Já recebi críticas muito convincentes sobre a ausência de música “nova” nas minhas postagens. Tem dois motivos para isso: primeiro, o meu conhecimento limitado e o segundo, menos nobre, meu desinteresse. Já estive em concertos pelo mundo (poucos, confesso) dedicados a jovens compositores. O enfado foi grande. Um mistura de música tonal com atonal, eletrônica ou neo-romântica, nada realmente “novo”. Vi um concerto que a pianista, no meio da cadenza, entrava com um martelo dentro do piano. Mas tirando o belo corpo e as marteladas, não guardo mais nada na memória. Noutra ocasião um violoncelista usava seu instrumento como percussão numa sonata. As cordas quase desnecessárias. É verdade que tenho ouvido coisas interessantes na chamada música espectral e quase geniais na música eletrônica, mas nada além das possibilidades alcançadas pelo velho e defunto Stockhausen. Há vários anos a música “nova” não vem mudando.
Quando disseram a John Cage que qualquer um poderia ter escrito 4´33´´, ele respondeu: “É verdade, mas fui eu que fiz”. Após a morte de Beethoven, o compositor devia abraçar a originalidade como requisito básico; após Cage, a transgressão envelheceu. A idéia do progresso na música também caiu por terra. No entanto, hoje encontramos muitos compositores razoáveis escrevendo músicas razoáveis, mas que trazem tantas referências (algo normal na música de todas as épocas, mas não tão exagerado) que fica difícil ouvir a impressão do próprio compositor. Mesmo no período barroco, que foi de certo modo a cultura do exagero e imitação, era possível identificar nas grandes obras as assinaturas dos mestres. Hoje não se identifica nada. E como não tenho muito tempo a perder, e não sou adepto nem a tradição ou a originalidade, mas a “voz” de cada artista, eu prefiro ir direto a fonte de tudo isso.
A série Imaginary Landscape são obras chaves. Os três primeiros (escrito entre 1939 e 1942) são bastante percussivos, com a participação quase pioneira de elementos eletrônicos. Grupos como Uakti ou coisas similares no mundo da “World Music” devem ter bebido dessa fonte. Imaginary Landscape n.4 já é uma mudança total de paradigma. Escrita para 12 rádios (se possível, em AM), cada um com dois músicos operando a sintonia e o volume com absoluto rigor. Cage, ao contrário do que se pensa, tinha total interesse no controle dessa nova linguagem. Paradoxal, mas a aleatoriedade era controlada.
Obras fascinantes e insuperáveis no quesito originalidade.
CDF
Disco:
1 – Imaginary Landscape No. 1, for 2 variable speed turntables, frequency records, muted piano & cymbal 8:45
2 – Imaginary Landscape No. 2, for 5 percussionists 6:35
3 – Imaginary Landscape No. 3, for 6 percussionists 3:05
4 – Imaginary Landscape No. 4, for 12 radios, 24 players & conductor (March No. 2) 5:00
5 – Imaginary Landscape No. 5, for any 42 recordings, to be realized on tape 1:31
6 – But What About the Noise…, for percussion ensemble of 3-10 players 26:00
Oportuno comentário. Nas artes plástica eu acho que é pior ainda.
Oportuno comentário. Nas artes plástica, que é a minha área, eu acho que é pior ainda.
Uau! Isso incomoda bastante. É instigante, curioso, estranho.
Desculpem-me pela comparação, mas ao ouvir a primeira faixa senti como se estivesse participando de uma abdução alienígena ao estilo X-files. Depois, a terceira faixa, tem um ar meio espacial… Uma experiência bastante diferente, CDF.
Para mim, a música da maioria dos compositores contemporaneos do final do século XX e início deste fazem é tão desapegada dos outros, os ouvintes, desejando somente satisfazer seus ideais musicais pessoais, que a reação a música destes não poderia ser outra senão o repúdio. Somente musicólogos, quanto muito, vão ouvir e pesquisar essas obras. Isso mesmo: PESQUISAR,estudar a partitura, etc. A música contemporanea de concerto deixou de ser objeto de audição para ser objeto de dissecação científica.
Com a exceção de Górecki, Hindelminth, Cage (a quem julguei mal antes) e os “vendidos” que “subordinam” sua arte ao cinema, de Copland, Pendericky e Killar, passando por John Williams, Elliot Godenthal, Dany Elfmann, Basil Polidouris, entre outros, a maioria dos compositores atuais só faz musica inutil, no sentido de não terem um mínimo de apelo para com os ouvintes comuns. Nesse sentido, um John Williams, com suas músicas para os filmes de Spilberg, fez/faz musica muito mais significativa, no sentido de ser ouvida, apreciada, lembrada e assoviada pelas pessoas. Quem nunca ouviu o tema de “StarWars”? Ou de “Superman”? Tão populares quanto a Quinta de Beethoven, a Pequena Serenata de Mozar e as aberturas e idílios de Wagner. Aliás, muitas trilhas sonoras são verdadeiras pérolas que, por preconceito, os musicólogos rejeitam como “música menor”.
Isso sem contar os outros gêneros musicais, como Jazz, Rock/Metal, Pop, Trance, World Music e New Age, que praticamente são mais ouvidos e conhecidos, além de disputarem com o “erudito” espaço. Que na maioria das vezes perde.
Não vejo dessa forma. Acho que o problema não se trata de público, pois nem Bach, Mozart ou Beethoven tiveram um público adequado e decente. O problema é ouvir uma música sem personalidade, carregada de maneirismos e clichês. John Williams pode parecer original para o público comum, principalmente aquele que para ver um filme se entala de pipoca. Mas Williams rouba temas e passagens dos mestres do passado, criando algo amorfo que só tem vida (se tiver) na tela do cinema. Aliás, a expressão “música de cinema”, tão falada pelos leigos que ouvem pela primeira vez música clássica, deveria ser dita ao contrário: “humm…essa passagem é de Bruckner! ou de Tchaikovsky (o terceiro movimento da Sexta Sinfonia lembra muito o tema de Indiana Jones)”.
Outro ponto que pode ser responsável pela crise é o da limitação sonora. Um compositor acaba esbarrando inevitavelmente num clichê, descaracterizando sua música ou o que de diferente ele tem a dizer.
É, tô mais pro CDF do que pro Sander.
Primeiramente, não acho que uma música com uma “melodia assoviável” seja tão “maior” assim simplesmente por ter esse artifício.
Sobre esse negócio de “música inútil” é difícil de conversar… ora, qual é a utilidade da música? Pra que alguém compõe alguma coisa?
A meu ver, o artista é um inconformado com a finitude. É como um arqueólogo que escava para trazer à luz a permanência das coisas (uma permanência mutável, impermanente por si!). Não se restringe a observar a beleza do objeto. Vai além, extraindo suas novas possibilidades. Das profundezas do inconsciente coletivo, munido do espírito da época, faz nascer aquilo que está adormecido. E sempre pensa, olhando bem no fundo da sua escavação: MAS TEM QUE HAVER MAIS!
Como comentei em algum post desse blog acho que ontem ou antiontem, existe uma frase do filósofo Gillez Deleuze que é muito profunda: “Um criador não é um ser que trabalha pelo prazer. Um criador só faz aquilo do que tem absoluta necessidade.”
John Cage abriu mão do próprio “direito de escolha” em composições em razão do acaso, do aleatório. E depois de sua visita à câmara anecóica, “decidiu” seu “plano de vida musical”: e isso foi uma necessidade, não um prazer vago e egoísta. “No one else was doing that. I would do it for us.”, disse ele sobre isso certa vez sobre fazer música desistindo de fazer escolhas, a Tao da Não-intenção. E eu duvido alguém sair assoviando qualquer trecho de algma composição dele aí na rua…
Desculpe qualquer coisa, como um comentário longo… hahaha! Mas é isso.
Abraços, ‘té mais!
“Um criador não é um ser que trabalha pelo prazer. Um criador só faz aquilo do que tem absoluta necessidade.”
Nem sempre. Pode muito bem compor por prazer pessoal, necessidade financeira, à pedido ou ordem de alguém, para ensinar,exibir seus dotes etc. JSBach fez música a pedidos e ordens e nem sempre por uma necessidade que transcende ao próprio criador. Haydn, Mozart e Beethoven idem. Lizst e Paganini compunham mais para se exibir em seus respectivos instrumentos. Já Richard Strauss me parece alguém que quis “botar banca” de um “inconformado com a finitude”. Coisa que Mahler foi.
“E eu duvido alguém sair assoviando qualquer trecho de algma composição dele aí na rua…”
Se for a 4´33´´nem precisa, basta ficar em silêncio.rsrsrsrs
Sander
vc está equivocado. Cage propõe a escuta do silêncio, e não sua inercia. É uma questão de perspectiva da arte. Perspectiva da percepção. Um gesto cerebral com certeza.Por exemplo, amo Greenaway e Godard e eles nunca serão populares, mas fazem o essencial emergir. Minha poesia é melodica, mas parte do pressuposto cagiano. O ouvinte de hoje, não é o mesmo do inicio do século. A arte não anda de maos dadas com o público. Esse chega depois do degludido.É preciso um espírito dentro do espírito para se perspectivar de um novo ponto vista. É um risco. As pessoas não estão dispostas a riscos.
Dr Cravinhos
Dr.Cravinhos, creio compreender sua colocação.
A música é feita não só de sons, sejam eufonicos ou cacofonicos, mas de silêncio tb. Silêncio esquecido e repudiado pelas pessoas com o passar das décadas, pois era interpretado como “morte”,”inação”,”estagnação”,”nada” etc. Assim, quanto mais sons, eufonicos ou não, melhor. Isso explica porque as pessoas hoje não conseguem ficar em silêncio ou aprecia-lo. Têm medo da ausência de sons. E seus cérebros estão tão condicionados à presença de sons que chegam a “ouvir coisas” – sendo interpretado como doença mental -, cantarolar inconcientemente alguma canção ou assoviar ou grunhir mesmo. Mas tem de haver som.
E por silencio não quero dizer somente “ficar quieto”, sem falar nada. Mas a capacidade de deixar os pensamentos e sentimentos atribulados e atribuladores de lado e contemplar a existência, a vida, sem julgamentos ou sentimentos, somente percebe-la com seus sentidos e sua consciencia liberta de todo lixo que foi acumulado nela e produzido pelo trabalho mental/intelectual. De fato, é o que muitos místicos propõem e ensinam para que o Homem purgue tudo de ruim causador de enfermidades, mentais e físicas.
A obra 4´33´´ é produto dessa compreensão de Cage. No início, desdenhei dessa obra e, por tabela, do musico. Posteriormente, refletindo sobre o real significado dessa obra, assistindo inclusive vídeos com sua execução, dei-me conta que Cage quis resgatar algo que a humanidade tinha deixado de lado, com o passar das décadas (séculos?), nas artes e na vida cotidiana, a necessidade do Silêncio, sua importância, sua capacidade purificadora e criativa, pois a maioria, senão tudo, que foi escrito, planejado, concluído,descoberto etc.,e que constituem o melhor da Humanidade, nas Artes, Ciências e mesmo na vida cotidiana, se deu no silêncio, tanto físico quanto psíquico.
O Silêncio, que faz parte da Música, foi relembrado e homenageado como merecia por Cage. Num mundo onde música se tornou sinonimo de barulho e sons constantes, sem pausas, onde o silêncio é visto como ausência e/ou simbolo de toda ausencia, 4´33´´é o contraponto que produz estranheza, incomodo, revolta, curiosidade etc. mas para nos relembrar da existencia e importancia vital desse elemento, o silêncio.
Sander, todos os compositores que você citou aí tiveram o pensamento que eu falei, a meu ver: “E sempre pensa, olhando bem no fundo da sua escavação: MAS TEM QUE HAVER MAIS!”.
Se JSBach compôs à pedidos/encomendas, tenha certeza que essas composições não são simplesmente “organizações tradicionais de sons nos tempos”; ali tinha algo “a mais”. Isso é arte.
Haydn fez 104 sinfonias, e há quem diga que são todas iguais… bem, eu não conheço todas realmente, mas pelo menos umas vinte e poucas, e quando analisamos achamos cada coisa… tive um professor, Celso Mojola, também compositor, que dizia isso sobre Haydn: “Esse aí é um lobo em pele de cordeiro!”.
Até Lizst e Paganini inovaram, como você citou, a técnica de seus respectivos instrumentos; ora, tenho uma forte inclinação a pensar que foi por necessidade: eles precisavam daquela técnica inovadora para a época para fazer a música que eles tinham que fazer. Não “compunham para se exibir”. Se eram exibidos, bem, o que há de fazer? Mas não era o grande ponto da coisa, a “exibição” em si, não eram pavões. Eram técnicos.
Imagino que a maioria dos compositores, ou até todos eles, viam também o grande “prazer” em compor/executar suas músicas. Porém, não era esse o grande lance da coisa toda, imagino. O “prazer em si”, o buraco é/era mais embaixo. Pois a inovação, a pesquisa, está/estava sempre lá. A necessidade de se fazer algo novo. Pelo menos assim espero, para sair do mundo que o CDF exemplificou com a frase “Há vários anos a música “nova” não vem mudando.”
‘té mais!
John Cage disse que enquanto existir vida, existirá som, mesmo que não intencionalmente. “A música está garantida”, hehe ;¬)
Quanto à popularidade ou não de uma obra musical, ou de qualquer outra Arte, concordo que as pessoas, com o passar do tempo, por “n” razões, só conseguem apreciar aquilo fácil, pré-cozido ou pré-digerido, de acordo com a onipresente cultura de massa. E que John Williams não passa de um criador de músicas ao gosto das massas em concordância com a cultura de massas.
Porém, isso não muda o fato de que obras de compositores contemporaneos são ignoradas e repudiadas. E credito isso não só à falta de uma educação/cultura musical sólida e de berço, somada a um estado mental receptivo a tudo de novo, mas tb porque os compositores “eruditos” de hoje parecem não querer que suas obras sejam ouvidas pelo público, querem mante-las num lugar que lhes confira certo status de obra-de-arte intangivel, destinada a poucos privilegiados. Levam ao pé da letra a máxima “A Arte existe por si mesma”. Tempos e gentes passarão, e a Obra ficará. Mas me pergunto: essa obra foi feita por um ser humano. Enquanto esse ser humano viver, essa obra ficará em boas mãos. Mas e depois, quando a morte vier? Quem cultivará essa obra, assim como tantas outras? Meia dúzia de “eleitos” que partem do presuposto que certas obras não são para a maioria das pessoas? Que somente “pessoas acima da média” podem aprecia-las? Que ao enorme resto, está fadado o lixo e o insignificante?
Não concordo. Acredito que uma obra, seja artistica ou cientifica, DEVE ser do conhecimento, apreciação e utilidade do maior número de pessoas possível. Uma obra, feita por um ser humano destina-se a quem?? A algum ser de outro planeta? É claro que se destina a nós. E se as pessoas não conhecem ou apreciam uma obra, como será cultivada? Eu mesmo tenho a resposta: pelos poucos que sabem apreciar e valorizar, pelos “eleitos”, como aconteceu e acontece ainda hoje.
Na verdade, penso e sinto que a Arte deva ser o mais democrática possível, e que aqueles que são privilegiados podem e devem contribuir com o cultivo. De conhecedores e criadores. Neste quesito, este blog cumpre com o que penso e seu(s)dono(s) estão de parabéns.
E relendo meu último texto, creio que confundi a natureza de uma obra com sua divulgação. São coisas diferentes.
Sim, acredito que o “segredo” para resolver esse “problema” é um pouco mais de educação musical/artística, tanto para certa parte da população ouvinte/apreciadora quanto para alguns dos novos compositores. E esse blog é fantástico sim, em divulgar muita coisa bacana!
Por falar nisso, posts como esse ( http://pqpbach.opensadorselvagem.org/leonard-bernstein-discusses-and-conducts-xx-century-music/ ) são de extremo valor!
Acho que sei porque a música nova não tem nada de novo. Para que seja nova é preciso uma mudança de paradigma, pois o paradigma da quebra de padrões não só se tornou um padrão (ou seja, é isso que esperamos que um compositor moderno faça, por isso é um padrão, um conservadorismo), como também se tornou impossível. Após 4’33” qualquer sequência de notas, ruidos ou silêncio passa a ser música, tenha ela sido composta ou não por alquem. O que mais quebrar?????
Minha sujestão para a última peça vanguardista da história (“1929”; J. Avoado) seria: porque uma música tem de ser feita para ser ouvida? A apresentação de minha música seria a colocação de um radinho, com estática, dentro de uma sala silenciosa e acusticamente fechada. A sala deve ficar vazia, e ninguem deve escutar ou ver o que acontece dentro da sala por meio de microfones e cameras. Tudo deve ser um mistério por 5min, quando, então, a obra termina e o público, impressionado, aplaude a magnífica representação de genialidade que acabaram de presenciar…
Bom, depois disso acho que nos resta começar novamente a implantar padrões, pois só restou como próximo passo a eliminação da necessidade de uma ocasião especial para representação de uma obra musical (ainda presente na composição que acima descrevi): A 10 min (ou em algum outro tempo qualquer do passado, presente e futuro. Talvez até em dois momentos ou mais), sem que ninguem percebesse, aconteceu (ou não) em uma floresta na America do Sul (ou talvez em algum outro lugar do globo ou do universo) a representação da peça sem nome (por que precisaria de um?), que não foi ouvida (ou talvez foi) por ninguem e nada (acho que então deve ter acontecido no Acre…) (ou talvez a peça não tenha acontecido em momento algum…). Não se sabe ao certo os intrumentos envolvidos, pois talvez não houvesse nenhum. Talvez a peça não possua ruidos, e nem “silêncios”, e nem nada (mas tambem nem tudo, e nem “algo qualquer”).
Enquanto alguem não fizer algo mais “inovador” do que isso, vai, inevitavelmente, cair em repetição de padrões.
Desculpem-me se, por acaso, acharem que o comentário anterior foi, por demais,cínico. É que eu acho que até a metade do século XX os artistas, genialmente, criaram inovando. Mas depois desses meados eles perderam as estribeiras e fizeram a mais completa criancice com o intuito de “inovar a qualquer custo”. Todos os discurssos (até hoje) que tentaram me convencer do contrário pareceram mais uma explanação do advogado do diabo.
Admitamos: se as duas peças (esdrúxulas, diga-se de passagem) citadas acima tivessem sido compostas por algum pomposo, estrelado e renomado (não podemos esquecer) compositor europeu (ou americano), haveriam inúmeros intelectuais estudando-as e defendendo, com unhas, dentes e metáforas, a genialidade intrínseca a ambas (“através da percepção do homem moderno, que é influenciado direta e indiretamente pelos mais variados fatores, os quais não é capaz de controlar… blablabla… Na realidade as peças são quase um tratado psicológico que demonstram a angústia irrefreada dos tempos modernos que paira sobre todos de modo silencioso e irreconhecível, mas, porém, estrondoso e irrequieto… blablabla… com aquele trecho que é uma representação Meta-neo-pós-concreta do salivar sobre um vinho Francês de uvas colhidas verdes… blablabla….”)
Além do mais, ha mais de 100 anos os artistas tentam quebrar o consevadorismo dos ouvintes, sem sucesso. MAIS DE 100 ANOS! Nenhum outro movimento artistico levou tanto tempo para ser aceito. De modo geral obsevava-se uma resistência inicial e, dentro de algumas décadas, os inovadores passavam a ser os novos conservadores. Não foi o que aconteceu no modernismo, mesmo em MAIS 100 ANOS(!)(a não ser entre os intelectuais). Sua não-aceitação é constante, e talvez eterna. O problema está em Anitta ou Monteiro?
Eu, assim como muitos outros, hoje, gosto de arte moderna. Mas: 1)eu aprendi a apreciar uma beleza diferente, ou 2)fui enganado e continuo a enganar-me, me esforçando para achar que gosto de algo “inumano” e anti-natural, tal qual os personagens da história infantil “As Novas Roupas do Imperador” que fingiam ver as roupas (que não existiam) do imperador para não fazerem feio diante ods outros? Sei que a questão é básica, mas foi empurrada com a barriga por todo o período moderno. A guerra entre modernistas e público acontece até hoje por burrice e visão obtusa do povo, ou por teimosia e arrogância dos intelectuais?
Não penso que exista um grupo de pessoas (intelectuais?) que determina o que seja bom ou não para a eternidade. Tem críticos excelentes que não suportam Schoenberg, por exemplo, e que não temem em dizer. Aliás, a “crítica especializada” sempre foi muito conservadora, e várias vezes injusta com seus compositores contemporâneos. Por que, então, ela merece crédito? Houve casos do público ter sabido mais sobre o valor de uma obra nova que a própria crítica. Então, tenha a mesma coragem de uma amiga minha que, ao sair do Museu Van Gogh, disse: ” achei uma merda.”
Avoado, tenha certeza que muita gente séria (intelectuais?) abomina John Cage e boa parte do século XX. Então não se sinta só ou forçado a gostar de nada. Além disso, costumo sempre dizer que boa parte da música escrita no século XX foi tonal (muitas vezes bem melódica) e de complexidade inferior aos últimos quartetos de Beethoven.
Quando falei sobre uma educação musical/cultural, não quis dizer que todos seriam artistas, tampouco que gostassem de arte moderna e contemporânea. Mas que conheçam. E depois digam se acham uma merda ou super bacana. Talvez até sem um conhecimento profundo, mas que pelo menos conheçam. É como a amiga do CDF, que achou o Museu Van Gogh uma bela porcaria depois de ter saído: ainda bem que não falou (nem que era lindo nem horroroso) antes de entrar, né? hehe!
Enfim, outro ponto a ser observado é o que o CDF falou sobre boa parte da música escrita no século XX ser tonal e até mais “pobre” que coisas feitas anteriormente sobre o mesmo campo. Cadê a inovação nisso?
E retiro um trecho deste post de Lutoslawski ( http://pqpbach.opensadorselvagem.org/witold-lutoslawski-1913-1994-concerto-for-cello-livre-pour-orchestre/ ) para botar aqui: “Talvez o nome de Lutoslawski não esteja entre os grandes transformadores, pois o compositor polonês teve sempre sua música muito próxima, inicialmente, a Szymanowski e Bartok, e depois, à música mais avançada dos anos 50 e 60. Enfim, a originalidade não foi seu grande trunfo. Mas será que isso é motivo de pessimismo? Ser original é mesmo importante? Conhecendo bem a obra de Lutoslawski, acredito realmente que ele foi sim um grande mestre, pois ao contrário de alguns criadores revolucionários, sua música não é artificial, ela é absolutamente sincera mesmo em estruturas complexas como o atonalismo ou aleatoriedade.”
E se muitas obras tonais do século XX fossem mais “ricas” e complexas que os últimos quartetos de Beethoven? E se fossem igualmente “sinceras” ?
Olá CDF e Dino,
Meu intuito nos comentários não era o de questionar a escolha pessoal sobre certo/errado da música moderna/vanguardista, pois acho que a escolha pessoal é isso mesmo: pessoal. Se alguem gosta de bolo, gosta de dar paneladas na própria cabeça ou gosta de música de um período ou outro, cabe apenas a ela questionar-se. Meu intuito é, antes, o da analise filosófica e estética da música vanguardista, levantando qualidades e defeitos objetivos (se for possivel, provavelmente não o é, objetivar um pouco a análise e tentar sair da opinião).
Por exemplo: Dar paneladas na própria cabeça é uma escolha de cada um, mas eu não aconselharia meus filhos (supostos, já que não os tenho) a fazê-lo e nem ao menos experimentar fazer, pois se trataria de um esforço inútil, infrutífero, dolorido e (o pior)perigoso. Meu questionamento é similar para com o ensino e difusão da música vanguardista. Não que seja perigoso escutá-la (seria idiotice imaginá-lo), mas… não seria um esforço inútil? Meus supostos filhos não estariam gastando fosfato para tentar compreender algo vazio, enquanto poderiam estar apreciando outras músicas mais “plenas”(não encontro termo melhor, então fica isso aí mesmo)? Existe alguma base segura que nos permita responder a isso? Claro que no final das contas a escolha é de cada um, mas isso não faz com que algumas escolhas deixem de ser, indubitavelmente, idiotas (calma, não estou afirmando nada, estou apenas levantando suposições, das quais nem mesmo eu estou seguro), como no caso das paneladas na cabeça.
-Mas e se a pessoa gosta de escutar música vanguardista, e ponto final?
Bom, supondo que seja idiotice ouvir música vanguardista. Alguem não poderia também gostar de levar paneladas na cabeça? Existem pessoas até que se matam, e outras que são masoquistas, mas isso não faz com que a dor e o suicídio ganhem lugar de destaque, ou que devamos ensiná-los e indica-los (novamente ressalto: estou levantando suposições e não emitindo juizos de valor).
Compreendem meu posicionamento? Me vejo perdido ante duas perpectivas:
1ª: Os modernistas encontraram um modo totalmente novo de ver a realidade, que é tão válido e valioso quanto os anteriores. Sua visão conferiu liberdade. Seus “inimigos” são meio ceguinhos para não perceber a grandiosidade do movimento. e
2ª: Os modernistas (perdão, vanguardistas, poupemos os modernistas) fizeram uma tremenda palhaçada por pelo menos 50 anos, enganando os críticos, o público e a si mesmos. Tentaram agregar valor a algo que nada vale, assim como alguem que tenta convencer os outros de que o branco é preto. Muitos acabaram, pela insitência, convencidos de que ambas as cores são iguais, mas isso não muda o fato de que elas são diferentes e de que a música vanguardista não vale nada, é só uma piada vazia. Os “inimigos” da nova música são pessoas que ainda tem um pouco de juizo e impediram que a baderna fosse total.
Não almejo alcançar respostas, mas sim questionar a arte e a estética, pois, no mínimo, é um bom exercício metafísico. Se alguem quiser participar da discussão, sinta-se livre (desde que não hostilmente, por favor). CDF e Dino: se, por um acaso, algum dos dois se sentiu ofendido com algo que eu disse, avise. Mas saiba que não estou levando para o lado pessoal e nem insinuando mensagens ocultas.
Resumindo: Educação musical moderna é um meio de ampliação do angulo de visão, ou um processo de adestramento, no qual a pessoa se convence de que o branco é preto?
Lembro bem, quando estudava num colégio católico, das palavras do professor de religião: “não assistam a Ultima Tentação de Cristo, recomendações do Papa”. Eu, ainda menino, segui esse raciocínio: “Se assim pensam e dizem, então não vou assistir (ou dar paneladas na própria cabeça)” Tolice, não? Pois o filme é bom e tem uma forte mensagem cristã. E como tudo na vida que é não usual (a música clássica, por exemplo), resolvemos usar a mesma expressão: “porque dá paneladas na cabeça?” É tão mais fácil seguir os outros em tudo(aqueles próximos a nós, claro).
Avoado, fique tranquilo… não me senti ofendido em nenhum momento! Se pareceu, foi só impressão mesmo… hehe! :¬)
E sobre o seu “resumo”, eu tenho a tendência de enxergar a educação musical moderna como um meio de ampliação de conhecimento. Não acredito que Haydn seja “mais musical” que Cage, ou que Penderecki seja mais digno de estudo que CPE, mas que a “turminha mais atual” é bem menos conhecida, reconhecida e estudada por aí me parece ser verdade. A meu ver, mereciam mais atenção (e reflexão).
E sobre o lance das paneladas na cachola, é normal ter esse tipo de questionamento.
Eu mesmo antes de conhecer John Cage, ouvi falar dele e perguntei quem era; me explicaram como “ah, um cara maluco que fez uma música de 4 minutos e meio de pausa. e acha que isso é música!”. Quando entrei na faculdade, um professor tentou falar um pouco dele, mas não foi levado muito a sério. Eu pensei “pô, música pra piano de brinquedo? Rádios, patinhos de borracha, uma banheira e um piano cheio de troço dentro? É isso? Só isso? Fazer barulho assim eu também faço! Se o lance é ser ‘inovador’, vou desafinar meu violão, ficar apitando qualquer coisa enquanto alguém fica acelerando uma moto do meu lado e chamar de música!”, e realmente fiquei pensando na historinha da roupa invisível do rei… aí fui atrás dos conceitos desse cara, e fui entendendo aos poucos qual era a dele. Fui conhecendo outros compositores contemporâneos (já que pra mim naquela época, Schoenberg era o ápice da “bizarrice sonora”) e hoje tenho uma plena visão de que o rei tinha mesmo uma roupa! Tá, não era toda bonitona pelos padrões da galera que tava olhando (ou fingindo que tava… porque, sim, sempre tem cego vendo coisa que ninguém vê, haha), mas me chamou a atenção!
E com toda a certeza do momento, eu diria aos meus (imaginários) filhos neste momento para irem estudar (e “escutar ouvindo”) música: desde os filósofos pré-socráticos até o que foi feito hoje antes de ir dormir! ;¬)
Ah, que fique claro que quando eu disse “é normal ter esse tipo de questionamento”, não quer dizer que eu não questione nunca; pelo contrário, questiono sempre que posso! Ou melhor dizendo, sempre que preciso! hehe
Caro CDF,
Desculpe-me a demora na resposta.
Sobre: “…seguir os outros em tudo…”
Infelizmente não é tão simples. A sociologia nos mostrou que a grande maioria das escolhas que fazemos e achamos que são pessoais são na realidade, em sua maior porcentagem, socias. Por exemplo: se tivesse nascido na idade média, e ouvisse uma obra composta por Xenakis (ou até Mahler, talvez até Wagner), acha que existiria a mais remota possibilidade de achar aceitável? Com certeza você não suportaria escutar mais que 5seg de música. Então, podemos atribuir quanto de pessoalidade ao fato de gostar (ou não) de música vanguardista? Pois assim como a posição contrária a ela pode ser um sinal de “imitação”, a posição favorável também pode ser, visto o renome e crédito que essa possui entre alguns dos circulos menos populares (em uma coisa tenho que concordar com você, a aceitação entre os “intelectuais”(?) não é unanime). Geralmente estamos imitando os outros o tempo todo (já que somos animais sociais) sem perceber, inclusive quando achamos que não estamos. Além do mais, sou “desconfiado” com relação à música vanguardista, não porque tenha medo ou falta de opinião(ou talvez tenha e não saiba), pois inclusive até já fui do “lado de lá”(gostava de música de vanguarda), mas após fazer as indagações que teci nos comentários anteriores comecei a, cada vez mais, me sentir idiota olhando para o aparelho de som para ouvir 4′ e 33” de silêncio, ou uma barulheira aleatória qualquer. Hoje gosto apenas de músicas que não transpassem a barreira do dodecafonismo (e fico meio “ressabiado” com algumas dessa fronteira), apesar de gostar de alguns dos mais modernos como Carter e Xenakis.
Independentemente de gostar da música do início do século, questiono-a também, pois não estou partindo de preferencias pessoais, mas sim da estética como um todo, a música como um todo, e a filosofia também. Quantos não foram os erros perpetrados por séculos a fio, que só foram percebidos muito depois? Posso ter ainda a visão errada sobre a música moderna (que ainda resguardo), como posso também estar errando sobre a vanguardista (que questiono).
Caro Dino,
Que bom encontrar alguem que tenha passado pela mesma situação que eu e saiu do impasse. Em sua opinião qual foi o elemento-chave que fez com que mudasse de idéia sobre Cage? Você falou em pesquisas sobre quem era, o que fazia e seus conceitos. Então, poderia lembrar de alguma fonte qualquer de informação a esse respeito? Pois para mim, hoje, a correlação entre Cage e a “sonata para violão preparado, apito e moto”(hehe) me parece bastante adequada (no sentido mais sarcástico), e nada do que tenha lido ou tenham me dito até hoje foi convincente, parecendo mais (como já disse) discurso do advogado do diabo. Na realidade até chegaram a me convencer uma vez, mas quando pensei em que diria se quisese “converter” alguem ao “Cageanismo”, vi que nada tinha para falar… todos os argumentos pareciam fracos. Então, porque achava que o sujeito era genial, e não um palhaço aproveitador? Se não tinha bases para convencer alguem, porque estava convencido? A partir daí mudei de idéia de novo, e até hoje ela permanece inalterada.
(se CDF ou mais alguem quiser dizer algo sobre isso, sintam-se a vontade, estou aberto a sujestões)
Não discordo totalmente. Aliás, não precisamos ir até a Idade Médía. Saia pelas ruas de sua cidade com uma gravação do Xenakis, te garanto que você não encontrará ninguém que goste dessa música, e pior, você vai ser considerado um psicopata se disser que gosta. Você já ouviu o programa do Arrigo Barnabé na Cultura FM? Ele faz esse teste divertido, e as respostas são de um povo não muito diferente daquele da idade das trevas.
Enfim, como a psicopatia não é um fenômeno de nossa época e está a restrito a um número ínfimo na nossa sociedade, tenho certeza que eu iria gosta de ouvir Xenakis na idade média.
Os trancedentais me agradam.
Charles Ives pensava que um dia nao precisaríamos mais frequentar salas de concerto e nem tratar a música como uma categoria diferente do simples ato de escutar. Cada um poderia estar onde fosse: plantando sua colheita, em casa com a família e desenvolvendo sua sinfonia tranquilamente de acordo com o exato momento que ele estivesse vivendo.
Livres de amarras capitais, onde seres humanos sao divididos por categorias e funçoes, onde a regra que impera é produzir necessidades, um artista nao mais seria um simbolo postado em um pedestal onde projetamos todo “o empurrao” do qual nós, seres humanos alienados e anestesiados, precisamos para que por um segundo quebremos nosso casulo e nos encontremos no mais puro momento de deleite. Esse cara “o artista” seria um estado latente de cada um. A música é a representaçao exata da unicidade de um evento, uma arte temporal, o presente, o estado onde que nos percebemos vivos. A quebra do devir.
Refletindo sobre isso, consigo ter um vislumbre do projeto de mundo que esses caras, incluindo o John Cage, tinham. Cada pessoa com pleno controle sobre a sua percepçao e sua linguagem. O prazer da apreciaçao musical, do mesmo jeito que uma boa conversa com alguém que vc nunca viu na vida, seria o simples prazer da troca de ideias.
A história da música ocidental e todas as organizaçoes harmonicas que ela postulou eh uma coisa de fácil digestao, nossa audiçao pode ser bem mais complexa.
Nao quero me imaginar condenando as minhas sensaçoes aos mesmos signos sonoros, simplesmente preocupado em construir casas diferentes com os mesmos tijolos.
Precisamos de problemas novos.
O ouvido eh um dos orgãos mais complexos do corpo humano e a sua evoluçao com certeza nao vai vim com a bunda sentada numa sala de concerto esperando algum som divino me fazer perceber “o que é” ou o “que nao é”.
ah, adorei o blog.
SENSACIONAL O CD!!!
pessoal, o link está inativo
Pessoal ainda está inativo o link
Amigo, o arquivo do Imaginary Landscapes foi removido. Você poderia carregá-lo novamente?
Grato,
Ricardo
Pessoal do PQP Bach, parece que o arquivo do Imaginary Landscapes desapareceu do link. Se possível, repostem essa belezura para nós, ok. Abraço
O que me impressiona em seu comentário é o seu total desconhecimento do que seja isso que em seu texto você chama de “música nova”. Você cita compositores tão antigos quanto o próprio Cage e diz que nada mudou e bla bla bla… Você e os imbecis que costumam comentar os posts não conhecem nada disso, mas falam e falam… Compre as passagens e vá a Darmstadt neste ano, agora em julho. Depois vá a Donaueschingen. E vá a Graz em fevereiro de 2013. Isso apenas para falar do mundo alemão. Depois disso abra a boca e diga que nada tem acontecido. Só depois disso.
Meu caro José Silva, rezo todos os dias para todos os deuses para enviar pelo menos uma grande surpresa. E se você citar apenas um jovem compositor que esteja fazendo música realmente nova eu agradeço muitíssimo. Eu trouxe alguns nomes interessantes (procure Mitterer, Cristopher Rouse, Olga Neuwith). Gosto também do holandês Michel van der Aa. Mas tanto sonoridade, ritmo, harmonia, timbres soam como cópia da cópia, infelizmente. Não se produz coisa nova há mais de 30 anos. Ou você diria que a música espectral ou música poliestilista foram fenômenos novos?
Mas esse fenômeno não é exclusivo da música. Não tem tem acontecida nada na arte ou literatura também. Não se preocupe, esses períodos de decadência cultural aconteceram em épocas passadas (Ex: Final da Grécia Antiga , Fim do Mundo cultural árabe [o que temos hoje é nada comparado com os bons momentos na idade média]).
Olá,
o Link não está mais funcionando.
De qualquer forma,
Parabéns por este blog sensacional.
Se não conhecesse que é verdade, nem acreditaria
Aguardem minhas composições, serão as mais “retrógradas” possíveis e isso será a coisa mais nova que pode existir num mundo onde inovar e esperar algo novo a cada minuto já virou a própria tradição.
Dear friend:
I love John Cage.
Can you reupload this music?
I would really appreciae.
Sincerely
JRAC