Citação encontrada na rede

Para um ateu, a vida não possui significância especial e todos nós, seres humanos, somos o produto de dois elementos básicos: chance e evolução. A vida, seja ela material ou espiritual, acaba com a morte. Não há esquemas grandiosos que conferem à nossa existência significância particular, sejam eles de ordem divina ou de qualquer outra natureza. Como ateu, preciso encontrar alguma unidade, alguma estrutura no mundo que me cerca, algum esquema encadeado de coisas, fatos, eventos. Não posso buscar tal estrutura, infelizmente, na religião. A arte de Bach me fornece esse mundo, permeado por harmonias e simetrias matemáticas. Cada nota tem seu lugar, cada peça musical possui encadeamento lógico. A razão conduz à beleza; a beleza não é o objetivo final da expressão artística, esse objetivo sendo sua construção a partir da razão. A expressão artística passa a ser um espelho da harmonia celestial. Para mim, isso é um conforto frente à inexistência de Deus.

Francisco Cribari Neto

(Retirada daqui.)

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  1. Grande Professor Francisco Cribari, recifense, palmeirense fanático desde os tempos em que morou em SAMPA, e certamente um dos maiores acervos de obras Bachianas deste país.
    Francisco, com muito orgulho, faz parte da mesma comunidade ”Eu acredito em Bach” da qual é um dos fundadores e segue na diretoria do nosso projeto da Sociedade Bach-Brasil em fase de legalização;pessoa extremamente diferenciada culturalmente, ficou meio apertado quando eu disse que o ateu talvez tivesse dificuldades para encaixar totalmente a música de Bach.
    Pelas suas declarações, como disse o Rocha,vimos claramente que tem pensamento religioso, mesmo sendo ateu!

  2. Este texto de Francisco Cribari é a tradução dos sentimentos de muito nós. Poucas vezes na minha vida houve tanta concórdia entre mim e outra pessoa.

  3. Ranieri e Príncipe.

    A citação é brilhante e também polêmica, em minha opinião. O autor, um ateu como eu, torna Bach seu deus particular.

    Bach organiza o mundo e dá sentido a uma vida sem maior significado. Ok, identifico-me aqui. Mas quando ele fala em harmonia celestial, passa a tomar Bach por uma espécie de sucedâneo de deus.

    Sinceramente, fico inseguro em dizer que discordo. No máximo, digo que não escreveria tal analogia. Mas poderia fazer minha a última frase.

  4. Caros,
    essa simetria perpassada pelo professor Francisco Cribari para mim coaduna-se com a representação muçulmana:de Deus. Que Alah o misericordioso tenha misericordiosa de vossas almas ateias.
    Dr Cravinhos

  5. Deixa ver se entendi: o cara é ateu, estava precisando de “uma luz” na vida, encontrou Bach e sua magnitude matemático-musical, e encontrou não só o caminho mas o “deus” dele. Tá. Direito dele. Só se esquecem que Bach, com todo seu “racionalismo”, era religioso fervoroso, místico até, e que dedicava sua Arte a Deus. Não deixa de ser curioso ateus declarados idolatrarem um homem cuja arte estava a serviço do mesmo deus que eles rejeitam como tolice. Não que eles devessem se converter, mas uma reflexãozinha aí não cairia mal.

  6. “Creio em Bach, o músico, Criador de harmonias celestes; e na sua arte da fuga , sua grande obra; que foi concebida pelo poder da sua mente magistral; nasceu da musa eterna, padeceu sob Leipzig, foi injuriado,sua música quase morta e sepultada, desceu à mansão dos esquecidos, ressuscitou ao toque de Felix Mendelssohn Bartholdy; subiu aos céus, donde há de vir a julgar os seus interpretes . Creio em Bach, na sua música celeste, na comunhão dos intérpretes, na remissão dos pecados da orquestração barroca, na música eterna. Amém.”

  7. Caros, harmonia celestial não invoca a existência de um deus; invoca apenas as leis da física. Adicionalmente, o autor não tem Bach como um deus; ele apenas encontrou estrutura em sua obra. Não há idolatria a seres imateriais. Relaxem. Abraços a todos.

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