Darius Milhaud
Música para dois pianistas
Stephen Coombs
Artur Pizarro
Continuando a série – Gostei, Postei! – um disco ótimo para ser ouvido em movimento. Eu o tenho levado para ouvir durante as caminhadas. Ele também serve bem para ouvir enquanto você prepara o jantar. Será surpreendido com headphones mexendo a salada ou virando a omelete. Pura diversão!
Veja que não há contraindicações caso você queira ouvi-lo escarrapachado no sofá, naquele momento de paz em que o pessoal que trabalha no condomínio já foi embora, calando as malditas máquinas de lavar a jatos e os cortadores de grama, e os vizinhos ainda não ligaram as TVs para o jornal ou novela. Bem, agora as pessoas maratonam séries. Deste moderno hábito tenho conseguido seguir incólume, so far…
Mas, divago… Milhaud teve uma longa vida e compôs muita música. Tinha o que ocorre com alguns de seus conterrâneos, o bicho que os faz viajar. Rodou mundo e absorveu muita música em diferentes culturas. As suas conexões com o Brasil, onde passou um tempo a serviço do Ministro Plenipotenciário (adorei o título) Paul Claudel, dão um colorido delicioso ao disco. Estão presentes em duas peças – no último movimento da primeira – Brasileira (Mouvement de samba), em Scaramouche, e na última, o Boi no Telhado!
Veja aqui um texto do Caderno de Música da Rádio MEC:
Darius Milhaud nasceu em Marselha, em 1892, e é um dos integrantes do chamado “les Six”, um grupo de compositores franceses que se propunha a apresentar uma alternativa aos estilos wagneriano e ao impressionista. Entre 1916 e 1918, Milhaud trabalhou no Brasil a serviço da embaixada da França junto do adido cultural Paul Claudel. Neste período, teve intenso contato com a atmosfera da música popular urbana do Rio de Janeiro que serviu como fonte de inspiração para várias de suas obras, dentre elas “Scaramouche”, “Saudades do Brasil” e “O boi no telhado”.
Na sua música “Le Boeuf sur le toit” (ou “O boi no telhado”), Darius Milhaud faz uso de cerca de 28 melodias de músicas populares de compositores cariocas da época. Algumas dessas melodias são facilmente identificáveis, como “Corta-Jaca”, de Chiquinha Gonzaga, “Flor do Abacate”, de Álvaro Sandim, e “Apanhei-te, cavaquinho”, de Ernesto Nazareth, que era um dos compositores e instrumentistas mais admirados por Milhaud. O próprio título “O boi no telhado” também é de inspiração brasileira, pois faz referência a um tango de mesmo nome escrito em 1918 por José Monteiro, também conhecido como Zé Boiadeiro.
Outras partes das Américas estão no disco, como nas peças Kentuckiana e carnaval à la nouvelle-orléans.
O disco é magistralmente interpretado por Stephen Coombs, tarimbado na música para duo de pianos ou piano a quatro mãos, e o português Artur Pizarro, que tem uma carreira solo bastante distinta, mas aqui está em excelente sintonia com o outro músico. E o selo Hyperion nos dá um show de produção com um ótimo livreto.
Darius Milhaud (1892 – 1974)
Scaramouche Op. 165b
- I. Vif
- II. Modéré
- III. Brazileira: Mouvement de samba
Kentuckiana Op. 287
- Rondement
Le Bal Martiniquais Op. 249
- I. Chanson créole: Modéré
- II. Biguine: Vif
Les Songes Op. 237
- I. Scherzo: Très vif
- II. Valse: Modéré sans lenteur
- III. Polka: Animé
carnaval à la nouvelle-orléans Op. 275
- I. Mardi gras! Chic à la paille
- II. Domino noir de Cajan
- III. On danse chez monsieur Degas
- IV. Les mille cent coups
La Libertadora Op. 236a
- I. Vif
- II. Animé
- III. Modéré
- IV. Vif
- V. Animé
Le Bœuf sur le Toit Op 58a
- Animé
Stephen Coombs, piano
Artur Pizarro, piano
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FLAC | 281 MB
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MP3 | 320 KBPS | 177 MB
An entertaining and delightful issue which brings some high-spirited pianism from these fine players.
The Penguin Guide of Recorded Classical Music
2011 edition
Eu confesso não saber se há alguma relação entre O Boi no Telhado de José Monteiro (Zé Boiadeiro) – Darius Milhaud e a maravilhosa história de O Boi Voador de Maurício de Nassau. Se há, digam me vocês…
Aproveite! Nem sempre se encontra um disco tão saboroso…
PS: Se você gostou deste disco, talvez se interesse por esta postagem:
Música Francesa para Piano a Quatro Mãos – Marylène Dosse e Annie Petit
Prezado Denon,
A pior dessas máquinas é o soprador de ar(não sei se assim se chama). Inventado certamente por algum torturador sádico e psicopata. Obrigado pela postagem.
JK
Olá, João!
No ML eles chamam estas máquinas terríveis de sopradores/aspiradores de folhas…
Eu só não criei mais casos aqui no condomínio onde vivo devido ao fato de que o operador dessa coisa é uma pessoa adorável. Sempre que me aproximo com algum contundente objeto para destruir a tal geringonça, ele me sorri com pureza e eu desisto de meus impulsos….
A danada da máquina deu sorte…
Obrigado pela sua mensagem!
Fique bem!
Abraços do
René
Vou conferir! Não sabia dessa versão para piano de “Le Boeuf sur le toit”, que é minha obra preferida dele junto com “La création du monde”, esta última inspirada no jazz americano.
Agora sobre a palavra boeuf, trata-se talvez da contribuição mais perene do Brasil para a língua francesa, ao menos no século XX. Já ouvi essa palavra na boca de um francês no sentido de “improviso”, “jam session”, e quase com certeza ele não sabia da origem brasileira. Veja o que dizem as wikipedias em inglês:
Wiktionary – boeuf
(music) jam session
faire un bœuf ― to have a jam session
Wikipedia: Le_Boeuf_sur_le_Toit_(cabaret)
Le Boeuf sur le Toit (The Ox on the Roof) is the name of a celebrated Parisian cabaret-bar, founded in 1921 […]
The composer Darius Milhaud had been in Brazil where he had been impressed by the folklore and a popular song of the time, O Boi no Telhado (The ox on the roof). Back in Paris in 1919 Milhaud and his composer friends formed a group called Les Six. The poet Jean Cocteau was an informal member of the group and later would do the choreography for Milhaud’s composition Le bœuf sur le toit—a direct translation of the Brazilian song name. This ballet farce became very popular and Milhaud, joined by Georges Auric, and Arthur Rubinstein could often be heard playing a six-handed version of it at La gaya, a bar at 17, rue Duphot owned by Louis Moysès.[2] The presence of Cocteau and his circle made the Gaya very popular and in December 1921, when Moysès moved his bar to rue Boissy d’Anglas, he named the new bar Le Boeuf sur le Toit, probably to be sure that Milhaud, Cocteau, and their friends went with him.[1][3] They did—and Le Boeuf was born. Over the years the bar became such an icon that the common belief in Paris was that Milhaud’s ballet-farce had been named after the bar, which was the opposite of what actually happened.
(eu mesmo cometia este erro até ontem, achava que a ordem era “boeuf” (gíria) -> “boi” -> Milhaud)
Oi, Pleyel!
As palavras, estão sempre aí, mas quando prestamos atenção nelas, elas mudam até de cor, se dissimulam, exibem outros significados… Temos, bouef, que foi para inglês beef, para o português bife, e tudo vem do latim… bos… E aí, os bois. Queria saber se bofe, que vem de espanhol (asturiano) bofu, bofos, também está na mesma família.
Estou aqui bufando…. kkkk
Mas o que importa é a música e espero que goste do disco!
Abração do
René