Música na Corte Brasileira – Vol. 5
A Ópera no Antigo Teatro Imperial
1965
O panorama da Ópera no Brasil, apreciado neste momento, mostra que até o presente não houve um desenvolvimento real do gênero mas apenas desdobramento processado em épocas bem próximas e que, na atualidade, é posssível reconhecer que teve repercussão positiva com relação à música vocal. O século XIX foi o momento de sua maior expansão, tendo o Rio de Janeiro como cenário. Houve naturalmente uma fase obscura de preparação revelada nas chamadas CASAS DE ÓPERA que, no século XVIII, se espalharam pelas principais cidades brasileiras, sendo que no Rio de Janeiro funcionou o Teatro do Padre Ventura, levando à cena óperas italianas e sobretudo as do brasileiro Antonio José da Silva, cognominado o Judeu.
Marcam-se dois períodos no mesmo século: o primeiro de 1808 a 1831 aproximadamente, o segundo entre 1857 e 1864.
O primeiro período foi conseqüente à vinda da Corte portuguêsa para o Brasil. Nesse momento a vida musical recebeu impulso renovador e a Ópera contou com casa própria, o Real Teatro de S. João, edificado no local em que hoje se ergue o Teatro João Caetano.
A ópera dessa época, de autoria de portuguêses e possivelmente de brasileiros, tinha libreto em português e, quando do repertório italiano, texto traduzido.
Os nomes que aparecem são os do Padre José Maurício Nunes Garcia, Marcos e Simão Portugal, Bernardo José de Souza Queiroz, Luiz Inácio Pereira, Damião Barbosa de Araújo, Eleutério Feliciano de Sena, Pedro Teixeira Seixas, Sigismond Neukomm e o do próprio Príncipe D. Pedro.
Os acontecimentos políticos, que forçaram D. João VI a se retirar do Brasil e logo em seguida a abdicação de D. Pedro I, atingiram naturalmente a vida artística, escapando, no entanto, a Ópera, que sempre contou com a predileção do público.
Com pequena diferença de 26 anos, verificou-se o segundo movimento em torno da Ópera. Um grupo de idealistas do qual faziam parte o Marquês de Abrantes, o Visconde de Uruguai, o Barão de Pilar, Francisco Manuel da Silva, Manuel de Araujo Porto-Alegre, Dionísio Vega, Isidoro Bevilacqua, Joaquim Gianini seguindo a iniciativa do espanhol Dom José Amat, fundou no Rio de Janeiro, em marco dc 1857, a Imperial Academia de Música e Ópera Nacional. Nesse momento o Rio de Janeiro conheceu um dos maiores movimentos em prol da Arte e dos artistas nacionais. Verificou-se realmente um surto de nacionalismo que incentivou os artistas jovens e deu ao Brasil o seu maior representante no gênero – Carlos Gomes.
Período 1808 – 1831: Teatro Imperial
Marcos Antonio Portugal da Fonseca, abreviado para Marcos Portugal (Lisboa, 24/3/1762 – Rio de Janeiro, 7/2/1830). Aluno de Borselli. Acompanhador da Ópera de Madri (1782), Mestre de Capela na Corte portuguêsa (1797); no Brasil, Mestre da Capela Real desde 1811, Diretor artístico do Teatro S. João e Inspetor das Diversões Públicas. Autor de 40 óperas, além de música de circunstâncias, operetas e obras sacras. Da obra de Marcos Portugal existem partituras no Brasil (Biblioteca da Escola Nacional de Música), entre as quais a da ópera-bufa O Basculho, literalmente O Basculho da Chaminé, levada à cena em Lisboa em 1894, em Veneza, na tradução italiana Lo Spazzacamino Principe, em 1795, e em Petersburgo em 1797.
Com justica, Marcos Portugal é considerado o maior músico português nos domínios da Ópera.
Bernardo José de Souza Queiroz ( …… – …. ) Poucas informações acompanham o seu nome e daí a impossibilidade de saber qual a sua nacionalidade. Iza de Queiroz Santos o coloca entre os compositorcs portugueses, enquanto Ernesto Vieira (“Dicionário Biográfico de Músicos Portuguêses”) o considera brasileiro, já militando no Rio de Janeiro quando aí se estabeleceu a Corte portuguêsa, em 1808.
Periodo 1857 – 1864: Ópera Nacional
Henrique Alves de Mesquita (Rio de Janeiro, 31/7/1831 – 12/7/1906). Primeiro diplomado em composição e o primeiro a alcançar o “Prêmio de Viagem à Europa” pelo Conservatório do Rio de Janeiro. Estudou em Paris com F. Bazin. Foi professor de instrumentos de bocal e órgão do mesmo estabelecimento de ensino (Conservatório do Rio de Janeiro). Autor de obras cênicas: Noivado em Paquetá, Estrêla do Brasil, O Vagabundo. Preocupavam-no as características nacionais que na peça para piano Batuque realizou de maneira deveras interessante.
Antônio Carlos Gomes (Campinas, 11/7/1836 – Belém, 16/9/1896). Em relação ao Padre José Maurício Nunes Garcia é o segundo grande músico brasileiro. No entanto, apesar das qualidades excepcionais do padre, Carlos Gomes representa para o Brasil o seu primeiro compositor de projeção mundial. Ambos figuras representativas de épocas, não tiveram continuadores até este momento. A posição de Carlos Gomes no cenário da Música Brasileira tem a mais alta significação: pela situação criada em sua época, pela posição que ocupa na atualidade como representante único da Ópera no Brasil, pela influência que exerceu nos músicos seus contemporâneos e mesmo nos que vieram depois. Carlos Gomes, que alcançou a consagração da platéia italiana com a ópera O Guarani, que atingiu o ponto mais alto de sua carreira com a Fosca, estreou na Ópera Nacional com A Noite do Castelo, apresentando logo em seguida Joana de Flandres, cantada a 15 de setembro de 1863, no Teatro Lírico Fluminense.
Helza Camêu (da Academia Brasileira de Música) (extraído da contra-capa do LP)
Marcos Antonio Portugal da Fonseca (Portugal, 1762-Rio, 1830)
01. Ópera bufa “O Basculho da Chaminé” – Abertura
02. Ópera bufa “O Basculho da Chaminé” – Dueto Rosina e Pierotto
Bernardo José de Souza Queiroz (Séc. XIX)
03. Ópera “Os Doidos Fingidos por Amor” – Abertura
04. Ópera “Os Doidos Fingidos por Amor” – Ária de Cacilda
Henrique Alves de Mesquita (1838-1906)
05. Ópera “O Vagabundo” – Abertura
06. Ópera “O Vagabundo” – Cena e dueto: Traído, Esquecido
Antonio Carlos Gomes (1836-1906)
07. Ópera “Joana de Flandres” – Ária de Raul
Música na Corte Brasileira – Vol. 5 de 5: A Ópera no Antigo Teatro Imperial – 1965
Orquestra Sinfônica Nacional da Rádio M.E.C. Maestro Alceo Bocchino
Selo Angel/Odeon, Coordenador-Assistente: Marlos Nobre
LP digitalizado por Avicenna.
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MP3 320 kbps – 82,3 MB – 39,2 min
powered by iTunes 9.1
Boa audição.
Avicenna
Salve Avicenna!
Tenho acompanhado as maravilhosas relíquias que são postadas por aqui e, a cada dia, surprendo-me alegremente. Os discos da série Música na Corte Brasileira (raríssima) resgatam um pouco da instigante história da música e ópera brasileiras, que merecia, na atualidade, maior difusão. Parabéns por sua iniciativa e pelo ótimo site!
Abraço,
Robson Leitão
Obrigado por tão prestigiosa presença, Robson.
A UFF tem uma vida muito ligada à musica sacra colonial brasileira. Quem sabe não poderíamos divulgar algumas obras dormentes no acervo da UFF?
Merci beaucoup pour cette découverte de la musique à la Cour du Brésil. Une musique inconnue en Europe (sauf, un peu, Nunes Garcia et Marcos Portugal).
Si j’ai bien compris, ce sont des disques vinyls ?
Muito obrigado pela descoberta da música
na Corte brasileira . Uma música desconhecida na Europa (exceto,
um pouco, Nunes Garcia e Marcos Portugal).
Se eu entendi, esses são discos de vinil?
Joachim
Sim, Joachim, os 5 volumes dessa coleção são discos de vinil, produzidos em 1965 e em bom estado de conservação. Infelizmente esses tesouros não foram digitalizados e comercializados em CDs.
Merci!
Caro Avicenna,
não sei de que acervo, na UFF, você fala. A Universidade Federal Fluminense, apesar de ter uma Orquestra Sinfônica, um Quarteto de Cordas, um conjunto de Música Antiga, o Duo Cordas Dedilhadas (violões) e dois coros (oficiais) não tem uma escola de música, nem uma biblioteca específica. Tem, sim, um Centro de Estudo e Iniciação Musical (CEIM), ligado à Extensão Universitária, de caráter social, onde sou professor de História da Ópera, que não possui qualquer acervo. O Música Antiga da UFF tem seis discos lançados, mas nenhum de música colonial. E a OSN-UFF está com a sede administrativa caindo aos pedaços. O único acervo (de partituras) da OSN corre sério perigo, por falta de espaço adequado. Quanto ao antigo acervo discográfico da OSN, este está na Rádio MEC, sua antiga sede.
Mas vamos nos falando.
Um abraço,
Robson
bom dia… o link ficou na forma de TEXTO. poderia verificar? obrigado
Pronto, Mário!
Avicenna