Harmonia Mundi: História da Música Sacra
vol 04: O moteto polifônico, da Ars Antiqua à Renascença
A partir do sec. XIII, a crescente reorganização social em plena Idade Média, acabaria lentamente por desembocar no Renascimento, período não só de esplendor artístico e cultural, mas de ressurgimento e poder das cidades, que entrariam para a história com uma fama até então desconhecida. É neste contexto de transição, que na música os compositores vão se exercitar numa técnica, que viria a ser, talvez, a mais genial contribuição da música ocidental: a polifonia.
Pretender esgotar este tema em poucas palavras seria o mesmo que explorar os meandros da história desde a Idade Média até o séc.XX numa conversa rápida. Podemos dizer que após um período de quase mil anos de hegemonia monofônica do canto gregoriano, apresentou-se para os compositores da Ars Antiqua o problema de como estruturar suas obras vocais com objetivo de alçar vôo a formas de composições mais complexas, que garantissem meios de expressão musical, uma nova estética, onde unidade e contraste se opusessem de maneira harmônica.
O Moteto, assim, é este verdadeiro laboratório, que oriundo do cerimonial sacro, de funcionalidade ritual e mística, vai dar vazão à presença simultânea do elemento profano, como meio de excitar a arte da criação. Assim não será de se estranhar a presença nos motetos medievais e renascentistas de duas línguas como o latim e o francês, cantadas simultaneamente, por vozes diferentes. Aliás, é importante lembrar que uma das funções do moteto é justamente explorar a possibilidade musical da palavra. Notar a etmologia de moteto, que vem de mot (palavra), francês.
Outra característica importante seria a crescente independência das vozes, pois enquanto o cantus firmus, que trazia uma melodia gregoriana conhecida, se mantinha estável, outra voz ornamentava esta melodia, à maneira de um melisma, ou seja um tipo de vocalise. Posteriormente as melodias sacras foram substituídas por temas profanos, aonde se adaptavam os textos sacros. A isorritimia foi o início de um processo de composição que abriu as fronteiras para as complexas técnicas de composição que haveriam de se seguir, criando na música mistérios ocultos, revelados pelos apaixonados e estudiosos. Arte è cosa mentale (Leonardo da Vinci).
O período de ouro do moteto realmente é grande, desde a Ars Antiqua, com os mestres Léonin e Pérotin da École de Nôtre Dame, tendo a seguir na Ars Nova o brilho de Philippe de Vitry, Guillaume de Machaut e Guillaume Dufay. O ciclo continua com a Escola Flamenga, onde o contaponto é exercitado de maneira quase matemática, trazendo ao moteto todas as possibilidades de cânon. É claro, que já no séc. XVI, no auge da polifonia, com Palestrina, o moteto não encerra sua trajetória na arte da composição. Muitos séculos ainda testemunhariam as possibilidades inesgotáveis desta arte de explorar da palavra os seus recursos musicais, e colocar a música ao serviço do ritmo da palavra. Ainda teremos, Bach, Mozart, Brahms, Bruckner…para citar apenas alguns.
Palhinha: ouça 12. Renaissence: 3. Cantiones sacrae: Peccantem me quotidie
History of the Sacred Music vol. 04: The Polyphonic Motet from Ars Antiqua to the Renaissance
Anonymous
Theatre of Voices – Director: Paulo Hillier
01. Ars Antiqua – École de Notre Dame 1. Virgo flagellatur
Pérotin (France, fl. c. 1200), also called Pérotin the Great
Theatre of Voices – Director: Paulo Hillier
02. Ars Antiqua – École de Notre Dame 2. Mors
Anonymous
The Hilliard Ensemble – Director: Paulo Hillier
03. 14th-Century England 1. Campanis cum cymbalis. Honorem Dominan
04. 14th-Century England 2. Worldes blisse have good day (Benedicamus Domino)
05. 14th-Century England 3. Valde mane diluculo
06. 14th-Century England 4. Ovet mundus letabundus
Guillaume Dufay (Du Fay, Du Fayt) (Franco-Flemish, 1397? – 1474)
The Orlando Consort
07. Ars Nova & Pre-renaissance: 1. Ave Regina coelorum
John Dunstaple (or Dunstable) (England, c.1390 – 1453)
The Orlando Consort
08. Ars Nova & Pre-renaissance: 2. Salve scema sanctitatis/Salve salus servulorum/ Cantant celi agmina
John Plummer (also Plomer, Plourmel, Plumere, Polmier, Polumier (c.1410 – c.1483)
The Hilliard Ensemble – Director: Paulo Hillier
09. Ars Nova & Pre-renaissance: 3. Anna Mater Matris Christi
Josquin Desprez (Franco-Flemish, c.1450 to 1455 – 1521)
La Chapelle Royale – Director: Philippe Herreweghe
10. Renaissance: 1. Salve Regina
Clément Janequin (France, c.1485 – 1558)
Ensemble Clément Janequin – Director: Dominique Visse
11. Renaissence: 2 .Congregati sunt
William Byrd (England, 1540 or late 1539 – 1623)
Ensemble Vocal Européen – Director: Philippe Herreweghe
12. Renaissence: 3. Cantiones sacrae: Peccantem me quotidie
Carlo Gesualdo, aka Gesualdo da Venosa (Italy, 1566 – 1613)
Ensemble Vocal Européen – Director: Philippe Herreweghe
13. Renaissence: 4. Tribulationem et dolorem
14. Renaissence: 5. Ecce quomodo moritur justus (Sabbato Sancto)
Hans Leo Hassler (Germany, 1564 – 1612)
Ensemble Vocal Européen – Director: Philippe Herreweghe
15. Renaissence: 6. Ad Dominum
History of the Sacred Music vol. 04: The Polyphonic Motet from Ars Antiqua to the Renaissance – 2009
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XLD RIP | FLAC | 287,3 MB
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MP3 320 kbps | 189,6 MB
Encarte e letras dos 30 CDs – AQUI – HERE
powered by iTunes 12.2.3 | 1,0 h
Boa audição.
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texto: gabrieldelaclarinet & Prof. Paulo Peloso – Departamento de Composição/Escola de Música – UFRJ
lay-out & mouse operator: Avicenna
Acho legal escutar música assim, acompanhando na partitura. Muito interessante. Valeu, Avicenna, gabrieldelaclarinet e Prof. Paulo Peloso!
como nao conheçia o seu blog ainda???
adorei….parabens pelas pesquisas e disponibilizações raríssimas!
Espalha, Tibério, espalha !!
Avicenna
Aqui, o rapidshare tem demorado bem mais de uma hora pra baixar alguns arquivos… Prefiro o mediafire.
(desculpem pela reclamação, sei o trabalho que dá pra manter um blog maravilhoso como esse)
Muito bom nesse tempo fresco
Valeu, Danilo.
Avicenna
Irei apreciar calmamente.
Gratidão, mais uma vez, por este espaço mágico, numa internet tão pobre atualmente. 🙂
Boas Festas, Douglas !!!
Avicenna
once again i thank you. -a.v.
Gratidão!!!!!
Lauro