.
Saindo um pouco do assunto, mas é por uma boa causa.
Faleceu hoje um dos maiores maestros da atualidade, Claudio Abbado
http://g1.globo.com/musica/noticia/2014/01/morre-o-maestro-claudio-abbado.html
Com certeza uma grande perda
Realmente, concordo em gênero, número e grau!
KARAJAN! O rei dos chatos! O pior maestro de todos os tempos!
KARAJAN! O austríaco que foi reger Wagner na Opera de Paris, quando Paris estava ocupada pelos Nazistas!
Só não entendi pq, se o CD é um horror, ele foi postado aqui. Se é para fugir, porquê a tentação? To baixando pela curiosidade aguçada. Como gosto de musica clássica apenas pelo prazer auditivo, sem maiores interesses em adquirir um conhecimento erudito, talvez eu goste disso. E se gostar, bem, fazer o quê? Se gostei, gostei, ora bolas.
Obrigado pelo esforço em atender tbm aos ouvidos mais incultos.
Sugestões:
– Para quem quiser Respighi:
– Pini di Roma na versão Stokowsky (Levanta até defunto)
– Antiche Arie – versão Orpheus Chamber (mais aggiornata) ou I Musici (mais romantizada, em LP, disponível em alguns blogs)
Para quem quiser Karajan
– Sinfonias de Beethoven só a coleção de 1963
– Sinfonias n° 1 Brahms & Schumann (DG Originals)
– Quadros de uma Exposição (idem)
– De Dvorak, Concerto para violoncelo, com Rostropovitch(idem) e Sinfonia n°8 (Decca Originals)
Respighi foi um compositor passadista, anacrônico. Nem por isso deixou de emplacar uma ou outra peça de respeito. Karajan foi um regente guloso e gravou tudo o que lhe passou pela frente, inclusive versões impecáveis. Este CD, realmente, não é uma delas.
Abraços.
hahahahahahahahaha
Adoro ver essas críticas altamente destrutivas do PQP.
Para mim pouco importa se o ADÁGIO é uma fraude, mas é boa obra (não foi sem motivos que o exigente Stanley Kubrik usou o ADÁGIO na trilha de 2001). Quanto a Otorino é injusto o classificar como medíocre. Ele não foi nenhum Mozart, mas foi um bom compositor. Finalmente, Karajan era ótimo, se foi um FDP e só pensava em dinheiro são questões outras. Essas gravações podem ser ruins (não as conheço, que me lembre), mas existem ótimas gravações dessas obras.
Também gosto do Adagio, quer dizer, não desgosto.
Acredito que não é razoável criticar negativamente gravações e interpretações das obras clássicas postadas. Já é tão difícil convidar aos jovens para uma audição de música de boa qualidade e indicar blogs que se dedicam a postagens de música erudita. Gostaria que reavaliassem a sua posição com relação a comentários da postagem feita. Gosto de música erudita desde a adolescência e estudei um pouco de música para entender melhor aquilo que eu ouvia. Passei a reproduzir conhecimentos para pessoas de várias idades e classes sociais. Quando conheceram se maravilharam por existir tais compositores e obras. Fico triste em ler comentários depreciativos a maestros e obras. O importante é ouvir e deliciar-se nas obras clássicas, o julgamento particular cada um vai com o tempo e a maturidade na audição discernindo e buscando as preferências.
Acredito que comentários maldosos são prejudiciais para os ouvintes iniciantes.
Essa questão de maior ou menor é relativa. São poucos os compositores realmente maiores (Mozart, Beethoven, Bach e apenas alguns mais). Mas compositores menores, em seus momentos mais inspirados, são responsáveis pela maioria das melhores obras musicais já compostas (até por serem mais numerosos que os compositores maiores). Para ser um compositor menor é preciso ser excelente (brilhante). Respighi é menor (é claro), mas seu legado é importante e não faltam obras brilhantes de sua autoria (e também não faltam obras medianas e até obras fracas que confirmam que ele era um compositor menor). Respighi é subestimado por não ter seguido a corrente musical de sua época (a moda da sua época) e por não ter sido um inovador (era um cultuador do passado). Vamos curtir suas belas obras em boas interpretações, já que interpretações menos inspiradas dão ao ouvinte uma impressão errada do compositor. Quanto a Karajan, tenho a mesma opinião que tenho de Picasso e outros artistas igualmente cafajestes, mercenários, marqueteiros, mas também brilhantíssimos. Todos foram péssimas pessoas e fizeram muitas drogas apenas para vender e faturar, mas também produziram trabalhos excepcionais que são tesouros culturais da humanidade. Quanto ao Adágio, não importa quem foi o autor, o importante é que a obra é melancolicamente muito bela e de alta qualidade.
Simplesmente fizeram uma caricatura do compositor,um espantalho,para atacá-lo;nem sequer mencionaram que se trata talvez de um mestre das cores sonoras orquestrais,um dos maiores que já existiram.Na verdade esta e outras menções ao compositor por aqui só fazem insultá-lo.
Caros amigos.
A vida pessoal de cada um de nós trilha seu próprio caminho.
Quanto ao trabalho profissional cada um tem sua opinião.
Eu vejo da seguinte maneira:
Regente: Karajan
Orquestra: F. de Berlim ( Quase 30 anos ) e F. Viena
Solistas Vocais: Os melhores da época em que viveu
Solistas de Instrumentos: Os melhores da sua época
Coral: Coro adulto e infantil de Viena
Ópera: Junta tudo isso
O resultado deste time geralmente é de qualidade com selo de garantia.
Um exemplo de excelência foi a gravação da Sinfonia nº 7 e 8 de Bruckner com a F. de Viena no seu último ano de vida.
Grato pelas postagens e belo trabalho em equipe. Um forte abraço do Dirceu.
Oi, Dirceu!
Eu gosto das gravações que ele fez para a EMI, com a Philharmonia Orchestra ou mesmo posteriormente com a Berliner Philharmoniker, em geral com produção de Walter Legge. Neste rol há gravações das Sinfonias Nos. 7 e 8 de Bruckner que eu ouço (ainda) com muito prazer.
Você viu esta postagem: https://pqpbach.ars.blog.br/2019/08/12/brahms-schubert-sinfonias-liszt-les-preludes-philharmonia-orchestra-karajan/
Forte abraço do
René
Caro amigo René Denon.
Não tinha visto esta postagem. Acabei de baixar a obra. Tenho em casa o livro de Norman Lebretch.
Obrigado pela dica, pelo texto e um forte abração.
eu não sou anti karajan não. há momentos fabulosos dele. as interpretações de richard strauss, a nona de schubert pela EMI, madama butterfly, la boheme, parsifal. e o próprio anel, extremamente delicado.