Striking and Virtuosic: Etsuko Hirose plays Balakirev –
‘… electrifying performance …’
O disco desta postagem foi uma ótima descoberta! Eu sabia que Balakirev havia composto uma das peças mais difíceis do repertório para piano, intitulada Islamey, e conhecia a bonita transcrição de uma canção de Borodin, The Lark (A Cotovia), que postei há já algum tempo. Bem, um disco inteiro com obras para piano, incluindo uma sonata, me surpreendeu.
Balakirev foi um membro do pioneiro Grupo dos Cinco, junto com Mussorgsky, Glinka, Rimsky-Korsakov e Borodin, e que deu forma ao que conhecemos como música russa. Ele foi ótimo compositor e excelente pianista. Balakirev não era, definitivamente, do tipo acadêmico, e passou por diversos períodos de crise, sem compor. A peça que abre o disco foi esboçada na juventude, recebeu a aprovação de Glinka, mas só ganhou sua forma final quase quarenta anos depois.
A pianista eu descobri ouvindo discos de convidados de edições do Festival La Roque d’Anthéron, uma ótima maneira de descobrir outros talentos além dos famosos músicos divulgados fartamente na mídia. Gostei muito. Ela nasceu em Nagoia e estreou aos seis anos tocando o Concerto para Piano No. 26, de Mozart. Creio que foi Gieseking quem disse: a música de Mozart é mais fácil para crianças do que para adultos. Talvez seja isso. Etsuko completou seus estudos na França, com Bruno Rigutto e Nicholas Angelich. Gravou inicialmente para a Denon e posteriormente para a Mirare. Este disco foi gravado em 2012.
Mily Balakirev (1837 – 1910)
Fantasia para Piano sobre temas da ópera de Glinka
O disco é de 2012, mas Etsuko disse ter valido a pena a espera para estrear no blog…
Trecho da resenha estrelas na Amazon: I had expected this music to be a bit unmemorable and Etsuko Hirose to be on the gentler side, but was wrong on both counts. This is a superb disc, the music overflows with melody and ebullience in a Tchaikovsky-like manner, and Hirose produces a wonderfully big sound, generous and commanding in terms of her virtuosic dispatch.
Eu também achei superb!
René Denon
M Balakirev – O pessoal do Departamento de Artes do PQP Bach Publishing House, solicito como sempre, eficiente como nunca, enviou esta ilustração para a postagem…
What I hear on the streaming isn’t what I hear in the hall!
Garrick Ohlsson ganhou o Concurso Chopin de Piano em 1970 e é conhecido como um excepcional intérprete da obra do compositor polonês, mas tem um repertório enorme, que inclui obras de Beethoven, Rachmaninov, Brahms, Granados, Scriabin, Bartók, Prokofiev, Liszt, entre outros.
Garrick foi o presidente do júri da edição deste ano do Concurso Chopin, cujo vencedor foi Eric Lu. A decisão certamente levantou mais comentários do que tem em geral acontecido. Talvez tenha sido o excesso de talentos ou mesmo outras as razões. O próprio Ohlsson explicou em entrevistas disponíveis na net as dificuldades de se chegar a um resultado em uma competição deste nível. Veja a frase que escolhi para iniciar a postagem.
Mas, hoje o dia é de Mozart, uma linda gravação feita ao vivo do Concerto para Piano No. 27, o último composto por Mozart. Pelo que entendi, Garrick Ohlsson foi chamado para substituir Igor Levitt como solista no concerto, devido a problemas de saúde deste último. Certamente seria uma noite mágica, mas, talvez, devido a isso, Garrick Ohlsson fez uma ótima apresentação – uma interpretação cristalina, muito bonita, mesmo aristocrática do último concerto de Mozart.
A orquestra e o regente Franz Welser-Möst, o atual diretor musical, certamente estavam em perfeita colaboração com o solista. A Orquestra de Cleveland e sua longa linhagem de famosos diretores musicais com ótimas gravações de obras de Mozart, mostra todas as suas qualidades.
Isso fica evidente na obra que completa o programa, a Sinfonia No. 29, obra que Mozart compôs entre seus 18 ou 19 anos, quando ainda morava em Salzburgo. Não há evidências que esta obra tenha sido apresentada em Salzburgo (eles não sabem o que perderam), mas em 1783, quando já morava em Viena, Mozart pediu a seu pai que lhe enviasse a partitura da obra e é bem possível que então a obra tenha sido apresentada. A interpretação aqui é do tipo ‘big band’, orquestra moderna, mas não se preocupe com isso, aproveite essa quase uma hora de ótima música.
“Ohlsson’s virtuosity here isn’t speed or extremes of technique but rather exceptional clarity. Even where the composer turns playful, as in the third movement, the pianist retains his stunning equanimity, allowing not so much as a single measure to sound muddy or hurried.”
Xiayin admirando o resultado do óleo de peroba usado pela turma do PQP Bach em seus pianos…
Este disco com música de Brahms é um dos melhores entre os que ouvi esta semana – vale a pena! Cheguei até ele depois de ler um artigo tratando de boas gravações do Concerto para Piano No. 2, de Tchaikovsky. Pois é, há mais concertos para piano de Tchaikovsky além do Concerto No. 1, mas isto é outra história .
Como estava dizendo, no tal artigo sobre o Concerto para Piano No. 2 de Tchaikovsky, a ‘brilhante’ pianista chinesa-estadunidense Xiayin Wang é mencionada. Ela gravou um disco para a CHANDOS com o este concerto e o Concerto de Khatchaturian. Eu decidi investigar o que havia disponível em meus fornecedores com a moça. Um bocado de música romântica virtuosística, Rachmaninov e Scriabin, além dos Concertos de Tchaikovsky e Khachaturian. Há também um surpreendente disco com obras de Enrique Granados, incluindo as maravilhosas Valsas Poéticas. Este disco ainda aguarda considerações, Granados é viciante, mas intoxicante também. Aí chegamos a dois discos com obras de câmara do romantismo alemão, quartetos e quintetos com piano de Schumann e de Brahms. O Schumann ainda está na fila e o Brahms está aqui.
O disco com as obras de Brahms é de 2008, do selo canadense MARQUIS, e traz dois dos três quartetos com piano de Brahms, os de Números 1 e 3. São 74 minutos de ótima música, apesar de que tive que mandar ver no botão de volume, mais do que usualmente é necessário. Neste disco, Xiayin Wang é acompanhada pelos rapazes do Amity Players.
Os quartetos com piano de Brahms estão bastante representados aqui no blog, em especial o de Número 1, que tem o inesquecível último movimento ‘cigano’, com certeza resultado de lembranças dos dias que Johannes passou em companhia do ‘outro’ amigo violinista húngaro, Eduard Reményi. Eu não deixaria de ouvir as gravações que podem ser encontradas aqui, aqui e aqui, gravações novas e jurássicas. Mas, hoje é dia de Xiayin Wang e seus parceiros do Amity Players. Eles estão soberbos, tanto no movimento cigano quanto no lindíssimo movimento lento do Terceiro Quarteto. Confira!
Trecho de uma crítica deixada na Amazon: The demand on interpretative skill [made by these works] is huge, and a mere possession of technique could never do justice to the pieces choosed in this album. Xia Yin Wang and the Amity Players did a more than splendid job
Trecho de uma crítica de outro álbum da pianista: ‘Introducing Xiayin Wang’ is recorded very quietly; one will need to crank it up to get the full effect. Nevertheless, Wang is quite an exciting player and has precisely those qualities that make the prospect of seeing this artist in concert appealing — breadth of repertoire, sensitivity of touch, and a beautiful overall sound.
The Nash Ensemble is still the best champion that any composer could hope to have
The Times
Membros do Nash Ensemble (mais atual)
Vocês sabem que quando dois ou mais ensejos se unem, o destino está conspirando para algo acontecer. No caso aqui, nada de muito importante, apenas mais uma postagem para o blog. Primeiro, música de câmara francesa – Gabriel Fauré o compositor. Eu já sou fã de carteirinha. Depois, os intérpretes são membros do Nash Ensemble, grupo musical inglês formado em 1964 por Amelia Freedman por alunos da Royal Academy of Music. Estabelecendo-se como uma ótima referência para música de câmara, com um enorme repertório que inclui música contemporânea, também devido à flexibilidade de suas possíveis formações, logo começou a fazer registros fonográficos. Inicialmente para o selo CRD, como o caso do disco da postagem, depois para Virgin Classics e Hyperion, como no recente lançamento que você poderá encontrar aqui.
O programa do disco é bem atraente, todas as peças são de composição de Fauré, mas cada uma leva uma combinação diferente de instrumentos, rendendo uma audição estimulante do disco. A Sonata para Violino No. 1 é um primor e abre os trabalhos com Marcia Crayford ao violino, acompanhada pelo pianista do grupo Ian Brown. Depois a pianista Susan Tomès (do Domus Quartet) interpreta a Suíte Dolly, para piano, que termina com o ótimo ‘Le Pas Espagnol’, um lindo ‘paso doble’. Completando o disco, o Segundo Quinteto com Piano, obra menos divulgada que os famosos Quartetos com Piano, com vários membros do grupo. Um disco despretensioso, mas excelente.
Membros do Nash Ensemble (perto da época da gravação do disco)
Composer Harrison Birtwistle comments: ‘Michael Tippett used to say that the world was divided between those on the side of the angels and those not. In the case of Amelia Freedman and her Nash Ensemble there is no question they stand well over the line of good and blessed with wings of gold’.
Asas de ouro!! Aproveite!
René Denon
Dolly!!
PQP Bach Quizz: Por que o grupo escolheu esse nome?
a) Por que as primeira gravações foram feitas em Nashville;
Eu te direi o que é liberdade para mim: não ter medo!
A pessoa que viria ser Nina Simone nasceu Eunice Kathleen Waymon, na Carolina do Norte, em 1933. Filha de uma ministra metodista e um faz-tudo, mostrou seus talentos musicais muito cedo (surpresa?) e desde os três anos tocava ao piano toda música que ouvia. Logo estava estudando piano clássico. Estava inclinada a tornar-se uma pianista, mas as indicações para escolas de música falharam e o destino seguiu seu curso. Para conseguir fechar as contas no fim do mês, buscou trabalho como pianista no Midtown Bar & Grill, em Atlantic City. Para garantir o trabalho, teve que cantar além de tocar o piano. Seu repertório de canções de Gershwin, Cole Porter, Richard Rogers, atraiu um fã clube de ouvintes. Seus voz rica e profunda, combinada com seu domínio do teclado, logo atraíram frequentadores de casas noturnas por toda a Costa Leste. Não demorou para surgirem propostas de gravações e assim nasceu Nina Simone (Nina de pequenina e Simone de Simone Signoret). Em 1959 foi lançado ‘Little Girl Blue’, álbum postado aqui pelo Ranulfus (link revitalizado, aqui) e o resto é história.
Nina Simone impaciente com a demora do fotógrafo enviado pelo PQP Bach em capturar uma boa imagem dela…
Eu escolhi postar um álbum com uma coletânea de sucessos, que eu amei, desde a escolha das músicas quanto ao cuidado com a qualidade sonora, necessária para fazer jus a uma cantora e musicista do nível dela. Sem contar também com a variedade de inspirações, pois que Nina Simone foi tão enorme, tão diversa que é impossível coloca-la em um ou mesmo alguns rótulos. Escolhi também uma álbum como foi lançado nos dias em que ela era artista do selo Philips, com o espetacular título ‘I Put A Spell On You’. Há algumas músicas repetidas nos dois álbuns, mas eu não ligo para isso. Para arrematar, escolhi mais quatro músicas que gostei muito, que considero bem significativas. São PQP Bach-bônus…
A maioria das canções foram gravadas em estúdio, mas algumas poucas foram gravadas em eventos e revelam como era significativa a química que ela tinha com o público. Uma delas é ‘I loves you Porgy’, de Gershwin, gravada no Carnegie Hall, assim como ‘Mississipi Goddam’. Temos aqui uma pequena amostra de como ela foi significativa na cultura estadunidense. A primeira canção é um clássico, ária da ópera Porgy and Bess, enquanto a outra canção revela o engajamento da artista com o movimento dos direitos civis.
É claro que o mais importante é que você mergulhe nos arquivos e descubra por si mesmo a riqueza e a variedade da arte de Nina Simone, mesmo numa pequena amostra como esta, mas não resisto à tentação de mencionar algumas das canções. ‘Feeling Good’ é uma dessas que todo o mundo conhece, inclusive meu embasbacado filho, ao chegar aqui em casa e ouvir o Denonsão mandando ver de Nina Simone. ‘Ne me quitte pas’ mostra que ela era realmente grande intérprete e ‘Lilac Wine’ uma que eu não conhecia e que me deixou de queixo caído.
As quatro extra canções eu escolhi um pouco por serem conhecidas mais na interpretação de seus autores originais, como as canções de Bob Dylan, uma delas associada ao movimento dos Direitos Civis (não é o ‘Blowing in the Wind’), assim como uma dos ‘bitos’, de George Harrison. Não podia ficar de fora a deliciosa ‘I want a little sugar in my bowl’, da própria Nina Simone, com toda a sensualidade que uma cantora pode colocar em uma linda canção, para arrematar a fatura. Essas faixas vieram do álbum Miss Simone – The Hits.
Como disse o Chat PQP Bach, Nina Simone tinha a reputação de ser volúvel, imprevisível, impaciente, muito introspectiva e às vezes mal-humorada. Era também muito ciumenta e ansiosa. Mas era, ao mesmo tempo, incrivelmente talentosa, inteligente, sincera e criativa. Era assim uma versão de saias estadunidense do Tim Maia. Nas décadas de 70 e 80 morou em muitos lugares, como Libéria, Barbados, Inglaterra, Bélgica, França, Suíça e Holanda. Em 1993 instalou-se em Carry-le-Rout, próximo a Aix-en-Provence, França, onde viveu até sua morte em abril de 2003. Segundo ela, sua função como artista é “…fazer as pessoas sentirem profundamente. […] E quando você capta a mensagem, quando conquista o público, você sempre sabe, porque é como eletricidade pairando no ar.” Espero que você goste da postagem e aprecie um pouco essa grandiosidade artística.
Aproveite!
René Denon
Agora que a postagem está pronta, podemos relaxar um pouquinho…
Johannes Brahms aquecendo o ambiente com suas notas musicais e seu charuto….
Schubert e Schumann compuseram mais (relativamente) Lieder do que Brahms, mas este disco nos dá uma excelente mostra do que ele produziu de melhor nesse gênero. Aproveito também para celebrar a carreira do barítono inglês Thomas Allen, que esteve muito ativo como cantor de ópera, música sacra e como recitalista desde os anos 80 até recentemente. Allen é particularmente identificado com papéis de óperas de Mozart, como o Don Giovanni.
Este disco foi gravado em outubro de 1989, um excelente momento em sua carreira. Além do acompanhamento ao piano pelo experiente Geoffrey Parsons, o disco de selo Virgin Classics conta com a direção artística do então já famoso Andrew Keener. Falando nisso, Andrew foi entrevistado na edição de abril deste ano de 2025 da BBC Music Magazine. Ele deixou uma frase bem marcante: Reading reviews for the first time was life changing. I fell madly in love with records. (Ler resenhas pela primeira vez mudou minha vida. Me apaixonei perdidamente por discos). Um disco como este da postagem revela esse cuidado e essa dedicação.
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Wir Wandelten, Op. 96 No. 2 (Hungarian Poem) – Traditional
Der Gang Zum Liebchen, Op. 48 No. 1 (Bohemian Poem) – Traditional
Komm Bald, Op. 97 No. 5 – Klaus Groth
Salamander, Op. 107 No. 2 – Karl von Lemcke
Nachtigall, Op. 97 No. 1 – Christian Reinhold
Serenase, Op. 70 No. 3 – Johann Wolfgang von Goethe
Geheimnis, Op. 71 No. 3 – Carl Candidus
Von Waldbekränzter Höhe, Op. 57 No. 1 – Georg Friedrich Daumer
Dein Blaues Auge Hält So Still, Op. 59 No. 8 – Klaus Groh
Wie Bist Du, Meine Königin, Op. 32 No. 9 (Persian Poem, Hafiz) – Traditional
Meine Liebe Ist Grün Wie Der Fliederbusch (From Junge Lieder), Op. 63 No. 5 – Felix Schumann
Die Kränze, Op. 46 No. 1 (Greek Poem) – Traditional
Sah Dem Edlen Bildnis, Op. 46 No. 2 (Magyar Poem) – Traditional
An Die Nachtigall, Op. 46 No. 4 – Ludwig Heinrich Christoph Hölty
Die Schale Der Vergessenheit, Op. 46 No. 3 – Ludwig Heinrich Christoph Hölty
In Waldeseinsamkeit, Op.85 No. 85 No. 6 – Karl von Lemcke
Você pode ouvir este disco em alguma plataforma de streaming, como a TIDAL.
Andrew Keener testando a sala de som do PQP Bach Classical Records…Sir Thomas Allen cantando uma seleção de Lieder de Schubert, Schumann, Brahms, Mahler e Hugo Wolf para o pessoal do PQP Bach
Se você não é um habituée do mundo da canção clássica, Lieder, um disco inteiro pode ser um pouco demais. Minha sugestão é começar aos poucos – ouça algumas canções, deixe que as suas melodias se imprimam na parte boa de sua memória. E, se você não fizer caso de minha intromissão, sugiro que não deixe de ouvir as seguintes canções: Wir Wandelten; Der Gang zum Liebchen; Der Salamander; Wie bist du, meine Königin; Meine Liebe ist Grün (esta, especialmente para os palmeirenses); Wiegenlied (que todo mundo já ouviu alguma vez…); Von ewiger Liebe; Botschaft. Depois, retorne e amplie sua experiência com outras canções. Espero que assim você possa adaptar para si a frase do produtor do disco, o ótimo Andrew Keener, dizendo: Me apaixonei perdidamente por Lieder!
Eu adoro o filme “Uma Janela Para o Amor” (A Room With a View), de 1985 – já lá se vão 30 anos – com o par Helena Bonham Carter e Julian Sanders. Nunca esqueci as cenas nas quais a Lucy Honeychurch toca trechos de sonatas para piano de Beethoven. Acho que a música desempenha papel relevante na história revelando-nos aspectos da personalidade da personagem representada então pela jovenzinha Helena Bonham Carter. Um verdadeiro furacão. Inspirado nessas imagens achei que seria interessante ouvir alguns discos gravados por mulheres com música de Beethoven. Ele interpretado por elas. É claro que há dezenas de postagens aí no seu PQP Bach mais próximo com essas características, mas não custa nada tentar algumas coisas novas.
Começamos com um disco que faz parte da gravação integral das Sonatas para Piano do famoso Ludovico pela pianista nascida na Ucrânia, hoje residente na Carolina do Norte, Valentina Lisitsa. Ela é, assim como a Lucy Honeychurch, um furacão… Já andou aqui pelas nossas colinas tocando Scriabin e Rachmaninov, em postagens de Playel e FDP Bach. No Instagram dela aparece o epíteto @queen_of_rachmaninoff.
Eu adorei o disco, especialmente a interpretação da Waldstein. As outras sonatas também estão muito boas, com a poderosa Appassionata brilhando também! Aproveite bastante esse disco e, quem sabe, você se interesse também pelo resto das sonatas.
Quase não há algum aspecto da vida espanhola, da música e dança popular espanhola, que não tenha encontrado seu lugar no microcosmo que Scarlatti criou com suas sonatas.
Domenico Scarlatti nasceu em 1685, o mesmo ano em que nasceram Bach e Handel, dois gigantes da música barroca. O pai de Domenico era um famoso compositor napolitano de óperas e Domenico seguiu os passos do pai, produzindo o mesmo tipo de música que ele. Mas, Domenico era um ás do teclado, especialmente do cravo. De 1720 em diante sua vida se entrelaçou com a Corte Portuguesa e ele tornou-se professor de música da princesa Maria Bárbara de Bragança, que se casou com o príncipe que se tornaria o rei Ferdinando IV de Espanha. De Portugal para Espanha, do fado para o flamenco, calles e castanholas, tudo combinando para a criação de 550 ou mais peças maravilhosas para instrumentos de teclado, que desde suas criações fazem parte do repertório de grandes cravistas e pianistas.
Muzio Clementi editou 10 dessas sonatas em 1791 (ano da morte de Mozart, Beethoven tinha 21 anos e ainda estava morando em Bonn). Carl Czerny (que foi aluno de Beethoven), Brahms e especialmente Chopin tinham grande admiração pelas sonatas de Scarlatti.
Horowitz, Ralph Kirkpatrick, Michelangeli são alguns nomes de uma geração de tecladistas que sempre mantiveram, cada um com seu talento e forte personalidade, vivo o interesse pela obra de Domenico. Eu admiro imensamente as gravações feitas na década de 1990 por Mikhail Pletnev (generosa seleção de 31 sonatas) e Ivo Pogorelich (15 belíssimas sonatas) que me deixaram Scarlatti-dependente. Essas e as (poucas, pena!) sonatas gravadas por Perahia no seu disco com obras de Handel e Scarlatti, outro disco antológico. Passei muito tempo ouvindo esses discos, de novo e de novo. Identificar as sonatas que aparecem em duas (ou mais) dessas gravações é uma diversão muito prazerosa.
Mas, hoje é dia de Alberto Urroz, o artista que escolhi para a postagem, parte da homenagem e a comemoração pelos 340 anos de nascimento do grande Domenico Scarlatti. Isso porque decidi buscar entre os lançamentos mais recentes gravações que exibissem um contínuo interesse pela obra dele e que mostrassem que as novas gerações de intérpretes estão a altura das grandezas dos intérpretes do passado, mesmo que recente.
Urroz dando um ‘test drive’ em um grand da coleção de pianos do PQP Bach Coop.
Escolhi este particular disco do pianista Alberto Urroz por vários motivos. O disco gravado pelo selo espanhol lbs Classical, foi gravado no Auditório Manuel de Falla, em Granada, entre 2 e 4 de setembro de 2017 e tem produção impecável. Som espetacular e livreto muito informativo em espanhol e inglês. A escolha cuidadosa das sonatas forma um conjunto muito representativo. As Sonatas K. 9, em ré menor, K. 96, em ré maior, K. 8, em sol menor, K. 213, em ré menor, aparecem também no álbum de Mikhail Pletnev e eu as amo. Dois exemplos de ‘pares de sonatas’: K. 208 e 209, em lá maior, e K. 132 e 133, em dó maior. A Sonata em lá maior, K. 208 é outras dessas figurinhas carimbadas, linda, é introspectiva e tímida, enquanto sua ‘irmã’, K. 209, é extrovertida, toda saída. Uma deve ter seguido para o convento enquanto a outra vivia nas ruas e feiras… Se você já é fã da obra de Scarlatti, vai se deliciar com o disco. Se você ainda não tem tanta familiaridade assim com ela, encontrará aqui um bom lugar para começar, uma oportunidade para travar conhecimento com música que vai lhe encantar por toda a vida.
Alberto Urroz’s interpretations of Scarlatti’s piano sonatas have been praised for their color, movement, and rhythmic sense, which are informed by dance and subtle variations in timbre.
As the artistic director of the Mendigorria International Music Festival in Spain, pianist Alberto Urroz has produced and created multidisciplinary programs featuring music, art, and dance. I mention this only because color and movement inform his Scarlatti playing, meaning that his rhythmic sense is informed by dance, and he discreetly varies his timbre to imbue repeated phrases with variety and to underline the composer’s tangy dissonances. […] In all, there’s lots of engaging music-making afoot, and if you share my weakness for investigating Scarlatti piano collections, give this release a spin.
I gave even more than one spin…
Aproveite!
René Denon
Tri-gênios da música barroca! Eles compravam suas perucas do mesmo ‘peluquero’…
Eu acho o concerto em ré menor a maior obra que alguém já escreveu e as grandiosidades estão ali, mesmo antes que o piano toque uma só nota, no grande tutti… Ele não é Beethoven, não é Mozart, não é Wagner, mas eu prefiro o (concerto) em ré menor mais do que qualquer concerto dos ditos grandes compositores.
[Dito por Kovacevich, que não é o pianista da gravação, em uma entrevista por ocasião do relançamento de suas gravações para a Philips]
Desafio Revelado
Pianista: Peter Donohoe
Orquestra: The Philharmonia
Regente: Yevgeny Svetlanov
O Ernesto apontou logo cedo pela manhã o correto nome dos artistas, mas deixei mais um pouco a brincadeira no ar. Posteriormente, luisque também indicou o nome do pianista… Mas, apesar da rapidez das descobertos, pelas mensagens do Adilson e do Otavio Ferraz, valeu a pena esticar um pouco mais a brincadeira, uma vez que ela pode ter provocado o ato de ouvir um pouco mais atentamente essa linda gravação. Fico muito feliz com as mensagens, mostrando o interesse pela postagem…
Quanto as cocadas, estão ainda em suspenso, pois assim como foi apontado pelo Adilson, pode ter havido intervenção da IA no lance, que está desde então submetido ao VAR do PQP Bach. Aguardem…
A imagem mais comum de Brahms é de um senhor barbudo, velhusco, que pelo menos para mim, lança uma sombra de seriedade sobre a sua música. Essa impressão é reforçada pelo título de algumas de suas peças, como o Réquiem Alemão e Quatro Canções Sérias. Para fechar o cortejo, uma nota outonal, nostálgica, deixada pelas suas últimas peças para piano e pelas obras de câmara com clarinete – que eu adoro, vamos deixar isso bem claro…
A música desta postagem é um contraste com essa imagem – é música que pulsa com vida, cintilante – reflete um momento de juventude e vigor, que eu percebi bem nesse disco.
Pensei bem pouco (como quase sempre) e decidi apresentá-la na série Desafios do PQP Bach, que tem andado meio esquecida. Só para lembrar nossos assíduos 32 leitores e informar aos eventuais recém-chegados ao blog, o desafio consiste em adivinhar o nome dos artistas que gravaram o disco. Essa brincadeira surgiu da ideia de ouvir a música, a interpretação, sem pré-julgamentos, sem a influência dos nomes na capa do disco. Assim mesmo como naquelas situações nas quais ligamos um rádio e pegamos uma música em andamento e ficamos a dar tratos na bola. Só que aqui, já antecipamos a música, apenas os artistas ficam anônimos. Mas, como acreditamos na importância em dar os créditos aos artistas, após um tempo da postagem no ar ou assim que algum arguto nauta revelar a correta identidade dos misteriosos artistas, editamos a postagem para que a verdade seja apregoada.
Então é isso, vocês já sabem, quem acertar os nomes dos artistas que apresentam aqui o grande e maravilhoso Concerto No. 1 para Piano de Brahms ganhará tantos downloads grátis quantos quiser, a tradicional cocada do PQP Bach (ao vencedor, as cocadas!) e a glória do reconhecimento de todos os nossos visitantes!!
Descrição da abertura do concerto em um site de uma famosa orquestra, lembrando as palavras de Kovacevich, no início da postagem: Tímpanos estrondosos, cascatas de trinados duplos e uma tensão harmônica opressiva sublinham a sensação de uma paisagem sonora titânica, quase primitiva, desde o início. Apesar de toda a sua autoconsciência em relação à tradição, Brahms apresenta suas ideias com confiança inabalável. Após essa exposição orquestral, o pianista solo entra com um novo tema suavemente melancólico. Brahms justapõe o cataclismo do material de abertura com um lirismo suavemente reflexivo — os extremos que definem esse movimento gigantesco — e, assim, intensifica o drama inerente de tragédia e consolação do concerto.
Grande jazz, uma gravação soberba e nos deixamos levar por essa música mágica que faz bem para o coração e para a cabeça. [Debernardi]
45:43 é pouco mais do que a duração de uma metade de um jogo de futebol. Se levarmos em conta a famosa cera dos ‘jogatores’ e os descontos com as consultas ao VAR, é bem menos do que meio jogo de futebol. Mas, esse disco com esse ‘Total Time’ é por demais precioso! Uma verdadeira joia, música para satisfazer e alegrar as mais diversas audiências. Eu tenho o CD desde os primórdios. Uma amiga recém-chegada de uma temporada de estudos na BigApple me emprestou alguns de seus CDs de jazz em troca de meus poucos de música clássica e eu me apaixonei. Assim, logo que tive alguma oportunidade, fui comprando minhas próprias cópias daqueles maravilhosos discos. Com o tempo, fui aprendendo mais sobre os músicos e sobre as histórias dos próprios discos. Esse aqui, “Nigerian Marketplace”, merece ter sua história mais divulgada, assim como ser ouvido por muitas pessoas.
Lá pelos anos 1970 Oscar Peterson era um pianista veterano e junto com um grupo de excelentes músicos, se juntou a Norman Granz no novo selo musical nomeado Pablo. O pessoal já havia trabalhado com ele, desde os dias da Verve. O disco desta postagem é fruto dessa colaboração e foi gravado ao vivo, no Montreux Jazz Festival, em 16 de julho de 1981. Veja o que Granz conta no livreto do álbum: Nos últimos dois anos, Oscar Peterson, entre aparições pessoais, vem compondo uma obra importante intitulada “ÁFRICA”. O que começou como uma canção em homenagem ao líder nacionalista negro sul-africano, Nelson Mandela, que estava preso, e sua esposa, Winnie, inevitavelmente se transformou em um épico de grande escala. Peterson chamou o primeiro tema, da suíte ainda inacabada, de “Nigerian Marketplace”. No verão passado, julho de 1981, ele se apresentou no Festival de Jazz de Montreux com Niels-Henning Ørsted Pederson no baixo e Terry Clarke na bateria e, como surpresa, incluiu esta composição em seu programa. O público ficou encantado com sua linha melódica assombrosa, e foi um sucesso estrondoso.
A propósito, Herbie Hancock se apresentou no programa da mesma noite, e acredito que o competitivo Peterson, inspirado pelo colega pianista que tanto o aprecia (e de quem ele gosta reciprocamente), fez uma apresentação magnífica.
Ao lançar este álbum do concerto, convenci Peterson a permitir a inclusão de “Nigerian Marketplace”, não apenas como uma prévia da suíte completa, mas como uma apresentação única por si só.
Nigerian Marketplace (O. Peterson)
Au Privave (C. Parker)
Medley: Misty (E. Garner) & Waltz For Debby (B. Evans)
Nancy With The Laughing Face (J. VanHeusen, P. Silvers)
Immaculate bass performance, possibly my favorite contrabass sound and playing out of any jazz recording, feels like this guy is effortlessly materializing bubbles of air out of his fingers just by waving his hand in the air.
Obviously peterson is amazing – who would have known ?! – and the drummer is very solid… but that bass man. This album used to be my favorite jazz album and though i don’t listen to it very often nowadays, i still enjoy the whole of its running time whenever i decide to revisit it. Definitely recommended.
A música de Martinů é sempre encantadora, elegante e atraente, lindamente construída e pontuada, um prazer de ouvir. De certa forma, ele é o Haydn do século XX.
Christopher Hogwood
Há tempos venho flertando com a música de Martinů, mas até agora não havia sido fisgado por um trecho que me fizesse parar tudo o que estivesse fazendo para ficar ouvindo. Talvez esse critério não tenha sido o mais adequado, mas finalmente encontrei um disco que tenho ouvido bem amiúde e que sempre me dá vontade de revisitar.
Como o interesse pela música, também aumentou a curiosidade sobre o autor, que tipo de vida levou, como eram as coisas nos seus dias. Entendi que foi músico desde criancinha, que compôs muito, nasceu onde hoje se chama República Checa. Foi compositor, professor de música e, na juventude, tocou violino na Orquestra Filarmônica Checa.
Em 1923 mudou-se para Paris e mudou seu estilo, incluindo o corte de cabelo, deixando o romantismo para lá. Sua música incorporou várias características da música francesa da época.
Com a Segunda Guerra e a invasão de Paris pelos alemães, Bohuslav mudou-se para os Estados Unidos, onde ensinou em Princeton e no Berkshire Music Center, em Tanglewood, Massachusetts. Ele alternou sua residência entre os EU e a Europa, passando um ano ensinando no Curtis Institute, e também na Academia Americana, em Roma. Seus últimos anos foram passados na Suíça, aos auspícios do mecenato do músico milionário Paul Sacher.
Bohuslav felizão por estar no PQP Bach!
O disco da postagem traz cinco peças, algumas mais curtas que outras, mas sempre muito interessantes. A Sinfonietta ‘La Jolla’ foi escrita para atender a um pedido da Musical Arts Society de La Jolla, na Califórnia. Esperava-se uma obra agradável e melodiosa e ele certamente atendeu ao pedido. Com três movimentos, sua orquestração conta com um piano que atua marcadamente especialmente ajudando no ritmo.
La revue de cusine é um balé com os utensílios da cozinha. Aqui temos quatro números formando uma suíte, da qual fazem parte um tango e um delicioso charleston.
A Toccata e due canzoni é a obra mais sombria do disco. Durante a composição dessa peça, em 1946, Martinů caiu de um balcão e machucou-se seriamente, batendo e fraturando a cabeça. A coisa foi séria e ele perdeu parte da audição, mas recuperou-se e voltou a compor. Entendi que ele, desde sempre, tinha enorme memória musical, sendo capaz de se lembrar de partituras completas. Assim, compunha e ‘ouvia’ música enquanto caminhava e pode ter se distraído na ocasião do acidente.
A peça Merry Christmas 1941 foi composta para piano e oferecida à família que o recebeu, com sua esposa, na chegada aos EU na fuga da Europa. Aqui ouvimos um arranjo para quinteto de sopros.
Os Tre ricercare foram escritos sob comissão para a Bienal de Veneza e a sua orquestração emprega dois pianos, cujo uso dão às peças uma textura bem especial.
The performances here sound thoroughly convincing: Hogwood had steeped himself in the Martinů idiom and trained his orchestra well. The recording is clear and there is nothing not to like. There are other performances of all the works here but not in this combination, and anyone wanting a disc of Martinů works other than the main symphonies and concertos will be well pleased with this.
Das três sonatas para piano que Schubert completou em seus últimos meses, a Sonata em dó menor, D. 958, parece lidar mais diretamente com o legado de Beethoven.
Guardem esse nome – Can Çakmur, pianista turco de mão cheia (desculpem o trocadilho…). A primeira vez que vi seu nome foi num disco da série Next Generation, mentorada por Howard Griffiths e que apresenta os concertos de Wolfi Mozart, não apenas os para piano, interpretados por jovens solistas, como Claire Huangci e o próprio Can Çakmur. Ele interpreta o Concerto No. 8, ‘Concerto Lützow’, no primeiro disco da série. Nomes tais como Mélodie Zhao, Jeneba Kanneh-Mason, Aaaror Pilsan, pianistas, além de Johan Dalene, violino, Nicolas Ramez, trompa, e Gabriel Pidoux, oboé, já estão presentes nos outros discos da série.
Mas, a postagem é a propósito de Can Çakmur que tem produzido para a BIS uma série de discos com foco na obra para piano de Franz Schubert. Cada disco da série apresenta peças de Schubert acompanhadas de alguma peça de outro compositor que foi influenciado por ele ou que o tenha influenciado. Eu tenho ouvido esses discos com algum interesse, mas há tantas coisas que chamam a minha atenção no universo da música gravada, que acabei deixando-os na pilha dos que pretendo ouvir mais vezes. No entanto, esse aqui eu achei uma ‘maraviglia’ logo de cara e o ouvi diversas vezes. Tanto gostei que resolvi postá-lo, independentemente de voltar a postar algum outro da série. A Sonata em lá maior é em três movimentos e tem toda a leveza e graciosidade do período clássico. As variações do Ludovico apontam mais para a Sonata em dó menor, D. 958, a primeira das últimas três grandes sonatas, em quatro movimentos. Uma obra prima!
Franz Schubert (1728 – 1828)
Piano Sonata in A Major, D. 664
Allegro moderato
Andante
Allegro
Ludwig van Beethoven (1770 – 1827)
Variations (32) on an Original Theme in C minor, WoO 80
Trechos da resenha ‘rasga seda’ feita por Patrick Rucker para a Gramophone
Can Çakmur’s ‘Schubert+’ series, begun in 2023 and combining works by Schubert with composers influencing or influenced by him, has now reached its fifth instalment. Here he presents the exquisite A major Sonata of 1819, while Beethoven’s C minor Variations serve as a sort of overture to the first of the three crowning sonata masterpieces of Schubert’s final year.
If the 32 C minor Variations are not Beethoven’s most profound, they nevertheless effectively explore seemingly limitless instrumental textures. […]This is a carefully conceived performance, brilliantly executed.
Schubert’s ‘little’ A major Sonata is only small in comparison to the huge A major Sonata, D959. Here it is given a rhetorically apt, pristine performance of extraordinary beauty and nuance. […]
I don’t know of another performance of D958 that so successfully subordinates Schubert’s occasionally awkward pianistic demands to the grand musical sweep of this monumental work. […]
Finally, one admires most Çakmur’s inerrant kinaesthesia, vibrant, breathtaking, yet somehow always tempered by love for the beauty revealed in his art. Wholeheartedly recommended.
We are Ensemble Odyssee, and we are eager to share our music with you.
[Frase do livreto]
Bach, assim como vários outros compositores do período barroco, usava peças compostas anteriormente para produzir novas obras, adaptando para outros instrumentos ou combinação diferente de instrumentos, revivendo assim peças que poderiam ficar esquecidas. Esse parece ter sido o caso dos concertos para cravo que ele produziu para as apresentações no Café Zimmermann, em Leipzig.
Este disco sugere um percurso inverso, com arranjos de alguns desses concertos para uma combinação de outros instrumentos solistas e formação camerística. O pequeno número de instrumentos, no entanto, não rouba da música toda a sua grandiosidade e fleuma assim como sua diversidade sonora. Eu adorei tudo, em especial os andamentos, que podem ser perigosamente rápidos no caso dos grupos historicamente informados.
Para fechar o disco, um arranjo do próprio João Sebastião como que para ilustrar que a prática é ‘legítima’ e que a música é verdadeiramente de Bach. Eu diria que nem precisava…
Johann Sebastian Bach (1685 – 1750)
Concerto in E-Flat Major, after BWV 1053, 169, 49,
(Arr. for Recorder & Orchestra by Andrea Friggi & Anna Stegmann)
[Allegro]
Siciliano
Allegro
Concerto in D Minor, after BWV 1052, 146,
(Arr. for Violin & Strings by Eva Saladin & Andrea Friggi)
Allegro
Adagio
Allegro
Concerto in G Minor, after BWV 1056,
(Arr. for Oboe & Strings by Georg Fritz & Andrea Friggi)
[Allegro]
Largo
Presto
Concerto in F Major BWV 1057, 1049,
(Arr. for Harpsichord, two Recorders & Strings by Johann Sebastian Bach)
[Allegro]
Andante
Allegro assai
Ensemble Odyssee
Anna Stegmann, Georg Fritz, flautas doce
Georg Fritz, Daniel Lanthier, oboés
Hanna Lindeijer, oboé da caccia
Eva Saladin, Ivan Iliev, Tomoe Badiarova, Elise Dupont, violinos
O pessoal do Ensemble Odyssee esperando o início da matinée
“The overall refinement of their musical expression, profound knowledge in the field of historically informed performance practice, flawless intonation and sense of subtle nuances, confirm that Ensemble Odyssee is clearly among the top in its field.” Karel Veverka, Opera Plus 2017
Você encontra inspiração em outras coisas além da música?
Talvez três ou quatro anos atrás eu teria dito não, ou dito algo normal, como ler livros ou assistir a filmes, mas hoje me inspiro cada vez mais na minha vida familiar. Meus filhos são muito pequenos e, nessa idade, você precisa de muita paciência, de certa forma, para criá-los e para se criar, e isso ajuda muito com a música. [De uma entrevista com BP]
O primeiro álbum de Bruno Philippe que eu conheci foi a gravação das Suítes para Violoncelo de Bach que eu gostei muito e postei. O disco foi preparado e gravado (como aconteceu com muitos artistas) nos dias da pandemia, período terrível que vivemos e, ao que parece, já é esquecido das gentes. Depois disso ouvi um disco no qual ele toca ao violoncelo acompanhado de piano a Sonata ‘Arpeggione’, de Schubert. Nesta empreitada ele se faz acompanhar do pianista Tanguy de Williencourt. Completando o disco um arranjo para violoncelo e piano da Sonata ‘Kreutzer’ (para violino e piano) de Beethoven. Este disco você pode encontrar aqui. Há um outro disco da dupla Philippe – de Williencourt tocando Brahms/Schumann, este postado pelo nosso highlander colaborador FDP Bach, aqui.
Demorei um pouco para ouvir esse novo disco do Bruno Philippe, pois a quantidade de novidades que quero ouvir é grande e ando também bem ocupado com outras coisas, esses dias. Vocês devem imaginar, os artistas e gravadoras não param de nos enviar álbuns novos e relançamentos esperando que venhamos a apresenta-los aos nossos ávidos leitores e seguidores, devidamente endossados pela nossa ilibada e meritória opinião. Mas, finalmente chegou o dia (ou melhor, a noite) deste maravilhoso disco, que me cativou desde o início, uma pecinha para violoncelo e piano de Fauré, o Romance. Você poderá perceber que o Bruno está em outro patamar no universo dos violoncelistas. Assim como foi o caso da ‘Kreutzer’, no outro disco, temos a belíssima Sonata para Violino de César Franck, em arranjo para violoncelo. Bruno toca também o Concerto No. 1 para Violoncelo de Camille Saint-Saëns e a linda Sonata (essa originalmente escrita) para violoncelo de Poulenc. Atuando como prelúdio, interlúdios e encore, temos mais algumas peças de Fauré e Saint-Saëns. Nas peças para violoncelo e piano, Bruno é acompanhado pelo já nosso conhecido Tanguy de Williencourt e no concerto a orquestra é a Frankfurt Radio Symphony regida pelo maestro Christoph Eschenbach.
Eu achei que o FDP Bach postaria esse disco, mas após ouvi-lo umas três ou quatro vezes nesses últimos dias, achei que vocês não poderiam esperar mais. Se bem que essa postagem está sendo escrita a dois terços passados do mês de agosto do Ano da Graça de 2025 e não sei que dia pode ser hoje, quando a postagem efetivamente indo ao ar do nosso primoroso blog. De uma forma ou de outra, espero que gostem do disco, pelo menos uma fração do que eu gostei…
GABRIEL FAURÉ (1845-1924)
1 | Romance Op. 69 3’34
CÉSAR FRANCK (1822-1890)
Violin Sonata FWV 8
A major / La majeur / A-Dur
(transcription for cello and piano by Jules Delsart)
2 | I. Allegretto ben moderato 6’20
3 | II. Allegro 8’31
4 | III. Recitativo-Fantasia. Ben moderato – Molto lento 7’39
5 | IV. Allegretto poco mosso 6’27
CAMILLE SAINT-SAËNS (1835-1921)
Cello Concerto No. 1 Op. 33
A minor / La mineur / a-Moll
6 | I. Allegro non troppo 6’00
7 | II. Allegretto con moto 5’34
8 | III. Molto allegro 9’07
GABRIEL FAURÉ
9 | Papillon Op. 77 3’07
FRANCIS POULENC (1899-1963)
Cello Sonata FP 143
10 | I. Allegro – Tempo di Marcia 5’56
11 | II. Cavatine 6’13
12 | III. Ballabile 3’28
13 | IV. Finale 6’45
GABRIEL FAURÉ
14 | Après un rêve Op. 7 No. 1 2’57
(transcription for cello and piano)
CAMILLE SAINT-SAËNS
15 | Le Cygne 2’56
(extr. Le Carnaval des animaux – transcription for cello and piano)
Bruno Philippe,cello
Tanguy de Williencourt, piano (1-5, 9-15)
Frankfurt Radio Symphony | Christoph Eschenbach, conducting (6-8)
This enterprising and beautifully recorded programme, combining elements of late-Romanticism with Neo-classicism, provides cellist Bruno Philippe with a suitably wide stylistic range. Indeed, his magnetic playing proves to be a triumph, not least because his approach is self-effacing in allowing the music to speak for itself, thereby creating interpretations that are both natural and subtle. […]
Philippe’s interpretation of Saint-Saëns’s First Cello Concerto revels in its underlying Classical restraint, while offering sufficiently theatrical playing in the bravura passages; the Frankfurt Radio Symphony Orchestra under Eschenbach combines wonderfully precise and expressive playing.
Even more alluring, however, is Poulenc’s Cello Sonata. This underplayed work is exceedingly difficult to make rhythmically neat and expressive – needing performers who are alert to its rapidly changing moods and virtuosic demands. Both artists ensure that every bar sounds amazingly fresh and spontaneous. [Trechos da crítica na revista The Strad]
From the overt Romanticism of Saint-Saëns to the nostalgia-laden modernity of Poulenc, Bruno Philippe takes us on a journey through (almost) a century of French cello music. Alongside Tanguy de Williencourt, he also performs the cello version of Franck’s famous Violin Sonata, one of the absolute peaks of nineteenth-century chamber music. [da página da harmonia mundi]
Dieter Ilg Trio – Ravel: Classical meets jazz in virtuoso reimaginings of Maurice Ravel’s masterpieces, rich with depth and musical freedom.
Como vocês sabem, aqui nas empresas do PQP Bach somos apresentados a diversas experiências musicais, a grande maioria completamente inúteis e desnecessárias, mas sempre com grande cuidado e tomadas todas as precauções para preservar os nossos colaboradores.
Uma dessas experiências consiste em selecionar discos só pela capa – fora dos padrões ‘clássicos’ – ou pelo nome exótico de algum músico. O disco dessa postagem foi selecionado por satisfazer os dois critérios: capa e nome do músico: Ilg, Dieter Ilg.
É verdade, o baixista já andou aqui pelas colinas do PQP Bach, acompanhando o excelente barítono Thomas Quasthoff em uma excursão pelo mundo do (gasp!) jazz! O link desta antiga postagem andou derrubado, mas já está novamente funcionando.
Eu me voluntariei para o experimento apostando no compositor, sou fã de Ravel, Bolero e tudo… E me dei bem, gostei do disco que foi ouvido no balanço da rede onde me esparramo depois do almoço. Hoje tivemos filezinhos de frango empanados em aveia com acompanhamento de abobrinhas verdes refogadas levemente. É claro, arroz e feijão com algumas poucas rodelas finas de paio, pimenta malagueta à vontade.
Rainer, Dieter e Patrice numa pausa após o almoço…
Bem, divago! Voltando ao disco – formação clássica de trio com piano (Rainer Böhm), bateria (Patrice Héral) e contrabaixo (Dieter Ilg). Pelos nomes você já vê que são todos baianos…
Uma delícia ficar ouvindo os temas do Maurice vestidos de roupas jazzísticas. O manjado Bolero, o Trio e o Quarteto e a deliciosa Sonatine. Sem esquecer o Jardin féerique e outras cositas más. Veja se você gosta da versão da peça que inicialmente inspirou o disco – a Pavana para uma infanta defunta.
Foi a “Pavane pour une infante défunte” que despertou o interesse de Ilg pelo maître francês. Ilg já havia ficado fascinado pela versão com Jim Hall e Art Farmer: “Quando eu buscava uma nova fonte de inspiração para o meu trio, a lembrança desta peça me retornou. Mergulhamos mais profundamente na obra de Ravel e encontramos uma ampla gama de abordagens interpretativas […]. Sua música é feita sob medida para nós!”
(da série “Gostei, postei!”)
Aproveite!
René Denon
PQP Bach Quizz: Qual desses músicos é um bamba do jazz?
Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:
Uma das coisas que me impede de ouvir mais obras barrocas com vozes e coro – oratórios, música sacra, óperas – é a duração dessas obras. Oratório tal de tal compositor, 3 CDs! Ópera deste ótimo compositor, mais outros tantos CDs. E tem a minha mania (cada dia mais fraca) de ouvir a obra toda. Imaginar essas peças completas no nosso dia-a-dia provoca, senão um choque cultural, pelo menos um pequeno abalo. Entender isso deve ser um bom tema para uma dissertação de mestrado em antropologia, talvez. O tempo que as pessoas dispunham para esses entretenimentos nos dias de suas criações, muito provavelmente era diferente do que dispomos hoje para os nossos próprios entretenimentos. Isso sem contar as infinitas possibilidades de que dispomos para as nossas escolhas de diversão.
Talvez isso explique o sucesso de lindas peças mais ‘curtas’ do período barroco, como o Glória, de Vivaldi, ou o Stabat Mater, de Pergolesi. Mas, divago… O que eu quero dizer é que achei muito interessante essa proposta do grupo Les Ombres, de montar um espetáculo, que posteriormente rendeu o álbum. Eles reuniram peças e trechos de obras de diferentes compositores do mesmo período cultural para montar uma ‘narrativa’ que justapõem o mito de Sêmele, que é muito bonito, com a (des)aventura de Ícaro.
Cena de uma das apresentações…
No caso de Sêmele, a história vai, mais ou menos, assim: ela teve um caso com Zeus (que surpresa!), o que gerou ciúmes em Hera, que resolveu vingar-se da rival. (Ciúmes, vingança… bom, não é?) Hera astuciosamente transmutou-se na aia de Sêmele e lhe sugeriu que pedisse ao deus que lhe mostrasse toda a sua ‘majestade divina’. O deus a alertou que isso poderia ser um pouquinho demais, mas ela, atiçada pelas pérfidas e invejosas (outro sentimento danado de bom nessas histórias) irmãs Ino e Agave, insistiu com o deus. Como Zeus estava sob juramento de cumprir a todos os desejos de Sêmele, foi obrigado a exibir seus raios e trovões, que acabou incendiando o palácio onde estavam e tudo o mais, matando a pobre Sêmele.
Zeus então retirou o feto calcinado fruto desse amor e o implantou em sua própria coxa, donde nasceu o deus Dionísio (Viva Bacchus, Bacchus viva!).
O mito de Ícaro é mais conhecido, pelo menos eu creio. Dédalo e seu filho Ícaro ‘voam’ da Ilha de Creta usando asas construídas pelo engenhoso Dédalo com cera e penas. A despeito dos conselhos do pai (desde aqueles dias, filhos davam trabalho) Ícaro voa perigosamente perto do Sol e acaba (a cera derrete, essas coisas…) com os burros n’água, mitologicamente.
O programa do álbum inicia com uma sinfonia de pífaros, de ótimo augúrio, seguido de uma suíte de danças, com uma ária, com trechos de Marais. A seguir, uma cantata de Destouches, ‘Sémélé’. Até aí, tudo em francês.
Quando entra Handel, percebemos na hora, um de seus lindos concerti grossi, seguido da belíssima ária de sua ‘Semele’, da qual ‘roubei’ dois versinhos finais e coloquei no início da postagem, a título de preâmbulo… Divino, para mim, vale o disco. Uma ‘aria’ para a flauta e, na sequência, uma cantata em italiano “Tra le fiamme’, sobre o mito de Ícaro, que termina com os seguintes versos, a título de ‘moral’:
Sì, sì, pur troppo è vero:
nel temerario volo
molti gl’lcari son, Dedalo un solo.
Para terminar, uma exibição de gala das habilidades do saxão, árias de Semele e Theodora, lindamente acompanhadas por orquestra. Maraviglia!
Marin Marais (1656 – 1728)
Sémélé (Excerpts From Opera, 1709)
Marche D’ægipans Et de Ménades
Ouverture
Air « Quel Bruit Nouveau Se Fait Entendre »
Deuxième Air Des Guerriers
Chaconne
André-Cardinal Destouches (1672 – 1749)
Sémélé (Cantata, 1719)
Récitatif « Déjà Par Un Serment Terrible »
Air « Ne Cesse Point de M’enflammer »
Récitatif « Aussitôt Le Bruit Du Tonnerre »
Air « Est-il Un Destin Plus Heureux »
Récitatif « Elle Finit, Elle Est Toute Embrasée »
Air « Régnez Sans Partage »
George Friedric Handel
Concerto Grosso No. 4 En Fa Majeur, HWV 315, Op. 3
Largo – Allegro – Largo
Andante
Allegro
Semele, HWV 58 (From Opera 1743)
Air « Oh Sleep »
Il Penseroso Ed Il Moderato, HWV 55 (1740)
Air « Sweet Bird » (instrumental)
Tra Le Fiamme, HWV 170 (1707)
Air « Tra Le Fiamme »
Récitatif « Dedalo Già »
Air « Pien di Nuovo E Bel Diletto »
Récitatif « Sì, Sì, Purtroppo è Vero »
Air « Voli Per L’Aria »
Récitatif « L’uomo Che Nacque Per Salire Al Cielo »
De uma entusiástica crítica amadora: Pour qui aime la musique baroque! Ce CD est magnifique, la musique de Marin Marais, coule comme un ruisseau! On a envie de le suivre! [Para quem ama música barroca! Este CD é magnífico, a música de Marin Marais flui como um riacho! Queremos segui-la!]
O já conhecido Departamento de Artes do PQP Bach Coop. enviou esse instantâneo de Marin Marais tomado em sua última visita aos nossos headquarters…
A grana que eles ganhavam com música ia quase toda para as parrucchieres…
Junto com outras duas sonatas para piano e o sublime Quinteto de Cordas, a Sonata para Piano em Lá maior D959 é uma das quatro obras-primas visionárias que Schubert concluiu em 1828 e que estariam entre as últimas coisas que ele escreveu.
[trecho do site da Hyperion]
A Sonata para Piano gravada neste disco foi composta com mais outras duas nos últimos meses de vida de Schubert, entre a primavera e o outono de 1828. Essas três obras são espetaculares, produção de um compositor que desenvolveu todos os seus talentos e estava no domínio completo de sua arte. Schubert tinha em alta conta as obras de Haydn e Mozart e veneração pela obra de Beethoven, de quem foi contemporâneo, mas sua obra, especialmente a música de câmara, Lieder e as obra para piano, revelam uma voz distinta, única.
É impressionante como o desenvolvimento de uma personalidade artística toma um próprio tempo para se estabelecer em diferentes artistas e como esses talentos individuais podem revelar-se de maneira proporcional ao tempo biológico de cada um deles.
Basta considerar o exemplo de Schubert, que atingiu essas alturas aos 31 anos, a poucos meses do fim, enquanto Beethoven, aos 31 anos tinha sob seu cinturão a Primeira Sinfonia e estava a um ou dois anos de apresentar a Segunda Sinfonia com grande parte de suas obras ainda por vir. Ou seja, se sua personalidade artística ainda não se revelou, pode ser que você ainda não tenha vivido o suficiente…
Schubert também tinha atenção para a música de compositores menos grandiosos. A coleção de Momentos Musicais segue a tradição de coleção de peças em voga naquelas dias, como os Impromptus de Jan Václav Voříšek. E não são menos adoráveis por isso.
Este disco é mais uma pérola na ótima discografia do pianista Steven Osborne construída na gravadora Hyperion, alguns deles disponíveis e resenhados no seu PQP Bach mais próximo…
Este é para ser ouvido e ouvido de novo, para grande deleite de vossas mercês…
‘This is a performance of D959 that was still resonating in my mind long after I’d finished listening: it’s that good. Superb Schubert from Steven Osborne, a new release from Hyperion—it’s my Record of the Week’ (BBC Record Review)
‘The Moments musicaux speak with a morning freshness throughout, each imbued with its own unmistakably individual identity’ (Gramophone)
Aproveite!
René Denon
Steven todo prosa com seu novo disco…
Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:
As gravações de Peter Serkin dos Concertos para Piano de Mozart com a English Chamber Orchestra, regida por Alexander Schneider, são muito elogiadas, principalmente por seu toque dinâmico e seguro e pela forte conexão que estabelecem entre os concertos e as óperas de Mozart
Esta postagem foi motivada por uma viagem ao centro do Rio de Janeiro (lá na Cidade, como dizemos aqui), desde o distante bairro de Camboinhas, que fica em Nikiti, do outro lado da baía (da Guanabara, pois é…)
Visitar lojas de discos usados – os sebos – está cada vez mais parecido com a ida de Harry Potter à Ollivanders, a loja de varinhas mágicas. Essa uma que visitei ontem fica escondida na sobreloja de um prédio que dá para uma travessa entre a rua do Ouvidor e a Sete de Setembro. Os CDs estão ainda lá, com todo o charme que costumavam ter, mas a profusão de sacolas e caixas com itens ainda misturados e não catalogados contrastam com a organização dos que ocupam as prateleiras e estantes presas às paredes da loja. Sinal de que muita coisa está chegando, algum colecionador pode ter batido as botas dia desses…
Foi num desses containers que avistei um dos três discos da postagem – Concertos para Piano de Mozart, os de números 18 e 19. Eu que sou fã de todos eles, mas em particular do 19, abri imediata investigação do item. O pobrezinho estava lá na caixa sufocado por gravações do Concerto para Piano de Tchaikovsky e vários Quadros de Uma Exposição…
Max e alguns de seus Grammy’s
O que me chamou a atenção em especial foi o sobrenome do pianista, pois Peter é filho de Rudolf Serkin, também pianista. Além disso, o produtor do disco é o legendário Max Wilcox. Nem todo mundo presta a atenção ao nome do produtor, mas esse papel costuma ser importante na (como posso dizer?) produção de um disco. E Max foi maximal, um nome que costuma garantir a boa qualidade do disco. Entre seus artistas teve Arthur Rubinstein (talvez o mais famoso), Eugene Ormandi, The Guarneri Quartet, Ivan Moravec. Mais recentemente Richard Goode e o Emerson String Quartet, entre outros.
Peter Serkin
Pois vejam, Peter Serkin foi um pianista que se destacou por ter música moderna em seu repertório, mas se negava a rótulos. Você poderá ouvi-lo tocando as Variações Goldberg (várias gravações), obras de Messiaen, Beethoven, Bartók. A orquestra das gravações é a English Chamber Orchestra e foi referência para música barroca e clássica antes da onda dos instrumentos de época, sempre muito, muito boa.
Alexander Schneider é um nome talvez menos conhecido, mas foi excelente músico, violinista, regente, educador e organizador de eventos. Era membro do Budapest String Quartet e atuou na organização assim como artista em festivais como o Casals Festival em Prades e Porto Rico, assim como no Marlboro Music Festival.
Eu gostei muito das interpretações dos concertos, mas em especial do movimentos lentos. Muito bonitos. Espero que você goste…
Uma nota especial para as ilustrações das capas desses três discos, que são parte de uma série de ilustrações produzidas em 1945 por Joseph Solman, a partir de um retrato de Mozart (provavelmente seu último, de 1789) feito por Dora Stock. Solman fez uma série de variações poéticas e brincalhonas buscando induzir uma atitude mais moderna em contraste coma as imagens do compositor naqueles dias. O retrato feito por Dora Stock está na abertura da nossa tradicional lista de faixas, nosso ‘programa’ da postagem.
Peter Serkin’s performances of Mozart’s Piano Concertos with the English Chamber Orchestra conducted by Alexander Schneider are highly praised, particularly for their dynamic and assured pianism, and the strong connection they draw between the concertos and Mozart’s operas.
De uma crítica na Amazon: These are among the best recordings of Mozart Piano Concertos 18 and 19, part of Peter Serkin’s collaboration with the English Chamber Orchestra and conductor Alexander Schneider. Peter Serkin is an excellent Mozartean, only 26 when this 1973 RCA recording was taped. Beautiful, clear analog sound, very balanced and maybe just a hint of congestion in FF piano chords, suggesting the limitations of analog recording technology.
Sacha Schneider e Pau Casals num bate-papo super animado com o pessoal do PQP Bach…
Meu objetivo sempre é permitir que o violão cante. Muitas coisas na música começam com uma canção. O violão é um intermediário entre o público e eu, permitindo-me cantar e transmitir emoção.
O selo amarelo sempre teve um guitarrista ‘da casa’, um artista capaz de tocar o Concerto de Aranjuez e peças solo, como Recuerdos de Allambra, com galhardia e competência – e extremo bom gosto – há que se reconhecer. Isso sem contar a música barroca para cordas pinicadas, como a obra de Bach, Weiss e os concertos de Vivaldi.
Passaram pela casa nomes de peso como Andrés Segóvia e Narciso Yepes. Este último, talvez, tenha deixado o legado gravado mais extenso. Lembro-me de um LP no qual ele interpreta apenas músicas de Tarrega, com uma capa linda, uma paisagem com um castelo em ruínas com o sol lhe batendo direto gerando cores de tons ocres e alaranjados. Isso se você desse sorte com a impressão da capa. Outros nomes menos ibéricos também aparecem na galeria dourada, como Siegfried Behrend, que eu não conhecia e foi uma grata surpresa, e o mais recente, Göran Söllscher, bem conhecido.
Mas hoje a coluna aqui é da renovação e das novidades. Trazemos uma das novas contratações do selo amarelo nessa seara – o violinista Raphaël Feuillâtre, nascido em Djibouti, que fica no nordeste da Costa Africana. Ele cresceu em Cholet, na França. Apesar de que seus pais não fossem músicos, cedo reconheceram seu talento e ele começou com guitarras de brinquedo. Iniciou a estudar música em Cholet, depois Nantes e finalmente Paris, onde estudou no Conservatório entre 2015 e 2020. Ganhou diversos prêmios e já tem seu lugar garantido no circuito de grandes eventos.
O álbum da postagem é abrangente, tem figurinhas carimbadas como Recuerdos de Allambra e Concerto de Aranjuez (com a Verbier Festival Chamber Orchestra regida por Gábor Tackács-Nagy) e algumas outras peças menos conhecidas. Por exemplo, algumas canções folclóricas catalãs, de Miguel Llobet, que foi aluno de Tarrega e professor de Segóvia. Adorei uma das Danzas Españolas de Granadas, com violino e guitarra – adaptação de Feuillâtre, da primeira adaptação de Fritz Kreisler, para violino e piano… Enfim, um delicioso pacote de belezuras que ainda traz o Capricho Árabe, de Tarrega, e a Torre Bermeja, de Albeniz.
Esse é o segundo disco de Raphaël Feuillâtre para a Deutsche Grammophon, com música de Espanha, que eu adoro. O seu primeiro tem como repertório música barroca e é excelente. Em breve no seu distribuidor PQP Bach mais próximo, não perdes por esperar.
Isaac Albéniz (1860 – 1909)
Suite española No. 1, Op. 47
Asturias. Leyenda (Transc. Feuillâtre for Guitar)
Francisco Tárrega (1852 – 1909)
Recuerdos de la Alhambra
Miguel Llobet (1878 – 1938)
Catalan Folk Songs
7, El testament d’Amelia
6, Lo fill del rei
13, Cançó del lladre
15, El noi de la mare
Isaac Albéniz
Espagne
Capricho Catalan (Transc. Feuillâtre for Guitar)
Enrique Granados (1867 – 1916)
Danzas españolas, Op. 37
10, Danza triste. Melancólica (Transc. Llobet for Guitar)
Joaquin Rodrigo (1901 – 1999)
Concierto de Aranjuez
Allegro con spirito
Adagio
Allegro gentile
Enrique Granados – Fritz Kreisler
12 Danzas españolas, Op. 37
5, Andaluza. Playera (Transc. Feuillâtre for Guitar & Violin)
Guitarist Raphaël Feuillâtre releases his album Spanish Serenades, on which he presents Spanish masterworks performed on the original 19th-century guitars of Albéniz, Solés, and Tárrega.
The guitarist has established himself as one of the world’s leading guitar virtuosos. Yet given his young age he approaches these famous pieces from a fresh and passionate perspective. Also a prolific scorer, Feuillâtre created his own new arrangements of many of the tracks, synthesizing them into a uniquely personal and passionate artistic style. As the artist notes, recording iconic Spanish works is a rite of passage for any leading guitarist.
Compostas quando o compositor tinha ainda apenas 23 anos, a coleção de 12 danças divididas em quatro volumes de três danças cada, oferece uma mistura da tradição musical espanhola incluindo as danças regionais, como Galante, Fandango, Aragonesa, Arabesca e outras mais.
Angela Hewitt é um fenômeno, todos nós sabemos. Ela gravou um disco com peças de Bach interpretadas ao piano para a Deutsche Grammophon que volta e meia está na agulha da minha vitrola. Não sei qual foi a história, talvez o selo amarelo goste que seus pianistas gravem apenas um disco com música de Bach – Argerich, Maria João, Pogorelich são exemplos – e moça queria muito mais… O fato é que ela mudou de gravadora, para a Hyperion, e todas as peças de Bach foram parar nesses maravilhosos CDs que tanto ouvimos – algumas delas gravadas duas vezes – depois que ela começou a usar os pianos da Fazioli. alem de gravar as peças de Bach, a incansável Angela gravou Beethoven, Debussy, Ravel e mais alguns outros compositores franceses, sempre com muita beleza, muita maestria.
Pois foi com esse panorama em mente que avistei este disco aqui na repartição – PQP Bach Corp – quase não a reconheci fantasiada de espanhola, assim com um ar de cigana. Eu que tenho predileção por esse repertório, agarrei-me logo ao disco, que desde então tem me dado muito prazer. As gravações são do tempo em que ela era canadense, nos remotos idos de 1994, feitas pela CBC Records, gravadora ligada à Radio Canada.
E, como os nossos assíduos leitores do blog sabem, o que eu gosto, eu posto. Eis aqui uma gravação das Danzas Españolas para fazer companhia àquela outra maravilhosa feita pela excelente Alicia de Larrocha.
Enrique Granados (1867 – 1916)
12 Danzas Espanolas , Op. 37
Minuetto
Oriental
Zarabanda
Villanesca
Andalusa
Rondalla Aragonesa
Valenciana
Asturiana
Mazurca
Danza Triste
Zambra
Arabesca
Quejas O La Maja Y El Ruisenor, Op. 11 No. 4
Queixas ou A Donzela e o Rouxinol
El Pelele, Op. 11 No. 7
O Manequim de Palha
Angela Hewitt, piano
Selo: CBC Records – MVCD 1074, Les Disques SRC – MVCD 1074
Texto da Página Gulbenkian Música: Angela Hewitt gravou as “Danças Espanholas” de Enrique Granados, com uma interpretação elogiada pela sua sensibilidade ao tom, contraste dinâmico, ritmo vibrante e feeling para a atmosfera. A crítica da Gramophone destacou sua técnica e expressividade, especialmente na execução de obras como “Goyescas”. O álbum, disponível em plataformas como Apple Music, foi descrito como belíssimo e tocado com um toque, clareza e expressividade de tirar o fôlego.
Eu concordo…
Aproveite!
René Denon
Enrique Granados
O disco também está na plataforma de streaming Tidal:
Meu pai era engenheiro ferroviário de nacionalidade francesa, e minha mãe era basca, de Saint-Jean-de-Luz, mas provavelmente de origem espanhola. Ela costumava me embalar para dormir cantando guajiras. Talvez seja por causa dessa ligação que me sinto tão atraído pela Espanha e sua música.
Maurice Ravel (ao repórter que o entrevistou em sua primeira visita à Madri)
Imogen Cooper é uma pianista inglesa conhecida por suas interpretações de Schubert e Schumann, apresenta-nos um disco com repertório mais associado a nomes como Alicia de Larrocha, Rafael Orozco, Joaquín Achúcarro ou, mais recentemente, Luis López. Mas, Imogen Cooper tem parte de sua formação musical na França, que tem pronta conexão com este universo Ibérico. Basta pensar em nomes como Aldo Ciccolini, que nasceu em Nápolis, mas tornou-se francês, e mais anteriormente, o pianista espanhol Ricardo Viñes, que foi o intérprete por excelência de peças como as deste disco.
Eu simplesmente adoro esse repertório e me deliciei (e continuo a desfrutar) do disco, que tem som e produção excelentes. A conexão França – Ibéria está viva neste disco e a boa novidade são as obras de Mompou, que eu conhecia menos e deixaram um ótimo gostinho de quero mais…
Faz tempo que os franceses descobriram a Ibéria…
Iberia y Francia
RAVEL
Pavane pour une infante défunte
Alborada del gracioso
FALLA
Homenaje: pièce de guitare écrite pour ‘Le Tombeau de Claude Debussy’
Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:
“Iberia y Francia”, de Imogen Cooper, é um álbum para piano que explora as conexões musicais entre a França e a Espanha. O álbum apresenta obras de compositores franceses como Claude Debussy e Maurice Ravel, além de compositores espanhóis como Isaac Albéniz, Manuel de Falla e Federico Mompou. A interpretação de Cooper dessas peças demonstra seu virtuosismo e suas habilidades líricas, reconhecidas internacionalmente.
Para uma experiência incrível de tocar piano e programar algo que incendeie a imaginação, sugiro que você defina seu padrão interno como “luxe, calme et volupté” e se prepare para a partida. Uma jornada maravilhosa o aguarda.
Aproveite!
René Denon
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Gustav Mahler sobre os textos reunidos em Des Knaben Wunderhorn
Mahler explicou: Os textos reunidos no Wunderhorn, por exemplo, não são poemas magistrais, mas blocos de granito dos quais quem quiser poderá formar o que bem desejar. Foi assim que Mahler preparou os textos retirados dessa coleção para compor suas canções, os encurtou, acrescentou repetições, reorganizou, reunindo mais do que um poema em uma só canção, acrescentou versos e com isso deu a certos textos novos sentidos.
Meu primeiro contato com a música de Mahler foi o disco ‘Mahler para Milhões’, uma antologia de trechos da Integral das Sinfonias gravada por Rafael Kubelik. Duas faixas desse disco são canções compostas sobre textos encontrados na coleção de poemas folclóricos reunidos na coletânea intitulada Des Knaben Wunderhorn editada por Clemens Brentano e Archim von Arnim entre 1805 e 1808. Essas poesias rústicas inspiraram vários compositores como Mendelssohn, Schumann, Brahms e outros, mas com Mahler foi um pouco diferente. Ao longo de 14 anos, entre 1887 e 1901, ele compôs 24 canções com letras construídas de textos dessa coleção. Um percurso memorável que transcendeu a canção e permeou seu universo sinfônico.
Vamos à postagem. Como adoro essas canções, venho colecionando diversas gravações, tanto das 12 canções que foram orquestradas, ou 15, se levarmos em conta mais três que estão incorporadas às sinfonias e das 9 primeiras que ficaram na forma voz acompanhada por piano. Digo ficaram porque as canções do Wunderhorn foram sempre compostas originalmente para voz e piano e de um ponto em diante Mahler passou a escrever uma versão orquestral para o acompanhamento. De qualquer forma, esse conjunto foi sendo publicado, mas Mahler não teve a intensão de que formassem um ciclo, como o Dichterliebe de Schumann ou o Winterreise de Schubert.
Hoje vamos ouvir (postar) duas gravações nas quais as canções são interpretadas com duas vozes acompanhadas por orquestra. Há gravações de todos os jeitos, inclusive uma só voz e acompanhamento de piano. Hoje ficaremos no conjunto daquelas cujo acompanhamento é feito por orquestra.
Nas duas gravações escolhidas as orquestras são de rádios alemãs, uma delas com dois cantores que podemos chamar de lendas do Lieder: Dietrich Fischer-Dieskau e Brigitte Fassbaender. Eles são acompanhados pela Rundfunk-Sinfonieorchester Saarbrücken regida por Hans Zender, numa gravação feita em abril de 1979. Eles cantam 11 canções ao longo de 45 minutos intensos. Do ‘canone´das 12 Wunderhorn com acompanhamento de orquestra só ficou de fora uma cançãozinha intitulada Verlor’ne Muh’. O regente é Hans Zender, também compositor, arranjou o Winterreise para voz e orquestra e foi bem identificado com música contemporânea. Este é o segundo disco de um álbum duplo, parte de uma coleção de CDs lançada em sua homenagem, reunindo música de compositores clássicos e contemporâneos. O outro disco traz a Nona Sinfonia de Mahler, mas hoje é dia de Knaben Wunderhorn.
Michael Volle
O outro disco da postagem tem cantores menos estelares, mas não menos maravilhosos, diferentes. Temos as 12 canções usualmente listadas como o ‘ciclo’ Wunderhorn e mais duas das que habitam o universo sinfônico: Urlicht, da Segunda Sinfonia, e Das himmelische Leben, movimento final da Quarta Sinfonia. Esse generoso disco traz também um excelente texto no libreto. Aqui a orquestra é mais conhecida, pelo menos eu acho, a Gürzenich-Orchester Köln, regida por Markus Stenz. Eles gravaram um ciclo das Sinfonias de Mahler. Eu não ouvi os discos, mas deve ter pelo menos boas gravações, contando com o que eu ouvi aqui e com a tradição e experiência do conjunto.
Se você já tem alguma experiência com a música de Mahler e, em particular, com as canções do Wunderhorn, sabe que vai encontrar um universo sonoro cheio de trechos de fanfarras e marchas militares, tão significativas para o compositor, e personagens fantásticas. Soldados, fantasmas, crianças famintas, animais, santos e pecadores. Esse clima de lendas e mensagens subliminares merece audição cuidadosa e um certo esforço para entender a trama de cada um desses microuniversos pode render mais prazer na audição.
Eu gosto muito de canções como Des Antonius von Padua Fischpredigt que conta como os ‘peixes’ prestam muita atenção ao sermão do santo, mas ao fim do mesmo retornam às suas mesmas práticas e rotinas, assim como nós mesmos. Adoro Rheinlegendchen, com o peixe com o anel na barriga. E adivinhem quem encontrará o anel? E como ele foi parar ali? Como termina a historieta?
As canções com soldados, temas de guerra e de separações de casais por essas razões fazem um grupo entre elas, sendo que Revelge e Der Tamboursg’sell são as últimas canções do Wunderhorn a terem sido compostas, publicadas em conjunto com as canções sobre poemas de Rückert. Essas canções sumarizam essa fase e encerram os 14 anos nos quais Mahler lidou com esse material.
Voltaremos ao tema do Wunderhorn em próximas postagens.
The Wunderhorn songs contain a partnership of Brigitte Fassbaender and Dietrich Fischer-Dieskau that has to be a recommendation in itself. […] This release is especially valuable in that it’s the only chance we have to hear this incomparable artist in these songs. It’s also good to see this performance correctly assigns one singer to each song since most recordings make the “dialogue” songs duets which was a practice Mahler never sanctioned. One song usually included in performances, “Verlor’ne Muh”, is missing.
Dietrich Fischer-Dieskau
Fischer-Dieskau gives a stunning performance of “Revelge”, full of a character and experience. Likewise in “Der Tambourg’sell” he’s the complete Mahlerian in covering every aspect of these bittersweet poems. […] Fassbaender is the antidote to singers like Janet Baker for Wyn Morris. In fact she’s very much the counterpart to Fischer-Dieskau in pointing up the words clearly and with total understanding. In “Lob des hohen Verstandes” she shows a nice line in humour […]. Then in “Wo die schonen Trompeten blasen”, sung by Fassbaender alone, the depth she brings stays long in the mind. […] The vocal partnership for the Wunderhorn songs is absorbing and rewarding along with Zender’s fine accompaniment of it.
Tony Duggan
Zender conseguindo um ‘crescendo’ da PQP Bach SinfoniettaChristiane Oelze
Michael Volle makes a strong impression. He is characterful in ‘Des Antonius von Padua Fischpredigt’, an orchestral expansion of which found its way into the Second Symphony. He’s even better in the military songs, such as ‘Die Tambourgsell’, the tale of the drummer boy awaiting execution – Stenz’s accompaniment to this is excellent too. Volle also excels in ‘Revelge’, which he sings with fine swagger and bravado; the orchestral scoring is, once again, very well touched in, not least in the ghostly prelude to and accompaniment of the last stanza. Volle also sings ‘Der Schildwache Nachtlied’; here I admired the contrasts he brings to the vocal line and his impressive top register.
Christine Oelze sings expressively, though here and elsewhere I didn’t find that her words were always clear – and I’m not talking just about when she’s singing in her top register. She’s suitably pert in ‘Wer hat dies Liedlein erdacht?’ and, singing in duet with Volle, she catches the playful side of ‘Verlor’ne Müh!’ very well. Although she doesn’t have quite the mezzo timbre she is more convincing in ‘Urlicht’ than I would have expected a soprano to be[…].
On the evidence of what I’ve heard so far Markus Stenz is a pretty good Mahler conductor – and, at his best, in the Third and Fifth Symphonies, a very good one indeed – and he’s working with a very good orchestra.
John Quinn
Markus Stenz
Caso você tenha acesso às plataformas de distribuição de músicas, aqui está uma possibilidade para a audição:
Brigitte Fassbaender
The Wunderhorn songs contain a partnership of Brigitte Fassbaender and Dietrich Fischer-Dieskau that has to be a recommendation in itself. […] This release is especially valuable in that it’s the only chance we have to hear this incomparable artist in these songs. It’s also good to see this performance correctly assigns one singer to each song since most recordings make the “dialogue” songs duets which was a practice Mahler never sanctioned. One song usually included in performances, “Verlor’ne Muh”, is missing.
Fischer-Dieskau gives a stunning performance of “Revelge”, full of a character and experience. Likewise in “Der Tambourg’sell” he’s the complete Mahlerian in covering every aspect of these bittersweet poems. […] Fassbaender is the antidote to singers like Janet Baker for Wyn Morris. In fact she’s very much the counterpart to Fischer-Dieskau in pointing up the words clearly and with total understanding. In “Lob des hohen Verstandes” she shows a nice line in humour […]. Then in “Wo die schonen Trompeten blasen”, sung by Fassbaender alone, the depth she brings stays long in the mind. […] The vocal partnership for the Wunderhorn songs is absorbing and rewarding along with Zender’s fine accompaniment of it.
Tony Duggan
Zender conseguindo um ‘crescendo’ da PQP Bach Sinfinietta…
Michael Volle makes a strong impression. He is characterful in ‘Des Antonius von Padua Fischpredigt’, an orchestral expansion of which found its way into the Second Symphony. He’s even better in the military songs, such as ‘Die Tambourgsell’, the tale of the drummer boy awaiting execution – Stenz’s accompaniment to this is excellent too. Volle also excels in ‘Revelge’, which he sings with fine swagger and bravado; the orchestral scoring is, once again, very well touched in, not least in the ghostly prelude to and accompaniment of the last stanza. Volle also sings ‘Der Schildwache Nachtlied’; here I admired the contrasts he brings to the vocal line and his impressive top register.
Christine Oelze sings expressively, though here and elsewhere I didn’t find that her words were always clear – and I’m not talking just about when she’s singing in her top register. She’s suitably pert in ‘Wer hat dies Liedlein erdacht?’ and, singing in duet with Volle, she catches the playful side of ‘Verlor’ne Müh!’ very well. Although she doesn’t have quite the mezzo timbre she is more convincing in ‘Urlicht’ than I would have expected a soprano to be[…].
On the evidence of what I’ve heard so far Markus Stenz is a pretty good Mahler conductor – and, at his best, in the Third and Fifth Symphonies, a very good one indeed – and he’s working with a very good orchestra.
Ao ouvir esse disco (com muito prazer) a palavra groovy me veio à mente. Eu realmente não sei se o termo é adequado, mas para mim, ficou sendo. Groovy no sentido descolado, com um certo senso nostálgico, mas de certa forma atual – ou melhor – atemporal.
Não adianta insistir com as palavras, creio que o ideal é ouvir o disco – que é bem curtinho – e ver se você concorda comigo, se me entende.
Eu gosto dessa combinação de dois saxofonistas, um propondo um tema, uma ideia para o outro tomar e elaborar, ou quando ambos atacam o tema juntos, como é o caso bem na abertura do disco, na primeira faixa, chamada Bunny.
Hodges
O disco vai assim, uma mais levada, outra mais mela-cueca, como descreveria o síndico, mas tudo groovy!
Gerry Mulligan é uma figura já do século XX e foi primariamente um saxofonista, do cool jazz, mas também tocava clarineta e piano, era compositor e fazia arranjos. Atuou ao lado de nomes lendários como Miles Davis e Chet Baker.
Johnny Hodges era mais velho do que Mulligan e ficou conhecido por atuar como solista no grupo de Duke Ellington, mas teve também sua própria banda e a sua própria história.
Sobre Johnny Hodges: In addition to the singing clarity and mellowness of Hodges’ tone, his playing is also characterized by consummate poise. […] A corollary of Hodges’ poise is his capacity for total relaxation – floating, flawless time, fully developing ideas; an equal ease in ballads and swings.
Como eu disse: groovy!
Aproveite!
René Denon
PQP Bach Quizz: Por que a faixa 5 é intitulada 18 Carrots for Rabbit?
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Imagine um amante da música e de suas gravações que tenha ficado por um bom tempo sem acesso às informações e lançamentos musicais. Há vários cenários nos quais tal situação poderia ter ocorrido. O cara poderia ter ficado algumas décadas em uma ilha isolada de tudo e todos, como o Chuck-Tom Hanks em Cast Away (O Náufrago) em companhia apenas de uma bola de basquete e só nos dias de hoje tenha retornado à chamada ‘civilização’. Outra possibilidade é uma situação semelhante à vivida pelo general do ‘Me tira o tubo!’, personagem do Jô Soares, que sai do coma depois de décadas e se depara com o cenário da música gravada atual. Esse nosso fictício amante dos discos ficaria definitivamente confuso ao se deparar com o lançamento dessa postagem.
Como assim? John Eliot Gardiner no selo Deutsche Grammophon, não no Archiv Produktion? E regendo uma baita orquestra com instrumentos modernos? Sem contar que essa orquestra, a tal de Amsterdã, que grava para o selo Philips! E o repertório, Sinfonias de Brahms, não é música antiga ou barroca!
Realmente, o lançamento reúne as quatro sinfonias de Brahms numa ótima gravação, uma excelente maneira de se ouvir as sinfonias do Hannes. A orquestra é um primor e John Eliot, que andou com sua imagem desgastada pelo episódio de pugilismo fora dos ringues, garante andamentos ágeis e ótima articulação de tudo.
Ainda bem que Gardiner se retratou, pediu desculpas ao alvo de suas ‘manitas de piedra’ e agora tenta se enquadrar.
Eu ouvi essa gravação novinha das sinfonias de Brahms comparando com um dos ciclos do ‘inominável’ HvK, o segundo que ele gravou com a Berliner Philharmoniker, no fim da década de 1970. As gravações de Karajan foram muitas e tiveram muitas encarnações nos LPs e nos CDs, mas há um bom mapa que permite entender a cronologia e identificar esse ou aquele particular lançamento. Para isso, faça uma visita à página do blog IONARTS, aqui.
Não posso dizer que gostei mais desse do que daquele, acho os dois ciclos excelentes. Mas, se me torcerem o braço, escolheria a gravação recente.
“Can I protest my innocence?” John Eliot said. “I can be impatient, I get stroppy, I haven’t always been compassionate. I made plenty of mistakes in my early years. But I don’t think I behaved anything like as heinously as you have heard. The way an orchestra is set up is undemocratic. Someone needs to be in charge.”
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Symphony No. 1 in C minor, Op. 68
Un poco sostenuto – Allegro
Andante sostenuto
Un poco allegretto e grazioso
Adagio – Più andante – Allegro non troppo, ma con brio – Più allegro
In these performances, Gardiner manages to have his period-instrument cake and enjoy his modern-instrument refinement in a way that is totally convincingThe Guardian
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Symphony No. 1 in C minor, Op. 68
Un poco sostenuto – Allegro
Andante sostenuto
Un poco allegretto e grazioso
Adagio – Più andante – Allegro non troppo, ma con brio – Più allegro
The playing of the Berlin Philharmonic remains uniquely cultivated, the ensemble is finely polished, and yet there is no lack of warmth or impetus throughout the set. — Penguin Guide, 2011 edition
Aqui outra ótima opção para as sinfonias do Hannes:
‘When Benjamin Grosvenor finally makes his first entrance, it proves well worth the wait, and his playing beguiles from the off; as the dynamics sink, his lines are full of poetry but they unfold with utter naturalness.’
[Gramophone, sobre o disco com os concertos]
A música de Chopin pode ser bem mal compreendida. Algumas de suas peças sofrem de superexposição – todos os pianistas, profissionais e (especialmente) amadores, experimentam nela as suas mãos, nem sempre com bons resultados. Assisti a um documentário sobre o que já não mais lembro (perdoem-me, isso definitivamente foi no século passado) no qual a trilha sonora eram valsas de Chopin, tão maltratadas, que precisei dar uma voltinha até o filme principal começar.
Um dos riscos é a banalização, como foi o caso a que me referi, ou pode ser o excesso de ‘interpretação’, derramamento de doçuras ou romantismo desmesurado. Mesmo assim, a lista de gravações dos concertos para piano, como poderia dizer Leporello, ‘ma in CDs son già mille tre!’. Eu mesmo tive em CD apenas uma gravação, Perahia / Orquestra de Israel / Mehta.
O Noturno em mi bemol maior, Op. 9, 2 foi tanto usado em comerciais que se fosse um sapato estaria em estado lastimável.
Mesmo assim, com todos esses riscos, sou fã da música de Chopin de carteirinha e investigo sempre as novas gravações de suas peças. O primeiro disco de suas peças que ouvi à exaustão foi gravação de Arturo Benedetti Michelangeli com algumas mazurcas, um prelúdio, a Balada que eu mais gosto e o segundo Scherzo.
Ouvi tantas coisas boas sobre a gravação dos concertos pelo Benjamim Grosvenor, o primeiro dos discos da postagem, que acabei ouvindo-o um bom número de vezes. Se não o havia postado antes, não foi por falta de insistência do pessoal da repartição. Há aqui quem ame essas obras de paixão. Quando me deparei com esse outro recente disco, com as duas sonatas e mais algumas coisas, inclusive a balada que eu amo, entendi que a hora havia chegado. Assim, aqui está um pacote de Chopin para ninguém botar defeito. Como diria o Alf…
[Grosvenor’s] lines are full of poetry but they unfold with utter naturalness. Chan follows his every gesture unerringly – there’s no doubting the musical chemistry at play here…Grosvenor has also been blessed with a very fine instrument and a fabulous recording. It’s the kind of disc that makes you rethink these works and appreciate them all over again. And let’s hope that this is the start of a wonderful recording partnership with Elim Chan. Gramophone 2020
Frédéric Chopin (1810 – 1849)
Piano Sonata No. 2 in B flat minor, Op. 35 ‘Marche funèbre’
Grave – Doppio movimento
Scherzo – Più lento
Marche funèbre. Lento
Finale. Presto
Berceuse in D flat major, Op. 57
Berceuse
Ballade No. 1 in G minor, Op. 23
Ballade
Nocturne No. 15 in F minor, Op. 55 No. 1
Nocturne
Nocturne No. 16 in E flat major, Op. 55 No. 2
Nocturne
Piano Sonata No. 3 in B minor, Op. 58
Allegro maestoso
Scherzo. Molto vivace
Largo
Finale. Presto non tanto
Benjamin Grosvenor (piano)
Recorded: 2024-09-26
Recording Venue: Lady Stringer Studio, Garsington Opera, Buckinghamshire
Benjamin Grosvenor explores the depths of Chopin with new album featuring Piano sonatas 2 & 3. Benjamin’s ninth album for Decca classics features two of Chopin’s most profound and contrasting works. Written nearly a decade apart, these masterpieces showcase the range of Chopin’s emotional and musical brilliance. Alongside the sonatas are three shorter works: the dramatic Ballade No.1, the peaceful lullaby Berceuse, and two Nocturnes.
Benjamin Grosvenor explora as profundezas de Chopin em um novo álbum com as sonatas para piano 2 e 3. O nono álbum de Benjamin para clássicos da Decca apresenta duas das obras mais profundas e contrastantes de Chopin. Escritas com quase uma década de diferença, essas obras-primas demonstram a amplitude do brilhantismo emocional e musical de Chopin. Além das sonatas, há três obras mais curtas: a dramática Balada nº 1, a serena canção de ninar Berceuse e dois Noturnos.