Existe o maior cantor de Jazz de todos os tempos? claro que existe! só que pode mudar a cada encontro regado a whisky, vinho, cerveja ou cachaça; em torno de um toca discos, em boas e divertidas companhias ou a sós. Até mesmo de um disco para outro, tal eleição pode mudar, conforme o grau de emoção e de substância etílica. Mas, no presente momento, erguendo um décimo brinde, proclamo: Johnny Hartman! Magnífico Johnny Hartman, artista soberbo, de longa carreira e profundíssima voz. Quem se encantou com o maravilhoso filme As Pontes de Madison se lembrará que parte do feeling deste filme se deve indubitavelmente ao incrível repertório no qual se inclui Hartman; lembrando que nem só de Magnum 45 vive Mister Eastwood, mas também adora Jazz; lembrando também de que o ótimo filme Bird, sobre o grande Charlie Parker, é produto de sua afeição a este gênero musical – entre outras produções. Johnny Hartman (1923-1983) era um esplêndido barítono. Pena que não gravou um Schubert pra nós, mas por que deveria? Possuía a voz de Midas, tudo o que cantava virava ouro; até mesmo ‘Feelings’ do nosso Morris Albert – o paulista Maurício Alberto Kaisermann (1951). Johnny nasceu em Louisiana mas foi criado em Chicago. Começou a tocar piano e a cantar aos oito anos. Cantou em orquestras do exército durante a Segunda Guerra Mundial e despontou na carreira em 1946, através do pianista Earl Hines e de Dizzy Gillespie, atuando junto a diversas orquestras. Este presente disco foi a sua estreia no mundo fonográfico, em 1955. Aqui Hartman se encontra acompanhado por um trompetista pouco comentado, porém brilhante, que inspirou muitos em seu tempo, a exemplo de Miles Davis: Howard McGhee. Miles, em sua autobiografia, relembra como McGhee ministrou-lhe um carão. Miles lhe disse que recusara grana de uma namorada – o que segundo McGhee seria um sacrilégio.
Na foto acima, podemos ver Miles extasiado, aprendendo alguns truques com o amigo mais velho. Howard McGhee (1918-1987) foi um dos primeiros trompetistas do estilo jazzístico Bebop, junto ao ponta de lança Dizzy Gillespie e Fats Navarro. Atuou em diversas orquestras da época, especialmente com o grande Count Basie. Na década de 70 Howard também atuava como professor de música: trompete, improvisação e teoria, em sala de aula e também em seu apartamento no centro de Manhattan. Seu estilo expressivo e sinuoso, todavia, incomparavelmente mais contido que o de Dizzy, se ressalta nas inserções que desfere entre as frases de Hartman. Este é um feliz encontro que seria em 1963 ensombrecido por outro mais famoso, com o saxofonista John Coltrane – disco que em breve também teremos por aqui. Mais tarde, em 1995, Hartman gravaria outro soberbo álbum em homenagem ao saxofonista (For Trane). Além das 12 faixas oficiais do presente disco temos ainda mais seis faixas de takes alternativos, sempre gratificantes. Não farei comentários sobre faixas específicas, pois que o disco é todo extraordinário; o que me inspira, no momento, a apontar Hartman como o maior cantor do Jazz – até que venham uma próxima dose e outro disco na vitrola. Dedico esta postagem ao nosso patriarca Mister Avicenna.
Johnny Hartman – Songs from the heart
- What is there to say
- Ain’t Misbehavin
- I fall in love too easily
- We’ll be together again
- Down in the depths
- They didn’t believe me
- Im glad there is you
- When your love has gone
- I’ll remember April
- I see your face before me
- September song
- Moonlight in Vermont
- Down in the depths (alt.)
- They didn’t believe me (alt.)
- Im glad there is you (alt.)
- I’ll remember April (alt.)
- I see your face before me (alt.)
- September song (alt.)
Johnny Hartman – Vocals
Howard McGhee – trumpet
Ralph Sharon – Piano
Jay Cave – Bass
Christy Febbo – drums
Wellbach