.: interlúdio :. The Moscow Male Jewish Capella – This Year in Jerusalem

Resolvi dedicar o meu primeiro post da seção “interlúdio” a um disco que comprei em uma velha noite fria na capital alemã. Um dia que ficou marcado em minha memória com alguma nitidez, já que foi a única vez em que, como gentio, tive permissão para entrar na sinagoga da Rykestraße, ao pé da Wasserturm, no coração do bairro de Prenzlauer Berg. A razão que me levou até ali, para além de uma grande curiosidade que eu tinha de conhecer o prédio, desde que morei ali pertinho, foi uma apresentação do The Moscow Male Jewish Cappella, como parte dos Jüdische Kulturtage em Berlim.

Fiquei muito tocado com o concerto, por muitos motivo. A beleza daquelas vozes em harmonia, a força ancestral daquelas canções, o próprio ato simbólico de assistir a um coral judeu russo em uma antiga sinagoga na capital alemã, uma das poucas a sobreviver à selvageria nazista da Noite dos Cristais, em novembro de 1938, por um puro capricho arquitetônico: uma vez que o prédio da sinagoga é geminado com os vizinhos, era impossível incendiá-lo sem que as chamas tomassem conta dos prédios que dividem parede com ele.

A sinagoga da Rykestraße, no bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim

Outra lembrança marcante daquela noite foi a presença de metralhadoras, uma visão bem rara no cotidiano berlinense. A segurança daquela noite foi feita por agentes policiais fortemente armados, que caminhavam de um lado para o outro ao lado de fora da sinagoga. A luz que atravessava os vitrais formava enormes sombras desses silenciosos policiais, lembranças espectrais de que o mundo é um lugar perigoso e cheio de ódio e intolerância.

Memórias à parte, o disco que trago nesse post é um pequeno cartão de visitas do coro, fundado em 1989. Com um repertório um tanto eclético – com música tradicional judaica, jazz, Besame Mucho e um par de canções napolitanas – e arranjos que de vez em quando resvalam em divertida cafonice, ele certamente vale a audição e comprova a versatilidade do conjunto. Para quem gosta de música coral é uma pequena janela para a fortíssima tradição russa no ramo. A regência fica por conta de Alexander Tsaliuk, diretor artístico do grupo.

Nesses tempos de guerra, em que a humanidade mostra a sua pior face, é ainda mais importante que nos voltemos para as coisas belas que essa mesma humanidade cria.

Karlheinz

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

1. Rachem
2. Avinu Shebashamaim
3. Liben’ke
4. Abisl Glik
5. Ierushalaim Shel Zagav
6. Ochi Cherniye
7. Jamaica
8. Puttin’ on the Ritz
9. V’Al Kulam
10. Besame Mucho
11. Ave Maria
12. Tum Balalayka
13. Moshiah
14. Shalandy
15. 7/40
16. Funiculi Funicula
17. Jerusalem
18. Statue of Liberty
19. Hava Nagila
20. Bei Mir Bist Du Schön
21. Od Yishama
22. Lekhaim
23. Papirossen
24. Avinz Malkeynu

The Moscow Male Jewish Cappella
Alexander Tsaliuk, regência

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) – His Recordings 1929-42, vol. 3– Chopin, Busoni, Franck, Schubert, Bach, Gluck (2 CDs)

Egon Petri (1881-1962) foi um pianista de cidadania holandesa nascido na Alemanha. Dono de uma técnica refinada, é alguém ainda por ser propriamente redescoberto pelos ouvintes do século XXI. Seu nome não é lembrado e louvado com a atenção que merece, talvez justamente por encarnar uma espécie de forma de tocar que tem algo de arcaica, com raízes profundas no século XIX.

Petri foi um dos discípulos mais dedicados do lendário pianista, compositor e professor italiano Ferruccio Busoni (1866-1924), e um ardoroso defensor de sua música, por toda a vida. Petri acompanhou Busoni à Suíça durante a Primeira Guerra Mundial e posteriormente seguiu o mestre para Berlim, onde também deu aulas. Entre seus alunos estavam Vitya Vronsky (do duo Vronsky & Babin), Gunnar Johansen e o comediante e pianista dinamarquês Victor Borge.

Em 1927 ele se estabeleceu em Zakopane, na Polônia, dedicando-se ao ensino e a gravações. Ele viveu lá até 1939, quando escapou às pressas literalmente na véspera da invasão alemã, em setembro daquele ano. Petri então passou a dar aulas na Cornell University, em Ithaca, e mais tarde no Mills College, em Oakland. Ele se naturalizaria americano nos anos 50, e teve entre seus pupilos em solo americano o brilhante pianista inglês John Ogdon (1937-89), aquele que dividiu o primeiro lugar do Concurso Tchaikovsky com Vladimir Ashkenazy em 1962 (as finais deste concurso foram lançadas em disco e logo mais vão pintar aqui no PQP).

As gravações presentes neste disco duplo são deste trágico período, em que Petri teve que cruzar um oceano para sobreviver, realizadas entre 1938 e 1942. São testemunhos sonoros de uma época e de uma filosofia musical e pianística.

Duas curiosidades desimportantes sobre Busoni. A primeira é que o nome completo dele é, no mínimo, pomposo: Dante Michelangelo Benvenuto Ferruccio Busoni. A segunda é que ele está enterrado no Friedhof Schöneberg III, também conhecido como Friedhof Stubenrauchstraße, mesmo endereço em que também desfrutam o repouso eterno a atriz Marlene Dietrich e o fotógrafo Helmut Newton.

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

CD 1

1 – SCHUBERT-TAUSIG: Andante & Variations
2 a 25 – CHOPIN: Preludes, op. 28
26 a 28 – FRANCK: Prélude, choral et fugue

CD 2

1 – GLUCK-SGAMBATI: Mélodie
2 – J. S. BACH-PETRI: Menuet
3 – J. S. BACH-BUSONI: Ich ruf’ zu dir, Herr Jesu Christ
4 – J. S. BACH-BUSONI: In dir ist Freude
5 – J. S. BACH-BUSONI: Wachet auf, ruft uns die Stimme
6 – J. S. BACH-BUSONI: Nun freut euch, lieben Christen gemein
7 – BUSONI: Fantasia after J. S. Bach
8 – BUSONI: Serenade (Mozart, Don Giovanni)
9 – BUSONI: An die Jugend, no. 3
10 – BUSONI: Sonatina no. 3
11 – BUSONI: Sonatina no. 6
12 – BUSONI: Indianisches Tagebuch
13 – BUSONI: Albumblatt no. 3
14 – BUSONI: Elegie no. 2

Karlheinz

Carlo Gesualdo (1566-1613): The Complete Madrigals – Delitiæ Musicæ, Longhini (7 cds)

Carlo Gesualdo (1566-1613): The Complete Madrigals – Delitiæ Musicæ, Longhini (7 cds)

É sempre uma tarefa complicada escrever sobre Carlo Gesualdo da Venosa (1566-1613) por conta de certos dados de sua biografia, um tanto quanto peculiares, que terminam por ser de alguma forma incontornáveis. O escriba então se vê frente ao dilema entre a omissão de fatos de grande magnitude, por um lado, e do risco perene de que esses temas contaminem de forma indevida a apreciação geral de sua obra, cuja excepcional qualidade por si só transcende e muito as discussões mais, digamos, folhetinescas de sua biografia.

O fato é que na noite de 16 de outubro de 1590 Gesualdo flagrou sua esposa, Maria D’Avalos, em flamejante adultério com Fabrizio Carafa, terceiro Duque de Andria e sétimo Conde de Ruovo. Os amantes foram assassinados a sangue frio no ato, no palazzo San Severo, em Nápoles. Após uma breve investigação, Gesualdo foi declarado inocente, já que teria apenas agido em legítima defesa da honra.

Seu segundo casamento, com Leonora D’Este, tampouco foi feliz. Ela o acusou diversas vezes de uma série de abusos, passando grande tempo longe. O passar dos anos fez com que Gesualdo mergulhasse no isolamento e na depressão e em acusações de envolvimento com ocultismo e bruxaria. Gesualdo morreu eu seu castelo em Avellino, na Campânia, em 8 de setembro de 1613.

Há um filme muito interessante sobre ele feito pelo brilhante cineasta alemão Werner Herzog. Gesualdo: Morte para Cinco Vozes (“Tod für fünf Stimmen”), de 1995, faz um entrelace interessantíssimo entre música e vida, biografia e encenação, documentário e ficção. Percursos por seu castelo e locais importantes de sua vida são entrecortados por performances de alguns de seus madrigais. Os madrigais, aliás, são o coração espiritual e estético de sua obra, que também compreende dois ciclos de canções sacras e uma coletânea de música destinada à Semana Santa.

Para comemorar o aniversário de Carlo Gesualdo da Venosa, neste dia 30 de março (e que, por uma singela coincidência, também é o aniversário deste que escreve estas linhas), o post traz a integral dos madrigais, com seis livros compostos entre 1594 e 1611. Esta integral foi reunida em uma caixa pelo selo Naxos, com interpretação do conjunto vocal Delitiaæ Musicæ sob regência de Marco Longhini.

 

Francesco Mancini, retrato de Carlo Gesualdo, séc XVIII

Os madrigais de Gesualdo são algumas das peças mais belas e extraordinárias já escritas para grupos vocais. São intrincadas construções harmônicas e cromáticas, complexos contrapontos que resultam em obras profundamente expressivas e sentimentais. São verdadeiros feitos da experiência humana neste planetinha azul que vaga cego pelo espaço, pequenas catedrais musicais em miniatura.

Ainda que sejam essencialmente seculares, os madrigais têm um efeito que acessa outros planos para além da pura experiência acústica e física. Em outras palavras, são composições tão poderosas que parecem ter a capacidade de fazer o ouvinte mergulhar em alguma espécie de oração durante o ato da escuta. É fácil perder-se no tempo e no espaço se escutamos esses discos com a atenção que eles, suavemente, exigem de nós.

São obras que carregam consigo uma beleza terrivelmente trágica, algo que cala fundo na alma e que é muito complicado de ser traduzido em palavras. Agradeço, desde já, aos que porventura quiserem dividir, nos comentários, um pouco das impressões e emoções causadas por essa poderosa obra.

Sempre penso nesses ciclos de madrigais de Gesualdo e de Claudio Monteverdi (1567-1643) como veementes exemplos do poder que a música tem sobre nós. Que grandeza o ser humano pode atingir com apenas cinco vozes! Quanta beleza, quanta paixão, quanta vida (e quanta morte) cabem em cada um desses madrigais. É música de uma grandeza infinita…

 

***

O castelo de Gesualdo, em Avelino, a leste de Nápoles

“ (…) Quase uma mania, Gesualdo. Pois eles o amavam, claro, e cantar seus às vezes quase incantáveis madrigais demandava um esforço que se prolongava no estudo dos textos, procurando a melhor forma de aliar os poemas à melodia, como o príncipe de Venosa fez, à sua maneira obscura e genial. Cada voz, cada tom devia encontrar aquele centro esquivo do qual surgiria a realidade do madrigal, e não uma das tantas versões mecânicas que às vezes escutavam em discos para comparar, para aprender, para ser um pouco Gesualdo, príncipe assassino, senhor da música. (…)

Este é um trecho do conto “Clone”, do livro Amamos tanto a Glenda, de Julio Cortázar, publicado em 1980 (aqui em tradução de Josely Vianna Baptista, Cia. das Letras, 2021). Os madrigais de Gesualdo são um protagonista desse interessante conto. Um pequeno indício material de como a vida e a obra do príncipe de Venosa influenciaram diversos artistas ao longo dos últimos séculos.

Para evitar um post gigantesco com uma lista imensa de faixas dos álbuns, elas serão reunidas em um arquivo de texto que integra o download. Grosso modo, os discos estão divididos da seguinte forma:

CD 1: Primeiro Livro de Madrigais
CD 2: Segundo Livro de Madrigais
CD 3: Terceiro Livro de Madrigais
CD 4: Quarto Livro de Madrigais
CD 5: Quinto Livro de Madrigais (parte um)
CD 6: Quinto Livro de Madrigais (parte dois) & Sexto Livro de Madrigais (parte um)
CD 7: Sexto Livro de Madrigais (parte dois)

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Camargo Guarnieri (1907-1993): “Choro para piano e orquestra” e outras peças para piano – Caio Pagano

Mozart Camargo Guarnieri em sua residência

Este álbum, que guardo como um pequeno tesouro em minha coleção (apenas por uma ligação afetiva e pessoal, sem critérios lá muito objetivos), traz o registro de algumas das composições pianísticas do compositor Mozart Camargo Guarnieri (1907-1993) na interpretação daquele que talvez seja o intérprete mais natural de suas obras: o paulistano Caio Pagano. É um pequeno mosaico composto por seu opus magnus para piano e orquestra – o Choro, de 1956 – e algumas peças solo, entre elas a Sonatina nº 4 e Em memória de um amigo, dedicada a Caio por ocasião da morte de seu pai.

Dedicado ao pianista Arnaldo Estrella, solista da estreia em 1957, o Choro para piano e orquestra encontrou na interpretação de Caio Pagano uma serenidade fluida, com traquejo para as constantes mudanças rítmicas e sensibilidade melódica para desenho das frases musicais. A obra é um dos melhores exemplos do grande melodista que Camargo Guarnieri foi.

Assim descreveu a obra o professor César Buscacio (UFOP): “No primeiro movimento, Cômodo, em caráter seresteiro, Guarnieri adota o princípio da variação temática. O piano dialoga com a orquestra, atingindo grande expressividade ressaltada pela dinâmica, do pianíssimo ao fortíssimo, para, em seguida, retomar a atmosfera intimista inicial, que encerra o Cômodo e prepara o movimento central, Nostálgico. Esse movimento, inspirado numa melancólica canção sertaneja, é marcado por uma atmosfera obscura provocada por harmonização expressiva e dinâmica muito suave. Uma sentida melodia é introduzida pelo clarinete e, em seguida, reafirmada e ampliada pelo piano. A parte central desse movimento atinge grande dramaticidade no discurso musical, pela densidade da massa orquestral, até voltar a acalmar-se com a retomada do tema inicial e a finalização por uma coda conduzida pelo piano. Já o terceiro movimento, Alegre, evoca o caráter dançante recorrente na música brasileira. Observa-se o predomínio de uma rítmica contundente, na qual o compositor reafirma humor e vivacidade por meio dos ritmos sincopados, e da ênfase na orquestração, que coloca em destaque os instrumentos de metal e percussão.”

Caio Pagano

Entre as peças para piano solo que completam o álbum, gosto especialmente dos seis Ponteios, executados aqui com elegância refinada – o tipo de refinamento que emerge da clareza e da simplicidade, desprovido de qualquer espécie de afetação. Uma concepção pianística que honra a linhagem em que Pagano foi formado: ele foi discípulo de Magdalena Tagliaferro, cujas interpretações eram muito marcadas por essas ideias.

O disco ainda promove um curioso e interessante encontro globalizado: regida pelo norte-americano Paul Freeman, a orquestra que acompanha Pagano no Choro é a Orquestra Sinfônica Nacional Checa. A obra foi gravada, inclusive, na Sala de Concertos da Rádio Nacional em Praga (as peças para piano solo, por sua vez, foram registradas no Arizona, onde Pagano leciona e reside).

Piano music of Camargo Guarnieri

Choro para piano e orquestra
1. Cômodo
2. Nostálgico
3. Alegre

Orquestra Sinfônica Nacional Checa
Paul Freeman, regência
Caio Pagano, Piano

Sonatina nº 4
4. I – Com Alegria
5. II – Melancólico
6. III – Gracioso

7. Dança Negra
8. Ponteio nº 22
9. Ponteio nº 24
10. Ponteio nº 30
11. Ponteio nº 45
12. Ponteio nº 46
13. Ponteio nº 49
14. Em memória de um amigo (dedicada a Caio Pagano)

Caio Pagano, piano

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Karlheinz

J. S. Bach (1685-1750): Concertos para 2, 3 e 4 pianos (Eschenbach, Oppitz, Frantz, Schmidt)

J. S. Bach (1685-1750): Concertos para 2, 3 e 4 pianos (Eschenbach, Oppitz, Frantz, Schmidt)

338 ANOS DE PAPAI BACH!!

Como perguntou o querido René Denon aos demais pqpianos hoje: Deus faz aniversário? Uma boa questão, e a resposta varia de acordo com a religião de cada um. Para nós, que somos devotos de Johann Sebastian Bach, a resposta é sim, e é justamente hoje, 21 de março, que comemoramos a chegada do filho mais notório de Eisenach neste planetinha azul…

Dando prosseguimento às comemorações aqui no blog, um disquinho algo curioso: os concertos para 2, 3 e 4 pianos de Bach tocado por três grandes nomes da música alemã – Christoph Eschenbach (que também rege a Filarmônica de Hamburgo), Justus Frantz e o jovem talento Gerhard Oppitz – e um, digamos, pianista bissexto. Mas não um qualquer! Trata-se de Helmut Schmidt, que, na época dessas gravações (fevereiro de 1985), era “apenas” membro do parlamento e ex-chanceler da Alemanha, sucedendo ninguém menos do que Willy Brandt.

E a verdade é que Schmidt não faz feio (reforçando uma opinião já esboçada quando de sua gravação dos concertos de Mozart, ao lado de parte da turma desse disco). São gravações simpáticas, leves, que jogam luz sobre um repertório que não está entre os mais tocados do velho mestre. Um disco despretensioso, que não decepciona.

O encarte traz um trecho de um discurso proferido por Schmidt em Hamburgo por ocasião do 300º aniversário de Bach:

“Há dez anos, durante uma visita à Feira de Leipzig, nós escutamos uma cantata de Bach executada na Thomaskirche. A igreja estava lotada até o último assento. Nós ficamos calmamente observando aquele lugar. Nosso olhar caiu então sobre uma longa rosa vermelha caída sobre o chão. Um exame mais detido mostrou que ela repousava sobre uma placa memorial. Sua simplicidade, sem adornos, trazia o nome e as datas de Johann Sebastian Bach. Eu fui tomado por uma indescritível sensação. Ali em sua Thomaskirche, ouvindo sua música, eu tomei consciência de tudo que, ao longo de toda minha vida, me fez ser grato pela música de Bach.

A música é um fenômeno cultural internacional, trans-nacional. Viver sem música – esse poderia ser o destino de uma geração que afunda em meio a um mar de ruídos. A cultura musical é algo que deve ser sempre preservado e recriado. Devemos, por isso, assegurar que se cante e que se toque música em nossos lares e escolas, para que as novas gerações aprendam a encontrar a alegria que a música oferece a elas.”

Alles Gute zum Geburtstag, Herr Bach!

Karlheinz

Helmut Schmidt e sua esposa Loki visitando Justus Frantz

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Johann Sebastian Bach (1685-1750)

Concerto para 4 pianos e cordas em lá menor, BWV 1065
1. I – (sem indicação de tempo)
2. II – Largo
3. III – Allegro

Solistas: Christoph Eschenbach, Justus Frantz, Gerhard Oppitz, Helmut Schmidt

Concerto para 2 pianos e cordas em dó maior, BWV 1061
4. I – (sem indicação de tempo)
5. II – Adagio ovvero Largo
6. III – Fuga

Solistas: Christoph Eschenbach, Justus Frantz

Concerto para 2 pianos e cordas em dó menor, BWV 1060
7. I – Allegro
8. II – Adagio
9. III – Allegro

Solistas: Justus Frantz, Christoph Eschenbach

Concerto para 3 pianos e cordas em ré menor, BWV 1063
10. I – (sem indicação de tempo)
11. II – Alla Siciliana
12. III – Allegro

Solistas: Christoph Eschenbach, Gerhard Oppitz, Justus Frantz

Orquestra Filarmônica de Hamburgo
Christoph Eschenbach, regência

Gustav Mahler (1860-1911): Sinfonia no. 9 em Ré menor (Walter, Viena, 1938)

Entre as características inerentes à música, há uma dualidade essencial que parece se manifestar de forma mais cristalina quando se trata da chamada música clássica: a questão da presença. Se, por um lado, a experiência de um concerto ao vivo nos desperta uma série de sensações (físicas, espirituais, anímicas) que nascem da vivência coletiva de compartilhar o silêncio com outras pessoas para escutar algo em comum, por outro a música gravada tem uma capacidade ímpar entre as artes de nos transportar para outros tempos, outros lugares e mundos.

Há algo de quase mágico em poder sentar-se em casa na terceira década do terceiro milênio da era cristã e escutar, em detalhes, o que fizeram gente como Glenn Gould, Birgit Nilsson, Msitslav Rostropovich ou Guiomar Novaes. É uma riqueza inestimável, uma Cocanha eterna de beleza, verdade e sentimento.

Nesse sentido, o disco de hoje é histórico no mais profundo dos sentidos — com toda a grandeza trágica que isso carrega consigo. Trata-se da gravação da Nona Sinfonia, em Ré menor, de Gustav Mahler (1860-1911), feita por Bruno Walter à frente da Orquestra Filarmônica de Viena, em 16 de janeiro de 1938, no Musikverein, no centro da capital austríaca.

Ao parágrafo anterior, adiciono duas informações. A primeira é que a estreia da obra, já após a morte do compositor, foi em 1912 com o mesmo Bruno Walter à frente da mesma Filarmônica de Viena. A segunda é que semanas após essa gravação as tropas nazistas invadiram a Áustria e a orquestra expurgou os membros judeus do grupo, incluindo o próprio maestro Walter, que terminaria por emigrar para os Estados Unidos e se tornaria diretor artístico da Filarmônica de Nova York, uma parceria mitológica.

A Stolperstein de Bruno Walter em Salzburgo, na Áustria.

Sinfonias são, afinal, manchas de tinta preta em uma página em branco; sinais que, traduzidos pelos músicos, viram sons organizados no tempo. A equação é simples, mas contém em si esse elemento de infinitas possibilidades que é o ser humano. Escutar a Filarmônica de Viena naquele janeiro de 1938, o último respiro antes de um longo abismo de trevas, é sentir a urgência daquele momento, naquele lugar.

Frente a tudo isso, penso que devo me furtar a falar qualquer coisa mais sobre esse disco; tudo correria o risco de soar banal frente ao absoluto feito histórico que é essa gravação ter sobrevivido a um dos períodos mais terríveis da história da humanidade. O disco é um testemunho de um mundo que desabaria para nunca mais ser o mesmo. A guerra foi uma mancha que transformou a tudo que tocou, e para a sociedade vienense daquele final de década o impacto foi profundo. O pesadelo estava apenas começando.

Bruno Walter, o responsável por estrear a Nona de Mahler

Gustav Mahler (1860-1911)
Sinfonia no. 9 em Ré menor
(1912)

1. Andante comodo
2. Im Tempo eines gemächtlichen Ländlers
3. Rondo – Burleske
4. Adagio

Orquestra Filarmônica de Viena
Bruno Walter, regência

16.01.1938
Musikverein, Viena

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Karlheinz

… e como ninguém vem ao nosso programa e sai de mãos vazias, um pequeno bônus para esse post: o áudio de Walter ensaiando a mesma Nona em um contexto bem diferente: 1962, Los Angeles, à frente da Columbia Symphony Orchestra. Que tesouro, que acontecimento que é escutar alguns minutos desse ensaio! Conseguimos ter uma pequena amostra da maneira de trabalhar de Walter na preparação para um estúdio de gravação. O homem que regeu a estreia da peça, amigo pessoal do velho Gustav! Wahnsinn, como dizem os alemães.

J. S. Bach / Brahms / Chopin / Rachmaninov / Domenico Scarlatti / Schubert / Schumann: Yara Bernette – Encores – Semana do Dia Internacional da Mulher

Nota: esta postagem, assim como todas as demais com obras de Heitor Villa-Lobos, não contém links para arquivos de áudio com obras do gênio brasileiro, pelos motivos expostos AQUI


Uma semana de celebrações por conta do Dia da Mulher não poderia deixar de prestar reverência a um território específico de excelência no nosso panorama musical: o piano. A galeria de pianistas brasileiras é uma verdadeira constelação que atravessa gerações: Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Cristina Ortiz, Eliane Rodrigues, Erika Ribeiro, Diana Kacso, Linda Bustani, Clara Sverner, Menininha Lobo, Mariinha Fleury, Anna Stella Chic, Eudóxia de Barros, Felicja Blumental (nascida na Polônia, naturalizada brasileira), Rosana Martins…

Entre elas, uma estrela brilha com particular intensidade, por conta de sua sonoridade singular: estamos falando de Yara Bernette (1920-2002), uma artista de carreira tão impecável quanto longeva: foram mais de 4.000 concertos e recitais, ao longo de quase sete décadas. Uma vida inteira dedicada ao instrumento.

O verbete dedicado a ela na Enciclopédia do Instituto do Piano Brasileiro, escrito por Marcia Pozzani, está bem completo e rico em informações – vale a leitura. Para atiçar um pouco a curiosidade, no entanto, deixo um trecho de uma crônica escrita por Tarsila do Amaral (recolhida no livro Tarsila Cronista, organizado por Aracy Amaral e publicado pela Edusp em 2001). Ela relata uma história contada para ela pela própria Yara, quando se vira em apuros ao estar sem uma partitura para um concerto no Canadá. É um delicioso relato do frisson causado pela pianista, que a levaria inclusive até a glória de ter o selo dourado da Deutsche Grammophon estampado na capa de seus discos:

       ” (…) Nisso bate alguém na porta. Aparece um velhinho simpático – o maior crítico musical do Canadá – com uma música na mão e diz: “Miss Bernette, desculpe incomodá-la justamente agora, mas estou curioso por saber se a ‘Chaconne’ que a senhora vai tocar é desta edição”. Yara Bernette diz ao anjo que os céus lhe enviaram: “Peço-lhe deixar aqui a música. No primeiro intervalo conversaremos”. Deu-se o milagre. E o mais interessante é que o crítico não costumava levar música aos concertos. Apenas abriu a primeira página, foi chamada para o palco. Nunca tocou tão bem como naquela noite. O crítico musical, A. A. Alldrick, que a salvara sem o saber, dedicou-lhe excepcionalmente dois artigos ao invés de um, como de costume, afirmando no Winnipeg Free Press: “O recital de Yara Bernette foi um acontecimento fascinante… Yara Bernette é obviamente uma artista do calibre de ‘uma entre mil’. 
       Ao terminar a narrativa a grande pianista me diz: “Desde então, sinto que existe na minha carreira artística uma proteção divina”.
       Mais tarde num de seus inúmeros concertos, dizia o crítico Irving Kolodin no New York Sun: “Miss Bernette, prendendo a atenção dos ouvintes, fez com que a versão da ‘Chaconne’ de Bach  por Busoni valesse a pena de ser ouvida. Isso acontece uma vez por temporada e essa vez coube a Miss Bernette na sua execução definitiva”.
       Na sua tournée pelo México, disse o crítico musical do Excelsior: “Há muito não ouvíamos uma pianista do seu calibre, e também há muito tempo nenhum outro pianista havia interessado tanto os críticos nem obtido tantos elogios”.
       O New York Post exclama: “Tirem os chapéus, senhores! Miss Bernette é a última e irresistível palavra”, enquanto o New York Sun comenta: “Talentos pianísticos deste calibre têm raros similares”. (…)”

Flavio de Carvalho, “Retrato de Yara Bernette”, óleo sobre tela, 1951

O disco que apresento nesse post – gravado em 1995, já nos últimos anos de vida de Yara, no auge de sua maturidade – evoca essas antigas turnês, já que reúne uma série de peças que ela costumava tocar como bis (ou encore, em francês) em seus concertos e recitais. São peças emblemáticas do repertório pianístico, que refletem as preferências da artista. As interpretações são puro deleite; é um disco a que retorno, de tempos em tempos, há muitos anos.

Lançado em comemoração pelos 75 anos da pianista, o álbum foi gravado em fevereiro de 1995 no Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, em um dos Steinways que faziam parte do acervo da casa. Tragicamente, o piano queimou junto com o teatro no dantesco incêndio que o consumiu em 17 de agosto de 2008. São, portanto, memórias fonográficas de um tempo que um universo que já nos deixou.

Áudio da apresentação de Yara Bernette na TV Excelsior, em 1961, tocando Debussy e Chopin. Créditos, como de praxe, para o espetacular Instituto Piano Brasileiro

Viva Yara Bernette!

Karlheinz

 

1. Domenico Scarlatti (transcr. Carl Tausig) – Pastorale
2. Domenico Paradies – Sonata em Lá – Tocata
3. J. S. Bach (transcr. W. Kempff) – Sonata BWV 1.031 – Siciliano
4. Felix Mendelssohn – Rondó Capriccioso, op. 14
5. Felix Mendelssohn – Scherzo, op. 16 no. 2
6. Robert Schumann – Cenas Infantis, op. 15 no. 7 – Rêverie
7. Robert Schumann – Cenas da Floresta, op. 82 no. 7 – O pássaro profeta
8. Johannes Brahms – Intermezzo, op. 117 no. 2
9. Frederic Chopin – Mazurka, op. 7 no. 3
10. Frederic Chopin – Mazurka, op. 17 no. 4
11. Frederic Chopin – Mazurka, op. 24 no. 4
12. Frederic Chopin – Estudo póstumo no. 1
13. Frederic Chopin – Noturno, op. 48 no. 1
14. Frederic Chopin (transcr. Franz Liszt) – Canção polonesa, op. 74 no. 5 – Minhas alegrias
15. Claude Debussy – Segundo Caderno – Prelúdio no. 7 – La Terrasse des Audiences du Clair de Lune
16. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 5
17. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 10
18. Sergei Rachmaninoff – Prelúdio, op. 32 no. 12
19. Heitor Villa-Lobos – Suíte Prole do Bebê no. 1 – O Polichinelo

Yara Bernette, piano

BAIXE AQUI / DOWNLOAD HERE

Ruth Crawford Seeger (1901-1953): Vocal and Chamber Music – Semana do Dia Internacional da Mulher

 

Existem artistas que lamentamos que, por circunstâncias da vida, tenham deixado uma obra mais curta do que poderiam. Entre eles, há um grupo mais seleto cujas obras não só resistem à passagem do tempo, como também, justamente por respirarem ousadia, tornam-se ainda mais interessantes. Só nos resta imaginar quanta música boa poderia ter nascido se as condições fossem mais favoráveis.

Este é certamente o caso de Ruth Crawford Seeger (1901-1953), uma compositora norte-americana que é muito menos tocada e conhecida do que deveria. Nascida em East Liverpool, Ohio, era filha de um pastor metodista, o que levou a família a perambular por diversas cidades de Ohio, Missouri e Indiana até se estabelecer em Jacksonville, Flórida.

Com grande sensibilidade para as artes, Ruth primeiro interessou-se por poesia, até que decidiu estudar música seriamente. Primeiro estabeleceu-se em Chicago e depois em Nova York, desbravando corajosamente um ambiente francamente machista, conquistando uma série de prêmios e bolsas de estudo. Ela foi a primeira compositora mulher a receber uma bolsa da Fundação Guggenheim, em 1930, que a levou a Berlim e Paris no ano seguinte. Foi na capital alemã que ela compôs sua obra mais influente e conhecida, o String Quartet 1931.

De volta aos Estados Unidos, ela se casou em 1932 com um de seus professores, o compositor e musicólogo Charles Seeger, que logo depois assumiu um cargo na capital Washington, no setor de música da Resettlement Administration, em meio aos programas de reconstrução da economia norte-americana em torno do new deal do presidente Franklin Roosevelt.

A união com Charles selou o destino de Ruth em muitos sentidos, já que sua promissora carreira de compositora foi sacrificada em nome do machismo e da construção de uma família. Sem receber apoio do marido, que expressamente declarava que ela deveria se relegar ao papel de mãe e esposa para que a carreira dele prosperasse, Ruth compôs poucas obras autorais nas duas décadas seguintes, até sua prematura morte por câncer em 1953.

Isso, no entanto, não impediu que desempenhasse um valiosíssimo trabalho no Arquivo de Música Folclórica da Biblioteca do Congresso, em Washington. Trabalhando ao lado de Alan e John Lomax, ela prestou uma imensa contribuição na preservação das raízes da música dos Estados Unidos, recolhendo temas, escrevendo arranjos, transcrições e organizando coletâneas de canções e música tradicional.

Entre os filhos do casal Ruth e Charles Seeger, ao menos dois seguiram de perto o trabalho dos pais: o cantor folk Mike Seeger e a cantora country Peggy Seeger.

***

Neste álbum, um dos portraits da série Continuum da gravadora Naxos, há um interessante apanhado dos anos de juventude de Ruth, reunindo obras compostas entre 1924 (o Prelude no. 1 – Andante, para piano) e 1932, quando regressa da Europa (Two Ricercari, para voz e piano, sobre poemas de H. T. Tsiang).

Ao longo das peças, para diferentes grupos e combinações de instrumentos, podemos intuir as razões que levam a obra de Crawford a ser situada como “modernista” na tradição composicional americana. Podemos notar como o ímpeto mais melódico, pós-romântico das primeiras obras vai se transformando em uma escrita mais precisa, econômica e radical.

Um pequeno disco que funciona como boa porta de entrada para o universo de uma compositora que merece ser muito melhor explorado.

Ruth Crawford Seeger (1901-1953): Vocal and Chamber Music

Suite for Five Wind Instruments and Piano
(1927; revised 1929)

1. Adagio religioso/Giocoso – Allegro non troppo
2. Andante tristo
3. Allegro con brio

Jayn Rosenfeld, flauta
Marsha Heller, oboé
Joch Craig Barker, clarinete
Daniel Grabois, trompa
Cynde Iverson, fagote
Cheryl Seltzer, piano
Joel Sachs, regência

Sonata for Violin and Piano
(1925-26)

4. Vibrante, agitato
5. Buoyant
6. Mistico, intenso; Allegro

Mia Wu, violino
Cheryl Seltzer, piano

Two Ricercari
(Poems of H. T. Tsiang)
(1932)

7. Sacco, Vanzetti
8. Chinaman, Laundryman

Nan Hughes, mezzo-soprano
Joel Sachs, piano

9. Prelude no. 1 – Andante (1924)
10. Prelude no. 9 – Tranquilo (1928)
11. Study in Mixed Accents (1930)

Cheryl Seltzer, piano

Diaphonic Suite no. 1 for Flute
(1930)

12. Scherzando
13. Andante
14. Allegro
15. Moderato, ritmico

Jayn Rosenfeld, flauta

Diaphonic Suite no. 2 for Bassoon and Cello
(1930)

16. Freely
17. Andante cantando
18. Con Brio

Susan Heineman, fagote
Maria Kitsopoulos, violoncelo

Three Songs
(Poems of Carl Sandburg)
(1930-32)

19. Rat Riddles
20. Prays of Steel
21. In Tall Grass

Nan Hughes, mezzo-soprano
Marsha Heller, oboé
Erik Charlston, percussão
Cheryl Seltzer, piano
Orchestral Ostinato
Joel Sachs, regência

BAIXE AQUI — DOWNLOAD HERE

Karlheinz

Carlo Maria Giulini: The Chicago Recordings (4 cds)

Carlo Maria Giulini: The Chicago Recordings (4 cds)

Amigas e amigos deste blog, muito boa tarde! Sou Karlheinz, um leitor e ouvinte antigo do PQP que ficou muito feliz com o convite recebido há algumas semanas para me juntar a esse afinado time de amantes da música. Convite que aceitei não só pela alegria de fazer parte de um site que me ensinou tanto, em que descobri tanta beleza, mas também por acreditar em formas de viver a música de uma maneira mais coletiva. Ouvir, descobrir, conversar, ler, escrever, trocar — isso tudo enriquece a escuta. Espero que gostem, e se não gostarem, reclamem, pra gente poder ir ajeitando a casa…

E, para começar, trouxe uma caixinha que tem não um, mas quatro discos, um para cada ano de governo fascistóide que tivemos que aturar. Carlo Maria Giulini: The Chicago Recordings traz uma seleção (esse artigo “the” está sobrando aí; faltam gravações importantes como o Quadros de uma Exposição, de Mussorgsky, e a Sinfonia Clássica de Prokofiev) de pedradas que o regente italiano gravou entre 1969 e 1976 com essa baita orquestra que é, e era, a Sinfônica de Chicago.

O repertório consiste na espinha dorsal das preferências de Giulini (1914-2005): Beethoven, Berlioz, Brahms, Bruckner, Mahler e Stravinsky. Quatro discos que registram a química entre um ambicioso regente e uma das orquestras que marcaram mais profundamente a sua carreira (a Philharmonia também ocupa um imenso espaço, lado a lado na prateleira), nos anos mais incandescentes dessa união.

 

Giulini com a Sinfônica de Chicago em sua primeira turnê européia juntos. Estocolmo, 1971

“Essa maravilhosa orquestra — eu prefiro não dizer que eu os regi, mas sim que eu fiz música com estes maravilhosos músicos e seres humanos. Foram um amor e uma amizade profundos, algo que pertence ao meu corpo, à minha alma e ao meu sangue.” Assim Giulini definiu sua relação com a CSO, em uma entrevista à rádio WFMT em 1980 (trecho presente no encarte da caixa). Se por um lado há um inegável tom que escorrega no clichê nessa fala, por outro, ao escutar o que eles fizeram juntos, dá para entender o que levou il maestro a se referir desta forma aos colegas da terra dos Bulls.

Giulini tinha um raro talento para esculpir, lapidar, moldar o som das orquestras que tinha à frente. Certamente deve ter contribuído para essa sensibilidade sua experiência na juventude como violista da Orchestra Dell’Accademia Nazionale di Santa Cecilia, em Roma. Lá ele tocou sob a batuta de gente como Otto Klemperer, Pierre Monteux, Bruno Walter, Wilhelm Furtwängler, Igor Stravinsky, Richard Strauss… Mais ou menos como aprender a jogar bola com o Brasil de 70?

Entre as obras presentes nesta bela caixinha, um pequeno destaque para a Sinfonia nº 4, de Johannes Brahms. A obra esteve no programa do primeiro concerto da Accademia após a queda do fascismo e o fim da II Guerra, regido por Giulini em 16 de julho de 1944, pouco mais de um mês após a liberação de Roma pelos Aliados. Giulini estudou a sinfonia enquanto permanecia escondido em um túnel, por meses, ao se recusar em lutar pelo exército italiano em 1943. Foi a peça que ele mais tocou ao longo da carreira.

Senhoras e senhores, Carlo Maria Giulini e a Sinfônica de Chicago.

O Medinah Temple, em Chicago, onde as gravações foram feitas

CD 1

Gustav Mahler (1860-1911)

Sinfonia n° 1 em Ré maior (1884-8, rev. 1893-6)

  1. I Langsam, schleppend, wie ein Naturlaut
  2. II Kräftig bewegt, doch nicht zu schnell
  3. III Feierlich und gemessen, ohne zu schleppen
  4. IV Stürmisch bewegt

 

Hector Berlioz (1803-1869)

Romeu e Julieta, sinfonia dramática, Op. 17 (1840) (início)

  1. Combat and tumult – Intervention of the Prince
  2. Romeo Alone – Melancholy – Distant noises of music and dancing –  Festivities at the Capulet’s

CD 2

Romeu e Julieta, sinfonia dramática, Op. 17 (1840) (conclusão)

  1. Scherzo: Queen Mab, or the Dream Fairy
  2. Love scene – Night – The Capulet’s Garden
  3. Romeo at the Tomb of the Capulets – Invocation – Juliet’s reawakening – Frenzied joy, despair – Last agonies and death of the two lovers

Ludwig van Beethoven (1770-1827)

Sinfonia n° 7 em Lá maior, Op. 92 (1811-12)

  1. Poco sostenuto – Vivace
  2. Allegretto
  3. Presto – Assai meno presto – Presto – Assai meno presto – Presto
  4. Allegro con brio

CD 3

Anton Bruckner (1824-1896)

Sinfonia n° 9 em Ré menor (1891-6)

  1. I Feierlich, misterioso
  2. II Scherzo (Bewegt, lebhaft) – Trio (Schnell) – Scherzo (Da capo)
  3. III Adagio (Langsam, feierlich)

Johannes Brahms (1833-1897)

Sinfonia n° 4 em Mi menor, Op. 98 (1884-5) (início)

  1. I Allegro non troppo

CD 4

Sinfonia n° 4 em Mi menor, Op. 98 (1884-5) (conclusão)

  1. II Andante moderato
  2. III Allegro giocoso
  3. IV Allegro energico e passionato

Igor Stravinsky (1882-1971)

O Pássaro de Fogo – suíte (1919)

  1. Introduction
  2. Dance of the Firebird
  3. Round Dance of the Princesses
  4. Dance of King Katschei
  5. Berceuse
  6. Finale

Petrushka – suíte (1947)

  1. Russian Dance
  2. Petrushka´s room
  3. The Moor´s Room
  4. The Shrovetide Fair

Chicago Symphony Orchestra
Carlo Maria Giulini, regência

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

“Calmati, tromboni!”

Karlheinz