Toda a série está aqui, ó.
CD 4
Sinfonia Nº 7, Op. 60, Leningrado (1941)
De história riquíssima, a Sinfonia Nº 7 – dedicada à resistência da cidade de Leningrado cercada pelos nazistas – deve sua celebridade a uma transmissão de rádio feita para a cidade devastada e sitiada. Ela auxiliou as autoridades soviéticas a elevar o moral em Leningrado e no país. Várias outras performances foram programadas com intenções patrióticas na União Soviética e na Europa. Não é melhor sinfonia de Shostakovich, nem perto. A notável Sinfonia Nº 11, tão superior à sétima, é tão mais eficiente como musica programática de conteúdo histórico, que torna falso qualquer grande elogio à Sétima. De qualquer maneira, é esplêndido o primeiro movimento que descreve a marcha nazista. Também é importante salientar o equívoco do grande público que vê resistência e patriotismo numa obra sobre a devastação e a morte. Mas, como diria Lênin, o que fazer?
Symphony No. 7 in C major Op. 60 “Leningrad”
1. Allegretto
2. Moderato (poco allegretto)
3. Adagio
4. Allegro non troppo
WDR Sinfonieorchester,
Rudolf Barshai
CD 5
Sinfonia Nº 8, Op. 65 (1943)
Esta enormidade musical é também muito admirada, mas é música que, apesar de não ser nada má, perderá para suas irmãs gêmeas compostas depois, dentro do mesmo espírito. Gosto muito da beleza austera do quarto movimento em 12 variações – uma passacaglia – e também dos dois primeiros, com destaque para o divertido diálogo entre o piccolo, o clarinete e o fagote do scherzo. O terceiro movimento, de efeito fácil e heróico, é divertido, mas tem aquela melodia entoada pelo trompete que… Sei lá, acho estranho uma sinfonia com dois Scherzi.
Symphony No. 8 in C minor Op. 65
1. Adagio. Allegro ma non troppo. Allegro. Adagio
2. Allegretto
3. Allegro non troppo
4. Largo
5. Allegretto. Allegro. Adagio. Allegretto. Andante
WDR Sinfonieorchester,
Rudolf Barshai
CD 6
Sinfonia Nº 9, Op. 70 (1945)
Desde Schubert, com sua Sinfonia Nº 9 “A Grande”, passando pela Nona de Beethoven e pelas nonas de Bruckner e Mahler, que espera-se muito das sinfonias Nº 9. Há até uma maldição que fala que o compositor morre após a nona, o que, casualmente ou não, ocorreu com todos os citados menos Shostakovitch. Esta sinfonia – por ser a “Nona” – foi muito aguardada e, bem, digamos que não seria Shostakovitch se ele não tivesse feito algo inesperado.
Leonard Bernstein ria desta partitura, cujas muitas citações formam um todo no mínimo sarcástico. O compositor declarou que faria uma música que expressaria “a luta contra a barbárie e grandeza dos combatentes soviéticos”, mas os severos críticos soviéticos, adeptos do realismo socialista, foram mais exatos e apontaram que a obra seria debochada, irônica e de influência stravinskiana. Bingo! Na verdade é uma das composições mais agradáveis que conheço. O material temático pode ser bizarro e bem humorado (primeiro e terceiro movimentos), mas é também terno e melancólico (segundo e largo introdutório do quarto), terminando por explodir numa engraçadíssima coda. Barshai dá um andamento bastante lento e original à coda. Stálin assistiria e assistiu à estreia de uma Nona grandiosa…
Apesar dos cinco movimentos, é uma sinfonia curta, muito parecida em espírito com a primeira sinfonia “Clássica” de Prokofiev e com a Sinfonia “Renana” de Schumann, também em cinco movimentos.
Sinfonia Nº 10, Op. 93 (1953)
Este monumento da arte contemporânea mistura música absoluta, intensidade trágica, humor, ódio mortal, tranqüilidade bucólica e paródia. Tem, ademais, uma história bastante particular.
Em março de 1953, quando da morte de Stalin, Shostakovich estava proibido de estrear novas obras e a execução das já publicadas estava sob censura, necessitando autorizações especiais para serem apresentadas. Tais autorizações eram, normalmente, negadas. Foi o período em que Shostakovich dedicou-se à música de câmara e a maior prova disto é a distância de oito anos que separa a nona sinfonia desta décima. Esta sinfonia, provavelmente escrita durante o período de censura, além de seus méritos musicais indiscutíveis, é considerada uma vingança contra Stalin. Primeiramente, ela parece inteiramente desligada de quaisquer dogmas estabelecidos pelo realismo socialista da época. Para afastar-se ainda mais, seu segundo movimento – um estranho no ninho, em completo contraste com o restante da obra – contém exatamente as ousadias sinfônicas que deixaram Shostakovich mal com o regime stalinista. Não são poucos os comentaristas consideram ser este movimento uma descrição musical de Stálin: breve, é absolutamente violento e brutal, enfurecido mesmo, e sua oposição ao restante da obra faz-nos pensar em alguma segunda intenção do compositor. (Chego a pensar que, se este movimento fosse apresentado aos jogadores de Parreira, antes do jogo contra a França, trucidaríamos Zidane com ou sem cabeçadas e Roberto Carlos lembraria de qualquer coisa, menos de suas meias…) Para completar o estranhamento, o movimento seguinte é pastoral e tranqüilo, contendo o maior enigma musical do mestre: a orquestra pára, dando espaço para a trompa executar o famoso tema baseado nas notas DSCH (ré, mi bemol, dó e si, em notação alemã) que é assinatura musical de Dmitri SCHostakovich, em grafia alemã. Para identificá-la, ouça o tema executado a capela pela trompa. Ele é repetido quatro vezes. Ouvindo a sinfonia, chega-nos sempre a certeza de que Shostakovich está dizendo insistentemente: Stalin está morto, Shostakovich, não. O mais notável da décima é o tratamento magistral em torno de temas que se transfiguram constantemente.
Symphony No. 9 in E flat major Op. 70
1. Allegro
2. Moderato. Adagio
3. Presto
4. Largo
5. Allegretto. Allegro
Symphony No. 10 in E minor Op. 93
1. Moderato
2. Allegro
3. Allegretto
4. Andante. Allegro
WDR Sinfonieorchester,
Rudolf Barshai
PQP
O segundo movimento da Décima pussui, a par da violência e fúria apontadas, um caráter meio burlesco, meio circence. Uma fanfarronice sinistra.
Muito bem posto. Difícil encontrar melhores palavras do que as tuas.
Magnífica postagem Caríssimo P.Q.P. Bach, e só para lembrar Villa-Lobos também não morreu delois de compor a nona sinfonia!
Tu vai postar todos os cds???? o/
Não sei se interessa a alguem, mas encontrei esta vasta coleçao de musicas em midi. Pra quem toca algum instrumento, eh possivel converter as musicas para partituras tendo programas especificos. Eu ja estava desesperado, pois queria um preludio do Rach que nao estava achando de forma alguma entao encontrei aqui: http://www.classicalmidiconnection.com
Os links estão inativos….
Caro PQP, boa noite.
Este eu imploro que seja revalidado, pois baixei todos os anteriores e ficará faltando estes. Se for possível, agradeço muito.
Sds,
Rubens
Vi dia desses um documentário sobre a importância histórica da Sinfonia 7. Muito bom poder ouvi-la na integra. Grato pela postagem.
Vou fazer uma pequena defesa da 7ª: ela tem muito mais conteúdo do que parece. É que nós herdamos um preconceito de grandes compositores da época, como Stravinsky e Bartók, que, mortos de inveja do sucesso de Shosta, fizeram quase que uma campanha de difamação da sinfonia pelo mero fato de que ela fazia um sucesso imenso (e eles nem tanto). Reforçaram aquela horrorosa idéia de que “se faz sucesso, é ruim”.
O Alex Ross faz comentários muito bons sobre a 7ª, destacando algumas de suas citações ocultas – por exemplo, de A Alegre Viúva, uma famosa favorita de Hitler: http://www.therestisnoise.com/2007/01/chapter-7-the-a.html
Olá PQP, tudo bem? teria como revalidar os links deste série sensacional? Veja se pode fazer este favor ao seu amigo aqui da Bahia.Adoraria passar o carnaval ouvindo o Shosta. Abraços