C.P.E. Bach (1714-1788) e W.F. Bach (1710-1784) – Concertos para Dois Cravos e Orquestra

Este CD é daqueles que moram no meu ventrículo esquerdo desde a primeira audição. Uma lição de originalidade e música bem escrita de meus irmãos. Você faz o seguinte: baixa o CD e vai direto na faixa 2 – ouvirá um movimento de melodia moderna sucedido de outro cheio de afirmações como Beethoven faria alguns anos depois -, e logo após ouça a faixa 7, onde Wilhelm Friedmann dá uma aula de ousadia e – por que não? – de anarquia musical. A participação do tímpano e do trompete fazem todo a diferença no movimento de abertura do estranho concerto de meu irmão mais velho. Hoje, ao reouvir o CD em volume bem alto, fiz com que duas pessoas batessem em minha porta perguntando o que era aquela maravilha. Na porta, minha mulher explicava que, com um pai como J.S., seus filhos talvez se sentissem seguros para experimentar novidades. Invejem! Tenho bons vizinhos!

W.F. Bach foi figura extremamente controvertida. Carpeaux o acusa de ter perdido cem Cantatas do pai… Mas nunca tive confirmação. É quase certo que era alcoolista. Copio abaixo uma notícia biográfica deste meu irmão talentosíssimo e pouco conhecido (retirado daqui):

Wilhelm Friedmann Bach nasceu em Weimar (Alemanha), em 22 de novembro de 1710. Segundo filho de J.S.Bach e de Maria Barbara (o mais velho dos rapazes). Fez os seus estudos gerais em Cöthen e, depois, na Thomasschule de Leipzig e os seus estudos de Direito na universidade de Leipzig. Seu pai, que o considerou sempre como o mais dotado dos seus filhos, encarregou-se da sua formação musical e compôs, para ensinar, os Pequenos prelúdios e fugas (9), o Klavierbüehlein vor Wilhelm Friedmann Bach, 6 sonatas para órgão e os primeiros prelúdios e fugas de O cravo bem temperado.

A natureza das suas composições confirma a opinião dos contemporâneos segundo a qual W.F.Bach era um grande virtuose do teclado. Foi nomeado, sucessivamente, organista de Santa Sofia, de Dresden (1733), depois, chantre de Notre-Dame de Halle (1746), com o título de diretor de música da cidade; aí, tinha à sua disposição excelentes conjuntos.

No entanto, em 1762, aceitou as funções de mestre de capela em Darmstadt, mas ignora se, efetivamente, ocupou o lugar. Só se demitiu das suas funções em Halle em 1764 e, a partir de então, parece ter levado uma vida independente, sem emprego fixo, primeiro em Halle e, depois, em Brunswick e Berlim. Os seus recitais de órgão causaram sensação, arranjou alguns alunos influentes, mas durante os 20 últimos anos da sua vida, a sua situação material tornou-se cada vez mais precária.

Em Brunswick, deixou empenhada uma parte dos manuscritos de seu pai (entre as quais, A arte da fuga: nunca se chegou a saber se tinham sido vendidos) e viveu de expedientes de todo tipo; foi assim que atribuiu a seu pai algumas das suas composições, na esperança de facilitar a sua venda. W.F.Bach morreu na miséria, devido a uma infecção pulmonar. Ignora-se a localização da sua sepultura.

A sua negligência, a sua extravagância, a sua falta de delicadeza, granjearam-lhe muitas inimizades; mas há que atribuir à malevolência a lenda de um músico boêmio, ébrio e devasso.

W.F.Bach demonstrou possuir um talento verdadeiramente profético, que alia a velha ciência do contraponto e uma inspiração romântica e até impressionista (Fantasias) . Contribuiu tanto como o seu irmão C.P.E.Bach, para o aperfeiçoamento das formas modernas da sonata e do concerto. As suas composições, muito pouco conhecidas, revelam a mais forte personalidade entre todos os filhos do grande J.S.Bach.

Deixou uma Missa alemã em ré menor, 21 cantatas, 9 sinfonias, obras para órgão (fugas, prelúdios de coral), música de instrumentos de tecla (12 sonatas, 8 fugas, 42 polonesas, 10 fantasias, uma dezena de concertos).

(Estou precisando liberar área de meu HD, então o jeito é acelerar as postagens. Desculpem.)

Carl Philipp Emanuel Bach, Wilhelm Friedmann Bach: Concertos for two Harpsichords

Musica Antiqua Köln – Reinhard Goebel

Contents:
Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788):
– Concerto for 2 harpsichords and orchestra in F major Wq. 46
1 Allegro
2 Largo e con sordino
3 Allegro Assai

Wilhelm Friedmann Bach (1710-1784):
– Sonata for 2 harpsichords in F major Falck 10
4 Allegro Moderato
5 Andante
6 Presto

– Concerto for 2 harpsichords and orchestra in E flat major Falck 46
7 Un Poco Allegro
8 Cantabile Senza Accompagnamento
9 Vivace

Playing time: 60’09

Músicos: Andreas Staier, Robert Hill (harpsichord); Reinhard Goebel, Hajo Bäß, Werner Ehrhardt, Gustavo Zarba, B. Hudson (violin I); Mary Utiger, Andrea Keller, Almut Bergmeier, Paula Kibildis (violin II); Karlheinz Steeb, Christian Goosses, Karin Baasch (viola); Phoebe Carrai, Christina Kyprianides (cello); Jonathan Cable, Jean-Michel Forest (violone); Andrew Joy, S. Blonck (horn); Friedmann Immer, Susan Williams (trumpet); Eckhard Leue (timpani).

Recording date: 12/1985.

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5 comments / Add your comment below

  1. Muito bom este CD com músicas de vossos irmãos Carlos e Guilherme, com a sempre excelente MAK. Penso que esta é a mesma formação que gravou os Brandeburgueses, com Andreas Staier no cravo. Uma curiosidade: o Goebel aqui ainda tocava na posição normal, com o arco na mão direita, e era primeiro violino. Passado uns anos teve um problema na mão esquerda e teve de reaprender a tocar, passando a segundo violino.

  2. Puuuuuutez grila….. que CD animal!!!!

    De fato, o 2º movimento do concerto do CPE é visionário; merece todos os elogios.

    A Sonata para 2 Cravos é muito boa; mas o Concerto do WF me espantou seriamente. Os tímpanos e trompetes são uma experimentação muito ousada e formidavelmente agradável.

    Parabéns pelos irmãos! E pelos vizinhos!
    Mas não possso reclamar dos meus – eles até gostam de quando eu estudo piano… 🙂

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