#SCHMNN210 – Robert Schumann (1810-1856): Der Rose Pilgerfahrt, Op. 112 – Creed – de Burgos

Dentro da obscuridade em que jaz a obra coral de Schumann, talvez as maiores trevas estejam a cair sobre Der Rose Pilgerfahrt (“A Peregrinação da Rosa”), seu oratório de sabor decididamente folclórico, a primeira obra significativa que compôs depois da mudança para Düsseldorf, sua escala final antes do colapso mental que o levaria ao asilo. É uma pena, pois a obra toda – mais uma coleção engenhosamente alinhavada de coros e canções que um oratório no pomposo, dramático sentido do termo até então – é uma delícia de se escutar. As semelhanças com Die Paradis und die Peri, sua experiência anterior no gênero, são notórias e certamente não uma coincidência: o autor do libreto, Moritz Horn, impressionara-se com o oratório anterior e escreveu o texto sob sua instigação. O enredo é simplérrimo: uma rosa roga à Rainha dos Elfos para vir ao mundo na forma humana, para ser amada tanto quando os humanos se amam; a Rainha concede-lhe o desejo e a rosa vem ao mundo na forma de uma linda moça chamada, adivinhem? – Rosa; ela carrega sempre consigo uma flor – que vocês já adivinharam qual é – que serve como repositório de sua alegria; após algumas dificuldades em se integrar aos humanos, ela sente pena – seu primeiro sentimento humano – ao ver um sepultamento; o coveiro a abriga enquanto os elfos tentam chamá-la de volta; um moleiro que perdera sua filha, vítima dum coração partido, reconhece-a no semblante de Rosa e a convida para viver no vilarejo; Rosa casa-se com Max, um aldeão, e tem um filho com ele; quando o bebê nasce, Rosa deixa a flor em sua mão e, numa “morte cheia de amanhecer”, volta para seu mundo, onde é recebida por um coro angélico.

A música despretensiosa, ainda que cuidadosamente burilada, é talvez uma das maiores provas contra os detratores de Schumann, ligeiros em dizerem que tudo que ele escreveu em Düsseldorf foi impulsivo e descuidado. O compositor pretendia que oratório fosse ouvido em sua forma original, com pequeno coro e acompanhamento de piano, e foi nessa forma que ele foi estreado em sua casa por um coro de amigos e, naturalmente, Clara ao piano. Em seguida, dedicou-se à orquestração, uma tarefa que lhe foi muito árdua, talvez porque dividida com a atribulada atividade de Kapellmeister que tanto odiava, ainda que lhe fosse o caminho para suturar os brios cronicamente feridos pela celebridade da esposa, sempre o arrimo da família. Quem escuta a versão orquestral, no entanto, não percebe qualquer sinal de tanto desgosto e da crescente instabilidade que o levaria, alguns anos depois, a encontrar as águas do Reno numa tentativa de aniquilar-se.

Na minha desimportante opinião, as duas versões merecem ser ouvidas, e por isso ofereço-lhes ambas. Sugiro escutarem primeiro a versão com piano, aqui interpretada por um coro impecavelmente ensaiado, se possível na companhia do libreto – a singeleza das melodias e o tom folclórico podem tornar monótona a audição desatenta. Depois, escutem a versão com orquestra e perguntem-se por que um regente do porte Rafael Frühbeck (porque o “de Burgos” foi acrescentado a pedido de Franco, para que tivesse um sobrenome menos alemão) aparece recém pela primeira vez em minhas postagens – porque, se me perguntarem, eu não lhes saberei responder.

Robert Alexander SCHUMANN (1810-1856)

Der Rose Pilgerfahrt, Op. 112, sobre textos de Moritz Horn
Link para o libreto

Parte I

1 – “Die Frühlingslüfte bringen”
2 – “Johannis war gekommen”
3 – Elfenreigen. “Wir tanzen, wir tanzen”
4 – “Und wie sie sangen”
5 – “So sangen sie”
6 – “Bin ein armes Waisenkind”
7 – “Es war der Rose erster Schmerz!”
8 – “Wie Blätter am Baum”
9 – “Die letzte Scholl’ hinunterrollt”
10 – “Dank, Herr, dir dort im Sternenland”

Parte II

11 – “Ins Haus des Totengräbers”
12 – “Zwischen grünen Bäumen”
13 – “Von dem Greis geleitet”
14 – “Bald hat das neue Töchterlein”
15 – “Bist du im Wald gewandelt”
16 – “Im Wald, gelehnt am Stamme”
17 – “Der Abendschlummer”
18 – “O sel’ge Zeit”
19 – “Wer kommt am Sonntagsmorgen”
20 – “Ei Mühle, liebe Mühle”
21 – “Was klingen denn die Hörner”
22 – “Im Hause des Müllers”
23 – “Und wie ein Jahr verronnen ist”
24 – “Röslein!”

Versão para solistas, coro e orquestra

Helen Donath e Kari Lövaas, sopranos
Julia Hamari, contralto
Theo Altmeyer, tenor
Bruno Pola, barítono
Hans Sotin, baixo
Chor des Städtischen Musikvereins e.V. Düsseldorf
Düsseldorfer Symphoniker
Rafael Frühbeck de Burgos,
regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

 

Versão para solistas, coro e piano

Christiane Oelze, soprano
Birgit Remmert, contralto
Werner Güra, tenor
Klaus Thiem, barítono
Hanno Müller-Brachmann, baixo
Philip Mayers, piano
RIAS-Kammerchor
Marcus Creed, 
regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Uma ótima gravação do oratório, com orquestra de instrumentos de época, foi restaurada AQUI.

 

Já tinham visto Schumann menino?

Vassily

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