Música de Câmara do Brasil (1981) – José Siqueira, Guerra Peixe, Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Henrique de Curitiba, Mauro Rocha e Heitor Alimonda [link atualizado 2017]

BOM, MUITO BOM !!!

Música de Câmara do Brasil é um álbum todo ele moderno, de vanguarda, como bem representa a sua capa com um d’Os Bichos, obra-mestra da artista plástica neoconcretista Lygia Clark (1920-1988). As peças são todas de compositores brasileiros de primeiríssimo time também contemporâneos e que estavam, no ano dessa gravação (1981), em plena atividade, executadas pelo Trio Morozowicz, Botelho, Devos com grande qualidade e sagacidade.

Eu poderia falar uma pouco mais do discão, mas o texto da contracapa é muito mais detalhista (e capaz) que o que eu poderia escrever neste espaço:

Bela montagem, a deste disco, in­tercalando, entre obras executadas pelo trio de sopros, peças solistas para cada um dos instrumentistas que, individual­mente, confirmam a alta qualidade de suas interpretações conjuntas. Norton Morozowicz, Jose Botelho e Noel Devos são três de nossos mais destacados músicos, com uma larga folha de serviços prestados a divulgação do repertório in­ternacional e do brasileiro. Os três ins­trumentos – flauta, clarineta, fagote — tem amplos recursos expressivos, que compensam largamente a relativa estreiteza de seu âmbito dinâmico. Da alqui­mia de suas vozes resulta harmonioso conjunto, onde as peculiaridades indi­viduais se fundam num todo maior.
O primeiro lado [faixas 01 a 09] reúne quatro dos expoentes da corrente nacionalista. Dois deles (Camargo Guarnieri e Francisco Mignone) foram diretamente influencia­dos pela pregação de Mario de Andrade, a quem os ligou amizade e reconheci­mento que os anos passados não desva­necem. A influência de Mario marcou também fundo a obra de Guerra-Peixe, embora não ligado pessoalmente ao autor de Macunaíma. Nos quatro músicos, um caminhar inicial análogo na formação musical, passando pela escola pra­tica dos conjuntos populares. O ideal nacionalista, antes mesmo de sua sistematização por Mario, fora posto em pratica por Villa-Lobos com vigor muito major que o de seus predecessores. Bem relacionado, espirito irrequieto, amigo das viagens, voltado para o mundo e para o mercado externo. Villa-Lobos funcionou como grande desbravador, polarizando a celeuma sobre a música brasileira em torno de sou nom. Quan­do aqueles quatro músicos começaram a produzir, encontraram o caminho por assim dizer aberto, e ficaram, de certo modo, com o ônus de serem vistos co­mo continuadores — o que foi recentemente observado por Maria Abreu, em programa de televisão, com relação a Camargo Guarnieri. Todos eles são, porém, personalidades originais, que vi­venciam diferentemente a problemática envolvida pela estética nacionalista através de suas próprias experiências e sensibilidades.
O segundo lado deste disco [faixas 10 a 16] reúne compositores mais recentes, menos ligados a problemática nacionalista. Mau­ro Rocha foi uma esperança: morto no inicio de 1980 em acidente automobilístico, aos 30 anos, destacou-se como violonista e arranjador ligado a música popular, com seu excelente conjunto de choro Galo o Preto. Abandonando a medi­cina para dedicar-se inteiramente a música, estudou com Esther Scliar, e fez cursos com Marlos Nobre, Koellreutter, Widmer, Rufo Herrera. É curioso, con­siderada sua ligacao com música popu­lar, observar que sua biografia não in­dica, a meu conhecimento, nenhum pro­fessor ligado ao nacionalismo. Já Henrique de Curitiba passou do ensino de Bento Mossurunga para o de Koellreut­ter, aperfeiçoando-se depois em Varsóvia, e divide atualmente seu tempo entre a composição e o ensino. Heitor Ali­monda, doze anos mais velho que o precedente, é, sobretudo, o pianista e o didata: boa parte de sua obra resulta de suas preocupações como professor de piano, muito embora ele também crie outras com preocupação apenas artística.
O Trio de Guerra-Peixe é breve, in­cisivo, vivaz em seus movimentos de dança. A maior extensão do terceiro movimento justifica-se polo andamento moderato, lírico e envolvente, onde a vivacidade rítmica continua presente, porém, em particular nos suspiros inter­rompidos do fagote; José Siqueira prefere chamar sua obra de Três invenções — de um espirito diferente daquele do autor das Bachia­nas. As 5 Peças breves de Heitor Ali­monda retomam a clássica independência do texto musical com relação aos instrumentos que o executarão. Outro poderia ser o conjunto, inclusive o trio de cordas; mas as diferenças tímbricas desse trio de sopros ajudam a realçar os movimentos de cada frase musical.
Henrique de Curitiba é mais ambi­cioso — e se me estendo mais sobre sua obra, é em função de observações acrescentadas pelo autor da partitura. Seu Estudo é aberto em vários níveis. Ele quer que os intérpretes abandonem a tradicional posição sentada; com a fina­lidade de “explorar o efeito estereofôni­co que se possa conseguir com ativação variada das três fontes sonoras. A movimentação dos músicos (…) deve pro­porcionar uma nova experiência de comunicação corporal com o público (…) além dos aspectos interpretativos pura­mente musicais”. Na realidade, o disco tem contribuído para acentuar a ideia de “música pura” — e, o que é pior, “sem erros”, pois, em principio, a gravação não toleraria as falhas dificilmente evitáveis em concerto. Mesmo na música para “instrumentistas sentados” e “inteiramente escritas”, é, porem, flagrante a diferença de comunicação dos músicos com o ouvinte, se este está em sua pol­trona tomando seu uísque ou numa sa­la de concertos vivendo com outros ou­vintes as emoções que só o momento de recriação do interprete pode suscitar. Não se pode esperar de um pianista que passeie de um lado para outro com seu Steinway, tocando uma sonata de Beethoven; mas, certamente, as diferentes posições relativas dos executantes, consideradas as acústicas das diferentes salas, podem trazer novas dimensões para a execução ao vivo, em obras que le­vem em conta aqueles fatores.
Henrique de Curitiba solicita também de seus intérpretes “a improvisação livre à maneira da música popular” em alguns dos trechos desse Estudo. E, en­fim, outra observação de grande interes­se: “o compositor experimenta ainda com a grafia musical convencional, ten­tando uma grafia rítmica das figurações musicais da música brasileira, adotando o conceito de tempos de duração desi­gual dentro de um mesmo compasso, evitando assim uma escrita do tipo sin­copado, com metro regular, a qual não traduz bem o balanço da música brasi­leira”. O Pe. Jose Geraldo de Souza já tinha observado, em obra sobre as características de nossa música folclórica, o caráter bem mais fluido do sincopado popular que o que pode ser dado pela “sincope característica” sistematizada, um tanto abusivamente, pela forma: semicolcheia, colcheia, semicolcheia; colcheia, colcheia; é de se salientar que nesse erro, não incidiram nossos melho­res autores, que buscaram outras for­mas de grafar a sincopado popular.
As diferenças que marcam os qua­tro trios encontram-se, também, em pelo menos duas das obras solistas. Mignone passeia livremente, liricamen­te, em sua valsa sem caráter, pelo espaço melódico do fagote. O caráter geral descendente da melodia mantem-se nas três partes dessa obra, a última das quais abre-se para um esplendoroso modo maior, bem dentro da tradição, e acaba com um irônico abaixamento de tom na repetição de um motivo. Já Camargo Guarnieri tem uma preocupação ascen­dente, tensionante, como se quisesse romper com os limites sonoros da flau­ta, fazendo-nos ouvir notas além, mais para o agudo, daquelas que o instrumen­to pode dar. O espaço sonoro é aberto, tanto através de grandes saltos, como por meio de sua ampliação sucessiva a partir de um tom, e os momentos de li­rismo ficam, em geral, com os registros médio e grave do instrumento. Em Mau­ro Rocha, está também presente uma certa tensão, obtida, porem, sobretudo pelo uso de material sonoro ainda não assimilado pela audição corrente. (Flavio Silva)

Um disco de música inteligente, difícil, complexa e brasileiríssima. Vale muito a pena conhecer!

Trio Morozowicz, Botelho, Devos
Música de Câmara do Brasil

César Guerra Peixe (1914-1993)
01. Trio nº2 – I. Allegretto (polca)
02. Trio nº2 – II. Allegro Vivace (dança dos caboclinhos)
03. Trio nº2 – III. Moderato (canção)
04. Trio nº2 – IV. Allegro (frevo)
Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)
05. Improviso nº3 para flauta solo
José Siqueira (1907-1985)
06. Três Invenções, para flauta, clarinete e fagote – I. Allegro
07. Três Invenções, para flauta, clarinete e fagote – II. Andante
08. Três Invenções, para flauta, clarinete e fagote – III. Moderato
Francisco Mignone (1897-1986)
09. Macunaíma, valsa sem caráter
Henrique de Curitiba (1934-2008)
10. Estudo Aberto, para flauta clarinete e fagote
Mauro Rocha (1950-1980)
11. Variações para clarinete solo
Heitor Alimonda (1922-2002)
12. Cinco Peças Breves para Três Instrumentos Melódicos – I. Andante Cantabile
13. Cinco Peças Breves para Três Instrumentos Melódicos – II. Allegro molto
14. Cinco Peças Breves para Três Instrumentos Melódicos – III. Andante movido, porém monótono
15. Cinco Peças Breves para Três Instrumentos Melódicos – IV. Molto allegro
16. Cinco Peças Breves para Três Instrumentos Melódicos – V. Lento – Andante

Norton Morozowicz, flauta
José Botelho, clarinete
Noel Devos, fagote
Rio de Janeiro, 1981

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Saint Preux (Christian Langlade, 1950) – Concerto para uma Voz [link atualizado 2017]

Continuo nas terças naquela vibe bockbuster e dessa vez creio que estou postando o álbum mais pop desde que comecei a fazer parte desta seleta equipe do P.Q.P.Bach…

Hoje temos nada mais, nada menos que o belíssimo Concerto para uma Voz de Saint Preux.

.

A peça título é famosíssima! Quem viveu nos anos 70 com certeza já a ouviu à exaustão (e nem é meu caso, nasci tempos depois), tal foi o grau de popularidade que alcançou. E ela foi composta quando Christian Langlade (olha ele aí ao lado, numa foto recente), que adotou o pseudônimo de Saint Preux (Santo Valente, numa tradução livre), contava com apenas 19 anos…

Acredito que essa peça dispense maiores comentários e, por isso essa postagem acabará curtinha. É também, o Concerto para Uma Voz, a razão de existir deste CD, que é todo gracioso: as outras faixas, todas composições de Saint Preux, são também muito bonitas (especialmente o Divertissement e o Concerto pour Elle) e bastante simples, palatáveis até para os os que não estão tão familiarizados com música erudita/instrumental. As obras de Langlade são, em geral, sencilhas, sem grandes problemas para o cérebro resolver, sem grandes complicações, e também muito leves. São daquelas coisas para se ouvir de manhã, junto a um bom café, num dia preguiçoso de luz farta e plácida, suave…

Ouça, ouça!

Saint Preux (1950)
Concerto para Uma Voz (1969)

01. Concerto pour une Voix
02. Prélude pour Piano
03. Allégresse
04. Le Theme du Garçon
05. L’Archipell du souvenir
06. Toccatta
07. Divertissement
08. La Recontre
09. La Reve
10. La Départ
11. La Fête Triste
12. Concerto pour Piano
13. Impromptu
14. Adagio pour Violin
15. Concerto pour Elle
16. Impressions

Laurence Janot, soprano (faixa 01)
Danielle Licari, soprano (faixa 15)
Orquestra não identificada
Saint Preux, regência
1991 (CD)

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Alice Ribeiro – Oito Canções Populares Brasileiras – José Siqueira (1907-1985) e Hekel Tavares (1896-1969) [link atualizado 2017]

A bela Alice Ribeiro nos brinda mais uma vez com sua límpida voz, agora pela sétima vez no P.Q.P.Bach (tem as outras seis postagens aqui, ó). Gente competente volta sempre, e como ela gravou uma boa quantidade de LPs, vira e mexe podemos disponibilizar algo para nossos seletíssimos usuários-ouvintes.

Sabe aqueles álbuns que são todo-bonitinhos? É bem a característica deste aqui, com Oito Canções Populares Brasileiras. Tem um ar bucólico, com canções realmente populares, que mostram muito da cultura do Brasil, dos cânticos mais introjetados em nossas tradições, de seu formato, vocabulário e fraseado tão característicos. Belo. folclórico, até.

Alice Ribeiro, acompanhada por Murillo Santos ao piano, dota o disco desse ar simples, agreste. Abaixo colei uma pequena biografia da soprano:

Alice Ribeiro (1920-1988) nasceu no Rio de Janeiro. Começou seus estudos de teoria musical e de piano com José Siqueira. Já o estudo de canto foi com Stella Guerra Duval e Murillo de Carvalho. Durante sua longa permanência na Europa frequentou o curso de alta interpretação da música francesa e alemã, com Pierre Bernac; a classe de Mise-en-scène, com Paul Cabanel, no Conservatório de Paris. Estudou repertório de música espanhola com Salvador Bacarisse.
Venceu concurso nacional de canto em 1936, com apenas 16 anos, realizando, desde então, inúmeras turnês nacionais e internacionais, particularmente nos Estados Unidos, França e nos países do leste europeu, notadamente na União Soviética. No Brasil, atuou como solista das Orquestras Sinfônicas do Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal, sob regência de Eugen Szenkar, Eric Kleiber, Hacha Horeinstein, Edoardo de Guarnieri, José Siqueira e outros (retirado de encarte do LP Alice Ribeiro na canção do Brasil).
Foi sucessora de Luis Cosme na cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Música.

Ah, agradecimentos re-reiterados e mais que especiais ao maestro Harry Crowl, que nos cedeu essa pérola!

O disco é lindo! Ouça, ouça, ouça!

Alice Ribeiro (1920-1989)
Oito Canções Populares Brasileiras

Leopoldo Hekel Tavares (1896-1969), arr. José Siqueira (1907-1985)
01. Benedito Pretinho
José Siqueira (1907-1985)
02. Vadeia, Cabocolinho
03. Loanda
04. Maracatu
Domínio popular, arr. José Siqueira (1907-1985)
05. Foi numa noite calmosa
06. Nesta rua
07. Dança do sapo
08. Natiô

Alice Ribeiro, soprano
Murillo Santos, piano
1958

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Carl Orff (1895-1982) – Carmina Burana (Osawa) [link atualizado 2017]

MUITO BOM !!!

Dando continuidade à minha fase blockbuster, disponibilizo esta vibrante edição da Carmina Burana de Carl Orff. Coisa adorável.

E Orff tem um aspecto que me é encantador: ele tinha uma capacidade sobre-humana de produzir músicas cativantes e imponentes usando-se de uma estrutura melódica extremamente simples e por muitas vezes até repetitiva (aliás, seu método de ensino de música baseava-se na repetição dos sons). Por exemplo, quando usa seis vozes no coro, faz com que as melodias sejam iguais para pares de naipes (sopranos e tenores, mezzo-sopranos e barítonos, contraltos e baixos), transformando-a, na prática, numa música a três vozes, porém, o efeito das vozes pareadas em oitavas vizinhas dota a melodia de grande profundidade e peso. Outra característica muito comum são os temas musicais repetidos várias vezes de forma igual e depois apenas alterando-se a tonalidade, subindo dois ou quatro tons ou uma oitava no trecho subsequente.

No entanto, ao mesmo tempo em que ele trabalha com fórmulas e composições simples, consegue efeitos orquestrais arrebatadores. Não à toa a faixa que inicia e arremata a peça, “O Fortuna”, é uma das músicas de concerto mais conhecidas em todo o globo, tal é seu impacto sobre nossos preciosos ouvidos. Carl Orff é daquelas provas cabais que não é preciso fazer música complicada para se produzir algo realmente fenomenal (deixo claro aqui que isso não exclui que eu goste demais de Bach, Mozart, Villa-Lobos e todos esses que faziam coisas complexas e desafiadoras para a mente): com toda a sua limpeza melódica, produziu esta grande e afortunada obra! Grande Orff!

Achei interessante e bastante explicativo o texto do encarte e o colei aqui:

“Minha coletânea de minhas obras começa com Carmina Burana”. Com estas palavras, Carl Orff caracterizou a posição da primeira obra inquestionavelmente de sua lavra, em seu desenvolvimento estilístico. Carmina Burana estreou em Frankfurt, em 1937, sob a regência de Oskar Waelterlin. Orff contava então 42 anos — um compositor de desenvolvimento tardio, que só logrou alcançar um estilo próprio, claro como uma gema, após várias incursões pelo Romantismo, Impressionismo, e o estudo imitativo das primeiras óperas barrocas de Monteverdi. Carmina Burana significa Canções de Benediktbeuern. Em meio à secularização de 1803, um rolo de pergaminho com cerca de duzentos poemas e canções medievais, foi encontrado na biblioteca da antiga Abadia de Benediktbeuern, na Alta Baviera. Havia poemas dos monges e dos eruditos viajantes em latim medieval; versos no vernáculo do alemão da Alta Idade Média, e pinceladas de frâncico. O erudito de dialetos da Baviera, Johann Andreas Schmeller, editou a coleção em 1847, sob o título de Carmina Burana. Carl Orff, filho de uma antiga família de eruditos e militares de Munique, ainda muito novo familiarizou-se com esse códice de poesia medieval. Ele arranjou alguns dos poemas em um “happening” — as “Cantiones profanae cantoribus et choris cantandae comitantibus instrumentis atque imaginibus magicis” — de canções seculares para solistas e coros, acompanhados por instrumentos de imagens mágicas. A obra aqui já é vista no sentido do teatro musical de Orff, como um lugar de magia, da busca de cultos e de símbolos. Esta cantata cênica é emoldurada por um símbolo de antiguidade — o conceito da roda-da-fortuna, em m3vimento perpétuo, trazendo alternadamente sorte e azar. Ela é uma parábola da vida humana, exposta a constantes transformações. Assim sendo, a dedicatória coral à Deusa da Fortuna (“O Fortuna, velut luna”), tanto introduz como conclui as canções seculares. Esse “happening” simbólico, sombreado por uma Sorte obscura, divide-se em três seções: o encontro do Homem com a Natureza, particularmente com o despertar da Natureza na primavera (“Vens leta facies”), seu encontro com os dons da Natureza, culminando com o do vinho (“In taberna”); e seu encontro com o Amor (“Amor volat undique”), como espelhado em “Cour d’amours” na velha tradição francesa ou burgúndia — uma forma de serviço cavalheiresco às damas e ao amor. A invocação da Natureza — o objeto da primeira seção — desemboca em campos verdes onde raparigas estão dançando e as pessoas cantando em vernáculo. As cenas festivas de libação desenrolam-se entre desinibidos monges, para quem um cisne assado parece ser um antegozo do Shangri-La, e entre barulhentos eruditos viajantes que louvam o sentido impetuoso da vida na juventude. Após muitos anos de experiência e deliberação, os Carmina Burana resultaram na primeira testemunha válida do estilo de Orff. Eles caracterizam-se por seu ritmo fortemente penetrante, comprimido em grandes ostinatos pelo som mágico da inovadora orquestração, e pela brilhante claridade da harmonia diatônica. Os recursos estilísticos utilizados são de espantosa simplicidade. A forma básica é a canção estrófica com uma melodia diatônica, como é hábito na música popular. Ao invés da harmonia extensivamente cromática do romantismo tardio, temos melodias claramente definidas, que levaram algumas vezes a uma errônea acusação de primitivismo. As canções estróficas reportam-se a formas medievais como a litania, baseada em uma série mais ou menos variada de curvas melódicas, cada uma correspondendo a uma linha de verso, e à forma sequencial, caracterizada por uma repetição progressiva de várias sequências de melodias. Os melodismos, particularmente nos recitativos, são reminiscências do cantochão gregoriano. Onde temos passagens líricas, fortemente emocionais, como por exemplo nos dois solos para soprano sobre textos latinos, e melodias mais anosas, no sentido operístico. A escritura coral é predominantemente declamatória. Os grupos instrumentais individuais são comprimidos em amplas massas tratadas na forma coral; somente as peculiares madeiras são ouvidas em solo, particularmente nas duas danças em que antigos ritmos e árias alemães são tratados no estilo peculiar de Orff. A percussão, reforçada por pianos, acentua o élan da partitura. A gama expressiva de Carmina Burana estende-se da terna poesia do amor e da natureza, e da elegância burgúndia de uma “Cour d’amours”, ao entusiasmo agressivo (“ln taberna”), efervescente joie de vivre (o solo de barítono “Estuans interius”), e à força devastadora do coro da Fortuna cercando o todo. O latim medieval da canção dos viajantes eruditos é penetrado pela antiga concepção de que a vida humana está submetida aos caprichos da roda-da-fortuna, e que a Natureza, o Amor, a Beleza, o Vinho e a exuberância da vida estão à mercê da eterna lei da mutabilidade. O homem é visto sob uma luz dura, não sentimental; como o joguete de forças impenetráveis e misteriosas. Esse ponto-de-vista é plenamente característico da atitude anti-romântica da obra.

Esta gravação é uma que muito me agradou (e outra daquelas que existem aos milhares e que eu não conheço tantas assim): orquestra e coro estão muito equilibrados (explico: é muito comum orquestra encobrir o coro nessa peça ou vice-versa: aqui isso não acontece), os solistas são de primeira linha (ainda que alguns glissandos que a Edita Gruberova produz me incomodem de leve), grandes estrelas, mesmo e, por fim, a regência de Seiji Osawa é peituda: a música sai com força, peso, volúpia! É mesmo arrebatadora, encantadora, eloquente!

Bom, que dizer mais depois disso? SEN-SA-CIO-NAL. Ouça! Ouça!

CARL ORFF (1895-1982)
Carmina Burana – Cantiones profanae

Fortuna Imperatrix Mundi
…01. O Fortuna
…02. Fortune plango vulnera
I. Primo vere
…03. Veris leta facies
…04. Omnia Sol temperat
…05. Ecce gratum
Uf dem Anger
…06. Dança
…07. Floret silva nobilis
…08. Chramer, gip die varwe mir
…09. Swaz hie gat umbe – Chume, chum geselle min
…10. Were diu werlt alle min
II. ln Taberna
…11. Estuans interius
…12. Olim lacus colueram
…13. Ego sum abbas
…14. In taberna quando sumus
Ill. Cour d’amours
…15. Amor volat undique
…16. Dies, nox et omnia
…17. Stetit puella
…18. Circa mea pectora
…19. Si puer cum puellula
…20. Veni, veni, venias
…21. In trutina
…22. Tempus est iocundum
…23. Dulcissime
Blanziflor et Helena
…24. Ave formosissima
Fortuna Imperatrix Mundi
…25. O Fortuna

Edita Gruberova, soprano
John Aler, tenor
Thomas Hampson, barítono
Coro Shinyukai
Shin Sekiya, regente do coro
Knabenchor des Staats – Und Domchores Berlin
Christian Grube, regente do coro
Filarmônica de Berlim
Seiji Ozawa, regente
Berlim, junho de 1988

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Bisnaga

Cristina Ortiz – Oito Compositores Brasileiros [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Cristina Ortiz é daquelas profissionais tão competentes que o Brasil não conseguiu segurar e manter residindo em terras verde-amarelas… Fato triste, por não a vermos com frequência embelezando nossas vidas cinzentas com suas récitas. Mas há um  alento, um meio-sorriso quando ela desembarca em solo pátrio para nos dar o ar de sua graça e, em se tratando de piano, quanta graça numa só pessoa!

Cristina se lança no piano como se o instrumento fosse uma extensão de seu próprio corpo, característica rara, presente somente nos melhores pianistas. Daquela mocinha simples, que assombrava os ouvintes com sua capacidade, chegou à maturidade, como bem diz a apresentação de seu site:

“Cristina Ortiz é uma artista que evoluiu de menina-prodígio à maturidade, determinada a comunicar ao mundo sua intuição, palette pianística, emoção e sensibilidade“, nos dizeres do jornal vienense ‘Die Presse’. Radicada na Inglaterra há muitos anos, são porém os dotes inerentes à sua cultura brasileira – paixão, espontaneidade e flexibilidade rítmica – os que mais fortemente transparecem em suas interpretações.

Solista com as mais famosas orquestras – Berlim, Chicago, Cleveland, New York, Praga, Viena, Londres – Cristina Ortiz já trabalhou sob a batuta de Ashkenazy, Chailly, Foster, Jansons, Järvi, Kondrashin, Leinsdorf, Masur, Mehta, Previn e Zinman, entre outros. Em tanto que camerista, tem se apresentado ao lado de artistas como Antonio Meneses, Uto Ughi, Emanuel Pahud, Lynn Harrell, ou o Quinteto de Sopro de Praga.

Possuidora de vasto e eclético repertório, quer em concertos ou gravações, seu compromisso com a música brasileira é evidente na aclamada ‘prémière’ do “Chôro” de Guarnieri no Carnegie Hall de New York ou nos 5 Concertos de Villa-Lobos, gravados para Decca. Cristina Ortiz continua sua procura por raridades musicais, através das obras de Clara Schumann, Mompou, Stenhammar, Schulhoff ou dos brasileiros Lorenzo Fernandez e Fructuoso Vianna.” (do site da pianista)

Hoje temos a dádiva de apresentar-vos a jovem Cristina Ortiz, leve e vibrante musicista em seus 26 anos, mandando ver em obras de compositores brasudcas de primeiríssima linha, como Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, José Siqueira e Cláudio Santoro, entremeados de outros menos conhecidos, mas cujas obras escolhidas para este álbum não estão de forma alguma em patamar inferior ao dos figurões. São eles Octavio Maul, José Vieira Brandão e Fructuoso Vianna. Repare que Cristina Ortiz foi peituda na produção deste LP e lançou mão de apresentar exclusivamente autores nacionais e contemporâneos: na época da gravação, 1976, apenas Nepomuceno e Maul haviam falecido (o ultimo faziam só 2 anos). Eram músicas novas, compostas com a mesma jovialidade de Cris (já fiquei íntimo…).

Um disco de altíssima categoria. Conheça mais um pouco de Cristina Ortiz e das belas músicas que a brasilidade produziu! Ouça! Ouça!

Cristina Ortiz (1950)
Cristina Ortiz

01. Galhofeira – Alberto Nepomuceno (1864-1920)
02. Prece – Alberto Nepomuceno (1864-1920)
03. Ponteio nº38 – Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)
04. Ponteio nº48 – Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)
05. Ponteio nº49 – Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993)
06. Tríptico: Choro – Octavio Maul (1901-1974)
07. Tríptico: Canção – Octavio Maul (1901-1974)
08. Tríptico: Samba – Octavio Maul (1901-1974)
09. Corta-Jaca – Fructuoso Vianna (1896-1976)
10. As Três Irmãs: Beatriz – Fructuoso Vianna (1896-1976)
11. As Três Irmãs: Pérola – Fructuoso Vianna (1896-1976)
12. As Três Irmãs: Rúbia – Fructuoso Vianna (1896-1976)
13. Estudo nº1 – José Vieira Brandão (1911-2002)
14. Congada – Francisco Mignone (1897-1986)
15. Segunda Valsa de Esquina – Francisco Mignone (1897-1986)
16. Cantiga – José Siqueira (1907-1985)
17. Paulistana – Cláudio Santoro (1919-1989)

Cristina Ortiz, piano
1976

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Bisnaga

Francisco Manuel da Silva (1795-1865) – Hino Nacional Brasileiro a 6 pianos – arr. Wagner Tiso (1945)

Ah, pessoal! Não dava pra fazer essa data passar batida, afinal, é dia da Independência do Brasil: há exatos 190 anos Dom Pedro declarava que nos separávamos de Portugal. Nem sei se bradou mesmo o tal “Independência ou Morte” e empunhou a espada, como na tela de Pedro Américo aí em cima. Provavelmente o ato foi menos poético, mas a imprensa e os órgãos oficiais devem ter floreado um pouco a história para dar-lhe um aspecto mais revolucionário.

Tudo bem que o Brasil nunca assistiu a uma verdadeira revolução: a Independência nos veio por uma briga de família e a República, admitamos, por um golpe de estado. Nunca o povo, a massa, se envolveu. Em ambos os acontecimentos tudo aconteceu liderado por pequenos grupos e não por grandes movimentos populares, e nos rincões profundos do país muita gente ignorou esses fatos por anos…

Ainda assim, ainda que muito se questione se somos ou não independentes ou o quão soberanos somos sobre nossas próprias posses, acredito que a Independência é uma data a ser celebrada: é o marco que nos configura como nação. a partir daí se pode dizer que somos brasileiros, essa amálgama de tantas raças e culturas que configurou este povo diverso e ao mesmo tempo único.

Para comemorar esse marco, que tal ouvirmos a peça mais conhecida de Francisco Manuel da Silva, esse grande compositor do qual conhecemos ainda muito pouco (conheceríamos menos ainda se não fossem as garimpadas de Avicenna), que influenciou muitos conterrâneos e foi responsável pela formação musical de outros tantos, como o próprio D. Pedro I ?

Fiquemos então com o Hino Nacional Brasileiro interpretado por seis dos nossos melhores pianistas. Aliás, há tempos o Brasil sempre tem mais de um pianista figurando entre os considerados melhores do mundo. Hoje temos aqui uma verdadeira constelação: Amilton Godoy, Antonio Adolfo, Arthur Moreira Lima, João Carlos de Assis Brasil, Nelson Ayres e Wagner Tiso! O arranjo de Tiso é muito bom e faz arrepiar até os pelinhos da nuca de nacionalistas como eu. Veja que show!

Francisco Manoel da Silva (1795-1865)
Hino Nacional Brasileiro
Arranjo para 6 pianos de Wagner Tiso (1945)

Amilton Godoy, piano
Antonio Adolfo, piano
Arthur Moreira Lima, piano
João Carlos de Assis Brasil, piano
Nelson Ayres, piano
Wagner Tiso, piano
Executado na Cerimônia de encerramento dos Jogos Mundiais Militares
Estádio Olímpico João Havelange, Rio de Janeiro, 24 de julho de 2011

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Ouça! Deleite-se! … E não se esqueça de nos escrever algo legal…

Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil ! Brasil !

Bisnaga

José Siqueira (1907-1985) – Concertino para Viola, Toada [link atualizado 2017]

MUITO, MAS MUITO BOM !!!

Quando, ouvindo aos apelos deste postulante que estava em pânico ao ver que seu acervo siqueirano estava findando, Harry Crowl afirmou que me passaria o Concertino para Viola de José Siqueira quase tive um tróço! Obra para viola escrita pela pena de um brasileiro é pra disparar o coração de um violista nacionalista como este que vos fala!

E o Concertino para Viola e Orquestra é obra para judiar do violista (coitado do Frederick Stephany): muitos tempos quebrados e sincopados, acordes inusuais e difíceis de se tocar, estruturação dos temas musicais complexa, ou seja, música para gente grande.  Música tensa, carregada, cheia de “atritos”, abrasiva até, se é que posso usar esse termo para descrever uma música. Coisa de fazer bonito frente a caras como Schnittke e Bártok! É daquelas que talvez não agrade na primeira audição e você tenha que escutar mais vezes para sentir na plenitude o imenso prazer que ela proporciona.

A postagem de hoje é curtinha: antes do concertino, apenas a bela Toada para Cordas, que já vos foi apresentada anteriormente em mais duas postagens. Hoje ela vem novamente regida pelo próprio José Siqueira, um pouco mais lenta e um pouco mais escura, mais cheia, numa orquestra maior. E está linda!

Agradecimento reiterado ao Harry Crowl que nos tem cedido solicitamente seus fonogramas do maestro José Siqueira!

Duas obras de caracteres bem diferentes, mostrando as facetas desse senhor compositor que foi o Zé Siqueira! Show! Ouça! Ouça!

José Siqueira (1907-1985)
Toada e Concertino para Viola

01. Toada para Cordas
02. Concertino para Viola e Orquestra

Frederick Stephany, viola
Orquestra Sinfônica da Rádio MEC
José Siqueira, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (33Mb)

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Ouça! Deleite-se! … E não se esqueça de nos escrever umas letrinhas amigas…

Bisnaga

José Siqueira (1907-1985) – Peças para Quarteto de Cordas: Tríptico Negro I, Toada e Louvação [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!, como não poderia deixar de ser, em se tratando de José Siqueira!

Meu acervo de José Siqueira, parco que só, já estava no fim, mas eis que levantei meu clamor aos céus e aos ouvintes/usuários deste blog e o maestro Harry Crowl abriu seu baú de preciosidades para compartilhar conosco mais algumas pérolas que fazem parte de seu acervo-tesouro musical. Por isso ainda temos hoje um último suspiro, um alento, um afago terno e singelo da música deste grande brasileiro alijado na história e que tentamos sofregamente recuperar.

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Na postagem de hoje, de Peças para Quarteto de Cordas, podemos ver muito bem como José Siqueira era um grande melodista. As peças deste álbum seguem suas vertentes de pesquisa mais destacadas: sobre música nordestina e música negra e… São lindas! São melodias que, se você ouvi-las por uma ou duas vezes, vão voltar e visitar sua memória e se repetir na sua cabeça. Mas não ache que isso ocorre porque as músicas são fáceis. Pelo contrário, se por um lado são de uma estrutura singela, sem muitos incrementos, possuem aquela profusão de síncopas característica dos ritmos brasileiros e tão apreciada e valorizada por Siqueira, e estão amarradas, todas elas, por melodias muito redondas, cantabiles, ricas em beleza.
Admito que o quarteto não é dos melhores que já ouvi, há momentos em que algumas notas não estão perfeitas, mas como ocorre comumente com música erudita brasileira, é a única gravação que conhecemos (com exceção da Toada, que está aqui): não há muito como escolher… De qualquer forma, as peças são interessantíssimas e valem (meu Deus, como valem) demais o download e a audição!

Agradecimento especial ao Harry Crowl que, sempre solícito aos nossos apelos, cedeu os fonogramas via Avicenna! Valeu muito vocês dois!

É coisa linda! Um primor! Ouça! Ouça!

José Siqueira (1907-1985)
Peças para Quarteto de Cordas

01. Louvação
02. Toada para Cordas
03. Triptico Negro I – 1. Calmo e Recitado
04. Triptico Negro I – 2. Calmo e expressivo
05. Triptico Negro I – 3. Apressado

Quarteto Brasileiro da UFRJ
Santino Parpinelli e Henrique Morelenbaum, violinos
Jacques Nirenberg, viola
Eugen Ranevsky, violoncelo

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (37Mb)

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José Siqueira regendo na URSS na década de 1980: repare no texto em cirílico…

Bisnaga

José Siqueira (1907-1985) – Concertos UFRJ [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!     Com três exclamações!

José de Lima Siqueira nos vem hoje no P.Q.P.Bach em sua oitava aparição por essas bandas. E essa postagem me vem com um tom já nostálgico: é a última cartada que tenho para dar com obras deste gênio tão pouco conhecido. Acabou tudo o que eu tinha… Estou aceitando doações/indicações de nossos ouvintes de material sobre ele.

(Harry Crowl, por favor, ajude-me abrindo seu baú de preciosidades mais uma vez).

José Siqueira, para mim, foi amor à primeira audição. Mal o tomei contato com suas obras, em fins do ano passado, já fiquei desesperado para conhecer mais, encontrar tudo sobre ele e divulgá-lo, espalhar sua música. Pra se ter uma ideia, já estou fazendo busca em alfabeto cirílico – Жосэ Сикыйра – pra ver se acho algo de sua estada na URSS… Ainda não encontrei nada, mas quem sabe…

Bom, hoje teremos, nesta que eu espero não ser a derradeira postagem que faremos de José Siqueira aqui no P.Q.P.Bach, um apanhado de sua obra: uma edição do Concertos UFRJ, excelente programa da universidade carioca que apresenta obras de ex-professores da Escola de Música. Ainda que coletâneas não sejam nosso forte e nem me agradem pessoalmente, pra essa eu tiro meu chapéu. Dá pra se ter uma boa ideia da variedade melódica das obras de Siqueira, com intérpretes e formações orquestrais e de câmara os mais variados, todos de grande categoria. Há obras para canto e piano, clarinete e piano, orquestra de câmara, orquestra completa, tem de tudo. Show de buela!

Em tempo, tem mais quatro postagens de álbuns com músicas de José Siqueira no blog Música Brasileira de Concerto (aqui). Recomendo a ‘Tenda’, com o Quarteto Bessler.

Ouça mais um pouco (e tudo que puder) deste gênio! Ouça! Ouça! Ouça! Ouça!

José Siqueira (1907-1985)
Concertos UFRJ

01. Segunda Cantiga
02. Estudo para Clarineta e Piano nº1
03. Estudo para Clarineta e Piano nº2
04. Estudo para Clarineta e Piano nº3
05. Vadeia Cabocolinho
06. Madrigal
07. Concerto para violino, I movimento
08. Toada para Cordas
09. O Canto do Tabajara
10. Recitativo, Ária e Fuga para Violoncelo e Orq de Cordas – I. Recitativo
11. Recitativo, Ária e Fuga para Violoncelo e Orq de Cordas – II. Ária
12. Recitativo, Ária e Fuga para Violoncelo e Orq de Cordas – III. Fuga
13. 3ª Valsa em Ré menor

Atílio Mastrogiovanni, piano (faixa 01)
Paulo Passos, clarineta/ Sara Cohen, piano (faixas 02 a 04)
Lia Salgado, soprano/ Alceo Bocchino, piano (faixa 05)
Maria Lúcia Godoy, soprano/ Murillo Santos, piano (faixa 07)
Orcar Borgerth, violino/ Orquestra Sinf. Nacional/ José Siqueira, regente (faixa 08)
Brasil Quarteto da Rádio Roquette Pinto (João Daltro de Almeida e José Alves da Silva, violinos, Nelson de Macedo, viola / Watson Clis, violoncelo) (faixa 09)
Fábio Presgrave, violoncelo/ Camerata Fukuda/ Celso Antunes, regente (f. 10 a 12)
Marcos Leite, piano (faixa 13) (bônus)

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (190Mb)

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José Siqueira regendo na URSS na década de 1980.

Bisnaga

Altamiro Carrilho (1924-2012)

Ah, perdemos Altamiro Carrilho.
Talvez essa não seja uma boa oportunidade de homenagear esse grande cara… Já se passaram uns dias em que o único mal irremediável a qual todos estamos fadados lhe ocorreu. Já não estamos no calor do momento, mas não poderia deixar algumas linhas escritas e, ao menos, um vídeo mostrando um pouco de Altamiro (nem tenho um CD aqui para subir, estão todos na outra casa…).

Eu o conheci em uma apresentação no interior de São Paulo. Consegui um autógrafo dele ao fim do espetáculo e, como o senhorzinho, na época com 81 anos estava meio desarvorado esperando a van que o levaria ao hotel e que não chegava, o convidei, em tom de brincadeira, para que se juntasse à nossa roda de amigos e fôssemos todos tomar uma cerveja.

Altamiro se aproximou, negou a cerveja (não bebia), mas uniu-se ao grupeto de jovens estudantes e conversamos de muitas coisas, desde música até as qualidades das pessoas e seu caráter. A prosa ia alta e animada quando, infelizmente a condução chegou e tivemos que nos despedir. E a conversa, ampla, eterna no sentido viniciano, durou apenas meia hora.

Parecíamos velhos amigo! Ele unia, de forma inacreditável, jovialidade e sagacidade espantáveis ao peso de sua experiência de pessoa vivida. Uma frase que nos disse eu nunca esquecerei:

“Não somos nada mais do que aquilo que deixamos de nós nos outros.”

Altamiro Carrilho deixou muita coisa boa naquela curta meia hora que conversamos. Era, para além de um dos maiores flautistas que o mundo já assistiu, de compositor de mão cheia, autor de mais de 200 músicas, um grande coração, um imenso ser humano.

Ê, seu Altamiro, já tá deixando Saudade…

Bisnaga

A Voz de Alice Ribeiro na Canção do Brasil – 2 Volumes [link atualizado 2017]

Alice Ribeiro, Alice Ribeiro…

Ah, Alice Ribeiro! Ela era mesmo daquelas que podemos chamar de diva! Bela e dona de uma linda voz, com técnica e com carisma. E o que mais me agrada é que ela era muito versátil: consegue seguir músicas mais pesadas, mas sua voz se destaca em canções de câmara, mais singelas, pela limpidez do seu timbre e pela clareza da dicção, bem acima dos padrões de uma cantora lírica. As músicas aqui soam quase como se fossem MPB, sendo possível fazer comparações com cantoras de música de rádio de voz aguda como a de Alice: não é difícil aproximá-la a Dalva de Oliveira, por exemplo.

A soprano era dona de uma técnica e de uma pureza na voz impressionantes. Seu casamento com José Siqueira foi uma feliz união de duas pessoas competentíssimas na música e, se por um lado o fato de Siqueira escalá-la costumeiramente para executar suas músicas foi uma forma de proteção a Alice Ribeiro, a perfeição da moça nas interpretações das peças também muito ajudou a divulgar o trabalho do marido. Dupla pra lá de boa essa! Nem vou me alongar muito nos elogios porque eles vão acabar sendo redundantes depois das postagens já realizadas.

<< contracapa do disco autografada por Alice Ribeiro (está no arquivo para download)

No Primeiro Volume de A Voz de Alice Ribeiro na Canção do Brasil, a soprano coloca toda a sua delicadeza novamente em cena para interpretar canções de motivos populares do Brasil, contemplando compositores de várias partes do país, com destaques aqui para os dois autores mais contemplados: José Siqueira, paraibano arretado que vai buscar e defender a música com influência especialmente negra e nordestina, e Waldemar Henrique, este último, grande compositor paraense que se destacou especialmente pelas canções que criou, muitas ligadas ao folclore e à cultura do Amazonas. E as canções de ninar que ela canta, então (Papai Noel, Acalanto e Balança Eu)? Dá para embalar seus filhos ou netos para dormir até hoje.

O volume dois de A Voz de Alice Ribeiro na Canção do Brasil (e que voz!) é mais lento e tem uma característica mais de acalanto que o primeiro. É mais terno, mais intimista, mais maternal até. E segue com canções que estão exatamente no meio-fio entre o erudito (a música de concerto) e o popular: não são poucos os momentos em parece que estamos ouvindo uma daquelas músicas que apareciam nos antigos filmes dos estúdios da Atlântida. Isso se dá pela orquestração simples e pela leveza e clara dicção de Alice Ribeiro. Fica-se a questionar, novamente, se é que existe algo que divida o erudito do popular. As músicas aqui cantadas pela soprano, contemplando compositores cariocas (Lorenzo Fernandez, Roberto Duarte, Ricardo Tacuchian), paraibanos (os irmãos Siqueira) e paraenses (Waldemar Henrique, Jayme Ovalle), mostram exatamente isso, e são de um alto grau de pureza e de ligação com nossas canções.

Bom, chega de lenga-lena, vamos à música! Ouça! Ouça!

Ah, esse volume duplo leva o carimbo de IM-PER-DÍVEL!!!

Alice Ribeiro (1920-1988)
A Voz de Alice Ribeiro na Canção do Brasil – Vol.1

01. A Casinha Paquenina – arr. José Siqueira (1907-1985)
02. Coco Peneruê – Waldemar Henrique (1905-1995)
03. Papai Noel – Francisco Mignone (1897-1986)
04. Natiô – José Siqueira (1907-1985)
05. Engenho Novo – Leopoldo Hekel Tavares (1896-1969)
06. Acalanto – Ernani Braga (1888-1948) (letra Manoel Bandeira, 1886-1968)
07. Azulão – Jayme Ovalle (1884-1955)
08. Querer Bem não é Pecado – Osvaldo de Souza, Ricardo Tacuchian (1939)
09. Balança Eu – José Siqueira (1907-1985)
10. Nesta Rua – arr. José Siqueira (1907-1985)
11. Boi-bumbá – Waldemar Henrique (1905-1995)
12. Virgens Mortas – Francisco Braga (1868-1945)

Alice ribeiro, soprano
(sem informação da orquestra)
José Siqueira, regente
Rio de Janeiro, 1968

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (84Mb)

Alice Ribeiro (1920-1988)
A Voz de Alice Ribeiro na Canção do Brasil – Vol.2

01. Toada Baré – Arnaldo Rebello (1905-1984), arr. Roberto Ricardo Duarte (1941)
02. Foi Numa Noite Calmosa – José Siqueira (1907-1985)
03. Maracatu – Waldemar Henrique (1905-1995), arr. Roberto Ricardo Duarte (1941)
04. Dorme Coração – Arnaldo Rebello (1905-1984), arr. Roberto Ricardo Duarte (1941)
05. Dentro da Noite – Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948), arr. Roberto Duarte (1941)
06. Você – José Siqueira (1907-1985)
07. Por Quê? – Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993), arr. Ricardo Tacuchian (1939)
08. Toada para Você – Oscar Lorenzo Fernandez (1897-1948), arr. Elza Lakschevitz
09. Modinha – Jayme Ovalle (1884-1955), arr. José Siqueira (1907-1985)
10. Banho de Cheiro – Osvaldo de Souza, arr. Odemar Brígido (1941)
11. Tamba Tajá – Waldemar Henrique (1905-1995), arr. Roberto Ricardo Duarte (1941)
12. Cantiga para Ninar – Haroldo Costa (1930), arr. Ricardo Tacuchian (1939)
13. Que Sorte, Que Sina – João Baptista Siqueira (1906-1992)

Alice ribeiro, soprano
(sem informação da orquestra)
José Siqueira, regente
Rio de Janeiro, 1968

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (191Mb)

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Bisnaga

Alice Ribeiro: Chants du Brésil – Ernani Braga (1888-1948), Hekel Tavares (1896-1969), Waldemar Henrique (1905-1995), José Siqueira (1907-1985) e Zé do Norte (1908-1979) [link atualizado 2017]

Demais esse LP !!

Chants du Brésil é uma pequena coleção (são apenas 8 músicas) lançada na França com canções brasileiras de compositores contemporâneos (naquele ano de 1953), em sua maioria eruditos, baseadas em temas populares do Brasil. Ela foi organizada, arranjada e regida pelo maestro José Siqueira, grande panfletário da música brasileira, e tem nos solos a doce voz da soprano Alice Ribeiro, que aqui no P.Q.P. Bach já nos deu o ar de sua graça em peças mais pesadas, densas e corpulentas: o Cangerê (aqui) de Baptista Siqueira, e Xangô (aqui) e Candomblé (aqui), de seu marido José Siqueira.

Aqui, em Chants du Bresil (não se engane, esta obra é mais antiga que as citadas) o caráter geral é bem mais leve que as demais: Alice Ribeiro é acompanhada por uma orquestra de câmara e há um clima caseiro, até jocoso. Boa parte dessas músicas eu aposto que vocês já ouviram suas mães ou avós cantarem. Tal é o grau de sintonia que todos os compositores aí contemplados tinham com a cultura popular e a maestria melódica que possuíam que essas canções se tornaram de domínio público, como se existissem há séculos…

É um álbum todo de canções curtas, porém, belas e singelas, de muita graciosidade, como se fosse uma caixinha de joias de família que um dia se abre para que os demais conheçam. Esse tom caseiro é dado também pelo caráter ágil e sencilho que Alice Ribeiro imprime à sua voz…
Alice Ribeiro (1920-1988) nasceu no Rio de Janeiro. Começou seus estudos de teoria musical e de piano com José Siqueira. Já o estudo de canto foi com Stella Guerra Duval e Murillo de Carvalho. Durante sua longa permanência na Europa frequentou o curso de alta interpretação da música francesa e alemã, com Pierre Bernac; a classe de Mise-en-scène, com Paul Cabanel, no Conservatório de Paris. Estudou repertório de música espanhola com Salvador Bacarisse.
Venceu concurso nacional de canto em 1936, com apenas 16 anos, realizando, desde então, inúmeras turnês nacionais e internacionais, particularmente nos Estados Unidos, França e nos países do leste europeu, notadamente na União Soviética. No Brasil, atuou como solista das Orquestras Sinfônicas do Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Distrito Federal, sob regência de Eugen Szenkar, Eric Kleiber, Hacha Horeinstein, Edoardo de Guarnieri, José Siqueira e outros (retirado de encarte do LP Alice Ribeiro na canção do Brasil).
Foi sucessora de Luis Cosme na cadeira nº 8 da Academia Brasileira de Música.

Em tempo: esse disco foi um grande sucesso, um dos campeões de vendas na França no ano de seu lançamento. Só tem gente de muita categoria na execução das peças. Muito bom, mesmo!
Então… Ouça! Ouça!

Alice Ribeiro (1920-1988)
Chants du Brésil

1. Mulher Rendeira, de “O Cangaceiro” – atrib. Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento, 1908-1979)
2. A Casinha Paquenina – arr. José Siqueira (1907-1985)
3. Coco Peneruê – Waldemar Henrique (1905-1995)
4. Engenho Novo – Leopoldo Hekel Tavares (1896-1969)
5. Abaluaiê – Waldemar Henrique (1905-1995)
6. Acalanto – Ernani Braga (1888-1048) (letra Manoel Bandeira, 1886-1968)
7. Meu Engenho é de Humaita – José Siqueira (1907-1985)
8. Boi-bumbá – Waldemar Henrique (1905-1995)
9. Faixa bônus

Alice ribeiro, soprano
(sem informação da orquestra)
José Siqueira, regente
Paris, 1953

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Bisnaga

Paulo Ronqui – Paulicéia: obras paulistas para trompete solo [link atualizado 2017]

MUITO BOM !!!

Quem diria, heim: o violista aqui postando obras pra trompete… Isso é sinal de que só pode ser coisa boa. O solista deste álbum que vos apresentamos hoje é o entusiástico Paulo Ronqui, importante trompetista que, apesar de jovem, é nome já muito respeitado no meio. Este CD que apresento para vocês é um trabalho minucioso que faz um panorama das obras paulistas dedicadas ao trompete, partindo desde o século XIX até anos bem recentes.

Na verdade seria bem difícil encontrar alguma composição para trompete no período colonial brasileiro: nos três primeiros séculos desses limites que hoje chamamos Brasil, a música que se registrava (e que por isso chegou até nós) era a religiosa, com solos quase que exclusivamente vocais. Com a chegada da Família Real ao país em 1808 muita coisa muda, uma delas é o surgimento e a rápida proliferação de bandas marciais: os instrumentos de sopro se tornam mais populares e mais presentes no cotidiano das cidades e na vida das pessoas. Com algum tempo, compositores, especialmente a partir do período romântico, passaram a debruçar-se sobre as páginas pautadas para escrever obras para esse que é um dos instrumentos de maior destaque nas bandas (e que ganha papel mais relevante também nas orquestras a partir do século XIX). Por esse motivo as obras mais antigas deste álbum são duas singelas melodias do compositor romântico José Pedro de Sant’Anna Gomes (sim, sim, é parente de Carlos Gomes, irmão mais velho dele), criado na música na banda de seu pai, Manoel José Gomes.

No século XX a música se diversifica bastante e novos compositores escrevem para o trompete, agora em número muito maior, por isso a quase totalidade das obras deste CD serem de compositores contemporâneos (aliás, na época de produção do disco, apenas Sant’Anna Gomes e Camargo Guarnieri eram falecidos). Paulo Ronqui mostra grande versatilidade para dar conta de peças tão variadas, com acompanhamentos e levadas tão diferentes, desde obras mais lentas, como a Norma Jeane de Mojola até outras mais rítmicas e sincopadas como a Invocação de Oswaldo Lacerda e o Ponteio de Villani-Côrtes, passando por outras de estrutura composística complexa, como o estudo de Camargo Guarnieri.

É um conjunto diversificado e rico, que demonstra muito bem as possibilidades e sonoridades desse instrumento fascinante! Ouça! Ouça!

Paulo Ronqui
Paulicéia: obras paulistas para trompete solo:

Oswaldo Lacerda (São Paulo, SP, 1927 – São Paulo, SP, 2011)
01. Invocação e Ponto, para trompete e orquestra
02. Invenção para trompete, trompa e trombone

Edmundo Villani-Côrtes (Juiz de Fora, MG, 1930)
03. Concerto no. 1 para trompete, I. Ponteio para as Alterosas
04. Concerto no. 1 para trompete, II. Aquífero-Guarani
05. Concerto no. 1 para trompete, III. Valsa Rancheira

Eduardo Escalante (Buenos Aires, Argentina, 1937)
06. Duo No. 14 para trompete e violão
Celso Mojola (Jundiaí, SP, 1960)
07. Norma Jeane, para trompete e piano
Mozart Camargo Guarnieri (Tietê, SP, 1907 – São Paulo, SP, 1993)
08. Estudo para trompete em Dó
José Pedro de Sant’Anna Gomes (Campinas, SP, 1834 – Campinas, SP, 1908)
09. Andante
10. Bolero

Ernst Mahle (Stuttgart, Alemanha, 1929)
11. Concertino para trompete e orquestra

Paulo Ronqui, Trompete (faixas 1 a 11)
Isac Emerick, Trompa (faixa 2)
Robson de Nadai, Trombone (faixa 2)
Rafael dos Santos, Piano (faixas 3, 4, 5, 9, 10)
Clóvis Barbosa, Violão (faixa 6)
Maria José Carrasqueira, Piano (faixa 7)
Fernando Hashimoto, Percussão
Aylton Escobar, Regência (faixas 1 e 11)
Orquestra de Cordas do CD (faixas 1 e 11):
Campinas, 2005

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (86Mb)

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……….“Eu não acerto essa nota com muita frequência!”

Bisnaga

P.Q.P.Bach na Revista Concerto

Meus caros, P.Q.P.Bach está conhecido no meio especializado! Seu trabalho de polinização da beleza pela blogosfera e arredores tem dado frutos. O reconhecimento e a fama vieram por conseguinte.

Esse mês, na reportagem da Revista Concerto, o blog foi citado na reportagem de capa. Estamos lá, ó:
.

QUEM TEM MEDO DE MÚSICA CLÁSSICA?

(…) E se por algum motivo não for possível se aproximar do universo clássico indo a apresentações ao vivo? Como alguém interessado no assunto poderia se aprofundar? Em primeiro lugar, dispomos em São Paulo (e, pela internet, em todo o Brasil) de uma rádio dedicada exclusivamente à música clássica, a Rádio Cultura FM (103,3 MHz ou www.culturafm.cmais.com.br). Emissora sustentada pelo governo do estado, a Cultura FM transmite uma programação diversificada que vai de programas introdutórios a difusão de concertos completos, 24 horas por dia. No Rio de Janeiro, a rádio MEC FM (989 MHz ou vvvv.radiomec.com.br), hoje filiada à estatal EBC (Empresa Brasil de Comunicação), cumpre papel análogo. Outra grande fonte de informações e oportunidades para um contato mais estreito com a musica de concerto é oferecida pela internet. Hoje, praticamente qualquer peça pode ser encontrada e, em parte, ouvida no YouTube. O mesmo acontece se a busca for sobre determinado intérprete, vivo ou morto. Aqui, contudo, o que geralmente se vê são pequenos trechos sem contextualizações adequadas. Outra boa pedida são sites e blogs especializados, como os estrangeiros Classical Archives (classicalarchives.com) ou Classics Online (classicsonline.com), nos quais é possível escutar peças e ler textos sobre determinado compositor ou obra. Ouvir 30 segundos de cada composição é gratuito, mas com uma assinatura mensal (que gira em torno de USS 7) é possível ter acesso a qualquer CD na íntegra.Há ainda a opção de compra de determinadas faixas ou álbuns, ‘independentemente de assinatura.

Já no caso dos blogs, existem boas opções em português e que disponibilizam algumas preciosidades em áudio. Vale a pena visitar o Música Sacra e Profana Brasileira (http://musicasacrabrasileira.blogspot.com.br), o Brazilian Concert Music (http://musicabrconcerto.blogspot.com.br) ou o P.Q.P.BACH (http://www.sul21.com.br/blogs/pqpbach).

[e ainda citou blogs que admiramos: MSPB e MBC…]

(…) Para todas essas opções que excluem a experiência do “ao vivo”, deve-se atentar, contudo, para um detalhe importante: a qualidade do som. Se hoje, por um lado, há muito mais possibilidades de contato com o universo da música clássica por meios de reproduções mecânicas e/ou digitais, por outro a qualidade do som não deve ser desprezada, já que é fator fundamental para se ouvir musica clássica (e especialmente sinfônica). Não é qualquer pequena caixa de som ligada a um tocador de MP3 que dará conta de uma sinfonia de Mahler, por exemplo, o mais provável é que o ouvinte fique enfadado ao ouvir um som achatado, uma massa sonora pouco discernível e um tanto irritante.

José Siqueira (1907-1985) – Concerto nº1 para Violoncelo [link atualizado 2017]

MUITO, MAS MUITO BOM !!!

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Ah, Como José Siqueira era bom! Correção: É bom: sua música continua aqui, ainda que haja uma boa dificuldade em encontrá-la, tão intenso e proposital foi o alijamento que os seguidores do regime militar tentaram fazer com sua obra. Mas não nos abatamos, pois estamos aqui para celebrar, para repartir a beleza encontrada e a nós oferecida por Harry Crowl, que mais uma vez abre seu baú de tesouros e raridades.

 

Hoje temos em mãos, felizmente, o vibrante Concerto nº1 para Violoncelo. Peça ágil, difícil, toda ela aguda e sincopada, que judia bastante do solista. Com certeza José Siqueira não estava nem um pouco preocupado que estrangeiros, pouco familiarizados com os ritmos todos “quebradinhos” e gingados do Brasil, viessem um dia a executá-lo. E, se o fizessem, que dessem lá seu jeito!

Esta é uma obra muito mais regional do que étnica, portanto de caráter diferente das anteriores Xangô e Candomblé. O ritmo é muito mais decisivo no caráter geral da peça. O primeiro movimento já se inicia com o violoncelo em uma levada muito semelhante ao do repente e de outros ritmos bem característicos do sertão nordestino. Siqueira puxa para os registros agudos do violoncelo de forma tal a assemelhá-lo propositalmente com o som da rabeca. Segue-se um segundo movimento mais melancólico, mas de linda melodia, para finalizar o concerto novamente animado, agora com um coco gingado e pulsante. Que bela obra!

Um primor! Ouça!  Ouça! Ouça!

José Siqueira (1907-1985)
Concerto nº1 para Violoncelo e Orquestra

1. Allegro
2. Modinha
3. Côco

Iberê Gomes Grosso, violoncelo
Orquestra Sinfônica da Rádio MEC
José Siqueira, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (28Mb)

Ouça! Deleite-se! … Mas, antes ou depois disso, deixe um comentário…

Quer saber um pouco mais sobre José Siqueira? Veja este blog.

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“Ôxe! Mas esse rapaz José Siqueira é arretado mesmo!”

Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896) – Aberturas e Prelúdios (Scharovsky) [link atualizado 2017]

MAIS UM BAITA DISCÃO!!

Regozijai, ó brasileiros, brasilianistas e todos os que nutrem amor por esta pátria verde e amarela!  Antonio Carlos Gomes está de volta com mais um álbum SENSACIONAL!
Depois da postagem de suas aberturas com o peso-pesado Eleazar de Carvalho  (aqui) lhes garanto que  esta, com a mesma Orquestra Sinfônica Brasileira na condução agora do maestro Yeruham Scharovsky, também há de lhes agradar imensamente. Scharovsky é daqueles daqueles regentes  bravos, briguentos, de personalidade forte, que já deixou algumas orquestras por conta de brigas internas. Mas por isso mesmo, pela personalidade marcante, que o maestro judeu-argentino consegue imprimir densidade e intensidade em suas conduções. Ele está atualmente à frente de, nada mais, nada menos que a portentosa Orquestra Sinfônica de Jerusalém.

Nas aberturas e prelúdios por ele comandadas neste álbum é possível visualizar as mudanças que foram ocorrendo na obra de Carlos Gomes, pois as peças nos são elencadas em ordem cronológica. Gomes começa totalmente verdiano: as aberturas das duas primeiras óperas, A Noite do Castelo e Joanna de Flandres, estreadas no Brasil, lembram algo como Nabucco e Il Trovatore. Já Il Guarany imprime alguns traços nacionalistas, mas ainda se apresenta bastante ligada à escola italiana e à influência da figura onipresente de Verdi no cenário operístico milanês. Na escura Fosca, Carlos Gomes flerta com a ópera alemã: há uma tênue ligação com os wagnerianos, mas ainda era difícil se desvencilhar dos padrões italianos. Seguem-se as elaboradas overtures de Salvator Rosa e Maria Tudor: Nhô Tonico era compositor maduro e essas aberturas são mais densas e mostram um domínio maior dos instrumentos da orquestra. Temos então as obras de Lo Schiavo e Odaléa: dez anos de hiato na produção de óperas (entre Maria Tudor e Lo Schiavo) mostram um Carlos Gomes menos pesado e muito mais elegante, bem diferente do padrão das obras gomianas mais difundidas: ele se aproxima dos padrões da escola francesa e estava melhor do que nunca (é, particularmente, o que entendo como o que de melhor de Carlos Gomes que há)! Infelizmente nos deixou com apenas 60 anos e só nove óperas acabadas… Com mais tempo nos teria legado ainda mais e melhores tesouros…

O CD é belíssimo! Ouça em excesso!

Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Aberturas e Prelúdios

01. A Noite do Castelo, Abertura
02. Joanna de Flandres, Abertura
03. Il Guarany, Prelúdio Original
04. Il Guarany, Abertura
05. Fosca, Abertura
06. Salvator Rosa, Abertura
07. Maria Tudor, Abertura
08. Lo Schiavo, Abertura
09. Lo Schiavo, Alvorada (prelúdio do 3º ato)
10. Condor (Odalea), Abertura

Orquestra Sinfônica Brasileira
Yeruham Scharovsky, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (82Mb)

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Ouça! Deleite-se! … Mas não se esqueça de me escrever umas linhas. 

Bisnaga

João Baptista Siqueira (1906-1992) – Nordeste; Jandaia [link atualizado 2017]

MUITO BOM !

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João Baptista Siqueira nasceu no semiárido paraibano e seu pai, mestre de banda em sua terra natal, lhe deu o mesmo nome que tinha. Talvez depositasse na continuidade do nome as esperanças de que a vida desse ao filho mais oportunidades do que ele mesmo tivera.

Ainda que Baptista Siqueira seja para nós quase um ilustre desconhecido, há que se concordar que teve uma vida melhor que seu pai. No Rio de Janeiro pôde exercer a música com muito mais meios que teria em Princesa Isabel. Teve ainda papel destacado no antigo Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música de UFRJ), um dos grandes celeiros de compositores, regentes e musicistas eruditos do país, sendo ele mesmo seu 11º diretor. Foi um importante pesquisador da música nacional, notadamente da indígena, que muito influenciou os sons brasileiros. Como teórico foi autor de vários livros, como Influência Ameríndia na Música Folclórica do Nordeste, Raridades Musicais da Imprensa Imperial, Novos rumos do estudo do fado, Modinhas do Passado, Ernesto Nazareth na Música Brasileira, Ficção e Música, Folclore humorístico, Que é som metafísico? e Do Conservatório à Escola de Música: ensaio histórico. Neste último recuperou boa parte da história da instituição.

Dentre as obras que hoje apresentamos temos Nordeste, um grande passeio por alguns dos tantos formatos musicais que a diversificada cultura dessa região de nosso país abarca, quase uma rapsódia, porém no formato de sinfonia com acompanhamento de piano, por vezes, lembrando, em sua forma, o belíssimo Concerto para Piano e Orquestra em Formas Brasileiras nº 2, de Hekel tavares (não ouviu? veja aqui). Há também Jandaia, poema sinfônico que busca referências na música indígena de grande qualidade. ambas as músicas deste LP não são tão arrojadas como a cantata Cangerê (postada aqui no PQP na semana passada), mas são melodicamente mais envolventes, muito bonitas. Vale muito a pena conhecer!

Ouça! O cara era muito bom!

João Baptista Siqueira (1906-1992)
Nordeste; Jandaia

Nordeste, Sinfonia para piano e orquestra
1. Introdução e primeiro movimento
2. Modinha
3. Coco cajueiro
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Jandaia, Poema Sinfônico
4. Jandaia

Murillo Santos, piano
Henrique Morelenbaum, regente

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Ouça! Deleite-se! … Mas seja legal e não se esqueça de dar uma satisfação para o postulante…

Bisnaga

João Baptista Siqueira (1906-1992): Cangerê, Cantata em Tupi (Siqueira)

João Baptista Siqueira (1906-1992): Cangerê, Cantata em Tupi (Siqueira)

IM-PER-DÍ-VEL !!! (mais uma vez!)

Para fazer ponte com Xangô, a cantata negra do genial José Siqueira, postada na semana passada (aqui), que tal ouvir agora Cangerê, a cantata em Tupi escrita pelo fabuloso (não vou usar meias palavras: é fabuloso, sim!) e desconhecido João Baptista Siqueira?

Confesso que ando com uma certa raiva de mim mesmo por conhecer pouco de José Siqueira e uma raiva ainda maior por desconhecer completamente a existência de Baptista Siqueira até há pouco tempo atrás. São dois nomes que o regime militar fez questão de colocar no ostracismo e que foram importantíssimos para a música brasileira.

João Baptista Siqueira, nosso homenageado de hoje, nasceu em Princesa, na Paraíba, em 1906. Não estranhe os sobrenome igual: ele era irmão, um ano mais velho, de José Siqueira, ambos filhos de um maestro de banda e com quem aprenderam as primeiras notas. Os dois rapazes, João Baptista e José, vieram para o Rio de Janeiro para prestarem serviço militar e integraram, ambos, a banda do regimento. João só conseguiu ingressar no Instituto Nacional de Música (hoje Escola de Música da UFRJ) aos 23 anos e lá foi aluno de grandes mestres como Francisco Braga e Francisco Mignone. Em pouco tempo passaria a integrar o corpo docente do Instituto onde seria um professor e teórico destacado. Enquanto José Siqueira tinha uma atuação mais empreendedora, plantando orquestras pelo país, João Baptista atuava mais com registros da música local e com a teoria: foi crítico musical do jornal A Coluna do Rio de Janeiro e publicou vários livros, dentre os quais Folclore Humorístico. Influên­cia Ameríndia na Música do Nordeste, Modinhas do Passado, Pentamodalismo e Ernesto Nazareth. Baptista Siqueira percebia claramente que era preciso conhecer melhor a nossa música. Dessa maneira, como não poderia deixar de ser, suas composições são fortemente influenciadas pelos cantos da terra: são concertos, cantatas, modinhas uma missa e uma ópera que, via de regra, se baseiam nas formas melódicas e rítmicas dos negros, índios, caiçaras e caipiras do Brasil:  um nacionalista de mão cheia!

Na cantata que ora apresentamos, Cangerê, bilíngue (em tupi e português), Baptista Siqueira consegue com primor marcar os elementos sonoros indígenas em música coro-orquestral de grande qualidade. Aqui percebe-se que, além de tudo, ele era um grande melodista: sua música é muito bonita. A execução também é valorizada pela bela voz de sua cunhada, Alice Ribeiro, e pela regência do mano José Siqueira (percebe-se que essa gravação foi uma reunião do pessoal do Instituto Nacional de Música).

O encarte do LP nos conta um pouco mais sobre a obra e como a obra foi feita:

A palavra Cangerê foi registrada pela primeira vez no século XVI por Jean de Lery em sua famosa obra “Viagem á Terra do Brasil”, quando trata da “religião dos selvagens”. A obra de Jean de Léry é da mais alta significação para nosso pais, seja no domínio histórico. etnológico ou musical: fornece termos, ritmos e até mesmo contos dos Tupinambás e Tamoios do tempo colonial, anteriores à chegada do elemento negro ao solo do Brasil. O viajante do século XVI que nos fornece tão precioso acervo Intelectual é, entretanto. um simples missioná­rio ealvinIsta que viera ao Brasil ajudar Villegagnon na cons­trução da malograda França Antártica.

Em 1956 foi iniciado o trabalho de composição da Cantata Cangerê, na base do sistema que o autor chamou de Pentamodalismo Nordestino, divulgado em obra especializada. O pro­cesso pentamodal se orienta em cinco escalas modais encon­tradas na temática popular do alto sertão, notadamente nos Estados da Paraíba, Ceará e Pernambuco. A forma estrutural das sete Catiras que compõem a Cantata Cangerê obedece ao corte da canção popular brasileira, incluindo-se, obrigatoria­mente, duas idéias temáticas contrastantes. O ambiente harmônico nasce das próprias escalas utilizadas na construção me­lódica. Os modos em que foram escritos os cantos sagrados, ou Catiras, têm caráter místico determinado. Nascem dai grupos rítmicos que sintetizam o conjunto de circunstâncias que estão, por seu turno, ligados às celebrações rituais de povos silvícolas. É necessário frisar, todavia, que os ameríndios faziam seus festivais sagrados sob a direção de Caraíbas, empregando, de preferência, coros e instrumentos suaves e não as buzinas estridentes que usavam nos momentos de combate ou nos poracés.
Nesta cantata, o autor evoca certos motivos da Teogonia Tupi na lingua geral, através de dados obtidos nas distantes regiões do Brasil Central e instrumentos originais dos indígenas brasileiros, tais como: inké (instrumento de invocação de Iara); iuxé (instrumento de invocação do caboclo Cachoeira); arremedo de Inambu e da Jacutinga.

Em tempo (1): há menos de 20 dias seu acervo foi doado para a Biblioteca Alberto Nepomuceno, da escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela dona Zilma Siqueira, viúva do compositor, e está sendo organizado.

Em tempo (2): semana que vem teremos aqui no PQP a sinfonia Nordeste de Baptista Siqueira, ainda mais bonita que esta Cangerê!

Bom, chega de lenga-lenga! Pode se jogar de cabeça que a música de Baptista Siqueira é muito boa!
Mais uma joia! Ouça!

João Baptista Siqueira (1906-1992)
Cangerê, Cantata em tupi para soprano, coro e orquestra (1958)

1. Evocação a Tupã
2. Evocação a Iara
3. Defumação
4. Ritual do Cangerê
5. Exaltação à terra
6. Confraternização
7. Encerramento

Alice Ribeiro, soprano
Orquestra e Coro do Instituto Nacional de Música da Universidade do Brasil (provável: não foi identificada no encarte)
Murillo de Carvalho, regente do coro
José Siqueira, regente

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LINK ALTERNATIVO

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Bisnaga

Antonio Carlos Gomes (1836-1896) – Aberturas e Prelúdios (Carvalho) [link atualizado 2017]

UM BAITA DISCÃO!!

Depois da estupenda postagem do Avicenna logo ali abaixo (se você está fazendo busca e não está na ordem, é a essa postagem aqui a que me refiro), achei por bem fazer uma nova contribuição ao repertório de Antonio Carlos Gomes, com essa bela reunião de aberturas e prelúdios das óperas do mestre, com a qualidade da Orquestra Sinfônica Brasileira sob a batuta firme de um dos grandes nomes da regência de nosso país: Eleazar de Carvalho. Só poderia sair coisa boa.

Na grande condução de Carvalho é possível ver o Carlos Gomes de vários períodos, desde a imponente overture de  Il Guarany, obra em que já se apresentava maduro e inovava os padrões da ópera italiana, chegando às últimas e mais melodiosas obras, com o Noturno de Condor e a fantástica Alvorada de Lo Schiavo, cuja abertura é da mesma forma bela. Há ainda a militaresca entrada de Salvator Rosa e a densa e escura abertura de Fosca. Um primor. Aproveite para ouvir as peças de Lo Schiavo e Condor neste LP pois a captação aqui é bem melhor que a das gravações dessas óperas completas. Aliás, comece pelo Noturno, que é belíssimo, e já inicie bem o seu dia.

Ouça! É muito bom!

Antonio Carlos Gomes (1836-1896)
Aberturas e Prelúdios

1. Salvator Rosa, Abertura
2. Lo Schiavo, Prelúdio do I Ato*
3. Lo Schiavo, Alvorada (Prelúdio do IV Ato)
4. Il Guarany, Abertura
5. Condor (Odalea), Abertura*
6. Fosca, Abertura

*Ludmilla Jezovc, oboé
Orquestra Sinfônica Brasileira
Eleazar de Carvalho, regente

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Bisnaga

E o fuá ainda nem começou!!


Ao som e imagem da sinfonia SCCP 1 x 0 SFC opus 1, pela Libertadores …


… mostramos aos amigos do PQPBach …


… o acervo que uma alma caridosa nos emprestou. Mais de 250 CDs somente de Música Brasileira Colonial e Imperial e Música Sacra da América Colonial … Ao fundo, os mais de 50 LPs que ele também nos emprestou … Não tem preço !!!

E o fuá ainda nem começou!!

José Siqueira (1907-1985) – Xangô, Cantata Negra / O Carnaval no Recife [link atualizado 2017]

IM-PER-DÍ-VEL !!!
Com três exclamações!

Ah, já estava com saudades de colocar aquela bandeirinha do Brasil na frente do nome do compositor…

E para marcar este retorno, aposto que vos agradará por demais conhecer um tico da obra desse grande compositor de nossas terras, injustamente por nós pouco conhecido e que agora ganha no P.Q.P. a primeira postagem de obras exclusivamente suas (há uma obra sua no álbum do Sivuca, aqui)
José de Lima Siqueira (1907-1985), ou só José Siqueira, foi um prodígio que nasceu nas terras áridas da cidade de Conceição da Paraíba, no Vale do Piancó (terra também de Elba Ramalho). Filho de um mestre de banda da cidade, aprendeu logo cedo a tocar sax e trompete e, mudando-se para o Rio de Janeiro no serviço militar, em pouco tempo já integrava a Banda Sinfônica da Escola Militar. Não demoraria para que ingressasse no Instituto de Música do Rio de Janeiro e se graduasse em composição e regência. Teve uma carreira brilhante como regente, atuando em frente a orquestras de dezenas de países: Estados Unidos, Canadá, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica e Rússia, entre outros. Foi ainda fundador de diversas corporações musicais, tais como a Orquestra Sinfônica Brasileira, a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, a Orquestra Sinfônica do Recife, Orquestra Sinfônica Nacional e a Orquestra de Câmara do Brasil. Foi também um dos fundadores da Ordem dos Músicos do Brasil e co-fundador da Academia Brasilieira de Música, sendo o patrono da Cadeira nº 8.
Por muitos anos lecionou na Escola de Música da atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas foi afastado pelo governo militar, que o aposentou precocemente, por ser ele declaradamente comunista. Por sorte, suas partituras foram recentemente doadas para a biblioteca da Escola de Música da UFRJ, que as está organizando e catalogando…
José Siqueira, como bom modernista e nacionalista, carrega suas peças com os sons da terra, puxa elementos de ritmos regionais, mostrando-nos o quão tênue é a linha que separa o dito “erudito” do “popular”, levando-nos a questionar se é que há tal linha, por tênue que seja. O LP desta postagem é uma marca dessa sua busca e há um feliz (felicíssimo) encontro e uma fusão de estilos. Em Xangô, parece que a orquestra caiu no terreiro ou que a umbanda invadiu a sala de concertos: a voz límpida e belíssima de Alice Ribeiro (que era esposa de José Siqueira), junto com os instrumentos da orquestra, se encontra com a percussão e com as vozes rasgadas do coro, bem à forma africana. Na sequência, O Carnaval no Recife se espraia no colorido e nos ritmos tão ricos de Pernambuco, Estado vizinho, colado à terra natal de Siqueira.

Uma joia! Ouça!

José Siqueira (1907-1985)
Xangô, Cantata negra para soprano, coro misto e orquestra

1. Toada para Exu
2. Toada para todos na linha de Umbanda
3. Toada para Ogum
4. Toada para Exu, na linha de Nagô
5. Toada para Ogum, na linha de Umbanda

Alice Ribeiro, soprano
Coro Brasiliana
Orquestra Sinfônica de Paris
José Siqueira, regente

O carnaval no Recife, Suíte de Bailado
1. Caboclinho
2. Maracatu
3. Frevo

Orquestra Sinfônica do Estado da URSS
José Siqueira, regente

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (68Mb)

Ouça! Deleite-se! … Mas, antes ou depois disso, deixe um comentário…

Quer saber um pouco mais sobre José Siqueira?
Veja este blog. Há obras dele também aqui.

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Bisnaga

Mateus Alves (1982) – Música de Câmara e Orquestral [link atualizado 2017]

MAS É MUITO BOM!

Vem de Pernambuco o autor que vos apresentamos hoje, fazendo sua avant-première aqui no P.Q.P. Bach: Mateus Alves, jovem contrabaixista e promissor compositor da terra que nos deu Gilberto Freire e que encantou e acolheu nomes como Clóvis Pereira, Cussy de Almeida e Guerra Peixe. Bom, não é de se espantar: já faz um bom tempo que os estados vizinhos de Pernambuco e Paraíba são dois pólos de vanguarda da música erudita brasileira…
E Mateus Alves faz uma música leve, interessante, de sons longos, mas límpidos. Não tem medo de flertar com atonalismos e de, vez por outra, deixar-se tomar por rastros do Armorial, ainda muito presente na música de seu Estado e dos grandes compositores que estuda e com quem convive (que dádiva!). Não é música simples, e é possível que vocês nem gostem na primeira audição. Há que se esperar o ouvido se acostumar, ouvir novamente: Alves nos brinda com inesperadas continuidades; nos brinda, em suma, com o novo, com juventude!

Nem vou tomar mais o tempo de vocês, pois tem gente muito mais gabaritada que se debruça sobre as obras desse jovem que aqui apresentamos:
Não dis­por das lin­has de um pen­ta­grama para con­ce­ber algo lin­ear. Essa foi a mola-mestra de Mateus Alves ao com­por as três primeiras obras do pre­sente álbum, um inco­mum CD de Música de Con­certo Con­tem­porânea lançado em Per­nam­buco, que veio para estim­u­lar out­ros com­pos­i­tores eru­di­tos do estado, jovens e vet­er­a­nos, a divul­garem fono­grafi­ca­mente sua pro­dução, e cuja capa mate­ri­al­iza a metá­fora que guiou seu processo criativo.
Nas três primeiras peças citadas — exe­cu­tadas por músi­cos da Orques­tra Sin­fônica Jovem do Con­ser­vatório Per­nam­bu­cano de Música -, em que são tra­bal­ha­dos tec­ni­ca­mente e em sep­a­rado os naipes da orques­tra sin­fônica (exceto a per­cussão), Mateus frag­menta o dis­curso musi­cal e o dire­ciona de forma não pre­visível, criando uma espé­cie de cama de gato com os sons dos instru­men­tos e des­fazendo os desen­hos da corda tão logo lhe con­venha (cama de gato é aquela brin­cadeira infan­til con­hecida tam­bém como jogo do bar­bante). Às vezes, o entre­laça­mento dá lugar ao impro­viso, influên­cia declar­ada do jazz, como no quin­teto de madeiras e no quar­teto de cor­das. O Quin­teto de Madeiras No 1, que teve seu primeiro movi­mento exe­cu­tado pelo Quin­teto Villa-Lobos num work­shop no Recife, con­cede um breve momento, em espe­cial, para o uso de téc­ni­cas expandi­das em sua seção impro­visatória, no segundo movimento.
Já o “lado B” do CD, ocu­pado por “As Duas Estações Nordes­ti­nas”, toma rumo diverso da lin­guagem bus­cada pelo com­pos­i­tor no “lado A” a fim de prestar trib­uto a Clóvis Pereira, expoente vivo da música per­nam­bu­cana. Esta suíte orques­tral, objeto da mono­grafia de Mateus Alves na Uni­ver­si­dade Fed­eral de Per­nam­buco e super­vi­sion­ada por dois desta­ca­dos com­pos­i­tores nordes­ti­nos (Dier­son Tor­res e Eli-Eri Moura), segue influên­cia direta, mas não total, do Movi­mento Armo­r­ial. A peça foi escrita para a Orques­tra Sin­fônica Jovem do Con­ser­vatório Per­nam­bu­cano de Música, respon­sável pela primeira exe­cução da obra (reg­istrada no álbum), e que reúne músi­cos de todas as regiões do estado, inclu­sive o próprio com­pos­i­tor — agora ex-contrabaixista da orquestra.(Car­los Eduardo Ama­ral, jor­nal­ista e crítico musical)

Mateus Alves
Música de Câmara e Orquestral

Quinteto de Madeiras N° 1 (Granola)
1.  I – Lento melanconico (Leite [Milk])
2. II – Allegro giocoso, Lentissimo misterioso, Improvvisato (Azedo [Sour])
3. III – Andante dolce (Acucar [Sugar])
Quarteto de Metais
4. I – Adagio
Quarteto de Cordas N° 1
5. I – Andante espressivo, Adagio doloroso
6. II – Allegro agitato, Improvvisato, Andante espressivo
As Duas Estações Nordestinas
7. I. Chuva
8. II. Sol

Confira o trabalho do compositor em seu site oficial: www.mateusalves.net 
(Todas as peças estão disponíveis para download lá)
Mas, se quiser tudo de uma vez, BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE (34Mb)
https://1drv.ms/u/s!Aj7AlViriTxyhQEw77l8D-OkR14R

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“Ôxe! O rapaz aí tem futuro…”

Bisnaga

Missa Bantu – Coro das Irmãs Brancas Congolesas de Katana [link atualizado 2017]

Esta postagem tem uma história interessante…
Fuçava eu neste blog em pesquisa. Queria postar a Misa Criolla de Ariel Ramirez, mas precisava me certificar que a versão com José Carreras (aqui) ainda não figurava no rol das peças aqui disponíveis. Eis que encontro a postagem que Avicenna fez da referida missa com a estupenda Mercedes Sosa (aqui). Aprovoitei e vi os comentários e, lá no meio, CVL e Avicenna, empolgados, combinavam de postar missas folclóricas/étnicas. Dessas promessas, CVL acabou por postar a genial Missa de Alcaçuz (aqui: se você ainda não ouviu, baixe-a também), enquanto Avicenna mencionava uma Missa Bantu. “Uau! deve ser demais” – exclamei sozinho frente ao computador. Procurei a tal missa e não encontrei. Pedi, então, em e-mail ao Mestre Avicenna (na verdade o lembrei) para disponibilizar essa missa. Qual não foi a minha surpresa quando ele me envia os arquivos do LP digitalizado para que eu o fizesse.
Apresento-vos, então, feliz e envaidecido, esse presentão recebido de Avicenna: a Missa Bantu, cantada pelas Irmãs Brancas Congolesas de Katana, coisa linda de se ouvir! É mais uma dessas peças musicais que absorvem ritmos e sonoridades locais, no período de abertura da Igreja Católica para o mundo moderno, para os línguas e tradições locais, com o Concílio Vaticano II (1962-1966). Religiosos e leigos estavam ávidos para expressarem suas culturas também na profissão de sua fé.
Por ser anterior ao Concílio, esta missa ainda tem o texto todo em latim. Suas canções são para o ritual do primeiro domingo depois da Páscoa, ou seja, para o próximo domingo (aos que virem esta postagem mais para a frente, estamos na primeira quinta-feira após a Páscoa). Irmã Lucrécia, que organizou e regeu o coro, foi também responsável por adaptar cânticos tradicionais do Congo ao texto em latim da missa, e ela o fez com total sintonia com as sonoridades africanas. A freira provavelmente não teve grande formação musical e disso resultam arranjos simples, mas é nessa singeleza das músicas que reside a beleza dessa peça. Há um misto de popular e erudito, de canto gregoriano e canções africanas, de tradição católica e de avanço formal na música. É altamente perceptível, sobretudo, que há muito amor, muita dedicação em fazer para Deus o melhor possível, o mais belo ao alcance.
Dessa linda missa nos diz mais um pouco o texto extraído do LP:

Numa primavera de 1956, na missão de Katana, às margens do lago Kivu, Irmã Lucrécia, membro da Ordem  das Irmãs Brancas, regeu um coro de trinta noviças e freiras congolesas numa exibição da “Missa Bantu”, quando da celebração da Missa de Páscoa. A “Missa Bantu”, com suas melodias puras, rica e límpida cadência, revelou-se logo como um suceso absoluto por haver tão bem apreendido o espírito africano.
O coro das irmãs africanas de Katana rapidamente tornou-se famoso em todo Kiva, recebendo logo convites para cantar, tanto nas missões vizinhas, como na Catedral de Bukavu. Seu verdadeiro objetivo era realizar as aspirações dos Cristãos Africanos, celebrando a glória de Deus com um autêntico musical em idioma africano e pondo em relevo o batuque do tantã, alternativamente misterioso e exuberante. Dessa forma, expressando os mais profundos sentimentos do espírito negro, uma vivificante liturgia consubstanciava-se, criando raízes e formas dentro de cada um e da alma coletiva.
A cerimônia aqui ouvida é a missa do primeiro domingo depois da Páscoa, conhecida como Domingo Quasímodo; foi gravada ao vivo, na Catedral de Bukavu, por Mr. van Eyll, prefeito da cidade e um dos maiores admiradores do coro. O Introitus é cantado em estilo gregoriano, mas o Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei, são todos inspirados em antigas melodias africanas, coligidas e arranjadas pela Irmã Lucrécia que mostrou um completo e profundo respeito pelo espírito da arte bantu.
O resultado foi uma inteira, sincera e expressiva demonstração de fervor religioso em consonância com os sentimentos e a sensibilidade musical africana. Ninguém pode deixar de responder aos solenes compassos do “Et sepultus est …”; de compartilhar do puro regosijo do “Resurrexit”; ou de sentir a humilde bem-aventurança do “Et ascendit in caelo” e a majestade do “sedet ad desteram patris”.
Este disco nos traz o comovente testemunho da beleza artística e da beleza espiritual com que a África pode contribuir, abundantemente, para o mundo.

Missa Bantu
Missa do primeiro domingo depois da Páscoa “Quasímodo” ou Domingo “In Albis”

01. Introitus
Quasimodo geniti infantes, alleluia, rationabiles sine dolo lac concupiscite, alleluia, alleluia! Exultate Deo Adjutori nostro; jubilate Deo Jacob (Canto gregoriano)
02. Kyrie (Improvisação sobre temas do Uele e da zona equatorial)
03. Gloria (Sobre temas do Uele e da zona equatorial)
04. Graduale
Alleluia, Alleluia! In die resurrectionis meae, dixit Dominus: praecedam vos in Galilaeam, alleluia! Post dies octo, januis clausis, stetit Jesus in medio discipulorum suorum, et dixit: Pax vobis. Alleluia (Canto gregoriano)
05. Credo (Improvisação sobre temas dos lagos Tanganica e Kivu)
06. Offertorium
Angelus Domini descendit de caelo et dixit mulieribus: Quem quaeritis, surrexit sicut dixit; alleluia! (Canto gregoriano)
07. Sanctus / Benedictus (Improvisação)
08. Ave maris stella (Sobre antigo canto latino)
09. Agnus Dei (Improvisação sobre temas do Uele e da zona equatorial)
10. Communion
Mitte manum tuam et cognosce loca clavorum, alleluia, et noli esse incredulus, sed fidelis alleluia, alleluia! (Canto gregoriano)
11. Deo Gratias / Alleluia (Improvisação)

Coral das Irmãs Brancas Congolesas de Katana (Kivu)
Irmã Lucrécia, Regência

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Avicenna, garimpo do disco, digitalização e cessão dos direitos de postagem
Bisnaga, contador de histórias