Ravel: Os Concertos para Piano // de Falla: Noites nos Jardins da Espanha

Mais uma maravilha vinda da grande Hyperion. Vamos relembrar o excelente texto de Adriano Brandão para o Concerto em Sol Maior (G Major) de Ravel ?

Chicotada! Marchinha de soldadinho de chumbo! Jazz!

Não, eu não fiquei maluco. É mais ou menos esse o esquema da exposição do primeiro movimento do famoso Concerto para piano em sol maior de Maurice Ravel, obra de 1931. O maluco, no caso, é ele 🙂

Ravel compôs dois concertos para piano e orquestra. O primeiro foi uma peça para ser tocada somente com a mão esquerda, em ré maior. Pouco tempo depois Ravel teve a ideia para um segundo concerto, para as duas mãos, fortemente influenciado pelo jazz americano.

Vale lembrar que o jazz estava na moda na França no anos 20 e 30. Gershwin mesmo esteve em Paris em 1928 e fez muito sucesso com sua “Rhapsody in blue“. O resultado é que vários compositores de concerto, como Poulenc e Milhaud, incorporaram tiques jazzísticos a suas obras.

Ravel não ficou imune, é claro. Seu primeiro contato com o jazz foi com as diversas bandinhas de New Orleans que visitavam Paris e depois nos EUA mesmo (quando conheceu Gershwin). Em 1927 ele já havia escrito sua Sonata para violino, com um movimento inteiro chamado “Blues”. O caminho para este Concerto em sol já havia sido traçado.

Chicotada! Marchinha de soldadinho de chumbo! Jazz! A mistura do primeiro movimento é tão inusitada e funciona muitíssimo bem. As milhares de blue notes, com seu som tão típico, são as responsáveis pela cor predominantemente jazzística do movimento. E o solo de piano nunca, nunca deixa de lembrar o da “Rhapsody in blue”…

É muito legal, mas arrisco dizer que é mesmo o segundo movimento que deixa a impressão mais duradoura no ouvinte. Nada de jazz – é um adagio de tranquilidade absoluta, no qual o solista derrama lirismo sobre a paisagem estática fornecida pela orquestra. É de uma simplicidade e uma beleza inacreditáveis! Vários outros compositores tentaram roubar-lhe o molde: penso imediatamente no americano Samuel Barber, mas tem também Camargo Guarnieri, o português Lopes Graça… Ravel criou aqui o formato do moderno movimento lento de concerto.

A obra termina com um moto-perpétuo curtinho e mega virtuosístico, agora sim cheio de jazz. Ele consegue nos colocar de volta em solo firme após o movimento lento de sonho. E termina, sem muita cerimônia. Essa brevidade é esquisita de início, mas, sei lá, acho que faz sentido. Eu não conseguiria imaginar a graça de um finale muito elaborado após tamanha beleza. Chicotada! Pá pum! Tinha que terminar assim mesmo 🙂

Ravel: Os Concertos para Piano // de Falla: Noites nos Jardins da Espanha

Maurice Ravel (1875-1937) — Piano Concerto in G major [21’37]
1 Allegramente [8’18]
2 Adagio assai [9’24]
3 Presto [3’55]

Manuel de Falla (1876-1946) — Noches en los jardines de España G49 [23’11]
4 En el Generalife [10’01]
5 Danza lejana [4’45]
6 En los jardines de la Sierra de Córdoba [8’25]

7 Maurice Ravel (1875-1937) — Piano Concerto for the left hand in D major [18’13]

Steven Osborne (piano)
BBC Scottish Symphony Orchestra
Ludovic Morlot (conductor)

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Ravel fantasiado de jacaré engomado.
Ravel fantasiado de jacaré engomado.

PQP

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