“Começou de forma muito simples: apenas uma pulsação no registro mais baixo. Então, de repente, bem acima, soou uma única nota no oboé, que ficou ali, inabalável, me perfurando, até que a respiração não conseguiu mais segurá-la, e um clarinete a tirou de mim e a adoçou em uma frase de tal deleite que me fez tremer. A luz tremeluziu na sala. Meus olhos ficaram nublados… pareceu-me que eu tinha ouvido uma voz de Deus…” Peter Shaffer: Amadeus
Mozart claramente amava instrumentos de sopro: eles geralmente são como cantores lado a lado das vozes reais em suas óperas e são os verdadeiros cantores em sua música instrumental. Richard Bratby
Eu adorei esse disco, que tem como peça principal a Serenata em si bemol maior K 361, mais conhecida como a Gran Partita. Quando Mozart a compôs em 1781, em Munique, dispunha de excelentes músicos do naipe de sopros, que estavam a serviço da Corte Bávara e eram originários da famosa Orquestra de Mannheim. A Gran Partita foi composta para 13 instrumentos de sopros, sendo que um contrabaixo é geralmente usado na parte do contrafagote. A genialidade de Mozart produziu uma obra prima em um gênero considerado menor.
Música para conjuntos de sopros com seis, oito instrumentos, era muito comum e servia para acompanhar a vida social dos nobres e abastados. Esse tipo de música era chamado de harmoniemusik e seu repertório contava com peças originais, divertimentos, serenatas, assim como arranjos de óperas de sucesso.
Além da obra prima de Mozart, o disco nos brinda com outras duas composições que exemplificam essa forma musical. Johnn Nepomuk Wendt fez um arranjo de oito trechos de O Rapto do Serralho para um conjunto de instrumentos de sopros. Esse arranjo certamente é reflexo do sucesso dessa primeira ópera composta por Mozart após sua mudança de Salzburgo para Viena. É uma delícia reconhecer os momentos correspondentes da ópera, como o dueto de Blonde e Osmin ou o último movimento, outro cômico momento envolvendo o malvado Osmin e o esperto Pedrillo.

Na última parte da maravilhosa Don Giovanni há um jantar para o libertino cavaliere para o qual uma orquestra de sopros, uma harmonie, é contratada. Essa orquestra toca exatamente trechos de óperas de sucesso. Mozart coloca nesse momento um trecho de uma ópera de um ‘rival’, Vicente Martín y Soler, Lo Spagnulo, como os vienenses o chamavam. Soler era um músico que peregrinou por várias cidades europeias e por um certo período viveu em Viena. Ele fez sucesso compondo óperas, ao lado de Mozart e Salieri. Assim como no caso de Mozart, Soler produziu três óperas com libretos de Lorenzo da Ponte. Entre elas, Una cosa rara, a ópera que mereceu uma citação de Mozart. No disco, um arranjo de trechos dessa ópera feito pelo próprio Soler. Se você baixar o disco e ouvir até o fim, vai lembrar-se do trecho da ópera Don Giovanni no qual Una cosa rara é citada…
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Serenata em si bemol maior K.361 Gran Partita
- Largo – Molto Allegro
- Menuetto – Trio I – Trio II
- Adagio
- Menuetto: Allegretto – Trio I – Trio II
- Romance: Adagio – Allegretto
- Tema con 6 variazioni (Andante)
- Finale (Molto Allegro)
El Rapto En El Serrallo
Arranjo de Johann Nepomuk Wendt (1745-1801)
- Presto – Abertura (Presto)
- Hier Soll Ich Dich Sehen
- Ich Gehe, Doch Rate Ich Dir
- Durch Zärtlichkeit Und Schmeichein
- Wenn Der Freude Tränen Fliessen
- Ha, Wie Will Triumphieren
- Welche Wonne, Welche Lust
- Viva Bacchus, Bacchus Lebe
Vicente Martín y Soler (1754-1806)
Divertimento para octeto de sopros sobre temas de ‘Una cosa rara’
- Allegro Con Brio
- Andante sostenuto
- Allegro
- Cotillón – Trío
Moonwinds
Joan Enric Lluna
BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
MP3 | 320 KBPS | 240 MB
Moonwinds was born from the artistic initiative of Joan Enric Lluna with the desire to bring together outstanding wind instruments to form a stable group of chamber music

Seção ‘The Book is on the Table’: Moonwinds show a more balanced approach, play all the repeats, and give us, in the two extra items, a vivid impression of the scope of Viennese wind music in the 1780s. JN Wendt’s arrangement of eight numbers from Die Entführung is imaginative and professional, and the Martín y Soler, drawn from his operatic hit Una cosa rara, has a third movement that’s the very piece Mozart quoted in Don Giovanni (using Martín’s own wind arrangement). Moonwinds play all this with spirit and finesse (the oboe solo in the second movement of the Martín is especially fine).
Aproveite!
René Denon