É difícil escrever uma lista extensa com o nome de grandes compositoras mulheres. O nome da freira Hildegard von Bingen (1098 – 1179), cuja vida fascinante , embebida de misticismo e visões, talvez possa ser colocada em primeiro lugar. Sua contribuição para música foi importantíssima no momento que a música, a nossa música, ainda estava em gestação. E depois dela? Pulando vários séculos, chegam os nomes de Clara Schumann e Fanny Mendelssohn. Duas compositoras do século XIX. É possível encontrar algumas gravações (ainda muito poucas) que nos mostram duas mulheres bem competentes. Lili Boulanger (1893 – 1918) foi uma das grandes promessas da música. Sua famosa irmã Nadia Boulanger, cuja vida no primeiro momento foi dedicada a composição, reconheceu a enorme superioridade e genialidade da irmã. Tornou-se professora por esse motivo. Mas Lili não suportou a doença e morreu muito jovem.
Hoje, quando penso nos principais compositores da atualidade (incluindo homens também), não titubeio em dizer: Gubaidulina e Saariaho. Elas são duas mulheres ativas e inovadoras que merecem nossa total atenção. Mas devo confessar que de todas essas encantadoras mulheres a minha preferida é a russa Galina Ustvolskaya. Cito aqui as palavras do seu mais importante professor, Dmitri Shostakovich: “Não sou eu quem está te influenciando, mas sim o contrário”. É verdade, a música de Ustvolskaya não se parece com a do mestre Shostakovich, nem mesmo na sua obra de estudante – o Trio para violino, clarinete e piano (1949) – aliás, sua música não lembra a de nenhum outro compositor. Alguns classificam sua música como neo-primitivista, devido a sua rudeza e repetições (não diria minimalista). Boa parte de suas composições nunca foram apresentadas ao vivo ou sequer gravadas, chegou ao ocidente apenas na década de 1980.
O octeto para 2 oboés, 4 violinos, tímpano e piano (1950), também uma obra de mocidade, é absurdamente atual e impactante. Pretendo postar outras obras dessa extraordinária e injustiçada compositora.
CDF
Faixas:
1 – Trio
2 – sonata for violin and piano
3 – Octet
The St. Petersburg soloists
Oleg Malov
Bombástica sugestão de postagem para os autores do PQP Bach:
CD evidencia bom gosto dos pianos de Freire e Argerich
Álbum é registro da apresentação do pianista brasileiro e da portenha em Salzburgo
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ainda falta mais de um mês para o Natal, mas o melhor presente para fãs de piano parece já ter chegado às lojas: o mais recente disco de Nelson Freire, dessa vez em duo com Martha Argerich.
Não é muito comum ter um brasileiro como atração do badalado festival de verão que acontece anualmente em Salzburgo. Pois bem: o pianista mineiro de 65 anos esteve na cidade austríaca em agosto deste ano, para tocar com a vulcânica pianista portenha de 68 anos.
Também estavam presentes os engenheiros de som da mais prestigiosa gravadora clássica, a Deutsche Grammophon, que rapidamente transformou a histórica ocasião em CD.
Argerich já era uma artista de destaque -estava prestes a gravar seu álbum de estreia pela Grammophon- e já falava um pouco de português -era amiga do pianista Luís Eça- quando, no final dos anos 1950, na Europa, conheceu um ainda adolescente Nelson Freire.
O duo se apresentou em público pela primeira vez em Londres, em 1968, mas levou tempo para vingar. Só 12 anos mais tarde voltaram a tocar juntos, engatando uma bem-sucedida série de concertos e gravações.
Rachmaninov
O recital de Salzburgo traz três peças do repertório que eles apresentaram por aqui, em 2004: “Variações sobre um Tema de Haydn”, de Brahms; “Rondó D. 951”, de Schubert; e “La Valse”, de Ravel.
A diferença está na obra de Rachmaninov que completa o programa. Se no Brasil eles executaram a “Suíte nº 2”, na Áustria preferiram fazer as “Danças Sinfônicas”, monumental peça em três movimentos que, com mais de meia hora de duração, é a mais longa do disco.
E talvez seja a mais impactante, do ponto de vista de grandiosidade sonora, virtuosidade e colorido pianístico.
Freire e Argerich se esbaldam no idioma romântico tardio de Rachmaninov, com seus ritmos enérgicos alternados com grandes linhas melódicas sustentadas e nostálgicas, que funcionam como uma espécie de sumário da obra do compositor russo -escritas em 1940, constituem sua derradeira criação.
No resto do programa, quem ficou encantado com as apresentações do duo no Brasil não vai se decepcionar com o disco.
A maioria das obras aqui representadas são mais conhecidas em versão para orquestra, mas a paleta sonora de Argerich e Freire é tão caleidoscópica e variada que não sentimos falta dos outros instrumentos -e ainda dá vontade de pedir bis depois da eletrizante execução de “La Valse” que encerra o CD.
Há brilho e fogos de artifício por toda a parte, mas isso não exclui momentos de introspecção e fineza. Como no “Rondó” de Schubert, tocado a quatro mãos, ou nas “Variações sobre um Tema de Haydn”, de Brahms, que abre o programa.
Estreada pelo próprio compositor, em 1873, em parceria com seu amor platônico, Clara Schumann, a obra é uma homenagem à música do século 18, constituindo um dos mais sublimes exemplos de música de câmara da literatura para dois pianos. É com ela que o diálogo musical entre Argerich e Freire atinge a culminância do refinamento, com escolhas de fraseado e dinâmica que evidenciam o extremo de bom gosto e maturidade a que chegaram ambos os artistas.
SALZBURG
Artista: Martha Argerich/Nelson Freire
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 29 (em média)
Avaliação: ótimo
Não sei porquê, mas quando escutei esse CD me lembrei de Messiaen. Sei que são bem diferentes os estilos, mas algo me remeteu a ele.
Gabriel, eu tive a mesma sensação que você, ao ouvir o Trio (1949), pois tem formação bem semelhante ao quarteto para o fim dos tempos de Messiaen, que tem um violino, cello, clarinete e piano (1941). No entanto, não creio que Ustvolskaya tivesse conhecimento dessa obra.
Agora que caiu a ficha: tenho uma gravação do Grande Dueto (para cello e piano) Ustvolskaya. Fora de série a mulher.
Could you please renew the link thank you