Antonio Vivaldi (1678-1741): The French Connection

IM-PER-DÍ-VEL !!!

Não que vá mudar a vida de algum de vocês, mas devo começar esta curta pílula de curadoria dizendo que não amo incondicionalmente Vivaldi. Mas seria de uma desonestidade atroz dizer que não amei incondicionalmente este disco.

Ele ganhou como o melhor disco de música barroca de 2009 da respeitável revista Gramophone. Vocês querem que eu diga o que então? Que é ruim? Não é, é bom demais.

Vivaldi, tal como quase todo Mozart, tem aquele problema de ser alegre e feiliz e demais quando eu preciso de uma boa dose de drama e sanguinolência, só que este CD traz um repertório tão original que fiquei surpreso. Não tinha ouvido ainda estes concertos escritos sob inspiração francesa, um vício da época. O título do CD é certamente uma brincadeira com o bom filme homônimo de 1971 que tinha Gene Hackman como ator principal e que foi chamado no Brasil de Operação França.

Disco obrigatório para os amantes do barroco.

E eu pergunto: o Padre Rosso (o Padre Vermelho, pois Vivaldi era ruivo) era pedófilo? Ele foi professor de violino num orfanato de moças chamado Ospedale della Pietà em Veneza e teve um conhecido caso com uma de suas alunas, Anna Giraud. Um orfanato de moças… Já imaginaram as possibilidades matemáticas disso? Uh!

Acho que ele teve relações com várias alunas sim! Mas não podemos chamá-lo de pedófilo, pois naquela época as meninas com 13-14 anos já estavam casadas! E, novamente — lembram da briga em torno de Clara Schumann x Johannes Brahms? — ergue-se ereta a inevitável questão: comeu ou não comeu?

Vivaldi pegava ou não pegava as menininhas? Mais um conto rodrigueano de a vida como ela é.  Há que contrapor a isso a alegria e felicidade de suas obras. Pensem nisso durante a audição deste CD maravilhoso.

O pessoal da La Serenissima
O pessoal da La Serenissima

Antonio Vivaldi (1678-1741): The French Connection

Concerto for strings & continuo in C major, RV 114
1 Allegro 2:41
2 Adagio 0:24
3 Ciacona 3:09

Bassoon Concerto, for bassoon, strings & continuo in F major, RV 488
4 Allegro non molto 3:11
5 Largo 2:57
6 Allegro 2:19

Violin Concerto, for violin, strings & continuo in C major (“La stravaganza” No. 7), Op. 4/7, RV 185
7 Largo 1:56
8 Allegro 2:13
9 Largo 1:32
10 Allegro 2:22

Flute Concerto, for flute, strings & continuo in G major, RV 438
11 Allegro 3:52
12 Andante 3:26
13 Allegro 3:25

Concerto for strings & continuo in G minor, RV 157
14 Allegro 2:14
15 Largo 1:38
16 Allegro 2:25

Bassoon Concerto, for bassoon, strings & continuo in C major (incomplete), RV 468
17 Allegro 2:35
18 Andante 1:44

Flute Concerto, for flute, strings & continuo in E minor, RV 432
19 Allegro 3:05

Chamber Concerto, for flute, violin, bassoon & continuo in F major, RV 100
20 Allegro 2:40
21 Largo 2:31
22 Allegro 2:39

Concerto for strings & continuo in C minor, RV 119
23 Allegro 2:47
24 Largo 1:33
25 Allegro 1:36

Violin Concerto, for violin, strings & continuo in D major, RV 211
26 Allegro non molto 6:03
27 Larghetto 3:52
28 Allegro 5:52

Katy Bircher (flute)
Peter Whelan (bassoon)
Adrian Chandler (violin, conductor)
La Serenissima

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Antonio Vivaldi era assim
Antonio Vivaldi era assim, mas… Comia ou não comia?

PQP

12 comments / Add your comment below

  1. Tem esse documentario https://www.youtube.com/watch?v=153WVp8QJQ0 que explora bastante a história de Vivaldi a das donzelas do dito orfanato em que lecionava em Veneza, producao muito legal e bem informada da BBC.
    Fato interessante, pra executar os concertos as donzelas permaneciam ocultas do público por uma espécie de biombo, tudo isso, reza a lenda, pra que o público nao caisse em tentacao pelas tao ilibadas “meninas”. Outra lenda reza que, um olho mais curioso, ao secretamente conferir o que havia atrás do biombo ficou meio decepcionado, pois a beleza das imaginadas musas ficou bem abaixo da expectativa. Enfim, vale muito a pena conferir. E na minha opiniao, Vivaldi nao só comia como ainda lambia o fundo do prato.

  2. Muito obrigado pela partilha. Em um mundo caótico como o que vivemos, eu preciso de uma dose de Vivaldi e alegria quase que diariamente. Salve, Vivaldi. Eterno.
    Para mim, só perde para J.S.Bach.

  3. Olá Pqp, n estou conseguindo + baixar o arquivo pq? Tmb quero agradecer pelo excelente trabalho de vcs ao disponibilizarem estas preciosidades!

  4. Como sempre digo, Vivaldi nunca é demais. Beleza e mais beleza, um gênio que jamais sonegou expressão, intensidade e beleza. Hoje foi uma tarde histórica, conheci o nosso caríssimo Mateus Rosada aqui em Salvador. Entre muitos chopps e comida das arábias, falamos muitos de música e de outras artes (ele próprio um talentosíssimo artista); de história e deste nosso honorabilíssimo grupo. Ele, como o peregrino da turma, já teve a sorte de conhecer quase todos vocês de nossa távola musical; ele foi o primeiro que conheci e espero muito encontrar com o resto da turma alguma dia. Falamos muito de Vivaldi, de nossas postagens, do início de nossa participação no grupo, do que planejamos postar… enfim, um encontro formidável e, como disse, para mim histórico. Saúde a todos e grande abraço.

  5. Este relato de Rousseau sobre as meninas é engraçado:

    Jean-Jacques Rousseau, de passagem por Veneza, assim descreveu sua impressão dos concertos e das intérpretes:

    “As Vésperas (…) são tocadas por trás de uma galeria gradeada, somente por meninas, das quais a mais velha não terá mais de vinte anos. Não posso conceber nada mais voluptuoso, nada mais emocionante que esta música. O que me afligia era estas meninas exiladas, de quem apenas sua música se permitia atravessar as grades que ocultavam os anjos adoráveis que julgava serem. Calei-me. Um dia comentei o fato em casa de Messer le Bond. ‘Se estais tão curioso’, disse-me ele, ‘para ver estas mocinhas, posso facilmente satisfazer-vos a vontade. Sou um dos administradores da casa, e vos convido a lanchar com elas’. Quando me dirigia com ele à sala que abrigava aquelas desejadas beldades, senti tamanha agitação de amor como jamais experimentara. Messer le Bond foi me apresentando uma após outra daquelas afamadas cantoras, cujas vozes e nomes me eram já todos conhecidos. ‘Vem, Sophie’… ela era horrenda. ‘Vem, Cattina’ …. era cega de um olho. ‘Vem, Bettina’… a varíola a havia desfigurado. Mal haveria uma ou outra sem qualquer defeito considerável. Duas ou três eram toleráveis; só o que faziam era cantar no coro. Fiquei desolado. Durante o encontro, quando brincamos, elas se alegraram. A feiúra não exclui o charme, e encontrei charme em algumas delas. Finalmente minha maneira de as considerar mudou tanto que quase me enamorei daquelas meninas disformes.”[

  6. Depende da ótica, para Rousseau, foi ótimo, pois ele viu que a aparência exterior não vale nada e começou a enxergar o mundo diferente.

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