Cem anos de Pierre Boulez (1925-2016)! Le Visage nuptial, Le Soleil des eaux e Figures, Doubles, Prismes (BBC, Bryn-Julson, Laurence, Boulez)

Há exatos cem anos nascia em Montbrison, no Loire, Pierre Boulez. Sem nenhum exagero, uma das figuras mais importantes da música clássica da segunda metade do século XX. Regente, compositor, professor e escritor, Boulez esteve desde cedo profundamente ligado às vanguardas aos novos rumos da música de seu tempo, em especial com o serialismo (e o serialismo integral, de que foi farol). Foi por obra dele que nasceu um dos mais importantes grupos dedicados à música contemporânea do planeta, o Ensemble intercontemporain, em 1976, ativo até hoje.

Há quem prefira seu trabalho como compositor — algumas das obras mais radicais e especulativas do século saíram de sua pena, como Le marteau sans maître e Pli selon pli —, e há os que gostam mais de seu amplo legado como regente, com gravações de referência de compositores como Mahler, Debussy, Bartók e Stravinsky. Eu, que não sou besta, sou profundo admirador de ambos, até porque são trabalhos que se confundem e se completam — sua atividade como compositor teve grande impacto sobre a sua regência, e vice-versa.

Luigi Nono, Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen nos cursos de verão de Darmstadt, 1956

Para celebrar a data, um disquinho precioso com três obras de Boulez que não figuram entre as suas mais tocadas nas salas de concerto de hoje. Duas são obras de juventude baseadas nos poemas de René Char: as cantatas Le Visage Nuptial (1947, aqui em sua terceira e profundamente alterada versão, de 1989) e Le Soleil des eaux (1948, aqui em sua quarta e definitiva versão, de 1965). Completa o álbum Figures, Doubles, Prismes (em sua segunda versão, de 1968), sua primeira obra puramente orquestral, desenvolvida a partir de sua obra anterior Doubles (1958).

Figures referem-se a elementos simples, nitidamente caracterizados por dinâmica, violência, suavidade, lentidão e assim por diante. Esses elementos podem ser puramente harmônicos, ou mais orientados para o ritmo, ou puramente melódicos. Eles não são temas da maneira convencional, mas ‘estados’ de ser musical. Doubles tem dois significados: o primeiro é o da palavra do século XVIII doppelgänger, que significa um duplo humano. Assim, no processo de desenvolvimento, cada figura pode ter seu duplo, que está relacionado apenas a ela e a nenhum outro. Os Prismes ocorrem quando as figuras ou seus duplos se refratam um através do outro. E, nesse caso, uma figura se torna o prisma e a outra é refratada através dela. Por meio desse processo, obtém-se o máximo de complexidade, e o efeito será comparável ao de um caleidoscópio.” (Boulez, em suas notas de programa sobre a obra para um concerto da Sinfônica de Cleveland, em 1966)

Além desse disco, vão aparecer por aqui neste ano os outros treze que formam a caixinha que reúne as gravações completas que Boulez fez para a gravadora francesa Erato.

Viva Boulez! A música ficou muito mais rica com a sua passagem por este planetinha azul.

O mestre do serialismo era puro carisma

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Pierre Boulez (1925-2016)
Le Visage nuptial (3a versão, 1989), para soprano, mezzo-soprano, coro e orquestra
1 – Conduite
2 – Gravité (L’emmuré)
3 – Le visage nuptial
4 – Evadné
5 – Post-Scriptum

Le Soleil des eaux (4a versão, 1965), para soprano, coro misto e orquestra
6 – Complainte du lézard amoureux
7 – La Sorgue (Chanson pour Yvonne)

8 – Figures, Doubles, Prismes (2a versão, 1968), para orquestra

Phyllis Bryn-Julson, soprano
Elizabeth Laurence, contralto
BBC Singers
BBC Symphony Orchestra
Pierre Boulez, regência

Boulez durante a composição de “Répons”, no comecinho dos anos 80

Karlheinz

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