“Uma noite sonhei que tinha feito um pacto com o diabo, o qual se dispôs a me obedecer, em troca de minha alma. Meu novo servo antecipava meus desejos e os satisfazia. Tive a ideia de entregar-lhe meu violino para ver se ele sabia tocá-lo. Qual não foi meu espanto ao ouvir uma Sonata tão bela e insuperável, executada com tanta arte. Senti-me extasiado, transportado, encantado; a respiração falhou-me e despertei. Tomando meu violino, tentei reproduzir os sons que ouvira, mas foi tudo em vão. Pus-me então a compor uma peça – Il Trillo del Diavolo – que, embora seja a melhor que jamais escrevi, é muito inferior à que ouvi no sonho”.
Giuseppe Tartini
Este é um dos CDs mais loucos que você vai ouvir. Mas é uma loucura inspirada. Andrew Manze, seguindo uma sugestão que está em uma das cartas de Tartini, livra-se de qualquer acompanhante e toca estas peças — normalmente executadas no mínimo com cravo contínuo — no violino solo. E Manze se utiliza de grande liberdade, improvisando, afastando-se do texto e voltando à partitura original. É um belo pesadelo e uma grande performance, altamente barroca. Se é “autêntica” ou não, eu não tenho a menor ideia. Manze não parece preocupado com isso. São execuções fluidas e livres, de bela sonoridade. Um CD inesquecível.
A vida de Tartini foi um tanto louca. Mesmo proibido pela família, casou-se secretamente com Elisabetta Premazzone, sobrinha de um cardeal que se opôs ao casamento. O feito rendeu-lhe uma ordem de prisão, o que levou Tartini a fugir para Assis, onde, disfarçado de Frade, se exilou no mosteiro da cidade.
Em Assis, Tartini se entregou ao estudo do violino, pesquisando novas metodologias e possibilidades sonoras do instrumento. Ali ele fez a descoberta do “Terzo Suono”, o terceiro som, um “fantasma sonoro” que pode ser percebido quando dois sons são intensos o suficiente para chegarem simultaneamente ao ouvido e gerar um terceiro som.
É um efeito semelhante ao dos sons binaurais. No violino, é comum executar este som, basta que o violinista toque notas duplas, se seu ouvido for sensível o suficiente ele ouvirá um terceiro tom, também conhecido como “Tons de Tartini”. Foi em seu livro Tratado de música segundo a verdadeira ciência da harmonia, que Tartini tornou o tema público.
Passados dois anos, Tartini foi perdoado e voltou imediatamente à companhia da esposa. Neste período, Tartini deu início a carreira de concertista.
Os três últimos parágrafos foram roubados daqui.
Giuseppe Tartini (1692-1770): A Sonata do Diabo e outras peças
“La Sonata Del Diavolo” En Sol Mineur
1 [Largo] 6:36
2 Allegro 6:06
3 Andante – Allegro – Adagio 6:18
De “L’Arte Del Arco” (14 Variations Sur La Gavotte De L’op. 5 n 10 De Corelli)
4 Theme Et Variation 1 1:00
5 Variations 2 Et 4 1:09
6 Variations 9, 15 Et 12 1:28
7 Variations 10 Et 20 1:52
8 Variations 29 0:46
9 Variations 30 0:38
10 Variations 33 2:04
11 Variations 34 1:11
12 Variations 23 0:53
13 Variations 38 1:11
Sonate En La Mineur
14 Cantabile 1:56
15 Allegro 1:57
16 [Andante] 4:50
17 Giga 2:33
18 Aria [Avec Vatiations] 1:40
19 Variations I 1:18
20 Variations II 3:52
21 Variations III 1:32
22 Variations IV 2:43
23 Variations V 1:19
“Pastorale” Pour Violon Scordatura
24 Grave 5:00
25 Allegro 3:30
26 Largo – Presto – Andante 4:59
Andrew Manze, violino
PQP
Ja conhecia este disco, nao lembro se foi postado aqui antes.
Mas depois deste post fui encorajado a revisitá-lo por este belo post.
Que disco hein!! O diabo se mostra capaz de agruras das mais diversas quando transportado para o vilino.
O ultimo movimento da Sonata do Diabo é a parte mais inspirada na minha opiniao.
Enfim, disco pra se ouvir e repetir.
Maravilhoso texto PQP! Muito impolgante eu já conhecia o CD, que é muito bom. Mas com esse texto dá vontade de baixar novamente e ouvir mais vezes. Eis o que vou fazer. Obrigado, abraço!
Empolgante*