Felix Mendelssohn Bartholdy (1809-1847) – Viola Sonata

Gostaria de contribuir nesta homenagem também. Mendelssohn é um dos meus compositores preferidos e sua fase de meninice é um deleite. As dozes sinfonias para cordas, escritas quando Mendelssohn ainda fazia xixi na cama, deixariam o menino Mozart envergonhado. Não ficam para trás os dois concertos para dois pianos, o concerto para piano e violino, os quartetos de cordas, o primoroso octeto para cordas (já comentado por aqui). Que adolescência produtiva e promissora! Infelizmente o mestre não teve o mesmo pique e entusiasmo quando chegou à fase adulta. Mas mesmo assim, nos deixou pérolas inesquecíveis também nessa fase (quartetos, trios para piano, oratórios Elias e Paulus, sinfonias, concertos,…).

Trago aqui uma pequena jóia escrita por um garoto de 15 anos de idade: a quase desconhecida sonata para viola e piano (1824).

CDF

Faixas:

01 – Adagio-allegro
02 – Menuetto (allegro molto)
03 – Andante con variazioni

Ulrich Koch (Viola)
Roland Keller (piano)

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Kaija Saariaho (1952 – ): Notes on Light, Orion, Mirage

“Finalmente”, alguém dirá, “algo novo nessas plagas”. É verdade, as composições são bem recentes e escritas pela compositora finlandesa Kaija Saariaho, considerada uma das mais importantes compositoras do momento. Nascida em Helsink em 1952 e graduada em composição em 1980. Escreveu música eletrônica nos anos 1980 como ninguém, fazendo também uma mistura com instrumentos clássicos. Ela tem sido muito bem recebida pelo público, apesar dela não fazer concessões. Sua música lembra muito o som “New Age”, mas claro, muito superior.

A primeira obra do disco é um concerto para violoncelo chamado Notes on Light (2006). O concerto tem 5 movimentos, cada um com um título inusitado: “ secret translucent”, “on fire”, “awakening”, “eclipse” e “heart of light”. Apesar de não conter nada realmente surpreendente em sua linguagem, essa peça é muito bem escrita, transportando-nos para um outro mundo. Orion é uma obra orquestral escrita por alguém com grande domínio e talento.

Mas a melhor peça do disco é Mirage (2008) para soprano, violoncelo e orquestra. Karita Mattila é realmente uma das mais importantes sopranos de todos os tempos, e aqui ela simplesmente brilha. Só esta peça já vale a compra deste disco.

Enfim, não podemos ficar tão pessimistas assim com relação à música da nossa época.

CDF

Disco:

1. Notes On Light – Translucent, Secret
2. Notes On Light – On Fire
3. Notes On Light – Awakening
4. Notes On Light – Eclipse
5. Notes On Light – Heart Of Light
6. Orion – Memento Mori
7. Orion – Winter Sky
8. Orion – Hunter
9. Mirage

Anssi Kartunnen (cello),
Karita Mattila (soprano)
Christoph Eschenbach (Conductor), Orchestre de l’Opéra de Paris

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John Cage (1912 -1992) – Imaginary Landscape

Cannon

Já recebi críticas muito convincentes sobre a ausência de música “nova” nas minhas postagens. Tem dois motivos para isso: primeiro, o meu conhecimento limitado e o segundo, menos nobre, meu desinteresse. Já estive em concertos pelo mundo (poucos, confesso) dedicados a jovens compositores. O enfado foi grande. Um mistura de música tonal com atonal, eletrônica ou neo-romântica, nada realmente “novo”. Vi um concerto que a pianista, no meio da cadenza, entrava com um martelo dentro do piano. Mas tirando o belo corpo e as marteladas, não guardo mais nada na memória. Noutra ocasião um violoncelista usava seu instrumento como percussão numa sonata. As cordas quase desnecessárias. É verdade que tenho ouvido coisas interessantes na chamada música espectral e quase geniais na música eletrônica, mas nada além das possibilidades alcançadas pelo velho e defunto Stockhausen. Há vários anos a música “nova” não vem mudando.

Quando disseram a John Cage que qualquer um poderia ter escrito 4´33´´, ele respondeu: “É verdade, mas fui eu que fiz”. Após a morte de Beethoven, o compositor devia abraçar a originalidade como requisito básico; após Cage, a transgressão envelheceu. A idéia do progresso na música também caiu por terra. No entanto, hoje encontramos muitos compositores razoáveis escrevendo músicas razoáveis, mas que trazem tantas referências (algo normal na música de todas as épocas, mas não tão exagerado) que fica difícil ouvir a impressão do próprio compositor. Mesmo no período barroco, que foi de certo modo a cultura do exagero e imitação, era possível identificar nas grandes obras as assinaturas dos mestres. Hoje não se identifica nada. E como não tenho muito tempo a perder, e não sou adepto nem a tradição ou a originalidade, mas a “voz” de cada artista, eu prefiro ir direto a fonte de tudo isso.

A série Imaginary Landscape são obras chaves. Os três primeiros (escrito entre 1939 e 1942) são bastante percussivos, com a participação quase pioneira de elementos eletrônicos. Grupos como Uakti ou coisas similares no mundo da “World Music” devem ter bebido dessa fonte. Imaginary Landscape n.4 já é uma mudança total de paradigma. Escrita para 12 rádios (se possível, em AM), cada um com dois músicos operando a sintonia e o volume com absoluto rigor. Cage, ao contrário do que se pensa, tinha total interesse no controle dessa nova linguagem. Paradoxal, mas a aleatoriedade era controlada.

Obras fascinantes e insuperáveis no quesito originalidade.

CDF

Disco:
1 – Imaginary Landscape No. 1, for 2 variable speed turntables, frequency records, muted piano & cymbal 8:45
2 – Imaginary Landscape No. 2, for 5 percussionists 6:35
3 – Imaginary Landscape No. 3, for 6 percussionists 3:05
4 – Imaginary Landscape No. 4, for 12 radios, 24 players & conductor (March No. 2) 5:00
5 – Imaginary Landscape No. 5, for any 42 recordings, to be realized on tape 1:31
6 – But What About the Noise…, for percussion ensemble of 3-10 players 26:00

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Pierrot Lunaire, Bach BWV 552

A minha procura pela gravação de Pierrot Lunarie feita pela cantora Maria Bergmann, conduzida por Hans Rosbaud (selo WERGO), tem sido incessante. Pois guardo na memória o impacto que esta obra me causou e que, desde então, não venho sentindo com outras gravações. Um amigo sumiu com o disco e nunca mais o vi. Mas fiquei satisfeito com o disco Schäfer-Boulez, já postado aqui, que tem muitos detalhes revelados, mas pouco do lado obscuro (uma pena). Mas tenho uma bela compensação ou um complemento do disco Schäfer-Boulez que coloco aqui, até aguardar o disco da Wergo (será que alguém o encontra neste universo virtual? É uma raridade e está fora de catálogo fazem muitos anos). Jane Manning está muito convincente e Simon Rattle, ainda novinho (gravação de 1978), segura a peteca com perfeição. Aproveitem.

Outra surpresa que vos trago é a BWV 552 de Bach numa transcrição nada literal para orquestra feita por Schoenberg. Essa transcrição teve sua estréia em 1929 sob a regência de Furtwangler com a Filarmônica de Berlim. A obra recebeu grandes elogios, principalmente de Webern (que tem uma transcrição famosa de um movimento da Oferenda Musical de Bach). Não tenho informações sobre a gravação.

Um presente para curtir e se emocionar neste fim de semana (já ouvi umas 200 vezes essa transcrição).

CDF

Pierrot Lunaire
Performed by Nash Ensemble
with Jane Manning
Conducted by Simon Rattle

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Bach-Schoenberg (BWV 552):

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Pierrot Lunaire, Ode To Napoleon

Após aquele disco de Glenn Gould com as deliciosas e românticas canções de Schoenberg, aqui encontramos um ciclo de canções absolutamente revolucionário – Pierrot Lunaire de 1912. O pequeno melodrama para voz feminina e grupo de câmara é composto de 21 canções ultra-expressionistas, onde Schoenberg emprega a técnica (não inédita) do falado-cantado (Sprechstimme). As sensações sobre a noite, a lua, decapitação (Enthauptung) … são narradas-cantadas por uma personagem apavorante e salientadas pelos instrumentistas de forma virtuosa e febril.

A capacidade de Boulez de dar um novo brilho as obras que rege é mesmo espantosa. Gosto de tudo que ele grava. E a falta de fervor que alguns críticos condenam, eu vejo como uma vantagem. No entanto, no caso de Pierrot Lunaire, a dupla Christine Schäfer-Boulez poderia se soltar mais no imaginário psicótico da obra. Mas a clareza e majestosa voz de Schafer compensam a ausência de alucinadas declamações que eu gostaria de ouvir (noutra oportunidade postarei o que acho adequado). Ajuda muito assistir o DVD feito pelo mesmo grupo de músicos do cd. A direção lembra muito aqueles “absurdos” geniais de David Lynch.

Cannon

Outra importante obra deste disco é Ode a Napoleão, cujo texto de Byron (escrito em 1816) poderia ser chamado de Ode a Hitler ou qualquer outro ditador. Foi escrita por Schoenberg em 1942 e é uma das grandes obras-primas do século XX. Gravação exuberante.

CDF

cd:
1. Act I, No. 1, “Mondestrunken”
2. Act I, No. 2, “Colombine”
3. Act I, No. 3, “Dandy”
4. Act I, No. 4, “Die blasse Wascherin”
5. Act I, No. 5, “Valse de Chopin”
6. Act I, No. 6, “Madonna”
7. Act I, No. 7, “Der kranke Mond”
8. Act II, No. 8, “Nacht”
9. Act II, No. 9, “Gebet an Pierot”
10. Act II, No. 10, “Raub”
11. Act II, No. 11, “Rote Messe”
12. Act II, No. 12, “Galgenlied”
13. Act II, No. 13, “Enthauptung”
14. Act II, No. 14, “Kreuze”
15. Act III, No. 15, “Heimweh”
16. Act III, No. 16, “Gemeinheit”
17. Act III, No. 17, “Parodie”
18. Act III, No. 18, “Mondfleck”
19. Act III, No. 19, “Serenade”
20. Act III, No. 20, “Heimfahrt”
21. Act III, No. 21, “O alter Duft”
22. Herzgewachse Opus 20
23. Ode To Napoleon Buonaparte Opus 41

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Darius Milhaud (1892 -1974): La création du monde, Le boeuf sur le toit

Conheço e gosto de Jazz. Não tanto quanto em outros tempos. Pois apreciava o gênero nos bares, com amigos e boas mulheres, com muita bebida e fumaça…Depois que esta bendita fase passou, sentar numa poltrona de vovô, com suco de laranja e canudo, está cada vez menos atraente, principalmente para a audição do bebop e suas ramificações. No entanto ainda aprecio muito o Jazz um pouco menos requintado, aquele anterior a formação camerística, das grandes orquestras e de maior alegria.

Dessa fase interessante do Jazz, o compositor francês Milhaud, nos anos de 1920, encontrou nos clubs noturnos do Harlem fonte riquíssima para sua mais importante e celebrada composição, La création de monde. Esta obra vai além do Ebony Concerto de Stravinsky na mistura desses dois mundos. Pois na obra pós-classicista do russo, só em poucos momentos, a música parece tangenciar o Jazz, já na Création do francês há núcleos de puro Jazz e alegria, como se a orquestra clássica fosse invadida por um grupo de arruaceiros que dão sentido a uma das mais tristes e tocantes aberturas da música clássica.

Depois dessa fascinante obra, encontramos Milhaud respirando o Brasil no seu Le bouef sur le toit. Essa música brasileiríssima dos maxixes do começo de século XX é um rondó dividido em 12 seções, cujos temas serão facilmente reconhecidos pelos ouvintes de outras épocas, de João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense,…Aliás quanto perdemos com a “sofisticação” da música popular brasileira. Nos 50 anos de Bossa Nova, o melhor resumo que encontrei para definir o que ela significa foi enviado por um primo por e-mail. Vejam se há melhor resumo da MPB do que esse ?

A gravação é excepcional (melhor que Bernstein) e as duas outras obras do disco que não comentei são também dignas de estarem aqui.

1. La Creation du monde, Op. 81
2. Le Boeuf sur le toit, Op. 58
3 – 10. Suite provencale, Op. 152b
11 – 18. L’Homme et son desir, Op. 48

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CDF

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Lieder

Caros amigos, confesso minha total displicência com vocês. Tenho tanta coisa para oferecer, mas como o tempo parece favorecer assuntos burocráticos e sem importância, sucumbo ao silêncio. Mas o fã das minhas intervenções sabe que a espera é sempre recompensadora. Não direi o que pretendo colocar no futuro, mas a cipoada de discos raros que pretendo postar é absurdamente empolgante e digna deste digníssimo site. Claro que não esquecerei minhas dívidas com os senhores, os outros discos da coleção Webern vão sair em breve. Na verdade sigo um pouco a política do meu irmão mais velho, gosto de colocar aquilo que ouço no momento, e para Webern, a audição deve ser curtida em espaços longos.

Mas o belo disco de canções de Webern, postado anteriormente, motivou a audição de outro grande disco com canções de Schoenberg. Este precioso disco que vos trago é uma das pérolas de minha coleção. Canções tão belas e românticas, que podem ser ouvidas com suas amadas antes do ato sexual. Ao contrário de Webern, Schoenberg não esperou atingir sua maturidade para publicar seu opus 1. O mestre percebeu que aquelas canções, mesmo bem pouco originais, mereceriam sua assinatura final. Fez certo. Os ciclos de canções op.1, op.2, op.3 e op.6 são inesquecíveis e ganham uma ótima interpretação do grande pianista Glenn Gould com cantores desconhecidos. Ressalto que a parte dedicada ao pianista tem igual importância ao dos cantores. Aliás, a fascinação de Gould por estas jóias pode ser sentida em seus gemidos, muito bem capitados pelos microfones.

Das Buch der hängenden Gärten” op.15 é a principal obra do disco. São 15 canções compostas na fase decisiva na história da música, entre 1908 e 1909. Aqui já temos um outro compositor, menos espontâneo, contudo harmonicamente superior ao dos outros ciclos. Peças de um grande mestre que ainda não está seguro no caminho que vai seguir. Terminam de maneira evasiva e conflituosa, mas apontando para o inevitável fim da tonalidade. Glenn Gould é absolutamente perfeito nessas obras, e os cantores são bem competentes.

Disco 1:

1 – 2. Zwei Gesänge, Op. 1
3 – 6. Vier Lieder, Op. 2
7 – 21. “Das Buch der hängenden Gärten” op. 15

Disco 2:

1 – 6. Sechs Lieder, Op. 3
7 – 8. Zwei Balladen, Op. 12
9 – 11. Drei Lieder, Op. 48
12 – 13. Zwei Lieder, Op. 14
14 – 15. Zwei Lieder, Op. post.
16 – 23. Acht Lieder, Op. 6

CDF Bach

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Silvestre Revueltas (1899 – 1940) – La noche de los mayas

O nacionalismo trouxe resultados interessantes para música. Poucas notas e já identificamos o país de origem da composição. No período romântico essa tarefa era bem mais difícil, pois todos os compositores de segundo e terceiro time escreviam como Schumann ou Brahms (no pós-modernismo vivemos a mesma coisa). Claro que a música folclórica sempre foi uma fonte constante e importante para os grandes compositores, e às vezes fica difícil lembrar um grande nome que não tivesse raiz profunda com o seu país. Alguns observadores mais radicais reforçam que o compositor que esquece as tradições populares e desconhece sua música folclórica não teria base para construir obra de valor. No entanto, quando observamos a carreira de um grande compositor, a música folclórica era apenas mais uma ferramenta, proposital ou acidental, para construção de uma obra mais complexa e estruturada, o objetivo era outro. Diferente dos nacionalistas que tinham como meta exaltar as riquezas melódicas e rítmicas de seu país. Exemplos foram muitos: Villa-lobos no Brasil, Copland no Estados Unidos, o jovem Stravinsky na Rússia, Manuel de Falla na Espanha. Mas acho que nenhum deles foi tão fervoroso nacionalista quanto o mexicano Silvestre Revueltas.

Silvestre Revueltas teve uma carreira curta. Era pobre e alcoólatra. Morreu com apenas 41 anos, e diz a lenda, com uma garrafa na mão. Foi um personagem difícil, passou um ano trabalhando na Espanha, durante a guerra civil. Prestou uma homenagem a Federico Garcia Lorca com uma obra de inusitado contraste (primeira faixa do disco). Sua música, como estrutura técnica, deve muito a Stravinsky; mas como inspiração, deve tudo ao coração do México. Quem nunca pisou no México, mas ouviu Sensemaya (1938) pode dizer que conhece, sim, um pouco deste país. A obra é exuberante e colorida, traz a natureza do povo mexicano, e de um México ainda povoado pelos Maias. A obra mais importante é La noche de los mayas (1939), conhecida como a Sagração da Primavera mexicana. Foi inicialmente pretendida como trilha de filme, mas ganhou vida própria logo cedo. A obra é extremamente empolgante, assim como todo o disco. Uma bela viagem na geografia e na história do México.

1. Homenaje a Federico Garcia Lorca
2. Sensemaya
Performed by New Philharmonia Orchestra
Conducted by Eduardo Mata

3. Ocho X Radio
4. Toccata
5. Alcancias: Allegro
6. Alcancias: Andantino
7. Alcancias: Allegro vivo
8. Planos
Performed by London Sinfonietta
Conducted by David Atherton

9. La Noche de los Mayas: I. La noche de los Mayas
10. La Noche de los Mayas: II. La noche de Jaranas
11. La Noche de los Mayas: III. La noche de Yucatan
12. La Noche de los Mayas: IV. La noche de encantamiento
Performed by Jalapa Symphony Orchestra
Conducted by Herrera de la Fuente

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Leonard Bernstein Discusses and Conducts XX-Century Music

Leonard Bernstein foi um mestre em quase tudo. Homem de vastíssima cultura musical, músico com repertório extenso e memorável. Mas um dos pontos que merecem destaque foi sua habilidade como divulgador da música clássica. Há uma série famosa feita para televisão nos anos 1960, os concertos para juventude, que são muito prazerosos de ver link. É impressionante contemplar o Carnegie Hall lotado de crianças e Bernstein dando um show como professor, aulas com exemplos brilhantes e cativantes. Nunca caindo na simplificação, ou desmerecendo a inteligência de seus pequenos ouvintes.

Creio que muito de nós aqui no Brasil nunca tiveram a chance de encontrar um personagem parecido com o Bernstein na nossa juventude, alguém que apresentasse o vasto mundo musical, sem doutrinação do que é certo ou errado. Gostamos de música clássica (ou Jazz) simplesmente por nossos próprios méritos, e isso é louvável, principalmente num país que preza a mediocridade. No entanto, ainda pagamos um preço alto por isso. Não gostaria de colocar como exemplo, a obra 4´33´´ de Cage. Achar ridícula uma peça é um julgamento que deve caber ao próprio ouvinte mesmo. Devemos realmente conviver com este tipo de diversidade de opinião. Mas é importante, antes de tudo, conhecer a obra em profundidade, ou mesmo ler a respeito antes de ouvi-la, e só depois podemos condená-la ao nosso limbo musical ou, como costumo fazer, dá uma outra oportunidade no futuro.

Como a música que defendo é mesmo de difícil digestão, achei necessário pedir a ajuda do Leonard Bernstein. Esse disco-aula realizado também nos anos 1960, Bernstein se desdobra para divulgar a famigerada música que se fazia em seu tempo. Apresenta exemplos de obras bem importantes e complexas para uma platéia adulta e inquieta (aplausos e vaias no fim de cada obra). Percebemos que aquele registro foi feito num momento decisivo e tenso para história da música, uma crise fascinante tratada com brilhantismo por Bernstein. Comentários muito interessantes sobre o novo espectro que o mundo musical vislumbrava. Mesmo sendo um registro feito há mais de 40 anos atrás, é atualíssimo para o ouvinte brasileiro.

Obras de Xenakis, Boulez e Cage são analisadas por Bernstein antes de cada perfomance, num inglês fácil de entender.

A obra que abre o disco é de Copland e foi feito para uma audiência mais jovem, apenas um pequeno refresco.

Copland – An Outdoor Overture
1. Introduction by Bernstein
2. Perfomance
3. Post- perfomance

Xenakis – Pithoprakta
4. Introduction by Bernstein
5. Perfomance
6. Post- perfomance

Henry Brant – Antiphony One
7. Introduction by Bernstein
8. Perfomance

Boulez – Improvisation sur Mallarmé I
9. Introduction by Bernstein
10. Perfomance

Cage – Atlas Eclipticalis
11. Introduction by Bernstein
12. Perfomance

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John Cage (1912 -1992) – 4´33´´

Os homens são mesmos fascinantes e engraçados. Afirmam-se como indivíduos, mas inevitavelmente são destinados a serem peças de encaixe do muro histórico. 4´33´´ é uma obra inevitável, mesmo se Cage não tivesse existido. A música sempre levou a busca dos extremos, e o fim acabaria sendo esse: 4 minutos e 33 segundos nos quais os músicos param. E a música, também pára? Segundo Cage, não. A música criada pelo evento ou constrangimento (sussuros, xingamentos, ruídos, ou o próprio silêncio [parte importante da música]) seria nova a cada apresentação desta obra. Assim como já vinha ocorrendo com suas obras aleatórias, 4´33´´ abre possibilidades interessantes e inesperadas.

Nesta rara gravação podemos ouvir 4´33´´ sendo interpretada por um grupo excelente de percussionistas, que parecem ter gravado numa bela manhã de primavera. É possível ver duas outras versões desta mesma peça no youtube, uma para grande orquestra link e outra para piano link. Outra obra de Cage que merece destaque é Amores, música para piano preparado e percussão. Muito empolgante. Participação do pianista Zoltán Kocsis, cujo piano produz um som realmente estranho e percussivo. O disco termina com o ótimo Third Construction de Cage para 4 percussionistas.

Ah, já ia esquecendo, aqui você encontra uma das melhores interpretações de Ionisation de Varèse.

1. Ionisation, for 13 percussion instruments (Edgard Varese)
2. Toccata for orchestra (Carlos Chavez)
3. 4’33” (John Cage)
4. Double Music for percussion quartet (John Cage, Lou Harrison)
5. Amores, for prepared piano & 3 percussion: I – Solo for Piano
6. II – Trio
7. III – Trio
8. IV – Solo for Piano
9. Third Construction, for 4 percussionists (John Cage)

Amadinda Percussion Group

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Karlheinz Stockhausen (1928-2007) – Helikopter Quartett (1993)

Digamos que no programa de hoje à noite será apresentado, após um dos últimos quartetos de Haydn, o quarteto de cordas de Stockhausen. Não se preocupe com o que vai ocorrer: provavelmente os músicos vão sair do teatro com suas partituras, e cada um deles terá a sua disposição um helicóptero com um piloto. Pois é, eles devem tocar seus instrumentos em pleno vôo. Haverá um operador de som no teatro que deve mixar o som vindo da cabine de cada helicóptero, e tudo deve ser visto através de quatro telões. Os helicópteros devem fazer um vôo circular, cujo raio é de aproximadamente 6 km. Em média, toda a obra ou o vôo leva um pouco mais de meia hora.

Se você acha que é improvável ver esta peça sendo apresentada na sua cidade, saiba que esta belíssima experiência foi registrada num recente DVD da Euroarts. Ótimo vídeo link

Performer: Arcadian Academy, Karlheinz Stockhausen, Arditti String Quartet

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Ernest Bloch (1880 -1959): Quartetos de Cordas

Foi através de algumas críticas entusiasmadas sobre este disco que entrei em contato pela primeira vez com a música de Bloch. O que mais me chamou a atenção foi o fato do compositor ter vivido as duas Grandes Guerras e escrito suas impressões através de dois quartetos de cordas: O primeiro quarteto escrito em 1915-16 e o segundo em 1945-46. O Quarteto de Cordas n.1 tem quase uma hora de duração, e às vezes parece atingir aquela linha perigosa, onde as idéias caminham por inércia. Mas a impressão é logo sobrepujada pela honestidade e virtuosismo de sua escrita. Em muitos momentos esse quarteto antecipa a música bélica de Shostakovich. Já o quarteto n.2 é mais conciso e mais bem estruturado; sem, contudo, perder as qualidades do primeiro quarteto: vigor e espontaneidade. Um crítico mais exagerado colocou esta obra ao lado dos últimos quartetos de Beethoven.

Nos quartetos n.3 e n.4 o peso das duas Grandes Guerras não estão mais presentes. As influências judaicas também foram bastante diminuídas (lembro aqui que Ernest Bloch foi um compositor judeu bastante ativo, escreveu peças em prol da causa judaica como a Suíte Hebraica, Baal Shem, e Israel Symphony). Nestes dois quartetos temos música pela música, ou usando aquele termo usual e duvidoso: música absoluta. Uso esporádico do dodecafonismo com elementos bartokianos.

Infelizmente estes quartetos foram pouco gravados e executados, acho que o quarteto n.1 só existe neste registro. A compensação é que o Griller String Quartet interpreta com incrível dedicação e força, deixando quase nada a ser desejado, apenas uma melhor qualidade sonora (gravação feita em 1954). Mesmo assim, nesse disco é possível perceber a importância dessas obras.

Disco: 1
1. String Quartet n.1: Andante moderato
2. 2. Allegro frenetico
3. 3. Andante molto moderato (Pastorale)
4. 4. Finale (Vivace)
5. String Quartet n.3: Allegro deciso
6. 2. Adagio non troppo
7. 3. Allegro molto
8. 4. Allegro

Disco 2:
1. String Quartet n.2: Moderato
2. 2. Presto
3. 3. Andante
4. 4. Allegro molto
5. String Quartet n.4:Tranquillo – Allegro emergico – Tranquillo
6. 2. Andante
7. 3. Presto – Moderato – Presto
8. 4. Calmo – Allegro deciso – Calmo

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cdf

Arnold Schoenberg (1874 – 1951): Concerto para Violino

O concerto para violino de Schoenberg é uma das obras mais importantes da música e é um absurdo que seja tão desconhecida do público. Esta obra foi escrita logo após a chegada do compositor aos Estados Unidos, no começo dos anos 1930. O mestre deixou seu país devido ao delírio nazista, talvez por isso esta obra seja tão angustiada. Obra dificílima e totalmente dodecafônica. Mas quem seria louco pra dizer que este concerto é frio ou artificial? Se não me falha a memória a obra é retratada por Thomas Mann no seu famoso livro Doutor Fausto como obra de seu personagem principal, Adrian Leverkühn.

Mesmo assim, é raríssimo encontrar um disco com este concerto para violino. Só existem gravações relativamente antigas. Alguns dizem que pelo fato de exigir “seis dedos na mão esquerda”, o músico fica intimidado. Ora, só por isso? Bem, já que a maioria dos marmanjos treme ao desafio, só mesmo uma bela garota como Hilary Hahn para trazer esta obra-prima à tona.

A outra obra do disco é o já manjado concerto de Sibelius que, para ser sincero, ainda não ouvi. Na verdade, depois da gravação de Heifetz, não ouço esta peça com mais ninguém.

1. Violin Concerto, Op.36 – 1. Poco Allegro
2. Violin Concerto, Op.36 – 2. Andante grazioso
3. Violin Concerto, Op.36 – 3. Finale. Allegro
4. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 1. Allegro moderato
5. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 2. Adagio di molto
6. Violin Concerto in D minor, Op.47 – 3. Allegro, ma non tanto

Violin: Hilary Hahn
Swedish RSO
Conductor Esa-Pekka Salonen

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Witold Lutoslawski (1913 – 1994): Concerto for Cello / Livre pour orchestre

Quando por muito tempo um nome de importância não surge, é inevitável perguntar se a arte dá sinais de seu fim. Claro que tal pensamento apocalíptico não soa bem na boca de um crítico pançudo, cuja carreira sempre se baseou no fatalismo das coisas. Quantos críticos em diferentes épocas esbravejaram este fim, mesmo diante de nomes como Stravinsky, Picasso ou Joyce? Mas quando, por algum tempo, nenhum nome vem à cabeça, alguém que balance as estruturas e que mostre uma nova direção, o ar se enche mesmo é de pessimismo.

Talvez o nome de Lutoslawski não esteja entre os grandes transformadores, pois o compositor polonês teve sempre sua música muito próxima, inicialmente, a Szymanowski e Bartok, e depois, à música mais avançada dos anos 50 e 60. Enfim, a originalidade não foi seu grande trunfo. Mas será que isso é motivo de pessimismo? Ser original é mesmo importante? Conhecendo bem a obra de Lutoslawski, acredito realmente que ele foi sim um grande mestre, pois ao contrário de alguns criadores revolucionários, sua música não é artificial, ela é absolutamente sincera mesmo em estruturas complexas como o atonalismo ou aleatoriedade.

O concerto para violoncelo dedicada a Rostropovich é daquelas obras nascidas para ficar. É tão dramaticamente estruturada como se fosse um concerto de Brahms. Lembro de Brahms, pois o compositor foi de certa maneira chamado de conservador (não por Schoenberg). Brahms não trouxe uma linguagem revolucionária, mas quem ousaria diminuir o valor de sua música por isso? Penso o mesmo do compositor polonês. Esta obra escrita no fim dos anos 1960 está ao lado de qualquer concerto já escrito para este instrumento. É mesmo uma obra-prima.

Outra fantástica obra neste disco é Livre pour orchestre que também, como o concerto, permite que os músicos usem a imaginação em certos momentos bem limitados, ou seja, aqui vemos uma forte presença de John Cage rondando sua obra. Mas a sonoridade de Lutoslawski é tão inconfundível quanto a de Brahms.

Novelettes para orquestra, escrita no fim dos anos 1970, é vista por alguns como um retrocesso. Lutoslawski tinha certos momentos de crise. Ficava em dúvida no caminho que deveria seguir. Essa obra fica justamente numa dessas fases de transição. Apesar de ser uma obra menor e menos avançada que as duas obras anteriores, ela tem momentos encantadores.

Chain 3 para orquestra foi escrita após esta crise. O resultado é absolutamente fantástico. Para o meu pobre conhecimento de música contemporânea, uma das últimas grandes obras escritas. Talvez os pessimistas possam ver finalmente o fim da jornada da música ocidental. Mas Chain 3 foi escrita em 1986. Bem, não faz tanto tempo assim.

1. Livre pour orchestre
2. Concerto for Cello and Orchestra
3. Novelette: Announcement
4. Novelette: First Event
5. Novelette: Second Event
6. Novelette: Third Event
7. Novelette: Conclusion
8. Chain No. 3

Performed by Katowice Polish Radio Orchestra & Chorus
cello: Andrzej Bauer
Conducted by Antoni Wit


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Morton Feldman (1926 – 1987): Piano and Orchestra; Flute and Orchestra; Oboe and Orchestra; Cello and Orchestra

É difícil definir a música de Morton Feldman. Mas se temos intimidade com pintura abstrata ou o teatro de Beckett, esta tarefa fica mais simples. A música de Feldman é o espaço pintado com sons, só que sem ritmo, melodia ou mesmo qualquer forma. A estrutura de Feldman é a não-estrutura. O risco é a monotonia e, mesmo para ouvintes calejados, é apenas essa sensação que parece existir. A música de Feldman não oferece pontos para nos apoiarmos, o ouvinte segue os sons com os mesmos olhos de quem segue um quadro de Pollock.

Esse disco oferece quatro obras importantes, todas elas escritas na década de 1970, época que Feldman já começava a encontrar seu próprio estilo. Apesar dos títulos das obras, todas elas são anti-concertos, pois nenhum dos solistas é mais importante que a orquestra, e nem há diálogo entre eles. A construção é aquela que já disse no início, a orquestra e o solista se completam na criação de um espaço sonoro, sem início, fim ou desenvolvimento. No entanto, extremamente cativante, pois dá ao ouvinte uma sensação de vagar em terreno misterioso e belíssimo. Não se enganem com a primeira impressão (como já aconteceu comigo), Morton Feldman foi um compositor dos grandes.

Disco: 1
1. Flute And Orchestra
2. Cello And Orchestra

Disco: 2
1. Oboe And Orchestra
2. Piano And Orchestra

Performed by Runkfunk-Sinfonieorchester Saarbrucken
Conducted by Hans Zender

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Béla Bartók (1881-1945) – Os 6 Quartetos de Cordas (Juilliard)

Pois é, senhores, volto com os quartetos de Bartók. Sei que todos aqui conhecem bem esses quartetos e falar deles é como falar dos seis últimos quartetos de Beethoven, ou seja, não preciso falar nada. São obras clássicas que devem estar na discoteca de todos. Por isso o principal motivo de trazê-los aqui é apenas pela gravação histórica e raríssima do Julliard String Quartet. Existem três gravações da integral feita pelo grupo, a clássica gravação de 1950 (se não me engano, a primeira integral dos quartetos) e que continua sendo a preferida pra muita gente, a desastrosa gravação dos anos 80 (os caras precisavam de vitamina) e essa de 1963 que trago pra vocês.

Não sou daqueles ouvintes que perde muito tempo discutindo qual a melhor gravação. E no caso dos quartetos de Bartók, você está muito bem servido se tiver a integral com os Emerson (colocada logo no início do blog pelo PQPBach), ou com o excelente Tokyo String Quartet, como também a quase insuperável gravação com Takács (aliás, vi, ao vivo, esses caras tocando o quarteto n.2 e não tem nada melhor que aquilo). No entanto, ainda imaginando que o caso Bartók já tava fechado, dei de cara com uma gravação que muitos diziam estar perdida. É a primeira impressão feita em cd pela Sony da quase mitológica gravação dos Julliard nos anos 60. Comprei na hora (a capa aqui está diferente do meu disco, mas é esse aí).

Não foi surpresa perceber que tinha adquirido o melhor registro dos quartetos de Bartók. Rude, sombrio e preciso. Ouçam o quarteto n.4 (o último movimento avassalador) pra entenderem o que falo. E o n.3 é um exemplo de precisão. O pouco valorizado quarteto n.6 aqui ganha sua melhor defesa, é sombrio e magistral até não poder mais.

Enfim, senhores, este post foi uma homenagem a esta rara (espero que não mais) e fascinante gravação dessas obras clássicas.

Disco 1

1. String Quartet No.1, Sz. 40 (Op.7) – Lento
2. Allegretto
3. Introduzione. Allegro – Allegro vivace
4. String Quartet No.2, Sz. 67 (Op.17) – Moderato
5. Allegro molto capriccioso
6. Lento
7. String Quartet No.3, Sz. 85 – Moderato
8. Allegro
9. Ricapitulazione della prima parte. Moderato
10. Coda.Allegro molto

Disco 2

1. String Quartet No.4, Sz. 91 – Allegro
2. Prestissimo, con sordino
3. Non troppo lento
4. Allegretto pizzicato
5. Allegro molto
6. String Quartet No.5, Sz. 102 – Allegro
7. Adagio molto
8. Scherzo. Alla bulgarese
9. Andante
10. Finale
11. String Quartet No.6, Sz. 114 – 1. Mesto – Vivace
12. Mesto – Marcia
13. Mesto – Burletta (Moderato)
14. Mesto

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Schnittke (1934 – 1998) – Concerto Grosso No.1 – Quasi una Sonata – Moz-art à la Haydn – A Paganini

Por pouco deixei que minhas idéias sobre música moderna limitassem as minhas experiências sonoras. “Não entendo esta música”. Claro, um ouvinte sempre salvo pelo tom dominante; não poderia se sentir seguro quando esta luz era apagada. Mas a música de Schnittke, mesmo quando tonal, é escura, angustiosa e macabra. O ouvinte não terá conforto com esta música. Mas neste disco, além disso, temos o virtuosismo e o humor.

Com o concerto grosso n.1 de Schnittke (talvez sua obra mais importante) caímos na música pós-moderna (ou pós-tudo) que muitas vezes é chamada de poli-estilística. Aqui Schnittke coloca Vivaldi, Webern, Mozart, Beethoven, Cage (piano preparado) e até tango num liquidificador e faz uma música única, uma obra de primeira grandeza, um resumo de tudo, mas com um humor negro típico de Schnittke. A formação é simples: dois violinos solistas, um cravo, uma orquestra de cordas e um piano preparado (basicamente um piano comum com pregos, bacias com água e outras coisitas sobre as cordas). A estrutura segue o velho estilo barroco à la Corelli com 6 movimentos. Música empolgante e perturbadora.

Este disco está recheado de obras-primas, pois a próxima peça, Quasi uma sonata, está entre as mais importantes composições das últimas décadas. Originalmente escrita para violino e piano (sonata n.2), neste disco encontramos o formato violino e orquestra de câmara. Schnittke vai desconstruíndo a forma sonata com extremo virtuosismo, humor (negríssimo, claro) mas sem entregar uma obra retalhada. Dificilmente uma obra de Schnittke não tem unidade.

Moz-art à la Haydn já é um clássico? Possivelmente. Aliás, Schnittke talvez seja o compositor de sua geração mais executado atualmente. Claro que aqui Schnittke segue a velha tradição russa dos mestres Prokofiev e Shostakovich que usavam o humor em obras refinadas.

Quem lembra das variações sobre aquele famoso tema dos caprice de Paganini? Claro, Brahms, Rachmaninov, Lutoslawski…Mas aqui Schnittke se aproxima do método de Paganini: ferrar o violinista. A Paganini é uma obra pra violino solo insuportavelmente difícil, mas nem de longe uma obra só virtuosística. Gidon Kremer dá um show. Enfim, o disco todo é uma obra-prima e merece ser comprado. Um marco da música pós-moderna (todas as obras são pós-anos 60).

Este foi praticamente meu primeiro disco de música moderna, e todas aquelas minhas idéias preconcebidas foram pro ralo.

1. Con grosso No.1: 1. Prelude: Andante
2. Con grosso No.1: 2. Toccata: Allegro
3. Con grosso No.1: 3. Recitativo: Lento
4. Con grosso No.1: 4. Cadenza [without tempo marking]
5. Con grosso No.1: 5. Rondo. Agitato
6. Con grosso No.1: 6. Postludio. Andante-Allegro-Andante
7. Quasi una sonata
8. Moz-Art a la Haydn
9. A Paganini

Gidon Kremer, Yuri Smirnov, Tatiana Grindenko,
The Chamber Orchestra of Europa
Conducted by Heinrich Schiff

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951) – Quartetos de Cordas n.3 e n.4

Agora estamos num terreno árido, mas não menos empolgante que os outros quartetos predecessores. Nesta época (1927) Schoenberg já havia criado o sistema dodecafônico (do grego dodeka: 'doze' e fonos: 'som'), no qual as 12 notas da escala cromática são tratadas como equivalentes, ou seja, sujeitas a uma relação ordenada e não hierárquica. Mas Schoenberg nunca foi tão radical assim, com excessão de uma pequena peça para piano, ele nunca escreveu uma obra inteiramente dodecafônica.

O quarteto de cordas n.3 já não é romântico e expansivo, mas sim clássico, o mais haydniano dos quatro quartetos. A sua estrutura em quatro movimentos (moderato, andante, intermezzo e rondo) segue a velha idéia de forma sonata com exposição, re-exposição, desenvolvimento,...mas com uma relação entre elas quase impossível de conceber para uma primeira audição. No último movimento, o rondo é estruturado da seguinte maneira: A-B-A2-C(+D)-A3-B2-A4-Coda. Onde a seção D é um desenvolvimento de temas anteriores. Enfim Schoenberg leva as últimas conseqüências o que um ouvinte menos atento chamaria de "caos" numa base rígida e perfeitamente controlada. O atonalismo por si só era um terreno muito movediço para Schoenberg, por isso o velho mestre encontrou no dodecafonismo uma forma segura de percorrer estas plagas. No entanto, o quarteto n.3 não é uma obra totalmente dodecafônica. Mas parece ser um consenso entre os críticos que este é o melhor dos quatro quartetos, e quem sabe o mais importante do século XX.

O quarteto n.4 é "mais agradável que o terceiro" (palavras de Schoenberg) e o mais difícil de todos (palavras minhas). Tentar identificar os temas e desenvolvimentos é loucura. Ouço esse quarteto com ouvidos soltos. Gostaria ter a partitura desse quarteto em minhas mãos e ver com meus próprios olhos toda a sua intrincada estrutura. Novamente Schoenberg retoma o velho modelo : allegro molto, scherzo, largo e allegro. É música para poucos.

Disco: 2
1. Quarteto n.3, Op. 30: I. Moderato
2. Quarteto n.3, Op. 30: II. Adagio
3. Quarteto n.3, Op. 30: III. Intermezzo, Allegro Moderato
4. Quarteto n.3, Op. 30: IV. Rondo, Molto Moderato
5. Quarteto n.4, Op. 37: I. Allegro Molto, Energico
6. Quarteto n.4, Op. 37: II. Scherzo (Comodo)
7. Quarteto n.4, Op. 37: III. Largo
8. Quarteto n.4, Op. 37: IV. Allegro

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Arnold Schoenberg (1874 – 1951) – Quartetos de Cordas n.1 e n.2

Como fiquei responsável pela música moderna, trazendo aos ouvintes algo um pouco mais radical, cerebral e às vezes indigesto, começo minha participação com um disco mais ou menos óbvio, pois foi a partir do segundo quarteto de Schoenberg que o mundo tonal foi perfurado.

Mas o sistema tonal já estava há algum tempo sofrendo uma série de ataques, diria até que o ínicio do quarteto dissonante de Mozart pode ser visto como um pequeno exemplo dessa procura do novo mundo. As fantásticas “monstruosidades” sonoras de Wagner e Strauss que deixaram o sistema tonal esgotadíssimo. O Adágio da Décima de Mahler. As últimas sonatas de Scriabin…Mas foi realmente Schoenberg quem atravessou a barreira. O sistema tonal é quebrado no último movimento do quarteto n.2, nele uma voz feminina inicia seu canto (texto do poeta Stefan George) com as célebres palavras: “Ich fuhle luft von anderem planeten…” (Eu sinto o ar de um novo mundo…). Não dá para ouvir isso sem ficar arrepiado. Todo o quarteto é belíssimo, um mundo se misturando com outro.

Mas devo confessar que minha maior paixão é mesmo o quarteto n.1. Aqui o sangue fervilha. Apesar de ter quatro movimentos (todos os quatro quartetos de Schoenberg tem 4 movimentos), o quarteto não tem pausa, um movimento conectado ao outro, temas iniciais que vão sendo revisitados até o fim. Nesta época (1905) Schoenberg estudava a sinfonia Eroica. Com Beethoven “eu aprendi como evitar a monotonia e o vazio, como criar variedade fora da unidade…”.

A interpretação do “arditti string quartet” é excelente. E a voz que sai da soprano Dawn Upshaw é assombrosa.

Disco: 1
1. Quarteto n.1, Op. 7: I. Nicht Zu Rasch (Pas Trope Vite)
2. Quarteto n.1 , Op. 7: II. Kraftig (Energique)
3. Quarteto n.1, Op. 7: III. Massig (Modere)
4. Quarteto n.1, Op. 7: IV. Massig (Modere)
5. Quarteto n.2, Op. 10: I. Massig (Moderato)
6. Quarteto n.2, Op. 10: II. Sehr Rasch (Tres Rapide)
7. Quarteto n.2, Op. 10: III. ‘Litanei’ Langsam (Lent) – Dawn Upshaw
8. Quarteto n.2, Op. 10: IV. ‘Entruckung’ Sehr Landsam (‘Eloignement’ Tres Lent) – Dawn Upshaw

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