J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 16, 98 & 139

Um excelente disco, magnificamente interpretado por Gardiner e sua turma de usual suspects. As cantatas constituem importante parte da produção de Bach, mas apenas nas últimas décadas sua importância vem sendo reconhecida. Esquecidas quase por completo no século XIX, até meados do século XX somente um pequeno número delas havia sido estudado em detalhe, situação que vem mudando diante do rápido crescimento dos estudos bachianos. A maior parte delas é sacra, compostas em Weimar e principalmente Leipzig, mas ele cultivou o gênero ao longo de quase toda a sua carreira. Muitas foram perdidas por descuido do filho Wilhelm; de acordo com o obituário de Carl Philipp ele compôs cinco ciclos completos para o ano eclesiástico, fora as cantatas profanas, o que representaria mais de 350 obras, mas ainda sobrevivem 194 composições neste gênero (sacro), somando um total de mais de 1.200 movimentos individuais. As de sua fase inicial são compostas segundo o modelo alemão do século XVII, sem recitativos ou árias da capo, elementos de origem operística italiana que só aparecem em suas obras maduras. Mais tarde se consolidou um formato italianizado, com uma abertura mais elaborada com coro, seguida de uma alternância de cinco ou seis árias da capo e recitativos para voz solo, encerrando com uma harmonização coral simples homofônica a quatro vozes, quando a congregação possivelmente se unia ao coro, mas mesmo aqui são encontradas muitas outras soluções técnicas e formais, incluindo fugas, cânones, variações sobre um ostinato, formas concertantes, influência da abertura francesa e do antigo moteto, além de se valerem de uma ampla gama de forças instrumentais. Nas palavras de Buelow,

“Nada é mais difícil de definir ou explicar que o estilo vocal de Bach. É claro, contudo, que o cerne de seu estilo reside no seu compromisso de ilustrar expressivamente os textos, as palavras individuais desses textos, e os afetos que veiculam. Suas linhas vocais raramente são apenas líricas, e não guardam a menor semelhança com o estilo cantabile dos italianos. Quase sempre são altamente dramáticas e amiúde cheias de complexos motivos rítmicos, com um desenho anguloso de saltos amplos. Passagens melismáticas, algumas de enorme extensão, ocorrem às vezes para emprestar mais ênfase retórica ou para simbolizar determinada palavra, mas noutras ocasiões são parte integral do desenvolvimento melódico”.

As cantatas sacras são peças de ocasião, e por regra eram ouvidas apenas uma única vez. Obras muito elaboradas artisticamente, o que o ouvinte não conseguia entender em termos estéticos, como disse Chafe, era compensado por seu conhecimento de uma rede de intenções que ligavam a experiência religiosa de cada um ao seu contexto cultural e religioso maior. A principal dentre essas intenções era apresentar o caráter dinâmico da experiência religiosa num programa didático sequencial de afetos e formas com que o ouvinte comum pudesse se identificar, criando uma ponte entre as Escrituras e a fé, à luz, naturalmente, da tradição hermenêutica fundada por Lutero. Para conseguir esse objetivo, além do conteúdo explícito dos textos, Bach recorria a um rico repertório de elementos puramente musicais para ilustrar e enfatizar o texto, elementos que por sua vez estavam associados a uma série de convenções simbólicas e alegóricas então de domínio público, um procedimento típico do Barroco em geral, no caso aplicado aos propósitos do Protestantismo.

J. S. Bach (1685-1750): Cantatas BWV 16, 98 & 139

“Was Gott Tut, Das Ist Wohlgetan” (BWV 98), Cantata For The 21st Sunday After Trinity
1 1. Chorus: Was Gott Tut, Das Ist Wohlgetan 3:56
2 2. Recitative (Tenor): Ach Gott! Wann Wirst Du Mich Einmal 0:53
3 3. Aria (Soprano): Hört, Ihr Augen, Auf Zu Weinen 3:18
4 4. Recitative (Countertenor): Gott Hat Ein Herz 0:55
5 5. Aria (Bass): Meinen Jesum Lass Ich Nicht 3:51
“Wohl Dem, Der Sich Auf Seinen Gott” (BWV 139), Cantata For The 23rd Sunday After Trinity
6 1. Chorus: Wohl Dem, Der Sich Auf Seinen Gott 4:58
7 2. Aria (Tenor): Gott Ist Mein Freund; Was Hilft Das Toben 5:03
8 3. Recitative (Countertenor): Der Heiland Sendet Ja Die Seinen 0:35
9 4. Aria (Bass): Das Unglück Schlägt Auf Allen Seiten 4:37
10 5. Recitative (Soprano): Ja, Trag Ich Gleich Den Grössten Feind In Mir 0:40
11 6. Chorale: Dahero Trotz Der Höllen Heer 0:47
“Herr Gott, Dich Loben Wir” (BWV 16), Cantata For New Year’s Day (Feast Of The Circumcision)
12 1. Chorus: Herr Gott, Dich Loben Wir 1:37
13 2. Recitative (Bass): So Stimmen Wir Bei Dieser Frohen Zeit 1:08
14 3. Aria (Chorus, Bass): Lasst Uns Jauchzen, Lasst Uns Freuen / Krönt Und Segnet Seine Hand 3:30
15 4. Recitative (Countertenor): Ach, Treuer Hort, Beschütz Auch Fernerhin Dein Wertes Wort 1:17
16 5. Aria (Tenor): Geliebter Jesu, Nur Du Allein 7:24
17 6. Chorale: All Solch Dein Güt Wir Preisen 1:01

Alto Vocals [Choir] – Angus Davidson (2), Charles Humphries, Richard Wyn Roberts*
Bass Vocals [Choir] – Julian Clarkson, Robert Macdonald, Simon Oberst
Bass Vocals [Soloist] – Gotthold Schwarz
Bassoon – Alastair Mitchell
Cello – Catherine Rimer, Ruth Alford
Choir – The Monteverdi Choir
Conductor – John Eliot Gardiner
Cornett – Michael Harrison (4)
Countertenor Vocals [Soloist] – Derek Lee Ragin
Double Bass – Judith Evans
Harpsichord – Gary Cooper (2)
Horn [Corno Da Caccia] – Mark Bennett (2)
Oboe – James Eastaway, Michael Niesemann
Oboe [Da Caccia] – Katharina Arfken
Orchestra – The English Baroque Soloists
Organ – Alastair Ross
Soprano Vocals [Choir] – Constanze Backes, Donna Deam, Nicola Jenkin, Suzanne Flowers
Soprano Vocals [Soloist] – Katharine Fuge
Tenor Vocals [Choir] – Gerard O’Beirne, Paul Tindall, Simon Davies (3)
Tenor Vocals [Soloist] – Julian Podger
Viola – Lisa Cochrane, Rosemary Nalden
Violin [1st] – Anne Schumann, Peter Lissauer, Sarah Bealby-Wright
Violin [2nd] – Adrian Butterfield, Henrietta Wayne, Kati Debretzeni
Violin, Concertmistress – Maya Homburger

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Jan Steen (1626-1679):

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