Belíssimo e delicado disco da música antiga da ilha de Chipre. As sonoridades do Chipre dos inícios do século XV, recuperadas a partir de um manuscrito anônimo encontrado em uma biblioteca de Turim são absolutamente incríveis. A ilha foi invadida por Ricardo Coração de Leão em 1198 e, então, houve também a introdução da música polifônica na ilha. São impressionantes a pureza dos sons das vielas de roda, dos alaúdes, dos trompetes e dos três gêneros de vozes do CD – contratenor, tenor e mezzo-soprano. A variedade e qualidade da música cipriota – sob seus invasores ocidentais… – é surpreendente. Obrigatório para quem gosta de música antiga.
The Island Of St. Hylarion – Music of Cyprus (1413-1422)
1. Rondeau: Contre dolour (voice, harp)
2. Canonic rondeau: Tousjours (lute, harp, 2 vielles, corno muto)
3. Ballade: Aspre fortune (2 voices, vielle)
4. Ballade: Qui de fortune (2 vielles, lute)
5. Virelai: Je prens d’amour (voice, 2 vielles)
6. Bonne e belle (lute)
7. Rondeau: Qui n’a le cuer (2 voices)
8. Ballade: J’ai mon cuer (2 vielles)
9. Ballade: J’ai maintes fois (lute, harp)
10. Ballade: Moult fort me plaist (voice, 2 vielles, lute)
11. Danse d’Abroz (vielle, lute)
12. Ballade: Pymalion qui moult subtilz estoit (voice, lute, harp)
13. Motet: De magne Pater
Ballade: Si doucement (lute, harp, 2 vielles)
14. Antiphon: Anna parens matris (voices)
Motet: Alma parens natal / O Maria stella maris (3 voices, slide trumpet)
15. Antiphon: O Virgo virginum
Motet: O sacra virgo virginum / Tu nati nata suscipe (voices)
16. Antiphon: Hodie Christus natus est
Motet: Hodi peur nascitur / Homo mortalis firmiter (voices)
(1-13 Anonymous, from a Cyprus Manuscript
14-16 from the famous cycle of Cypriot “O” antiphons. )
Performers:
Michael Collver (countertenor, corno muto)
John Fleagle (tenor, harp)
Shira Kammen (vielle)
Laurie Monahan (mezzosoprano)
Crawford Young (lute)
Peter Becker (tenor)
Karen Clark-Young (mezzosoprano)
Randall Cook (vielle)
Steven Lundahl (slide trumpet)
Margaret Raines (mezzosoprano)
Mais um disco maravilhoso deste legendário monstro que é Jordi Savall. Nem todas as obras do disco são anônimas, mas vêm de compositores tão obscuros que deixamos as coisas assim, (Se alguém estiver curioso, aquihá a nominata de não-anônimos). Mas isso não significa que este CD seja ruim ou de segunda linha. O que é este maravilhoso disco? Dois manuscritos contêm a maior parte do que sabemos sobre a canção polifônica espanhola entre 1450 e 1520. O mais antigo deles, chamado Cancionero de la Colombina porque mais tarde foi propriedade do filho bibliófilo de Cristóvão Colombo, Ferdinand, parece ter sido copiado por volta de 1490 e contém um glorioso repertório de canções do final do século XV, inspirando-se fortemente no estilo francês da época (e de fato continha um bom número de canções francesas, há muito separadas do corpo principal do manuscrito). O outro, o muito mais conhecido Cancionero de Palacio , é uma enorme coleção que parece ter incluído quase todas as canções espanholas conhecidas do início do século XVI: originalmente tinha bem mais de 500 peças. Tudo isso aparace aqui sob o padrão consistentemente elevado de musicalidade e sensibilidade que caracterizam o trabalho atual de Jordi Savall. Basta ouvir ¿Qué Me Queréis, Cavallero? para se apaixonar perdidamente pelo CD.
El Cancionero De Palacio 1474-1516 (Hespèrion XX – Jordi Savall)
1 Danza Alta (Instrumental) 2:03
2 Aquella Mora Garrida 3:48
3 Por La Sierras De Madrid 4:15
4 Rodrigo Martínez 1:53
5 A Sonbra De Mis Cabellos (Instrumental) 0:58
6 Al Alva Venid 4:16
7 Tres Morillas 3:21
8 ¿Qué Me Queréis, Cavallero? 2:32
9 O Voy (Instrumental) 2:20
10 Torre De La Niña 2:30
11 Míos Fueron, Mi Coraçón 3:15
12 Pues Bien, Para Ésta 3:12
13 O Desdichado De Mi (Instrumental) 3:14
14 Dos Ánades, Madre 2:56
15 La Bella Malmaridada 5:41
16 La Tricotea 3:06
17 Ave Color Vini Clari 1:43
18 A Los Baños De Amor 1:35
19 Harto De Tanta Porfía 7:05
20 Pase El Agoa, Ma Julieta 1:21
21 El Cervel Mi Fa (Instrumental) 1:37
22 Si D’Amor Pena Sentís 5:45
23 ¡Ay, Que Non Ay! 2:32
24 Pues Que Jamás Olvidaros 5:30
Um disco maravilhoso. Belas canções anônimas interpretadas magnificamente pelo Huelgas-Ensemble. Ouvi, ouvi e ouvi e foi difícil de passar para o próximo CD.
O Huelgas é um grupo belga de música antiga formado pelo maestro flamengo Paul Van Nevel em 1971. A atuação do grupo e sua extensa discografia se concentram na polifonia renascentista . O nome do conjunto refere-se a um manuscrito de música polifônica, o Codex Las Huelgas. Van Nevel é conhecido por seu estilo de executar muitas peças com os cantores e ele mesmo em um grande círculo, girando, tanto em apresentações ao vivo ou em gravações ao redor do microfone pairando acima, no centro.
Ouçam, ouçam, ouçam!
O Cieco Mondo: The Italian Lauda, c.1400-1700 (Huelgas-Ensemble)
1 Volgi Gli Ochi, O Madre Pia 5:24
2 Ave Corpus Vere Natum 2:34
3 Dolor Pianto 5:05
4 Ave Maria Stella 2:51
5 Io Ti Lascio 5:43
6 Signor Pe La Tua Fe 4:01
7 Helas Me Celes 3:16
8 Chi C’Insegna Ov’e Gesu? Nell’ Arrivare Alla Chiesa 7:13
9 O Cieco Mondo 5:43
10 Chi Vol Seguir La Guerra 2:28
11 Che Bella Vit’ha’l Mond’Un Villanello 3:09
Repostagem com novos links, agregando no arquivo o encarte completo (540 páginas), compartilhado pelo ilustre João Ferreira. Valeu, João!
Postagem marcando o retorno do Bisnaga, depois de quase dois anos sem postar
Eita! Jordi Savall e seu toque de Midas…
E como fazer de uma longa história de opressão e sofrimento uma coisa bela?
Savall já vem há alguns anos trabalhando com temas de música mais antiga e mais periférica para os domínios europeus: música cipriota, música armênia… Aqui o maestro e violista catalão avança pelo universo da África e o que a une à Europa e à América: infelizmente, a escravidão… Seguindo o rastro da maior imigração forçada da história, coleta aqui e ali relatos, leis, decretos, mostrando a visão oficial, e canções, ritmos e danças, apresentando o outro lado, o da resistência dos negros levados às colônias de todo o continente americano, episódio terrível da nossa história e da história de tantos povos desses três continentes ligados pela escravidão…
De um lado, o álbum trata dos horrores da escravidão:
Uma das grandes coisas que se vêm hoje no mundo, e nós pelo costume de cada dia não admiramos, é a transmigração imensa de gentes e nações etíopes, que da África continuamente estão passando a esta América. (…) Já se, depois de chegados, olharmos para estes miseráveis, e para os que se chamam seus senhores, o que se viu nos dois estados de Jó é o que aqui representa a fortuna, pondo juntas a felicidade e a miséria no mesmo teatro. Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome; os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os, como deuses; os senhores em pé, apontando para o açoite, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás, como imagens vilíssimas da servidão e espetáculos da extrema miséria. Oh! Deus! quantas graças devemos à fé que nos destes, porque ela só nos cativa o entendimento, para que à vista destas desigualdades, reconheçamos, contudo, vossa justiça e providência. Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva? Estas almas não foram resgatadas com o sangue do mesmo Cristo? Estes corpos não nascem e morrem, como os nossos? Não respiram com o mesmo ar? Não os cobre o mesmo céu? Não os aquenta o mesmo sol? Que estrela é logo aquela que os domina, tão triste, tão inimiga, tão cruel?(Padre Antonio Vieira – Sermão Vigésimo Sétimo – trecho que é recitado, reduzido, na faixa 10)
… Do outro, a beleza que reside justamente na resistência (e talvez aqui esteja uma parte da resposta), na insistência dos povos africanos transplantados para as Américas e aqui misturados em suas etnias e credos, de celebrar a vida, de zombar dos patrões, de cantar a sua crença ou as crenças que forçosamente aprendeu. O álbum então se enche das misturas, das festas e das danças dos negros que chegaram aqui e dos que ficaram no continente natal, num envolvente colorido musical, tão bem lapidado e acabado, como era de se esperar das produções dirigidas pelo velho Savall.
É uma produção de vulto, patrocinada pela UNESCO: um verdadeiro livro multilígue de 540 páginas em francês, inglês, castelhano, catalão, alemão e italiano (eu escaneei os dados gerais e a parte em castelhano para vocês, já que não há texto em português, por ser a língua mais próxima da nossa e a Espanha ser o segundo país que mais acessa o PQPBach – ainda assim, deu 105 páginas!). Possui um DVD com filmagem do concerto e 2 CDs com os mesmos áudios (disponibilizo aqui os CDs). O encarte ainda traz, além das letras das músicas, pequenos artigos sobre o trabalho forçado escritos por antropólogos e sociólogos, uma cronologia do trabalho escravo no mundo e um Índice Global da Escravidão em 2016 da UNESCO. Informações ricas, importantes e chocantes sobre a realidade da servidão.
O resultado é grande, abrangente e muito equilibrado, com pesquisadores, musicólogos e músicos de França, Mali, Madagascar, México, Colômbia, Brasil (uhú!), Argentina, Venezuela e Espanha. O som é riquíssimo, como é a cultura africana, redondo: há um discurso muito bem alinhavado e coerente de cada récita para cada música. Enfim, um material de grandissíssima qualidade, que leva inexoravelmente o selo de IM-PER-DÍ-VEL !!!
Ouça! Ouça ! Deleite-se!
Um teaser do álbum, pra vocês terem uma ideia:
Les Routes de l’Esclavage As Rotas da Escravidão
Aristóteles (Estagira, Grécia, 384 a.C. – Cálcis, Grécia, 322 a.C.)
01. Recitado: 400 a.C. L’humanité est divisée en deux: Les maîtres et les esclaves. Anônimo (Portugal)
02. Recitado: 1444. La 1ère cargaison africaine, avec 235 esclaves, arrive à l’Algarve Tradicional (Mali)
03. Djonya (Introduction) Kassé Mady Diabaté voix Mateo Flecha, el Viejo (Prades, Espanha, 1481 – Poblet, Espanha, 1553) / Tradicional (México), Son jarocho
04. La Negrina / Gugurumbé Tradicional (Brasil – rec. por Lazir Sinval)
05. Vida ao Jongo (Jongo da Serrinha) Fernando II de Aragão (Aragão, 1452 – Granada, 1516)
06. Recitado: 1505. Le roi Ferdinand le Catholique écrit une lettre à Nicolas de Ovando Juan Gutierrez de Padilla (Málaga, Espanha, 1590 – Puebla, México, 1665)
07. Tambalagumbá (Negrilla à 6 v. et bc.) Tradicional (Colômbia)
08. Velo que bonito (ou San Antonio) Tradicional (Mali), canto griote
09. Manden Mandinkadenou Padre Antônio Vieira (Lisboa, Portugal, 1608 – Salvador, BA – 1697)
10. Recitado: 1620. Les premiers esclaves africains arrivent dans les colonies anglaises. Sermões, 1661. Tradicional (Brasil – rec. por Erivan Araújo)
11. Canto de Guerreiro (Caboclinho paraibano) Tradicional (Mali)
12. Kouroukanfouga (instr.) Richard Ligon (1585?-1662)
13. Recitado: 1657. Les musiques des esclaves. Histoire…de l’Île de la Barbade Tradicional (México)
14. Son de la Tirana: Mariquita, María Frei Felipe da Madre de Deus (Lisboa, Portugal, c.1630 – c.1690)
15. Antoniya, Flaciquia, Gasipà (Negro à 5) Hans Sloane (Killyleagh, Irlanda, 1660 – Londres, 1753)
16. Recitado: 1661. Les Châtiments des esclaves. A voyage to the islands Tradicional (Mali), canto griote
17. Sinanon Saran Luís XIV (Saint-Germain-en-Laye, França, 1638 – Versalhes, França 1715)
18. Recitado: 1685. Le “Code Noir” promulgué par Louis XIV s’est imposé jusqu’à1848 Roque Jacinto de Chavarría (Bolívia, 1688-1719)
19. Los Indios: ¡Fuera, fuera! ¡Háganles lugar! Tradicional (ciranda – Brasil)
20. Saí da casa Montesquieu (Brède, França, 1689 – PArias, França, 1755)
21. Recitado: 1748. De l’Esprit des lois. XV, 5: “De l’esclavage des nègres” Tradicional (Madagascar)
22. Véro (instrumental) Tradicional (Colômbia)
23. El Torbellino Juan de Araujo (Villafranca, Espanha, 1646 – Lima, Peru, 1712)
24. Gulumbé: Los coflades de la estleya Escrava Belinda (Estado Unidos)
25. Recitado: 1782. Requête de l’esclave Belinda, devant le Congrès du Massachusetts Tradicional (Mali), canto griote
26. Simbo Tradicional (México), Son jarocho
27. La Iguana Parlamento Francês
28. Recitado: 1848. Décret sur abolition de l’esclavage, dans toutes les colonies françaises Anônimo (Codex Trujillo, Peru, século XVIII)
29. Tonada El Congo: A la mar me llevan Tradicional (Brasil – rec. por Paolo Ró & Águia Mendes), maracatu e samba
30. Bom de Briga Martin Luther King (Atlanta, Estados Unidos, 1929 – Memphis, Estados Unidos, 1968)
31. Recitado: 1963. “Pourquoi nous ne pouvons pas attendre” Tradicional (Mali), canto griote
32. Touramakan Juan García de Céspedes/Zéspedes (Puebla, México, 1619 – 1678)
32. Guaracha: Ay que me abraso
França
Bakary Sangaré, voz (recitativos) Mali 3MA
Kassé Mady Diabaté, voz
Ballaké Sissoko, kora
Mamami Keita, voz (coro)
Nana Kouyaté, voz (coro)
Tanti Kouiaté, voz (coro) Madagascar
Rajery, valiha Marrocos
Driss El Maloumi, alaúde México / Colômbia Tembembe Ensamble Continuo
Ada Coronel, vihuela, wasá e voz
Leopoldo Novoa, marimbol, marimba de chonta, triple colombiano e voz
Enrique Barona, vihuela, leona, jarana, quijada de caballo e voz
Ulisses Matínez, violon, vihuela, leona e voz Brasil
Maria Juliana Linhares, voz
Zé Luís Nascimento, percussão Argentina
Adriana Fernández, soprano Venezuela
Iván García, voz Espanha La Capella Reial de Catalunya
David Sagastume, contratenor
Víctor Sordo, tenor
Lluís Villamajó, tenor
Daniele Carnovich, baixo Hespèrion XXI
Pierre Hamon, flautas
Jean-Pierre Canihac, corneto
Béatrice Delpierre, chalémie
Daniel Lassalle, sacqueboute
Josep Borràs, dulciana
Jordi Savall, violas
Phillippe Pierlot, baixo de viola
Xavier Puertas, violon
Xavier Díaz-Latorre, teorba, guitarra romanesca e vihuela de mão
Andrew Lawrence-King, harpa barroco espanhola
Pedro Estevan, percussão
Jordi Savall, direção
Essa já chega no PQPBach como sendo uma das postagens que mais me enche de orgulho (a nós: Bisnaga e Avicenna, autores desta postagem a quatro mãos): uma edição de luxo de um guia de instrumentos antigos, com 200 páginas e OITO CDs com músicas em instrumentos de época.
É um material extraordinário para professores de história da arte, estudantes, músicos e curiosos em geral. O livro é trilíngue: está em francês, alemão e inglês. Não tem texto em português, mas nada que jogar uns trechos no Google tradutor não resolvam, né? Ele estará para download na oitava e derradeira postagem.
O aspecto geral é como esta página que colocamos abaixo (esta introduz a categoria das cordas friccionadas), com boas ilustrações e fotos de instrumentos originais. Escaneamos numa boa qualidade pra que vocês possam usar em aulas ou coisas assim. Conhecimento tem mais é que circular!
Além de tudo, os CDs vêm com músicas de boa interpretação e com grande parte dos instrumentos descritos no livro em ação, em uma seleção de obras que abrange desde a Idade Média até o Classicismo, passando pelo Renascimento e Barroco.
AGUARDEM! Será uma postagem com cada CD por dia, deste domingo até o domingo que vem, quando disponibilizaremos o livro escaneado integralmente também.
Enfim, uma publicação espetacular!
Ouça! Leia! Estude! Divulgue e… Deleite-se!
Guide des Instruments Anciens – CD1
Idade Média: Cantigas de Santa Maria / Nos tempos dos Trovadores / O début da polifonia / Nos tempos da Guerra dos Cem Anos