Antonio Vivaldi (1678-1741): Concerti per le Solennità (Carmignola, Sonatori de la Gioiosa Marca)

 Seguimos com mais Vivaldi festivo. Neste disco, todos os concertos são para o mesmo solista, o violino de Carmignola. Para termos uma ideia do clima festivo em que eram executados e ouvidos esses concertos, as imagens aqui falam mais do que as palavras. (Millôr Fernandes tinha aquela frase: “Uma imagem vale mais do que mil palavras. Agora tente dizer isso com uma imagem.”)

Comecemos, então, muito antes de Vivaldi: houve um tempo, longo tempo, em que por muitos séculos Veneza mandava no comércio de boa parte do Mediterrâneo, fazia comércio com bizantinos, turcos, persas, sírios, judeus e outros povos… O mosaico acima, de 1200 e pouco, retrata a Basilica di San Marco recebendo – em festa! – o corpo do evangelista São Marcos, que venezianos tomaram dos cristãos coptas da antiquíssima Igreja de Alexandria (que se mantinha após a islamização do Egito, mas fraca politicamente e representando uma minoria social, minoria que ainda corresponde a milhões de pessoas, 10% ou um pouco menos da população do Egito de hoje). O mosaico tem uma incongruência histórica: em cima do portal central com seu Cristo e o emblema IC XC (Jesus Cristo), podem ser vistos os quatro cavalos roubados de Constantinopla em 1204. Clique na imagem para ver os cavalos melhor. Napoleão depois levaria os cavalos para Paris mas o Congresso de Viena (1815) os devolveria. Ou seja, como fizeram Napoleão e ingleses no Egito e Atenas, antes o fez Veneza: roubou com base no princípio básico segundo o qual “quem pode, pode; quem não pode, se sacode!” (Como vovó já dizia…)

Não foi na imensa Basilica di San Marco que Vivaldi trabalhou, aliás em seu tempo ela talvez já fosse musicalmente pouco respeitada, apesar de toda a beleza dos mosaicos brilhantes e tesouros roubados. Mas em dois concertos gravados neste álbum temos uma característica musical que foi desenvolvida cerca de cem anos antes em San Marco: são concerti a due cori, ou seja, nos quais os músicos se dividem em dois grupos, um de cada lado da igreja, com o público no centro, é claro. Essa forma espacial e conceitual é bastante diferente daquela que se consolidou no estilo chamado de “teatro italiano”, que tem como característica a nítida separação entre o público e o palco, com este último na frente, em um tablado mais alto. Existem outras formas, além do público atrás (teatro italiano) ou no meio (due cori): por exemplo nas arenas greco-romanas e nos atuais estádios de futebol, o público fica em torno do espetáculo. Cada uma dessas organizações espaciais resulta em relações sujeito-objeto diferentes, é assunto para várias horas de conversa tomando bons vinhos. Retomemos o essencial: Vivaldi passou alguns períodos fora de Veneza e depois voltou a trabalhar no Ospedale della Pietà, encontrando o lugar reformado: em 1724 a igreja se adaptou arquitetônica e musicalmente ao formato com dois coros (ou duas orquestras na linguagem de hoje), aquele que em San Marco já era comum desde 1600! E assim podemos ter certeza de que os dois concertos per la Santissima Assunzione di Maria Vergine foram compostos quando Vivaldi já tinha cerca de 50 anos, representando o seu estilo maduro.

Uma estranha relíquia: a língua de Santo Antônio

Os demais concertos do álbum, associados a outras festas cristãs, são anteriores. O primeiro deles provavelmente é o RV 212, para a “festa da santa língua de Santo Antônio de Pádua”, em fevereiro de 1712, quando Vivaldi morava naquela cidade. Nascido em Lisboa e morto em Pádua (Padova), seguidor de São Francisco, Santo Antônio foi canonizado pouco após sua morte em 1231: grande orador, sua língua incorruptível (“mumificada” de alguma forma) é venerada na Basílica dedicada a este santo em Pádua, 3ª maior cidade na região do Vêneto atrás de Veneza e Verona. Normalmente quando se fala em Santo Antônio nas línguas neo-latinas, é dele que se fala, enquanto em outros lugares o nome se refere sobretudo ao eremita Santo Antônio, que viveu no deserto no século IV e sofreu as famosas tentações retratadas por Hieronymus Bosch, Salvador Dalí e tantos outros pintores de imaginação fértil.

Tentações de Sto Antonio (Bosch, circa 1500, versão do MASP, único Bosch no Brasil)
Cerimônia religiosa na igreja de San Lorenzo, em Veneza, em quadro pintado em 1789 por Gabriele Bella. Pelo menos dois concertos de Vivaldi, o RV 286 e o RV 562, foram encomendados a Vivaldi com a intenção de abrilhantar cerimônias em San Lorenzo

O Concerto em ré maior apelidado Grosso Mogul não parece ter sido assim nomeado por Vivaldi, o nome aparece apenas nas partituras desse concerto que circularam na Alemanha. J.S. Bach gostava tanto dele que fez uma transcrição para órgão (BWV 594). Na partitura original, ao invés de “Grosso Mogul” (título do imperador muçulmano que mandava em boa parte da Índia, da dinastia que fez o Taj Mahal em 1653), consta a sigla RBDV, cujo significado é desconhecido mas, segundo o professor Reinhard Strohm, o V deve se referir a ela, novamente ela, a Virgem Maria. Com suas cadências longas, difíceis e impressionantes, o concerto provavelmente data do primeiro momento de fama de Vivaldi em Veneza, por volta de 1713: após períodos em Brescia, Pádua e Vicenza, ele voltou para sua cidade natal em meio a muitas celebrações após as vitórias militares contra os turcos. Além de solar em seus concertos para violino, Vivaldi também estreou naquela época como compositor de oratórios com um de nome grandioso: “A vitória naval prevista por Sua Santidade o Papa Pio V”, referência a uma outra vitória de Veneza e aliados contra o Império Turco Otomano (em 1572, veja o quadro de Veronese aqui).

Gabriel Bella: sposalizio nobile alla salute circa 1780 (pintura usada na capa deste e de outros discos

Antonio Vivaldi (1678-1741):
1-3 – Concerto “Per la Solennità della S. Lingua di S. Antonio di Padova” in D Major, RV 212
4-6 – Concerto “Il Riposo – Per il Santo Natale” in E Major, RV 270
7-9 – Concerto “Per la Solennità di S. Lorenzo” in F Major, RV 286
10-12 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in D Major, RV 582
13-15 – Concerto in due Cori “Per la Santissima Assunzione di Maria Vergine” in C Major, RV 581
16-18 – Concerto “LDBV” (“Grosso Mogul”) in D Major, RV 208

Giuliano Carmignola, violino principale
Sonatori de la Gioiosa Marca
Recorded: Chiesa San Vigilio Col San Martino, Treviso, Veneto, Italia, 1996

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Um post-scriptum em outro tom menos celebratório: as línguas estrangeiras são interessantes para desnaturalizar o que ouvimos desde sempre. “Virgem Maria” é uma expressão tão banal quanto “cruz credo”, mas lendo que em italiano dois desses concertos eram dedicados à “Assunzione di Maria Vergine” me salta aos olhos a grosseria, a fofoca que é associar, como se diz “Alexandre o Grande”, “Maria, a Virgem”. Uma preocupação com a virgindade – nunca a dos homens, claro – que me lembra aqueles que hoje em dia ficam se preocupando com banheiro unissex ou se autointitulando “imbrochável”.

No mesmo século 18 em que Vivaldi viveu, os arquivos da inquisição na América portuguesa registram casos de padres acusados de, durante a confissão, “apalpar os seios das mulheres, meter suas mãos por debaixo das saias, beijá-las, agarrá-las”, perguntar “se queriam pecar com eles”, se tinham “vaso [vagina] grande ou pequeno” e, “ouvindo confissões de mulheres casadas, perguntavam até sobre o tamanho do pênis dos maridos” (cito aqui o historiador Ronaldo Vainfas, Moralidades Brasílicas, 1997).

Quero crer que esses padres que se aproveitavam das confissões para novos pecados tenham sido minoria no século de Vivaldi (no fundo, jamais saberemos porque o que foi denunciado e anotado são gotas d’água no oceano ou ao menos na lagoa). Também creio que precisamente essa minoria de padres que apalpavam as mulheres no escuro – e/ou se informavam sobre seus maridos com vistas a pecados futuros – foram precisamente aqueles que mais se preocupavam com a virgindade de Maria.

Igrejas de Veneza, por Andrejs Bovtovičs

Pleyel

Antonio Vivaldi (1678-1741): La Senna festeggiante (La Risonanza, Bonizzoni)

Antonio Vivaldi (1678-1741): La Senna festeggiante (La Risonanza, Bonizzoni)

Vivaldi compunha como quem bebe água: são centenas de concertos, muitas óperas, obras sacras, além de muita coisa que se perdeu na noite dos anos. Neste disco, o conjunto La Risonanza – que também gravou todas as muitas cantatas italianas de Händel – apresenta uma serenata do padre veneziano que não rezava missas: mas não pensem que esse nome serenata significasse algo como canções amorosas, nada disso: veremos mais abaixo que se trata de uma obra homenageando grandes figuras poderosas em Veneza e na França.

J.S. Bach também compôs várias obras seculares para ocasiões especiais, hoje comumente chamadas cantatas embora, ao que parece, ele não usasse tanto o termo: entre as que não se perderam, temos a homenagem funeral à esposa de Augusto III, eleitor da Saxônia (BWV 198), várias cantatas para puxar o saco deste mesmo Augusto ou ainda o nascimento do filho deste… Uma cantata para um casamento que não se tem certeza de quem foi (BWV 202), uma outra para celebrar a nomeação do novo professor de Direito Romano da Universidade de Leipzig (BWV 207). Nesta última, ele pegou emprestados trechos do 1º Concerto de Brandenburgo: essa prática do autoplágio também era comum nas obras vocais de Vivaldi e nesta Senna festeggiante ele pegou emprestadas melodias de sua ópera Giustino (1724), além de enxertar uma passagem de Antonio Lotti (1667-1740) – seu contemporâneo, também veneziano – na Ouverture instrumental da segunda parte.

O libreto do disco defende essa prática, lembrando que esse tipo de música muitas vezes era encenada uma única vez e o compositor podia querer tirar uma ária ou passagem instrumental do esquecimento: “Vivaldi, como Handel, era cuidadoso e talentoso na arte dos empréstimos, preocupado não só em poupar seu tempo e esforço mas também em estender a vida de seus melhores trechos musicais.” E no caso dessa “Senna festeggiante”, o nome próprio faz referência a ele mesmo, o rio Sena que corta as cidades de Paris e Rouen. (“La Senna”, ou “La Seine” em francês, enquanto Roma é cortada por “il Tevere”: essa alternância entre masculinos e femininos mostra que esses nomes dos rios estão ancorados em tradições regionais muito mais antigas do que a razão fria e calculista dos dicionaristas.)

La Seine à Rouen – Claude Monet, 1872

A serenata, encenada em Veneza em 1726, foi provavelmente encomendada pelo embaixador francês naquela cidade e servia para puxar o saco de três homens célebres: o próprio embaixador, o Cardinal Ottoboni – membro da aristocracia veneziana e envolvido em assuntos diplomáticos com Paris e Roma – e finalmente, acima desses na hierarquia da época, o rei Louis XV, avô do outro Luís que teria a cabeça cortada bem depois. A história não tem o drama típico das óperas: com personagens mais ideais do que reais (a/o Sena, a Virtude e a Idade de Ouro), parece mais um diálogo de Platão, autor que, como se sabe, havia sido redescobrido entre os italianos desde o Renascimento.

Esse resumo do libreto aparece com mais detalhes nos trechos abaixo. Antes, mais um parêntese: Vivaldi provavelmente usava no dia a dia o dialeto do Vêneto, ainda vivo em muitas famílias locais. E para comunicações com diplomatas, estrangeiros etc. usava o italiano mais padrão, espécie de língua franca, usada também nas óperas e serenatas. Vamos às palavras de Michael Talbot no libreto do disco:

Três obras sobreviventes de Vivaldi pertencem a um interessante gênero vocal secular, muito cultivado no fim do século 17 e maior parte do 18, comumente conhecido como a serenata. A descrição alternativa desse tipo de obra como “cantata dramática” explica sua essência: uma obra vocal (logo, cantata) e dramática, nos termos da época, por se estruturar em um diálogo entre dois ou mais personagens nomeados.

O termo serenata deriva não de sera (noite), esta etimologia é um engano, o termo vem de sereno e reflete o fato de que essas obras era normalmente montadas não em teatros com cenários, mas em locais mais informais onde ou a plateia ou os músicos, ou todos eles, ficavam a céu aberto.

Serenatas costumava ser o ponto alto de elaboradas festas [nota do Pleyel: o termo italiano “festa” aparece no texto em inglês, o que é sintomático sobre a vida inglesa] comemorando algum evento significativo na vida de uma pessoa ou família importante, como um nascimento, aniversátio, casamento, visita ou tratado de paz. Serenatas costumavam ter cantores solistas e uma orquestra com cordas e continuo, às vezes aumentada com sopros; um coro separado era uma raridade. Aqui, Vivaldi emprega os três cantores nos poucos movimentos de “coro”. Seus enredos são conversas calmas entre as dramatis personae ao invés de uma sequência de eventos cheios de ação.

La Senna festeggiante é fruto da relação, de 1724 a 1729, entre Vivaldi e o embaixados francês em Veneza, Jacques-Vincent Languet, comte de Gergy. Os embaixadores costumavam, no dia 25 de agosto, fazer uma festa comemorativa do dia de São Luis [rei francês (1214-1270) canonizado por ter ido fazer guerra com muçulmanos em cruzadas]. Foi provavelmente em 1726 que Vivaldi compôs esta serenata: o ano pode ser estabelecido pelas características do papel usado no manuscrito,que foi copiado pelo pai do compositor, Giovanni Battista Vivaldi (com algumas inserções na letra de Antonio Vivaldi), mas também pelos padrões de empréstimos e relações entre a serenata e outras obras.

Menos de um ano antes, dia 12 de setembro de 1725, Vivaldi escrevera uma serenata menor, a duas vozes (RV 687) para celebrar o casamento de Louis XV com a princesa polonesa Maria Leszczynska. Em 1726 havia motivos para uma obra mais elaborada, homenageando a França além do monarca: a visita do Cardeal Pietro Ottoboni, protetor das artes e membro do patriciato veneziano, que atuava à época como represenante dos interesses franceses em Roma. Seu triunfal retorno em 1726 marcava a normalização das relações diplomáticas entre Veneza e França.

O libretto, por Lalli (parceiro frequente de Vivaldi) adota um esquema comum para serenatas da época: dois personagens alegóricos, L’Età dell’oro e La Virtù, caminham por uma paisagem triste em busca da felicidade perdida. Então, encontram La Senna, que promete a felicidade, e o clima fica mais alegre a partr daí. No segundo ato, se dirigem diretamente ao rei da França com elogios e orações.

Vivaldi insere, em alguns trechos, elementos musicais do estilo francês, que não aparecem em quase nenhuma de suas outras obras. Além de ritmos típicos que à época eram chamados “alla francese” nas partituras, há também inflexões harmônicas e melódicas tipicamente francesas sobratudo na Ouvertur (é como escreveu Giovanni Battista Vivaldi) que abre o segundo ato. Mas, mesmo com esses detalhes, a maior parte da obra é de estilo sobretudo italiano.

Na orquestração, temos o estilo de escrita para cordas típico de Vivaldi. Oboés e flautas doces aparecem como strumenti di rinforzo em apenas alguns movimentos, ficando calados na maior parte deles. Com exceção das suas óperas, La Senna festeggiante é a mais ambiciosa obra secular de Vivaldi a ter sobrevivido, um equivalente do que é, na obra sacra, o oratório Juditha triumphans.

As encomendas para o embaixador Languet não pararam aí: em 1727 ele escreveu uma serenata e um Te Deum para marcar o nascimento de duas princesas reais. Mas logo depois o compositor viajou para a Áustria e Boêmia e as encomendas do embaixador iriam para Albinoni. Quando voltou a Veneza, Languet não estava mais por lá. Então La Senna festeggiante é o principal testemunho da sua alta reputação na França após a publicação, em 1725, das Quattro stagioni.

Antonio Vivaldi (1678-1741):
La Senna festeggiante – Serenata a tre, RV 693, Venezia, 1726

Yetzabel Arias Fernández, soprano (l’Età dell’oro)
Martín Oro, alto (la Virtù)
Sergio Foresti, bass (la Senna)

La Risonanza:
Yanina Yacubsohn, Hélène Mourot, oboes
Isabel Lehmann, Thera de Clerck, recorders
Carlo Lazzaroni, Silvia Colli, Renata Spotti, Elena Telò, violins i
Mauro Lopes, Ulrike Slowik, Giacomo Trevisani, violins ii
Livia Baldi, Elena Confortini, violas
Caterina Dell’Agnello, Claudia Poz, cellos
Davide Nava, double bass
Fabio Bonizzoni, harpsichord & direction

Recorded in Saint Michel en Thiérache, France, 2011

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Teto da igreja San Luigi dei Francesi, em Roma (1756)

Pleyel

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

Estou bem longe de ser um nostálgico, mas esta gravação de 1968, feita em Amsterdam, ainda mora em meu coração. Toda vez que a ouço, me encanto, e olha que há outras, mais recentes deste repertório, que são igualmente espetaculares. Eu sempre sonho com o contrabaixista que toca aqui… E dos sopros nem vou falar.

Ademais lembram disso?

Na página não parecia nada! O princípio simples, quase cômico. Só uma pulsação. Trompas, fagotes… Como uma sanfona enferrujada. E depois, subitamente… Lá bem no alto… Um oboé. Uma única nota, ali pendurada, decidida. Até que um clarinete a substitui, adoçando-a numa frase de tal voluptuosidade… Isto não era uma composição de um macaco amestrado. Era música como eu nunca tinha ouvido. Cheia de uma saudade, de uma saudade não realizada. Parecia-me que estava a ouvir a voz de Deus.

Pois é, Ouçam o Adágio da Gran Partita, K. 361. E mais não digo.

W. A. Mozart (1756-1791): Serenatas K. 361 e 375 (de Waart)

Serenade In B Flat, KV 361 “Gran Partita” B-dur En Si Bémol
1 Largo-Allegro Molto 9:45
2 Menuetto – Trio I-II 9:17
3 Adágio 5:41
4 Menuetto (Allegretto) – Trio I-II 5:23
5 Romanze (Adagio – Allegretto – Adagio) 5:49
6 Thema Mit 6 Variationen (Andante) 9:46
7 Finale (Molto Allegro) 3:20

Serenata Em Mi Bemol, KV 375 Es-dur. En Mi Bemol
8 Allegro Maestoso 7:53
9 Menuetto 4:10
10 adágio 5:48
11 Menuetto 3:19
12 Alegro 3:35

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Foto de uma execução da “Gran Partita” em Si bemol maior, KV 361, Serenata nº 10 para doze instrumentos de sopro e contrabaixo de Mozart

PQP

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

É claro que não deveria nunca escrever sobre jazz. Adoro jazz, mas sou muito boêmio. Diferentemente dos eruditos, só ouço os caras de que gosto. Então, meu deus jazzístico é Charlie Mingus — que, dizem, era um compositor erudito que gostava de jazz — , secundado por Ellington, Miles e Dolphy. Os outros, including Coltrane, Parker, Evans e Jarrett, ficam fora de meu Olimpo. É bóbvio que não devo posar de conhecedor. Não pouso, mas indico Dolphy como um grande compositor, improvisador anárquico e originalíssimo que morreu da forma mais estúpida possível a um ser humano.

Sim, ele era diabético. Deu entrada no hospital em coma diabético. Porém, como era músico, os médicos acharam que ele estava drogado e logo voltaria a si. Morreu. Aos 36 anos.

Eric Dolphy tocava saxofone alto, flauta e clarone. Na verdade, foi o primeiro claronista importante como solista no jazz, além de ser dos maiores flautistas do estilo. Em todos esses instrumentos era um improvisador impecável. Nas primeiras gravações, ele tocava ocasionalmente um clarinete soprano tradicional em Si bemol. Seu estilo de improvisação era característico por uma torrente de ideias, utilizando amplos saltos intervalares e abusando das doze notas da escala. Embora o trabalho de Dolphy seja às vezes classificado como free jazz, suas composições e solos possuem uma lógica diferente da dos músicos de free jazz.

.: intermezzo :. Eric Dolphy: Out There (1960) e Out to Lunch (1964)

Out There
1. Out There 6:52
2. Serene 6:58
3. The Baron 2:54
4. Eclipse 2:43
5. 17 West 4:48
6. Sketch Of Melba 4:36
7. Feathers 5:00

Out to Lunch
1. Hat And Beard 8:24
2. Something Sweet, Something Tender 6:03
3. Gazzellioni 7:23
4. Out To Lunch 12:09
5. Straight Up And Down 8:19

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(Os dois discos estão juntinhos por causa do inverno)

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PQP

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

Um velho (1957) e belo LP da DG com o Quinteto para piano em lá maior, Op.81, de Dvorák, com a pianista tcheca Eva Bernáthová e o Quarteto de Cordas Janácek. O Quarteto Janáček foi fundado em 1947 por Jiří Trávníček, Adolf Sýkora, Jiří Kratochvíl e Karel Krafka, então estudantes do Conservatório de Brno. Neste período se dedicavam à obra do compositor Leoš Janáček, mas mais tarde ampliaram seu repertório. A partir de 1955 iniciaram uma agenda de recitais que os levou a diversos palcos do mundo. Gravaram muitos discos com obras de Janáček, Debussy, Mozart, Haydn, Dvorak e outros, recebendo vários prêmios por suas interpretações, incluindo o Grand Prix du Disque da Academia Charles Cros e o Preis der deutschen Schallplattenkritik. O quarteto nunca foi extinto e ainda está ativo com novos integrantes, claro.

.oOo.

Dvorák compôs seu Quinteto Para Piano e Cordas nº 2, Op. 81 em 1887 na sua casa de campo, em Vysoka. O Quinteto obteve grande sucesso, sendo hoje reconhecido como uma das obras-primas do gênero.

A abertura é tranquila: o violoncelo desliza sobre o acompanhamento do piano, uma barcarola. Mas esta tranquilidade dá lugar a passagens vigorosas das cordas, às quais se sucedem trechos de grande lirismo. São nessas mudanças de humor que residem os encantos do movimento.

No segundo movimento, intitulado Dumka, também se alternam passagens lentas e rápidas. Essa é uma das formas favoritas do compositor, que também a utilizou em seu famoso Trio para Piano Dumky. O movimento tem a forma de um rondó, A-B-A-C-A-B-A, onde “A” é o refrão elegíaco ao qual se alternam trechos rápidos. Dvorák vai enriquecendo a textura do “A” a cada vez que ele retorna. Os episódios intermediários vão ganhando um crescente contraste com o início e caminhando para o vibrante clímax, uma dumka, a “dança selvagem” como a chamava Dvorák.

O brilhante Scherzo Furiant tem características de uma valsa rápida e de um Furiant, uma dança rápida do folclore da Boêmia. Dvorák usou Furiants em muitos de seus Scherzos escritos nessa época (década de 1880). Aqui, o violoncelo e a viola se alternam em pizzicatos, sob o violino, que toca o tema principal. O trio, mais lento, é uma genial transformação da melodia da abertura do primeiro movimento.

O Finale é espirituoso, alto astral. O segundo violino leva o tema a uma fuga, no desenvolvimento. Dvorák anota tranquillo para a seção central, que tem a forma de um coral. Depois dessa pausa momentânea, a peça gradualmente ganha velocidade e termina, no dizer de um comentarista, “com brilhantes floreios pentatônicos, proféticos do estilo americano de Dvorák”.

Fonte: Clássicos dos Clássicos

Antonín Dvořák (1841-1904): Quinteto para piano em lá maior, Op.81 (Bernáthova, Quarteto Janácek)

I- Allegro, ma non tanto 10min
II- Dumka: Andante con moto 10min53
III- Scherzo (Furiant): molto vivace 4min25
IV- Finale: Allegro 7min

Eva Bernáthová, piano
Quarteto de Cordas Janácek:
Jirí Trávnícek, 1º violino
Adolf Síkora, 2º violino
Jiri Kratochvil, viola
Karel Krafka, violoncelo

DGG LPM 18 379
Gravação 12-02-1957 em Beethoven-Saal, Hannover
Tempo total: 32:18

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F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

F. Schubert (1797-1828): Octeto D. 803 (Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble)

Postagem dedicada àquela que foi
a mulher de Schumann,
possivelmente a amante de Brahms,
mas que gosta mesmo é de Schubert.

 

(Notem que o “gosta” da dedicatória está no presente. Quem de vocês conseguirá entender esta dedicatória?)

Concebido como o esboço de uma grande sinfonia, o extraordinário Octeto D. 803 foi escrito durante a primavera de 1824. E realmente o Octeto, com seus inúmeros tutti, tem uma feição um pouco sinfônica, apesar de possuir muitos episódios puramente camarísticos. Mas é uma tremenda música, uma obra que cresce muito, principalmente após o Allegro Vivace.

Poderia postar um septeto agora, né? Talvez o de Beethoven. Ou o de Berwald.

Octeto D. 803 para clarinete, trompa, fagote, quarteto de cordas e contrabaixo

1. Schubert: Octet In F, D 803 – 1. Adagio, Allegro
2. Schubert: Octet In F, D 803 – 2. Adagio
3. Schubert: Octet In F, D 803 – 3. Allegro Vivace
4. Schubert: Octet In F, D 803 – 4. Andante con Variazioni
5. Schubert: Octet In F, D 803 – 5. Menuetto
6. Schubert: Octet In F, D 803 – 6. Andante Molto, Allegro

Academy Of Ancient Music Chamber Ensemble

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Schubert bebendo vinho com amigos. Gravura de Ralph Bruce.

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Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

Mais um belo CD da Opus 111, desta vez focalizado na música inglesa. Confesso que não entendi bem o nome do CD que é inteira e autenticamente inglês. OK, aí tem muito compositor inglês nascido na Itália, mas mesmo assim tudo foi escrito na Inglaterra. É um bonito disco, com os delicados temas sendo levados pelos extraordinários Flanders Recorder Quartet e Toyohiko Satoh (alaúde). É um recomeço delicado de um P.Q.P. Bach pós-férias. Ainda preguiçoso, ele vem com uma música que pensa ser matinal, sem explicar por quê. Enjoy!

Augustine Bassano / Jeronimo Bassano / Coprario / Ferrabosco I, Harden / Henry VIII / Holborne / Lassus / Lloyd Marenzio / Vecchi: Viva l’amore – Música dos Séculos XVI e XVII

1 Pasttime With Good Company
Composed By – Henry VIII
2:01
2 Helas, Madam
Composed By – Henry VIII
3:06
3 Fantasia A5, No.3
Composed By – Jerome Bassano
3:00
4 Let Not Us That Young Men Be
Composed By – Anonymous
1:47
5 Pavan
Composed By – Lodovico Bassano
4:28
6 Madame D’Amours
Composed By – Anonymous
4:58
7 Galliard Passion
Composed By – Anthony Holborne
1:55
8 Pavana Ploravit
Composed By – Anthony Holborne
4:50
9 Galliard Sic Semper Soleo
Composed By – Anthony Holborne
1:18
10 Almaine The Choyse
Composed By – Anthony Holborne
1:33
11 Almaine The Honie-suckle
Composed By – Anthony Holborne
1:32
12 Galliard The Fairie-round
Composed By – Anthony Holborne
1:20
13 Pavin
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:40
14 Di Sei Bassi
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:55
15 Interdette Speranze
Composed By – Alfonso Ferrabosco
3:14
16 Bassano: Pavane 16 A 6
Composed By – Augustine Bassano
2:18
17 Bassano II: Almande 15 A 6
Composed By – Jerome Bassano
1:03
18 Coperario Almande 22 A 6
Composed By – Giovanni Coperario*
1:12
19 Lassus: Mon Coeur Se Recommande A Vous
Composed By – Roland de Lassus
2:02
20 Puzzle-Canon I
Composed By – John Lloyd (10)
2:06
21 Lloyd: Puzzle-Canon II
Composed By – John Lloyd (10)
1:58
22 Nel Piu Fiorito Aprile
Composed By – Luca Marenzio
1:22
23 Phancy
Composed By – Edward Blanks*
2:32
24 Saltavan Ninfe, Satiri E Pastori
Composed By – Orazio Vecchi
1:31
25 Harden: A Fancy I
Composed By – James Harding (3)
3:36
26 Harden: A Fancy II
Composed By – James Harding (3)
3:21

Flanders Recorder Quartet
Bart Spanhove
Paul Van Loey
Joris Van Goethem
Fumihari Yoshimine
and with
Peter van Heyhen,
Geert van Gele,
Katherine Rooman

Capilla Flamenca
Katelijne Van Laethem – Soprano
Marnix De Cat – Countertenor
Jan Caals – Tenor
Jan Van Elsacker – tenor
Lieven Termont – Baritone
Dirk Snellings – Bass
Toyohiko Satoh – Lute
Philippe Malfeyt – Lute

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Os meninos do Flanders Recorder Quartet

PQP

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Eu tenho tara por CPE Bach. Também tenho tara por Keith Jarrett. Então este CD é pra mim! Ouvir este disco após o Bach de Dinnerstein (ver postagem de ontem) foi maravilhoso. Jarrett é elegante e discreto quando faz música erudita. Dinnerstein — apesar de ser uma maravilhosa pessoa — não tem nada daquilo que gosto em música, ela é esparramadamante romântica. Os estudiosos tendem a separar as obras de CPE Bach, encontrando nelas (1) traços do barroco, (2) dos primeiros clássicos e até mesmo um (3) prenúncio da era romântica. No entanto, essas sonatas soam completas em si mesmas, e não é provável que nos assustemos com as emoções agitadas que chocaram os contemporâneos de CPE Bach. As Sonatas de Württemberg (1744) receberam o nome de um de seus alunos, o duque Carl Eugen de Württemberg e foram escritas originalmente para clavicórdio. A execução de Jarrett é nuançada e variada, reconhecidamente de uma forma que um clavicórdio não poderia reproduzir. Ele declara a bela melodia do Adagio na Sonata nº 2 com ousadia, recua e depois retorna à sua abordagem inicial de maneira convincente. É uma performance comovente, assim como sua execução do Andante na Sonata nº 4, que começa com o delineamento de uma única nota da melodia principal. Não sei por que essa gravação foi retida por quase trinta anos — Jarrett gravou tudo em 1994 — e o fato é que o estilo lírico de Jarrett se encaixa notavelmente em CPE Bach. Recomendo uma atenta audição. Vale a pena.

Carl Philipp Emanuel Bach (1714-1788): Württemberg Sonatas Wq 49 (Jarrett)

Sonata I In A Minor
1-1 Moderato 7:35
1-2 Andante 3:15
1-3 Allegro Assai 5:28

Sonata II In A-flat Major
1-4 Un Poco Allegro 6:51
1-5 Adagio 3:07
1-6 Allegro 3:50

Sonata III In E Minor
1-7 Allegro 6:01
1-8 Adagio 3:16
1-9 Vivace 3:06

Sonata IV In B-flat Major
2-1 Un Poco Allegro 5:42
2-2 Andante 3:01
2-3 Allegro 4:29

Sonata V In E-flat Major
2-4 Allegro 7:41
2-5 Adagio 3:20
2-6 Allegro Assai 3:26

Sonata VI In B Minor
2-7 Moderato 7:09
2-8 Adagio Non Molto 3:43
2-9 Allegro 4:44

Piano – Keith Jarrett

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Francamente…

PQP

J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

Simone Dinnerstein chega romanticamente com um variado programa de obras (barrocas) de Bach e transcrições de Busoni (Ich ruf zu dir, Herr Jesu Christ), Kempff (Nun freut euch, lieben Christen gmein) e Myra Hess (Jesus bleibet meine Freude) tocada em um piano moderno que ressoa com toda uma gama de sons com um certo abuso de pedal que embaça e mistura as vozes. Nos Concertos Nº 1 e 5 para teclado (OK…) e orquestra é acompanhada pela Kammerorchester Staatskapelle Berlin de forma muito precisa com uma pulsação hipnótica e uma forte linha de baixo. Mas o melhor é provavelmente a Suíte Inglesa Nº 3 de onde emerge toda a estranha personalidade da pianista. O disco alterna momentos genuinamente inspirados se alternam com execuções, digamos, idiossincráticas. Dinnerstein é uma pianista séria, claro, mas ainda não chega a Perahia, Schiff e Hewitt. A apresentação do CD é linda, com pinturas a óleo da própria pianista e o som é esplêndido.

J. S. Bach (1685-1750): Bach: A Strange Beauty (Dinnerstein)

1 Ich Ruf Zu Dir, Herr Jesu Christ, BWV 639
Arranged By [Arr.] – Busoni*
3:40

Keyboard Concerto No. 5 In F Minor, BWV 1056
2 Allegro 3:17
3 Largo 2:56
4 Presto 2:48

5 Nun Freut Euch, Lieben Christen Gmein, BWV 734
Arranged By [Arr.] – Kempff*
2:26

English Suite No. 3 In G Minor, BWV 808
6 Prélude 2:53
7 Allemande 5:02
8 Courante 1:59
9 Sarabande 4:13
10 Gavotte I/II 2:50
11 Gigue 2:20

Keyboard Concerto No. 1 In D Minor, BWV 1052
12 Allegro 8:00
13 Adagio 7:16
14 Allegro 7:13

15 Jesus Bleibet Meine Freude (Jesu, Joy Of Man’s Desiring), BWV 147
Arranged By [Arr.] – Hess*
3:53

Composed By – Johann Sebastian Bach
Orchestra – Kammerorchester Staatskapelle Berlin*
Piano – Simone Dinnerstein

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Dinnerstein: romântica pra mais de metro.

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Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Rameau é uma festa. E, com Brüggen no comando, a festa é total. O IM-PER-DÍ-VEL !!! acima é mais do que justo. A afeição de Frans Bruggen pela música orquestral de Rameau é confirmada pelas muitas edições anteriores de danças de suas óperas. Estes incluíram suítes de Castor et Pollux (1991), Les indes galantes (1994), Dardanus (1987) e Abaris (1987). Enquanto a música de Les fetes d’Hebe (1739), uma das óperas de maior sucesso de Rameau, é bem conhecida, a de Acante et Cephise (1751) não é. Acante et Cephise continua sendo uma peça injustamente negligenciada, tornando a suíte de abertura e as 15 danças de Bruggen ainda mais bem-vinda. Acante et Cephise foi uma das primeiras peças em que Rameau introduziu clarinetes e estes são imediatamente ouvidos com grande efeito na brilhante abertura, cuja escrita para trompa às vezes prenuncia Gluck. A Orchestra of the Eighteen Century responde notavelmente à direção de Bruggen. Ele é um músico maravilhoso cuja imaginação e sensibilidade são compreensivelmente disparadas por algumas das orquestrações mais inovadoras e evocativas que surgiram na primeira metade do século XVIII. Em suma, este repertório é absolutamente cativante e envolvente. O som foi tomado ao vivo. Vale a pena ouvir!

Jean-Philippe Rameau (1683-1764): Acante Et Céphis & Les Fêtes D’Hébé (Brüggen)

Acante Et Céphise
1 Ouverture: Vœux De La Nation, Feu D’Artifice, Fanfare: Vive Le Roi 4:06
2 Air. Mouvement De Chaconne Vive 2:25
3 Gavottes 1:36
4 Air Gracieux 2:17
5 Musette Tendre 1:23
6 Tambourins 1:24
7 Loure 2:49
8 Musette Gracieuse En Rondeau 1:04
9 Menuets 2:00
10 Air Gracieux Pour Les Génies Et Fées 1:01
11 Air Vif Pour Les Esprits Acriens 1:45
12 Contre-Danse 0:57
13 Entrée 1:48
14 Rigaudons 1:10
15 Menuets Un Peu Lents Avec Tambourin 3:13
16 Menuets 3:28

Les Fêtes D’Hébé
17 Ouverture 3:07
18 Menuets 2:44
19 Contredance 0:44
20 Air Gracieux Pour Zéphire Et Les Grâces 3:01
21 Passepieds 2:18
22 Musette Tendre En Rondeau 1:48
23 Loure 2:15
24 Gavottes En Rondeau Pour Les Bergers 3:03
25 Tambourin En Rondeau 1:59
26 Air Tendre, Air Pour Le Génie De Mars, La Victorie 4:57
27 Rigaudons 1:41
28 L’Hymen, Chaconne 4:22
29 Musette En Rondeau 2:15

Composição – Jean-Philippe Rameau
Regente – Frans Brüggen
Orquestra – Orchestra of the Eighteen Century
Tempo total de reprodução 66:38
Gravado ao vivo em Utrecht, Holanda, em setembro de 1996 e fevereiro de 1997

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O grande, genial e querido Frans Brüggen (1934-2014) em foto de 2012.

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Steve Reich (1936): Triple Quartet (2001), Electric Guitar Phase, Music for a Large Ensemble e Tokyo/Vermont Counterpoint (Kronos e outros)

Steve Reich (1936): Triple Quartet (2001), Electric Guitar Phase, Music for a Large Ensemble e Tokyo/Vermont Counterpoint (Kronos e outros)

Mais um grande CD com obras do lendário Steve Reich. Começa por um bartokiano quarteto de cordas confessadamente baseado no último movimento do Quarto Quarteto de Béla Bartók e com um certo flerte com Schnittke. O Kronos Quartet dá seu show de competência habitual.

Segue com Electric Guitar Phase, originalmente para violino e que nesta versão ganha ares de riff roqueiro, depois vem Music for a Large Ensemble, bastante semelhante à célebre Music for 18 musicians e finaliza com a bela Tokyo/Vermont Counterpoint.

É impressionante o trabalho de todos os músicos que tocam no CD. Citei apenas o Kronos, mas deveria ter citado todos. São impecáveis.

Steve Reich (1936): Triple Quartet (2001), Electric Guitar Phase, Music for a Large Ensemble e Tokyo/Vermont Counterpoint (Kronos)

1. Triple Quartet: First Movement 7:10
2. Triple Quartet: Second Movement 4:04
3. Triple Quartet: Third Movement 3:28
Kronos Quartet

4. Electric Guitar Phase 15:11
Dominic Frasca

5. Music for a Large Ensemble 14:50
Alan Pierson
Alarm Will Sound

6. Tokyo/Vermont Counterpoint 9:04
Mika Yoshida

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É inacreditável, mas o fato é que Steve Reich nasceu sem boné.

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Lutosławski (1913-1994): Cello Concerto, Symphony No. 4 / Szymanowski (1882-1937): Overture, Op. 12

Música polonesa gravada na Polônia. Uma boa introdução à obra mais madura de Lutoslawski, mais atonal e menos folclórica do que o Concerto para Orquestra (1954) ou a 1ª Sinfonia (1947). Ao contrário de discos mais focados em um tipo de obras – por exemplo, só com sinfonias ou só com concertos – aqui temos um tipo de programa típico de uma apresentação ao vivo.

O concerto para violoncelo de Lutosławski, estreado por Mstislav Rostropovitch em Londres (1970), tem sido considerado uma das obras-primas para violoncelo e orquestra. Muita gente buscou encontrar nessa obra subtextos socio-políticos: suspeitou-se que o polonês pretendia mostar o papel delicado do indivíduo em diálogo com o poder estatal repressivo, a partir da orquestração muitas vezes brutal e em contrastes tensos e assimétricos com o solista. Porém, mais de uma vez o compositor se posicionou contra essa interpretação: “Se eu quisesse escrever um drama sobre o conflito entre indivíduo e coletividade, eu teria feito isso em uma obra com palavras.”

Gautier Capuçon

Vou me arriscar a interpretar essas palavras de Lutosławski, correndo o risco de falar besteira: é como se ele dissesse que a música instrumental tem como vocação tratar de coisas mais pra além, aspectos da nossa vida para os quais as palavras não dão conta. Mesmo assim, essa interpretação política do concerto não é de se jogar fora: apenas não se deve achar que o sucinto par “indivíduo x sociedade” ou “artista x Estado” chega perto de descrever as emoções e novidades que vão aparecendo ao longo dos vinte e poucos minutos dessa obra. O jovem solista francês Gautier Capuçon – 34 anos na época da gravação – dá conta de todas as dificuldades que haviam sido colocadas antes para o veterano Rostropovich. Em comum com o russo, o interesse por música contemporânea: nos últimos anos, Capuçon estreou obras de Danny Elfman e Thierry Escaich, além de ter no seu repertório H. Dutilleux e D. Shostakovich.

Também para a sua 4ª e última Sinfonia, estreada em 1993 em Los Angeles, Lutosławski não quis atribuir um apelido ou um programa. Aspas para ele novamente: “toda tentativa de definir o conteúdo expressivo da música com palavras, ou seja, com meios extra-musicais, se expõe a erros de interpretação e não tem valor objetivo intrínseco.”

Já a a Abertura de Szymanowski, esboçada em 1904 e estreada só em 1919 em Viena, é representativa das primeiras composições sinfônicas desse que é o principal compositor polonês da dita Belle Époque. Para os meus ouvidos, é música bem mais previsível e banal do que a de Lutosławski.

Karol Szymanowski:
1. Concert Overture, Op. 12 (13:15)

Witold Lutosławski:
2. Cello Concerto (24:27)
3. Symphony No. 4 (21:48)

Polish National Radio Symphony Orchestra, Alexander Liebreich
Cello – Gautier Capuçon
Recorded: Katowice, Poland, 2016

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mediafire) ou BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (mega)

Witold Lutosławski tomando vinho tinto, ou seria suco de uva?

Pleyel