Homenagem a Bernard Haitink – Ravel Orchestral Works

Bernard Haitink foi um maestro excepcional, de envergadura ímpar, mas ao mesmo tempo discreto e bem menos festejado que seus pares da mesma geração, como Bernstein e Karajan. Isso o colocava numa posição privilegiada, a de optar por uma escolha distinta de repertório e leituras altamente pessoais, o mais das vezes avesso ao espalhafatoso e ao verborrágico. Como muitos dos meus colegas do PQP, que neste momento se unem para homenagear um mestre comum, Haitink marcou cada um de nós com gravações que consideramos non plus ultra do repertório sinfônico mais destacado. Apesar de suas afamadas preferências por Mahler, Bruckner e Shostakovich, que estabelecem consenso de excelência dentre tanto apreciadores diletantes como críticos especializados, alguns dos melhores momentos de Haitink foram, para mim, com mestres franceses modernos, em especial Debussy e Ravel. Este último em particular ocupa lugar privilegiado na discografia haitinkiana. Ainda na era do LP, sua versão de 1973 da Rapsódia Espanhola é arrebatadora; para mim a que melhor equilibra a verve rítmica com a clareza das ideias na brilhante orquestração de Ravel. Sutilezas na pontuação das dinâmicas e da exuberante instrumentação fazem deste um registro imperdível. Um Menuet Antique, de feições mais modestas, com Haitink ganha ares de uma nobreza insondável. E que Alborada!

Uma manhã luminosa que enfatiza bem seu caráter gracioso e eloquente. Estas gravações foram lançadas na década de 70 em LPs pela PHILIPS e nenhuma foi relançada em CD, até as séries de relançamentos (PHILIPS DUO) dos anos 90. Haitink inclusive gravou novamente essas obras para lançamento exclusivo em CD, mas o brilho destas primeiras incursões é, para mim, insuperável.

Claro, ao falar de obras orquestrais mais conhecidas de Ravel, como o Boléro e Daphnis et Chloé, não podemos deixar de mencionar que temos ótimas versões paralelas. Mas nestas pequenas jóias menos divulgadas (Valses Nobles, Ma Mère l’Oye), Haitink nos revela um mundo novo, de íntima beleza, em que Ravel desponta como um colorista exímio, de sutileza ímpar. La Valse é estonteante. A orquestra do Concertgebouw em plena forma torna a experiência ainda mais única.

Palavra final: Há muitos bons intérpretes de Ravel, e há Haitink.

Ravel: Orchestral Works
Bernard Haitink, Royal Concertgebouw Orchestra

CD1

1.Boléro
2.Alborada del gracioso
3.Rhapsodie espagnole
4.La Valse
5.Pavane pour une infante défunte
6.Valses nobles et sentimentales

CD2

1.Menuet antique
2.Le tombeau de Couperin
3.Ma mère l’Oye
4.Daphins et Chloé: Suite No 2

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CHUCRUTEN

1 comment / Add your comment below

  1. Justíssima homenagem ao grande Haitink. Não sei por que tinha (mas tinha) algum preconceito em relação a ele; alguma gravação de ele que não me agradou, não me recordo mais. Seja como for, qualquer traço desta sombra se dissipou completamente quando escutei a leitura que o maestro fez (COM A SINFÔNICA DE BOSTON, que fique destacado, pois ele realizou outras gravações, com outras orquestras), da sinfonia n.2 de Brahms, numa postagem em que se faziam presentes uma peça de Smetana e outra de Stravinski. A concisão, a justeza, o categórico desta interpretação, particularmente do quarto movimento, fazem dela, descortinaram um mundo para mim e colocaram a obra numa competição dificílima: a segunda ou a terceira (com o C. Davis ou o A. Manze, mais recentemente)? A terceira ou a segunda como a obra-prima sinfônica do mestre de Hamburgo? Abraços

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