Como meu coração é mesmo grande, nele cabem muitos compositores que adoro com igual paixão. Mahler é um deles e já estava na hora de voltar a ele. FDP Bach já postou anteriormente a integral de suas sinfonias, mas vou refazê-la por um simples motivo: tenho a integral das sinfonias em 320 Kbps e sabemos: Mahler tem de ser ouvido em detalhes, com os pianissimi quase inaudíveis e os fortissimi de fazer as janelas gemerem, senão perde a graça. Mais: seus principais ciclos de canções — including A Canção da Terra — estão nesta coleção de 16 CDs da DG. O regente escolhido é o mesmo que FDP escolheu. Por que mudaria se concordo com ele?
A Sinfonia Nº 1 era originalmente um poema sinfônico baseado na péssima novela “Titan”, de Jean Paul. Depois, tornou-se Sinfonia Titan. O primeiro movimento é pura expectativa e energia. Bernstein o trata de modo estranho, cheio de maneirismos pouco comuns em outros regentes. Após este início, a coisa entra nos eixos. E como! O terceiro movimento é curiosamente uma variação em tom menor da canção Frère Jacques e descreve o enterro de um caçador, promovido pelos animais que ele costumava matar. Abaixo, deixo para vocês o texto da Wikipedia a respeito:
Histórico
A estréia da sinfonia ocorreu no dia 20 de Novembro de 1889, em Budapeste, sob a regência do próprio Mahler. Na ocasião, a sinfonia não foi bem recebida pelo público.
A Sinfonia 1 em Ré Maior é escrita para uma orquestra composta pelos seguintes instrumentos: 4 flautas (2 piccolos), 4 oboés (um corne inglês), 4 clarinetes, 3 fagotes (um contrafagote), 7 trompas, 4 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, 4 tímpanos, pratos, triângulo, tam-tam, bombo, 1 harpa, 1 quinteto de cordas formado por: violinos, violas, cellos e baixos.
Um caso de amor do compositor durante sua juventude provavelmente serviu de inspiração para a criação da sinfonia. Contudo, ela é mais do que isso conforme explica o próprio Mahler numa carta para Max Marschalk, em 26 de Março de 1896: Gostaria que ficasse enfatizado ser a sinfonia maior do que o caso de amor que se baseia, ou melhor, que a precedeu, no que se refere à vida emocional do criador. O caso real tornou-se razão para a obra, mas não em absoluto, o significado real da mesma. (…) Assim como considero uma vulgaridade inventar música para se ajustar a um programa, também acho estéril dar um program para uma obra completa. O fato de a inspiração ou base de uma composição ser uma experiência de seu autor não altera as coisas.
Originalmente ela foi concebida para ser um grande poema sinfônico.
Mahler escreveu um programa para a sinfonia, após as primeiras apresentações, embora dissesse em várias ocasiões que acreditava que a música deveria falar por si mesma, sem a necessidade do apoio de um texto explicativo.
Características
Como costumava fazer com outras obras suas, Mahler revisou a Sinfonia 1, entre os anos de 1893 e 1896. A mudança mais significativa foi retirada de um movimento andante chamado “Blumine”, sobra de uma música incidental que Mahler tinha escrito para Der Trompeter von Säkkingen (1884). Em 1894, depois de três apresentações, Mahler descartou o movimento e só permaneceram as referências a ele no segundo motivo do finale.
O movimento “Blumine” só foi redescoberto em 1966, por Donald Mitchell. Benjamin Britten conduziu a primeira apresentação da Sinfonia 1 com o movimento “Blumine”, desde que ele tinha sido executado pela última vez por Mahler em Aldeburgh. As maiorias das apresentações modernas da sinfonia não incluem o “Blumine”, ainda que seja possível não raramente se deparar com execuções do movimento em separado. De forma análoga, poucas gravações da sinfonia 1 incluem o movimento.
A obra inclui vários temas de um ciclo de canções composto por Mahler entre 1883 e final de 1884 chamado: Lieder Eines fahrenden Gesellen (Canções de um Viajante). Existem influências também de Das klagend Lied (A Canção da Lamentação), completada por Mahler em 1 de Novembro de 1880 para participar de um concurso de 1881 conhecido como Prêmio Beethoven.
A Sinfonia 1 de Mahler é uma sinfonia primaveril, semelhante em alguns aspectos com a Sinfonia 1 de Robert Schumman. Ela não é contudo uma simples descrição visual da natureza. Ela reflete uma natureza sob os inocentes olhos de uma criança, que ao mesmo tempo toma consciência da fragilidade e da morbidez inerentes à condição humana.
Os movimentos
Na sua forma final a sinfonia, cuja duração aproximada é de 55 minutos, é formada por quatro movimentos distribuídos da seguinte forma:
1. Langsam, schleppend – Devagar, arrastando (~ 16 minutos)
2. Scherzo, Kraeftig bewegt – Poderosamente agitado (~ 8 minutos)
3. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen – Solene e moderado, sem se arrastar (~ 11 minutos)
4. Stuermisch bewegt – Agitado (~ 20 minutos)
A sinfonia inicia de forma misteriosa no primeiro movimento. Sons do cuco e de outros pássaros, representados musicalmente, anunciam o despertar da natureza e dão fim à tensão e às dúvidas. Um tema lírico segue.
O segundo movimento é um Landler-scherzo, parecido com os landlers de Anton Bruckner e de Haydn.
O terceiro movimento causou uma certa polêmica na época devido a sua aparente bizarrice. Adaptada como marcha fúnebre, é usada de forma paródica uma melodia infantil bastante conhecida, chamada em alguns países de Frère Jacques e em outros de Bruder Martin. A seu respeito Mahler escreveu no programa para os concertos em 1893 e 1894:
A idéia dessa peça veio ao autor por intermédio de uma gravura paródica conhecida por qualquer criança da Alemanha do Sul e intitulada “Os funerais do caçador”. Os animais da floresta acompanham o caixão do caçador morto; lebres empunham uma bandeira; à frente uma trupe de músicos boêmios acompanhados por instrumentistas gatos, corujas e corvos… Cervos, corças e outros habitantes da floresta, de pêlo ou pena, seguem o cortejo com fisionomias afetadas. A peça, com uma atmosfera ora ironicamente alegre, ora inquientante, é seguida de imediato pelo último movimento “d’all Inferno al Paradiso”, expressão súbita de um coração ferido no mais profundo de si…
O silêncio do terceiro movimento é abruptamente interrompido, de forma histérica, pela orquestra no quarto movimento. Conta-se que durante uma das primeiras apresentações da Sinfonia 1, uma senhora espantou-se e derrubou todos os objetos que carregava na mão.
Após alguns minutos a fúria inicial do último movimento é contida e cede lugar a uma melodia lírica. Os temas dos movimentos anteriores são lembrados. Perto do final, ocorre uma nova tempestade sonora, porém, ao contrário do início, que lembrava uma “luta”, agora o sentimento é de “triunfo”. Nesta parte Mahler pede para que os trompetistas da orquestra toquem de pé.
Na primeira postagem que fizemos da Sinfonia Nº 1, FDP Bach escreveu:
As opções de gravações das sinfonias de Mahler são inúmeras. Regentes como Bernstein chegaram a gravá-la duas vezes, enquanto outros não encaravam a totalidade, preferiam se concentrar em apenas algumas das sinfonias. Portanto, sei que muitos irão dizer que a “Titan” do Bernstein é superior à do Chailly, ou que a versão do Haitink é insuperável, ou que o atual menino de ouro da Filarmónica de Berlim, Simon Rattle é o cara, , ou que até mesmo a 9ª do Karajan, postada aqui há apenas alguns dias atrás é imbatível. Acatarei todas as opiniões, mas a versão que prevalecerá até o final é a do Bernstein, da DG. Os motivos que me levaram a escolhê-la são pessoais, mas baseados em diversas críticas altamente favoráveis, lidas nas mais variadas fontes. Até me dei ao trabalho de procurar uma biografia de Mahler entre as publicações brasileiras, mas infelizmente está tudo esgotado, até mesmo a autobiografia da Alma Mahler, publicada pela editora Martins Fontes nos anos 80, ou até mesmo a do Michael Kennedy, publicada pela Jorge Zahar Editor, também na mesma época. Em inglês as opções são múltiplas, basta fazer uma pesquisa no site da Livraria Cultura.
Esta introdução é necessária para alertá-los do tamanho da brincadeira a que estou me dedicando. Terei de conciliá-la com os estudos para um Concurso Público, para o qual estou me dedicando com total empenho. Portanto, se forem demorados os intervalos entre as postagens, peço para que considerem a situação a que os deixei cientes aí acima.
As gravadoras são pão-duras. Nas chamadas integrais destas sinfonias, as mesmas são divididas entre os cds. Exemplo: na versão do Chailly lançada pela DECCA, no final do cd em que se tem a primeira sinfonia, o espaço restante do cd é aproveitado para se colocar o primeiro movimento da 2ª, e assim por diante. Imagine como são os casos das sinfonias mais longas, como a 3ª, 6, 7, ou a 8ª… É uma confusão tremenda. E isso também acontece na gravação do Bernstein que irei postar.. Mas estou me dando ao trabalho de dividi-las devidamente (e viva o Sony Sound Forge). ´Seria sacanagem deixá-los esperando pela continuação num próximo cd. mas vamos ao que interessa.
CD1
Gustav Mahler – Sinfonia Nº 1 e Canções de um Viandante
Symphonie no. 1
01. Symphonie no. 1 – Langsam. Schleppend. Wie ein Naturlaut – Im Anfang sehr gemächlich
02. Kräftig bewegt, doch nicht zu schnell – Trio. Recht gemächlich
03. Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
04. Stürmisch bewegt
Concertgebouw Orchestra
Leonard Bernstein
Lieder eines fahrenden Gesellen (Canções de um Viandante)
05. Wenn mein Schatz Hochzeit macht
06. Ging heut morgen übers Feld
07. Ich hab ein glühend Messer
08. Die zwei blauen Augen
Thomas Hampson: baritone
Wiener Philarmoniker
Leonard Bernstein
PQP
Caro PQP:
o link para download do post de 2 de abril de 2007 (Ravel – Concerto para Piano em Sol Maior, Gaspard de la Nuit e Sonatine) está inválido.
Só para avisar.
Um abraço:
GS.
O post é meu? Bom, vou ver.
É de FDP Bach. Alô, FDP!!!
Então, teremos Sinfonias de Nielsen por aqui?
Claro que sim, espere e verás!
Ah, parabéns e obrigados pela idéia!
Eu sou muito chato com qualidade de som dos meus mp3, e mais chato ainda o tanto que gosto de Mahler. Valeu pela idéia e pela iniciativa, adorei ouvir de novo a primeira com essa qualidade. Sempre me assombro com o terceiro movimento, e o modo como ele subverteu Frere Jacques. Deve ter sido um tumulto e tanto na época.
Aguardo ansioso os próximos, e melhor ainda: a próxima é minha favorita!
inté
Grata,grata…
O que seria de mim sem esse blog!
Meu estoque de cds estava pelas tabelas e faltava a titan para completar minhas sinfonias mahlerianas.
Mais uma vez obrigada!
Acabo de conhecer este blog e gostei muito.Tem ótimas informações .Fiquei fã.
Quando Israel estiver assassinando palestinos, por favor, não publiquem nada deesa raça.
Quando Israel estiver assassinando palestinos, por favor, não publiquem nada desta raça.
Ola camarada, parabéns pelo excelente trabalho,muito digno de sua parte compartilhar estas obras.
Minha menina,conseguiu uma vaga no Conservatório de minha cidade,Sorocaba,14 semestres,contrabaixo,e gostaria de sua sugestão,no sentido de baixar composições onde este instrumento se destaca,no intuito de motivar a pequena cada vez mais neste universo maravilhoso!
Caso não seja pedir muito,pode enviar no meu e mail,ou mesmo por aqui,e estarei baixando as suas sugestões, já baixei varias obras aqui,e devo dizer,que você esta de parabéns,obrigado pela rara oportunidade que nos proporciona!
Att.
Luiz Gustavo.
Péssima novela? Sempre me interessei por ler Jean Paul… pqp, você sugere algo dele?
Ma-ra-vi-lho-so Mahler, o inicio do quarto movimento é mais lento do que eu estou habituado a ouvir, amo este site. novidades e texturas sonoras. sucesso no concurso.
Estou aguardando a continuação desta série, não vejo a hora das novas postagens.
Nobilíssimo colega, por favor salve esta pobre alma ávida pelas sinfonias de Mahler com Bernstein. Os arquivos não existem no Rapidshare…
Perfeito o blog, by the way.
Para mim Bernstein é o intérprete definitivo das Sinfonias de Mahler.
Esta integral é obrigatória. Grato. Um abraço do Dirceu.
E como foi o tal concurso, PQP? Podemos ser colegas sem saber.