Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 2 “Ressurreição”

Se Mahler, em toda a sua vida, tivesse escrito apenas o terceiro movimento da Ressurreição, já teria um lugar garantido na história da música. Mas há o resto, e que resto! Obra espetacular e fundamental na obra de Mahler, a Sinfonia Ressurreição se utiliza de um enorme contingente de músicos. A orquestra é ora tratada convencionalmente, ora separada em pequenos grupos de câmara, tornando-se de poderosa para rarefeita, de delicada para violenta, como se estivesse sofrendo a melhor das psicoses maníaco-depressivas.

Mahler foi o maior regente de seu tempo e sabia o que estava fazendo. A “Ressurreição” é obra cheia de surpresas e que não hesita em utilizar alguns recursos pouco convencionais. Há, por exemplo, grupos de instrumentos que tocam fora do palco. Explico o motivo: os dois últimos movimentos da sinfonia propõem-se a fazer uma representação exterior (se bem que, como Mahler dizia, tudo era representação interior…) de nada menos que o Dia do Juízo Final e da Ressurreição dos mortos. Para tanto, o autor manda alguns instrumentistas (trompetes, trompas, percussão) para fora do palco e de lá, dos bastidores, eles iniciam um conflito fantasmagórico com a orquestra que está no palco. Quando a orquestra do palco executa o suave tema da redenção, de fora vem o som das trompas e da percussão executando o que Mahler dizia representar “as vozes daqueles que clamam inutilmente no deserto”. Depois começa a marcha dos ressuscitados no Juízo Final. Em meio a este tema, as trompas e os trompetes que estão lá atrás nos bastidores – representando agora a enorme multidão de almas penadas -, enchem o ar com seus apelos vindos de todos os lados do palco.

Todo este aparato propõe-se simplesmente a responder à pergunta: “Por que se vive?”.

Jorge de Sena, em 1967, escreveu o seguinte poema sobre esta música:

MAHLER: SINFONIA DA RESSURREIÇÃO

Ante este ímpeto de sons e silêncio,
ante tais gritos de furiosa paz,
ante o furor tamanho de existir-se eterno,
há Portas no Infinito que resistam?

Há infinito que resista a não ter portas
para serem forçadas? Há um paraíso
que não deseje ser verdade? E que Paraíso
pode sonhar-se a si mesmo mais real que este?

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia Nº 2 “Ressurreição”

1. Allegro maestoso
2. Andante Moderato
3. In ruhig fliessender bewegung
4. Urlicht. Sehr feierlich, aber schlicht
5. Im Tempo des Scherzos.
Wild herausfahrend
Wieder sehr breit
Ritardando…Maestoso
Wieder zuruckhaltend
Langsam. Misterioso
Etwas bewegter
Mit Aufschwung aber nicht eilen

Birmingham Symphony Orchestra with
Arleen Auger, Dame Janet Baker
Conducted by Simon Rattle

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Mahler sendo pai e marido.

PQP

6 comments / Add your comment below

  1. Ah, mais gratidão pelo esforço de vocês em nos brindar com excelentes obras. Não vejo a hora de sair do trabalho (recém-chegado) e, em casa, poder baixar o grande Mahler (que ao lado de Bruckner) tem lugar especialíssimo reservado em meu coração musical.Merci, Bach’s kids.Amitiés,BetoQ.

  2. Meu caro,Ao procurar uma informação sobre a Ressurreição de Mahler, encontrei hoje o seu blog! Lá fica anotado.O meu, ainda é muito novinho e está em formação…Entretanto, não encontrei a informação que procurava: talvez ma possa dar? Trata-se de saber qual a origem do poema cantado na Ressurreição. Obrigada desde já…

  3. FENOMENAL esse blog! Todavia eu vejo em abundância o nº de versões e arquivos das sinfonias 1ª, 5ª e 6ª de Mahler, e o nº de páginas escritas com informações sobre a 2ª, mas das 3ª e 4ª sinfonias eu não encontro praticamente nada em lugar algum. A wikipédia não diz nada sobre elas, somente as cita, e o Kazaa não detectou nenhum movimento de qualquer uma dessas 2 sinfonias. Acredito que seria uma grande benevolência por parte de vocês, ou de alguem que queira colaborar com o blog, colocar a disposição para Download os arquivos (se os tiverem, é claro). Heim, heim? Que tal? Afinal esse já é o post da 2ª, é só continuar. Ademais, o blog é FENOMENAL!

  4. Entre tantas gravações de Mahler que já ouvi, sempre fico fascinado quando ouço Leonard Bernstein, com uma única exceção . Minhas favoritas são:
    1- Bernstein / Concertgebouw Amsterdam
    2- Bernstein / NYP
    3 – Bernstein / NYP
    4 – Bernstein /NYP
    5 – Bernstein / F. Viena
    6 – Bernstein / NYP
    7- Bernstein / NYP
    8 – Solti / Chicago Symphony
    9 – Bernstein / F. Berlim
    !0- Bernstein / F. Viena

Deixe um comentário