Bach Sacred Masterpieces – Karl Richter – Collector’s Edition

51oTaFpy7TLBach Sacred Masterpieces

St. Matthew Passion BWV 244
St. John Passion BWV 245
Christmas Oratorio BWV 248
Mass In B Minor, BWV 232
Magnificat BWV 243

Münchener Bach-Orchester
Münchener Bach-Chor
Münchener Chorknaben

Maestro Karl Richter

 

O Quinto Evangelista

por Wellbach

Para muitos, a exemplo do filósofo, teólogo luterano, organista interprete de Bach e médico missionário Albert Schweitzer, Johann Sebastian Bach seria o Quinto Evangelista. Abundam os comentários que o elevam ao panteão dos Apóstolos: “A música de Bach é como o Evangelho. O público pode conhece-lo por Mateus, por Marcos, Lucas ou segundo João, todos diferentes, mas sempre Evangelho” – François Auguste Givaert.  “Esta semana ouvi três vezes a Paixão Segundo São Matheus, do divino Bach, cada uma delas com o mesmo sentimento, quem se há esquecido do cristianismo, pode ouvi-lo como um evangelho” – F. Nietzsche. “Bach revela-se no conjunto o mais universal dos artistas. O que expressa através de suas obras é uma grande emoção religiosa (…) Bach é, para mim, um grande pregador” – Charles Maria Widor.

Segundo o autor de um dos melhores livros sobre Ele – maiúscula proposital – James R. Gaines (em “Uma noite no palácio da razão”), com relação à concepção dos ciclos de Cantatas de Leipzig, mais as Paixões Segundo São João e São Mateus, “somente um profundo senso de missão poderia sustentar um transbordamento tão extraordinário de trabalho”. O autor observa que ‘Naqueles Tempos’ (para assumir um ar bíblico), não eram obras que fossem concebidas com finalidades artísticas em si, mas sim como acessórios do culto Luterano, cuja finalidade era a pregação da Palavra e nada mais senão a Palavra. Gaines nos aponta que desde o seu primeiro emprego em Arnstadt, Bach havia lidado com os textos de Lutero e com a Bíblia quase todos os dias de sua carreira, e com o tempo, a sua busca no sentido espiritual teria se tornado cada vez mais tenaz. Nos informa também que a biblioteca de livros luteranos que acumulou, especialmente em Leipzig, daria orgulho a qualquer pastor. Possuía os mais famosos trabalhos de pietistas e místicos cristãos; mais numerosas obras de comentários sobre os textos de Lutero e sobre a Bíblia alemã. Em 1733 comprou uma versão em três volumes da Bíblia Luterana, que havia sido publicada em 1681 com comentários do dr. Abraham Calov e mais tarde gastou boa parte de seu salário anual para adquirir a edição em sete volumes de textos de Lutero. Isso se juntou a mais oito volumes que ele já possuía. A maior parte da biblioteca teológica de Bach desapareceu após sua morte, mas a Bíblia de Calov foi encontrada em 1934, no sótão de uma fazenda em Michigan (!). Mais instigantes do que o portento de tal biblioteca são as anotações e exclamações nas margens de muitas das páginas dessa Bíblia. Diversas passagens grifadas e comentadas se relacionavam aos textos utilizados em sua música, mas outras anotações se dirigiam a questões prementes de sua vida, pontuada por dificuldades várias e atritos com seus “superiores”. O caráter despojado de algumas anotações é comovente. Nos apresenta o Mestre sem a peruca, curvado sobre suas partituras, nas bordas das quais também escrevinhava aclamações ao Altíssimo e contas domésticas: “Quando as coisas estão bem, considere que elas podem ficar ruins; e se estão ruins, podem se transformar em boas. Não presuma que as coisas vão caminhar da forma que você quer. Aquele que se preocupa em fazer as coisas serem da maneira que quer só terá tristeza, desassossego e dor no coração”. Ou ainda: “Aprenda a conhecer o mundo. Você não vai transformá-lo, ele não vai evoluir de acordo com você. Acima de todas as coisas aprenda e saiba que o mundo é ingrato”. E ainda: “O que é esse mundo senão um grande espinho que temos de remover nós mesmos? Esta terra é o reino do diabo”.

Tudo isso, junto à intensidade de sua música (“as melodias de Haendel são extensas, as de Bach são intensas”, escreveu Manfed F. Bukofzer), faz materializar-se uma auréola quase palpável sobre a figura de Bach; e de forma fácil e romântica se plasmou um herói da fé para a posteridade.

Contudo, seria a devoção a origem de tal profundidade na obra de Bach? Seria o fervor místico o magma que alimentaria a intensidade de sua música? Até que ponto essa devoção seria apenas a superfície deste “oceano” – como o chamaria Beethoven, ao considerar o significado do seu nome Bach – ‘regato’ ou ‘ribeiro’ (porém mais anteriormente a seu tempo, Bacher– padeiro, lembrando seu ancestral Veit Bach, que era padeiro e tangedor de cítara). A vida de Bach foi marcada por perdas, desde tenra infância, quando se foram irmãos e parentes próximos e distantes. Aos nove anos perdeu seus pais. Primeiro a sua mãe Elisabeth, depois Ambrosius, seu pai. Dos vinte filhos enterraria doze, idos em diversas idades, um deles Gottfried Bernard, com 24 anos. Sua primeira esposa Maria Bárbara também. O peso de tais perdas poderia ser, de forma bastante plausível, o esteio da música que toca a tantos ao longo dos séculos e de forma tão profunda, como uma verdade perene; e sobre estas correntezas abismais, cintilações que sabem a fé. Não seria prudente descartar, todavia, a ideia de que Bach cultivasse uma forte identificação com a figura do Cristo-homem, perseguido, sofrido e massacrado; vide as veementes exclamações na Paixão Segundo São Mateus: Geduld, mein Herz! – Paciência, meu coração! Todavia, na prática, não tinha pudores em intercambiar material entre obras sacras e profanas, reciclando o que podia com finalidades exclusivamente práticas e musicais. Mesmo nas Paixões e nas Cantatas nas quais ressoam árias que falam da morte, temos material rítmico típico de gêneros dançantes. Bach voa sobre os abismos.  O autor Franz Rueb (em “48 variações sobre Bach”) nos aponta como trabalhar para a igreja teria sido uma triste e última opção para Bach, que preferiria a liberdade de um emprego nas cortes, ao invés de jazer sob os tacões dos carolas luteranos; sob as exigências de administrar a música nos rituais, lecionar grego e latim, e ainda ensinar boas maneiras a uma manada de órfãos. Sabe-se o quanto lamentou o seu afastamento da corte de Köthen, onde produzia a bel prazer música instrumental e profana, devido ao casamento do seu patrão príncipe Leopold com uma criatura que preferia cavalos e soldados a música. Também se sabe como ao longo da vida buscou benefícios junto a outros principados, alguns deles católicos; como trabalhou de bom grado obras instrumentais e cantatas seculares (como a Cantata do Café) para exibições no Café Zimmermann, de onde foi diretor musical por dez anos. Enfim, talvez os vernizes dos ideais oitocentistas, o uso de sua figura nos movimentos de exaltação da cultura alemã – o próprio Wagner o apontou como um herói germânico; a sua transformação em um herói romântico nos moldes que aquele século exigia, tudo isso veio a exacerbar a visão do compositor como um baluarte da fé. Convém também lembrar que seu renascimento se deu através da Paixão Segundo São Mateus, pelas mãos de Mendelssohn. Esta exaltação de sua figura talvez tenha dado margem a impressões extremadas, assim como gerou ficções, a exemplo do conhecido livro “Pequena Crônica de Anna Magdalena Bach”, escrito pela inglesa Esther Meynell, em 1925.

Esta arca do tesouro que o Sr. Avicena nos traz dispensa comentários. Olhamos para ela como quem contempla os píncaros do Himalaia. É tal a concentração de engenho, arte, beleza e profundidade destas obras e tal a sua relevância, que bem podemos cair de joelhos. Como se não bastasse, estas obras nos vêm pelas mãos de um profeta, o egrégio Karl Richter, que, conforme me contou o grande flautista Aurèle Nicolet, a quem tive a honra e privilégio de conhecer, sabia de cor a Bíblia Luterana; o que não duvido, conta-se também que antes dos seus concertos de órgão apenas entrava numa banheira e relia as partituras. Todos sabemos que existem inúmeras gravações dessas obras. Particularmente falando e não pontifico sobre isso, as interpretações de Richter me parecem inigualáveis. Não somente pelo rigor técnico, mas também pela continuidade dramática. Me sabem ao desenrolar de uma narrativa consciente e contínua, por um narrador que acredita no que está dizendo. Outras versões sempre me parecem uma sucessão de trechos perfeitamente executados, brilhantemente executados, contudo, nelas me faltam a inteireza e a ‘fé’ de Richter. Enfim, diria que de todos que propagaram Bach como Evangelista, Richter foi o mais convincente.

É opcional vermos Bach como O quinto Evangelista tão propagado ou ‘apenas’ como um gênio da música que inescapavelmente vivia em seu mundo luterano, rogava a Cristo e anotava aforismos nas margens de sua Bíblia. Lutando contra as investidas dos pretensos iluministas da Universidade de Leipzig, a estupidez dos seus patrões, o peso das perdas, as incertezas, enfim, os males que até hoje nos assolam e que muitas vezes nos compelem a, nem que seja ‘interjeitivamente’, clamar pelo auxílio celeste. Seja como for, não há dano. Como disse Berlioz, “Bach é Bach como Deus é Deus”.

Wellbach

St. Matthew Passion BWV 244  – CDs 1, 2, 3.
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St. John Passion BWV 245 – CDs 4,5.
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Christmas Oratorio BWV 248 – CDs 6, 7, 8.
Magnificat BWV 243
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Flac – CD7 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
Flac – CD8 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Mp3 – CD6 – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE
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Mass In B Minor, BWV 232 – CDs 9, 10.
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Encartes & Scans – BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Meus mais profundos agradecimentos ao colega Wellbach pela brilhante colaboração acima! Não tem preço!

Avicenna

 

28 comments / Add your comment below

  1. Feliz em colaborar com o compadre mestre Avicenna nesta soberba postagem! saúde e paz a todos. Que o grande Pai João Sebastião nos abençoe.

  2. Avicenna, acho que este é o melhor texto que já li aqui no blog. Uma verdadeira declaração de reconhecimento a Bach. Uma visão de que Bach era humano e sofria como todos, seguindo adiante com grandeza de espírito. Maravilhosa postagem, parabéns !
    Abraço !
    Ammiratore

      1. Olá, muito obrigada por disponibilizar essas maravilhas. Mas também estou tendo problemas para extrair. Qual app você usou para compactar? Desde já agradeço

          1. Muito obrigada Avicenna. E realamente o texto é maravilhoso! Parabéns ao autor.
            Abçs
            Isolda

  3. Espetacular coleção. O texto me deixou emocionada… lindo!
    Sou louca pelo Bach, foi através de suas composições que comecei a apreciar a música clássica. Encontro-me, muitas vezes, a ouvir alguma composição e fico a me perguntar como algo tão maravilhoso pôde ser criado, e o admiro ainda mais. Não consigo igualar – ou comparar- nenhum outro compositor a ele.
    Obrigada a todos que mantém esse blog, disponibilizando suas coleções, suas opiniões e seus textos tão ímpares!

  4. Falar bem da música sacra de Bach é chover no molhado, a qualidade é assombrosa, estamos na especialidade mor daquele que talvez seja o maior gênio da música de todos os tempos. É como Berlioz disse: “Bach é Bach como Deus é Deus!.” Eu já tinha a Missa com o Richter, é minha interpretação predileta junto com a do Herreweghe (Kyrie & Agnus Dei -> Richter; Gloria, Credo & Sanctus -> Herreweghe).

    …mas, mudando um pouco de assunto, eu queria fazer uma (pequena) crítica ao pessoal do blog. Não se preocupem, o blog é ótimo, adoro as postagens de vocês. O problema pra mim está sendo o tamanho dos nomes de arquivos que vocês postam: estão grandes demais! Qualquer arquivo com nome de mais de 256 caracteres não somente não abre no meu PC, como também não pode ser movido, deletado e, paradoxalmente, não pode ser nem renomeado. Estou buscando uma solução no google mas até o momento, nada. Tanto a Paixão São Mateus quanto a São João desta postagem estão com alguns nomes de arquivos com mais de 256 caracteres, e isso já aconteceu com um oratório Paulos de Mendelssohn que baixei aqui outro dia.

    Então fica o pedido: reduzam o tamanho dos nomes dos arquivos, please!

    Como sempre, gostaria de agradecer mais esta estupenda postagem e a grande divulgação e propagação de boa música que este blog faz. Thank you!

  5. P.S.: No aguardo aqui pra conclusão de duas séries fodásticas que vocês começaram não terminaram: a da música sacra de Vivaldi com o King e a dos concertos pra piano de Mozart com a Lili Kraus! =o)

  6. bom dia e feliz natal, como faço para descompactar o arquivo da paixão segundo são joão?
    instalei o 7 zip mas não consigo descompactar, me aparece pedindo uma senha

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