Johannes Brahms (1833-1897): Sinfonia Nº 1 e Variações sobre um tema de Haydn

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Sei, há Beethoven, Mozart, Bruckner, Mahler e Shostakovich, mas, no meu sentir, esta sinfonia é a melhor que conheço. Brahms era visto como o sucessor de Beethoven e estava muito preocupado em ser digno da tradição sinfônica do mestre. Tão preocupado que preparou sua primeira sinfonia ao longo de mais de 20 anos. Sua composição iniciou-se em 1854 e sua finalização só ocorreu em 1876.

O maestro Hans von Bülow apelidou-a de “A Décima de Beethoven”, o que é apenas uma frase de efeito. Não pretendo desconsiderar que há uma citação da Nona de Beethoven no último movimento, porém os fatos obrigam-me a encarar isto como uma demonstração de gratidão a seu antecessor, ao qual tanto devia – ou, corrigindo, ao qual tanto devemos… Depois de anos e anos como ouvinte, afirmo tranquilamente que, até mais do Beethoven, o que há aqui é Schumann, principalmente na forma inteligente como foram desenvolvidos os elos entre os movimentos que parecem brotar logicamente um do outro. No mais, a Primeira de Brahms é uma derivação autêntica, exclusiva e original do estilo empregado por Brahms em sua música de câmara. Ademais, Brahms – que estreava sua sinfonia 49 anos após a morte de Beethoven – aborda o gênero de forma diversa, dando, por exemplo, extremo cuidado à orquestração e chegando a verdadeiros achados timbrísticos no segundo movimento e na introdução ao tema do último tema: aquele esplêndido solo de trompa, seguido da flauta e do arrepiante trio de trombones. Tais cuidados orquestrais evidentemente não revelam um compositor maior que Beethoven, apenas revelam que o tempo tinha passado, que Brahms já tivera contato com as orquestrações de Rimsky-Korsakov, Berlioz, Wagner, Liszt (os dois últimos eram seus inimigos), que Mahler tinha 16 anos de idade e que a Sinfonia Titan estaria pronta dali a 12 anos…

Em sua primeira sinfonia, Brahms resolveu apresentar todas as suas armas como compositor. A solidez da intrincada estrutura do primeiro movimento (Un poco sostenuto – Allegro) vem diretamente de alguns outros notáveis “primeiros movimentos” de sua música de câmara. Sua complicada estrutura rítmica e aparente rispidez causa certo desconforto a ouvintes mais acostumados a gentilezas. Sua estrutura não é nada beethoveniana, os temas são mostrados logo de cara, sem as lentas introduções nem os motivos curtos e afirmativos de nosso homem de Bonn. Afinal, estamos ouvindo nosso homem de Hamburgo! Se o primeiro movimento demonstra toda a maestria do compositor ao lidar com diversas vozes e linhas rítmicas, o próximo é um arrebatador andante (Andante sostenuto) que parece pretender mostrar “vejam bem: além daquilo que ouviram, eu também faço melodias sublimes”. A melodia levada pelo primeiro violino ao final do andante é belíssima e inesquecível. O terceiro movimento (Un poco Allegretto e grazioso) nos diz que “além daquilo que ouviram, eu também faço scherzi divertidíssimos, viram?”. Claro que não chegamos à alegria demonstrada nos scherzi de Bruckner, porém, para um sujeito contido como Brahms, a terceira parte da sinfonia chega a ser uma galinhagem.

O último movimento é um capítulo à parte. É a música perfeita. Há a já citada introdução de trompas e trombones, mas há principalmente um dos mais belos temas já compostos. No romance Doutor Fausto, de Thomas Mann, o personagem principal Adrian Leverkühn vende sua alma ao demônio em troca da glória e da imortalidade como compositor. Feito o negócio – num dos mais belos capítulos já escritos: o diálogo entre Adrian e o Demônio –, Adrian vai compor e… bem, sai-lhe uma peça muito parecida com o tema a que me refiro. Ele o abandona. Seria este um sinal de Mann, indicando que seu personagem partiria do ponto mais alto existente para a construção de uma obra estupefaciente? Creio que sim, creio que sim, meus queridos sete leitores. Mas, sabem?, não vou gastar meu latim descrevendo o tema que aparece aos 5 minutos do último movimento da sinfonia para ser transformado e retorcido até seu final.

Não é música para diletantes leigos como eu. Porém, como a ouço há anos, posso avaliar como deve ser difícil equilibrar a rigidez formal e a imaginação melódica de uma sinfonia que – inteiramente dentro da tradição de contrastes das sinfonias – parece pretender abarcar o mundo, mostrando-se ora imponente, ora delicada; ora jocosa, ora séria.

Ah, as Variações sobre um tema de Haydn também são música belíssima!

Johannes Brahms (1833-1897): Sinfonia Nº 1 e Variações sobre um tema de Haydn

1 Symphony No.1 in C minor, Op.68 – 1. Un poco sostenuto – Allegro – Meno allegro 17:15
2 Symphony No.1 in C minor, Op.68 – 2. Andante sostenuto 9:06
3 Symphony No.1 in C minor, Op.68 – 3. Un poco allegretto e grazioso 4:50
4 Symphony No.1 in C minor, Op.68 – 4. Adagio – Piu andante – Allegro non troppo, ma con brio – Piu allegro 17:19

5 Variations on a Theme by Haydn, Op. 56a 19:05

Philadelphia Orchestra
Riccardo Muti

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Brahms faz uma pose especial para o PQP
Brahms faz uma pose especial para o PQP desejando um feliz 2017

PQP

6 comments / Add your comment below

  1. Belo texto P.Q.PBach. Penso que poucos visitantes vão discordar da lista dos “Gênios da Sinfonia”. Existe um mundo musical em Mozart – Beethoven – Brahms – Bruckner – Mahler – Shostakovich – que quanto mais se ouve, mais se entende e mais prazer se tem ( Tipo do Microcosmo ao Macrocosmo Sonoro ). Desejo mais uma vez muita saúde e paz para todo o grupo do blog e seguidores, e que 2017 seja de entendimento entre os povos , com menor grau de sofrimento para todos nós. Um forte abraço do Dirceu.

  2. A grandiosidade desta sinfonia sempre nos inspira a escrever textos mais elaborados e explicativos. Já discutimos esta sinfonia a exaustão aqui no PQPBach ao longo destes dez anos de blog, mas mesmo assim ela ainda nos inspira.

    1. Tenho um carinho muito grande por uma gravação do Karajan, ainda nos anos 60, não tenho certeza exata do ano. A conheci em momento muito importante de minha vida, e a ouvi tanto que até arrebentou a fita cassete.

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