Edino Krieger (1928) – Sonatina e outras obras para piano

Ninguém pediu a Sonatina de Krieger, mas vou empurrá-la pra vocês assim mesmo, já que Santa Catarina está me inspirando e me rendendo bons lucros. É uma das obras para piano mais queridas – senão a mais – de compositores brasileiros vivos e a mais conhecida de todo o catálogo do célebre compositor catarinense.

Segue o texto do encarte do CD com a Sonatina e outras peças pianísticas importantes de Krieger.

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Edino Krieger

Nascido em Brusque, Santa Catarina, a 17 de março de 1928, aos 7 anos iniciou estudos de violino com seu pai, Aldo Krieger, violinista e compositor. Aos 14 anos ingressou no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Iniciou em 1944 estudos de composição com H.J. Koellreuter, ingressando no ano seguinte no Grupo Música Viva. Em 1948 obtém o 1º lugar em concurso do Berkshire Music Center, EUA, onde estudou sob a orientação de Aaron Copland. Em seguida, consegue bolsa de estudos para Julliard School, onde estudou com Peter Menin. Em 1955, estuda em Londres com Lennox Berkeley e nesse mesmo ano é premiado no Festival Internacional de Varsóvia. Em 1959 conquista o 1º prêmio do I Concurso Nacional de Composição do MEC, com o Divertimento para Cordas. Em 1965 suas Variações Elementares foram estreadas no Festival Interamericano de Música de Washington, e no ano seguinte seu Ludus Symphonicus recebia sua estréia mundial pela Orquestra de Filadélfia, em Caracas. Em 1967 e 1968 obtém Medalha de ouro nos Festivais Internacionais da Canção do Rio de Janeiro.

Paralelamente à sua atividade criadora, tem exercido diversas funções públicas, entre as quais as de diretor musical da Rádio MEC, organizador e regente assistente da Orquestra Sinfônica Nacional, criador e diretor dos festivais de música da Guanabara de 1969 a 1970, e idealizador das Bienais de Música Contemporânea. Obteve ainda em 1969 o prêmio Golfinho de Ouro, conferido pelo Museu da Imagem e do Som. Dirige a Divisão de Música da Rádio Jornal do Brasil e exerceu a crítica musical no Jornal do Brasil. Em 1979 criou o projeto Memória Musical Brasileira — FUNARTE — do Ministério da Educação e Cultura (atualmente Ministério da Cultura). Em 1981 assumiu a direção do instituto Nacional de Música da FUNARTE.

As Composições

As composições de Edino Krieger incluídas nesta gravação datam dos anos 50 e pertencem a um período caracterizado pela busca de uma expressão voltada para as raízes de sua própria experiência musical. Com efeito, enquanto suas peças anteriores, de 1945 a 1952, mostram um interesse pela pesquisa de novas formas e de nova linguagem, partindo do impressionismo do Improviso para flauta só até o dodecafonismo dos Epigramas, das Miniaturas para piano e da Música 1952 para Cordas, sua produção, a partir do Choro para Flauta e Cordas, de 1952, aponta para uma linha neo-clássica, com a predominância de formas e estruturas mais tradicionais e, paralelamente, de uma linguagem mais tonal e uma substância musical fortemente impregnada de sabor brasileiro. Essas composições parecem mergulhar no mundo sonoro de sua infância, marcado pelo ambiente musical da família, dos ensaios de carnaval na alfaiataria de seu avô, nos anos 30 e 40, onde os blocos se reuniam em torno do “Jazz Band América”, formado exclusivamente pela família, para aprender e ensaiar o repertório carnavalesco de cada ano; ou das retretas da Banda Musical Concórdia, que seu pai integrou e depois dirigiu, como sucessor do mestre Humberto Matioli; ou, ainda, das serestas que seu pai e seus tios promoviam todos os fins de semana, noite a dentre e que terminavam, invariavelmente, no portão da sua casa, onde às vezes se estreava uma nova valsa nascida ao longo da madrugada…

Acrescente-se a isso uma preocupação de caráter didático, que se inicia com as 20 Rondas Infantis, de 1952, e se manifesta no Prelúdio e Fuga, de 54, no Choro Manhoso e no Estudo Seresteiro, de 56 e na Sonatina, de 57.

A Sonatina, que abre este disco, recebe agora a segunda gravação pelo pianista Miguel Proença, que a lançou em seu primeiro LP, em 1982, tornando-a uma página particularmente conhecida do estudante de piano.

O Prelúdio (cantilena) e Fuga (marcha-rancho) nasceu como um exercício de fuga, sem maiores pretensões. Ao ler a Fuga, recém-concluída, a pianista Anna Stella Schic sugeriu estrear a peça numa próxima ocasião. Um Prelúdio foi então acrescentado, à guisa de introdução ao exercício, e a composição, já agora com sua forma barroca de Prelúdio e Fuga, e com sua substância brasileira de cantilena e marcha-rancho — à maneira das Bachianas de Villa-Lobos — foi dedicada à pianista, e depois incorporada à Suíte para Cordas, composição de caráter didático dessa mesma época, e mais adiante, em 1967, transcrita para coro a 8 partes pelo próprio autor, transformou-se na Fuga e Anti-Fuga. Com letra de Vinícius de Moraes.

O Choro Manhoso e o Estudo Seresteiro foram compostos em Brusque, em 1956, num dos períodos de férias que o autor passava em sua cidade natal.

Ilmar Carvalho

Krieger e as Sonatas para piano

As Sonatas para Piano, de Edino Krieger — que recebem neste LP o seu primeiro registro fonográfico — foram compostas na década 50, época em que o compositor produziu também o Quarteto para Cordas nº1 e a Brasiliana (para viola e cordas).

Impregnadas de atmosfera modal, quanto à sua essência melódico-harmônica, essas obras trazem reminiscências do período em que Krieger viveu nos Estados Unidos (1948-49), estudando com Aaron Copland (no Festival de Tanglewood) e Peter Menin (na Juilliard School of Music, de Nova Iorque). Pertencem a uma fase marcada pela presença de elementos temáticos de caráter nativista, dentro de um traçado formal tradicionalista. No período anterior, predominavam técnicas e linguagem vanguardistas, e um culto sistemático das formas sintéticas e miniaturistas.

A Sonata nº1 foi escrita no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1953 e maio de 1954. Já no primeiro movimento — Andante – Allegro energico — desponta o clima modal da partitura, ao lado do emprego constante de quartas e quintas justas e dos desenhos uníssonos em dobramentos de oitava. Poulenc, Prokofiev e o próprio Aaron Copland podem ser apontados como fontes de influência para o discurso musical do autor.

O segundo tempo — Seresta — já existia antes como peça isolada, trazendo no subtítulo a menção “Homenagem a Villa-Lobos”. Trata-se de um texto em que convivem simplicidade melódica e vigor pianístico, mesclando-se a ambientação modal com características mais determinantes da música brasileira de caráter urbano.

O movimento final — Variações e Presto — inicia-se com um tema lento e expressivo, exposto em linguagem transparente. A 1ª variação (Moderato) tem caráter rítmico: o autor propõe uma nova figuração para o desenho temático (melodicamente um terço acima), usando com abundância pausas e deslocamentos de acentos. A 2ª variação (Andantino) fixa-se no aspecto melódico, começando pela exposição do tema em movimento contrário. A 3ª variação apresenta o motivo central com os valores ampliados, em contraponto com belos comentários de sabor seresteiro. A quarta — e última — variação é um Allegro scherzando de feição rítmica e virtuosística.

O Presto conclusivo fecha a Sonata em atmosfera burlesca, tipicamente brasileira: o desenho principal sugere com nitidez um frevo nordestino.

É importante ressaltar que a Sonata nº1 foi, 1959, adaptada pelo autor para orquestra de cordas, recebendo, na nova versão, o título de Divertimento para Cordas, obra que obteve o 1º Prêmio no concurso “Música e Músicos do Brasil” da Rádio MEC.

Estreada no Rio, em 1959, pelo pianista Homero Magalhães, a Sonata nº2 foi composta três anos antes, em abril de 1956, quando Krieger se aperfeiçoava em Londres, com Lennox Berkeley. A obra mantém o clima melódico-harmônico da sonata anterior, desenvolvendo-se igualmente em três movimentos.
O primeiro movimento — Allegro — apresenta a célula temática inicial em oitavas dobradas, prosseguindo em seguida na textura modal peculiar e impregnando o discurso pianístico de cristalinos trinados, procedimento que — um ano mais tarde — o autor conservaria em sua conhecida Sonatina.

O segundo movimento — Andantino — traz sugestões nordestinas com sutil tratamento harmônico, remetendo-nos ao despojamento e ao savoir-faire dos Andantes de Guarnieri. O texto caminha para um adensamento da linguagem pianística, retornando em seguida à amena beleza do clima inicial.

O tempo final — Vivace molto e com spirito — tem o caráter de uma Tocata, alternando células de acordes de quinta justas com sinuosos desenhos de oitavas dobradas. A conclusão é brilhante e virtuosística.
Primeira obra dessa série, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi criada em 1953, surgindo inicialmente como um Rondon-Fantasia, dedicado a Jeanette e Heitor Alimonda. Krieger posteriormente ampliou a partitura e rebatizou-a de Sonata, tornando o final pianisticamente mais eloqüente.

O autor conservou, porém, a estrutura de um único movimento de caráter monotemático: o expressivo motivo principal aparece variado no decorrer da peça, com as características essenciais do décor modal, límpidos trinados e transparentes texturas.

Em 1971, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi editada pela Peer International (Nova Iorque/Hamburgo).

Ronaldo Miranda

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01 – Sonatina – I. Moderato
02 – Sonatina – II. Allegro
03 – Prelúdio e Fuga – I. Prelúdio (Cantilena)
04 – Prelúdio e Fuga – II. Fuga (Marcha-rancho)
05 – Choro Manhoso
06 – Estudo Seresteiro
07 – Sonata nº1 – I. Andante
08 – Sonata nº1 – II. Seresta (Homenagem a Villa-Lobos)
09 – Sonata nº1 – III. Variações e Presto
10 – Sonata nº 2 – I. Allegro
11 – Sonata nº 2 – II. Andantino, moderato e con motto
12 – Sonata nº 2 – III. Vivace molto e con spirito
13 – Sonata a 4 Mãos – Moderato

Miguel Proença e Laís de Souza Brasil (vide no encarte quem toca o quê)

BAIXE AQUI (Os arquivos estão em extensão .mpc)

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Mando de brinde os três Estudos Intervalares, compostos em 2000. O estudo “das quartas” é outra obra que descobri que utiliza o tema de Nozani-Ná, recolhido por Roquette Pinto e incorporado nos Choros 3, 7 e 12 do Villa, em Moacaretá de Sérgio de Vasconcellos Corrêa e noutra obra que não me lembro.

I. Das segundas
II. Das terças
III. Das quartas

Piano: Alexandre Dossin.

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CVL

Edino Krieger (1928) – Canticum Naturalle e outras obras

Zarpei em direção ao Sul do país. Estou em Santa Catarina pra ver o quanto a filial volante do Café do Rato Preto apurou no mês de outubro, que é supermovimentado naquele Estado (oktoberfest aqui, oktoberfest acolá…).

Passarei dois dias especificamente em Brusque, cidade natal do maior compositor catarinense, que chegou aos oitenta anos de idade em 2008: Edino Krieger.

O CD que vai aqui postado contém cinco obras de três fases distintas de Krieger: a Suíte e o Divertimento para cordas, neoclássicos e nacionalistas, da década de 50, pós-expurgação de Koellreuter; Ludus e Estro, pós-expurgação nacionalista, altamente seriais; e o absurdamente estupendo Canticum Naturalle.

Se você acha bonito os passarinhos cantando na Alvorada de Lo schiavo de Carlos Gomes, no Choros n° 10 do Villa ou mesmo na rica Pássaros exóticos de Messiaen, vai se impressionar profundamente com a Floresta Amazônica reconstituída instrumento por instrumento (ou bicho por bicho) nos dois primeiros minutos da peça de Krieger e com o sirênico (ou iárico, “de Iara”, mais propriamente falando) vocalise para voz feminina na parte central – e vai perder o fôlego com a tempestade tropical que cai no último minuto.

Canticum Naturalle não alivia pra nenhum instrumento da orquestra – que requer piano, celesta, harpa e vasta percussão. Todos os naipes têm passagens superdifíceis, de modo que não é toda sinfônica que tem preparo pra dar conta dela. Existe um abismo entre as versões aqui postadas – a da Rádio MEC, mesmo com o grande Eleazar de Carvalho, não chega perto da orquestra alemã que Krieger regeu.

De longe essa é a obra-prima do octogenário compositor catarinense e item certo no top ten do cânone sinfônico nacional. Uma partitura sui generis e inigualável.

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01. Suíte para cordas (1954)
02. Divertimento para cordas (1959)
03. Ludus Symphonicus (1965)
04. Estro Armonico (1975)
05. Canticum Naturalle (1972)

Orquestra Sinfônica da Rádio MEC, regida por Eleazar de Carvalho
Meio-soprano: não sei.

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Quem não estiver a fim de adentrar no universo musical de Edino Krieger agora, baixe somente esta gravação de Canticum Naturalle, mas uma orquestra que dá conta do recado e que teve o próprio compositor regendo. Enfim: arquivo imperdível.

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Orquestra Filarmônica do Sul da Vestfália, regida por Edino Krieger
Soprano: Evi Zeller

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Quem quiser que eu poste a famosa Sonatina do Krieger, bBasta pedir nos comentários: ela sairá na semana que vem, se Canticum Naturalle tiver boa saída, claro.

CVL

Astor Piazzolla (1921-1992) – Arthur Moreira Lima interpreta Piazzolla

Aproveitando o sucesso do projeto Um piano pela estrada, de Arthur Moreira Lima, e dos downloads do CD Tangazo, segue este álbum do famoso pianista, dedicado a Piazzolla. A capa que tá aí do lado no link da Amazon foi a da versão internacional; há outra pra edição brasileira.

Não tenho muito a falar. AML toca com o coração – pode ser brilhante para uns e contestável para outros – e Piazzolla é pra ser tocado por quem ama sua música. Então, excelente audição.

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Arthur Moreira Lima interpreta Piazzolla

Tangata Silfo y Ondina (19:22)
01. Fugata (3:17)
02. Soledad (7:40)
03. Finale (8:25)

04. Libertango (3:56)
05. Invierno Porteño (7:46)
06. Decarísimo (3:33)
07. Oblivion (3:57)
08. Tango-Preludio (2:36)
09. Onda Nueve (7:56)
10. Balada Para Un Loco (6:46)
11. Adíos nonino (9:42)

Transcrições: Laércio de Freitas

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CVL

Celina Szrvinsk & Miguel Rosselini – Piano a 4 mãos

Acabei de chegar no Recife, vindo de Buenos Aires. Como fiz escalas em São Paulo e BH ouvindo a língua dos hermanos o tempo todo e agüentando uma inhaca triste de um casal conterrâneo de Zidane, me lembrei de um excelente CD para piano a quatro mãos, que reúne justamente duas peças de compositores franceses, duas de espanhóis, duas de mineiros e duas de paulistas.

A pianista goiana Celina Szrvinsk (diz-se “Chervínsqui”) e o pianista [acho que paulista] Miguel Rosselini, radicados em Belo Horizonte, formam o duo pianístico mais conhecido do Brasil na atualidade. Neste disco – que tem um homônimo, cujo repertório inclui Schumann e Edino Krieger, mas que não o possuo – Fauré, Ravel (e sua top-minded suíte para quatro mãos Mamãe ganso), Albéniz e de Falla antecedem os paulistas Ronaldo Miranda e Aylton Escobar e os totalmente desconhecidos mineiros Calimerio Soares e Oiliam Lanna (Oiliam deve ser William em dialeto jacu).

A peça de Miranda é a bela Variações Sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros, que se vale do mesmo Rasga o coração que o Villa utilizou no Choros n° 10, e tem uma versão para quinteto de sopros que um dia será postada aqui no blog.

Mais informações sobre o CD, aqui.

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Celina Szrvinsk & Miguel Rosselini – Piano a 4 mãos

1-6. Suíte Dolly, op. 56, Gabriel Fauré
7-11. Ma mère l’oye, Maurice Ravel
12. Pavana-Capricho, op. 12, Isaac Albéniz
13-14. Duas danças espanholas, de A vida breve, Manuel de Falla
15. Seresta “opus um”, Aylton Escobar
16. Batuccata, Calimerio Soares
17. Reflexos de bruma e luzes, Oiliam Lanna
18. Variações sérias sobre um tema de Anacleto de Medeiros, Ronaldo Miranda

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CVL

Compositores estadunidenses

Este é um daqueles CDs comerciais de coletâneas, no caso destinado ao mercado norte-americano, mas nele estão as melhores gravações que possuo do Adágio de Barber, da Abertura de Candide e das peças de Copland em questão.

A Primavera apalache está na versão original, para 13 instrumentos; o Hoe-down teve uma sessão intermediária inteira suprimida (não sei por quê); o pianista na Rapsódia in Blue é o próprio Gershwin, cuja orquestra gravou a posteriori sobre o rolo com o registro do compositor (não ficou legal); e a Dança do sabre consta só pra preencher o tempo do CD.

Ao passar por NY, visite o Café do Rato Preto no Madison Square Garden.

1. Fanfarra para o homem comum – Copland
2. Abertura de Candide – Bernstein
3. Primavera apalache – Copland
4. Hoe-down, de Rodeo – Copland
5. Rapsódia in blue – Gershwin
6. Adágio para cordas – Barber
7. Dança do Sabre, do balé Gayané – Khatchaturian

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CVL

Interlúdio – Edson Cordeiro

Baixou o espírito de Bluedog em mim: “Edson Cordeiro?! Qual foi, Ciço?!”. Acho que peguei raiva musical.

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Os comentários sobre o CD deixo por conta de vocês. Se forem em boa quantidade, vou postando mais discos fortuitamente.

Levantei vôo de Buenos Aires e estou indo para o Recife.

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As Edson Cordeiro is a familiar name in Brazil, I speak some lines about him to foreign habitués of this blog as we have many music lovers worldwide who join us.

Edson is perhaps the most popular countertenor we have because he is an ecletical pop singer that sings success from many music genres, like classical music, jazz, Brazilian Popular Music from early 20th Century and Spanish music.

The CD posted here, released in 1991, is Edson’s first one – and is the best of all. It revealed all his versatility: from Janis Joplin to Bizet, including a so genial mix of Mozart’s Queen of the night aria with Rolling Stones’ Satisfaction, sung with the Brazilian died rock singer Cássia Eller. In that moment, he was a sopranist; only some years later he trained the countertenor register and recorded another CD specifically to show his “new” voice.

The lyrics of some musics in this CD are here, beside some others.

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Edson Cordeiro

1. Creole Love Call
2. La seguidille
3. Baioque – Baião
4. Naturträne
5. Sometimes I Feel Like a Motherless Child
6. A Rainha da Noite – (I Can´t Get No) Satisfaction
7. Kiss
8. A Lua é um Balão – Moon is Made of Gold
9. Mercedes Benz
10. Down em Mim
11. Voz de Mulher – Fascinação

Participação especial: Cássia Eller

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CVL

César Guerra-Peixe (1914-1993) – Principais obras sinfônicas [link atualizado 2017

Aqui um superpost “pague um e leve quatro”, para vocês aproveitarem o weekend inteiro e eu pegar mais umas duas ou três semanas de auto-licença.

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Guerra Peixe, que assinava o nome com um hífen que não havia em seus documentos oficiais, foi um violinista filho de portugueses nascido em Petrópolis que passou os primeiro anos de carreira tocando em orquestras de rádio e de bailes e fazendo arranjos para elas, no Rio de Janeiro.

Participou do Grupo Música Viva, surgido na década de 40 em torno de [Hans-Joachim] Koellreuter (pra quem ainda não ouviu falar do alemão, trata-se do introdutor do dodecafonismo no Brasil), ao lado de Cláudio Santoro, Edino Krieger e Eunice Catunda, mas – assim como Santoro e Krieger – deu tchau pro papo alienante do alemão e se deixa tomar pela leitura de Mário de Andrade.

Tanto é verdade, que Guerra-Peixe destruiu algumas obras dodecafônicas e catalogou as outras à parte, como um index.

O Guerra (alcunha para os amigos) recusou convites de Copland para morar nos EUA e de Hermann Scherchen para rumar para a Suíça, preferindo reger a orquestra da Rádio Jornal do Commércio de Pernambuco. Neste Estado iniciou suas informais pesquisas de campo a fim de se aprofundar na música folclórica, continuadas no litoral paulista na década de 50.

Sua estadia no Recife, de 1949 a 1952, reforçou sua inclinação nacionalista musical e o fez desferir ironias corrosivas a Koellreuter, antes e depois da tumultuosa querela com Camargo Guarnieri, pela Carta Aberta de 1950.

Em Pernambuco, Guerra-Peixe formou um círculo de aplicados alunos que iria render frutos anos mais tarde: Jarbas Maciel e Clóvis Pereira, expoentes da composição armorial (vide futuro post sobre a música armorial) e os únicos vivos do grupo, Sivuca (se o nome do sanfoneiro paraibano causar espanto, pois bem: ele sabia teoria musical muito bem) e Capiba, o maior compositor de frevos de Pernambuco.

Na década de 60, passa para sua fase universalista – ainda de orientação realista-comunista, mas menos marcada pelos ritmos nacionais, e com pontuais recaídas atonais – sempre ganhando a vida com arranjos para filmes e para músicos populares; é dele o famoso arranjo daquela marchinha futebolística “Noventa milhões em ação…”. Nas décadas seguintes, deu aulas de composição na Escola Villa-Lobos, no Rio, bem como para alunos particulares e na Universidade Federal de Minas Gerais (anos 80).

Como este resumo sobre Guerra-Peixe está mais para enciclopédia estudantil, procure por further information na Wikipédia.

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Aqui seguem as cinco principais obras sinfônicas do compositor, quatro das quais, de caráter programático e ligadas a símbolos da história e das artes brasileiras.

Museu da Inconfidência é a melhor, mais gravada e mais popular de todas elas – principalmente pelo segundo movimento, Cadeira de arruar – e a qual vocês devem ouvir primeiro, para ter uma boa impressão do Guerra. No próprio ano de estréia da suíte, 1972, ela foi gravada pela Sinfônica Brasileira, sob a batuta de Karabtchevsky, num vinil da Philips, junto com o Choros n° 6 do Villa e Mosaico, de Marlos Nobre.

O curto e solene movimento de abertura, que um compositor amigo meu e ex-aluno do Guerra me disse ser totalmente Paul Hindemith, reaparece no final do último movimento, um rondó que reveza um tema heróico, referente aos tempos de glória dos reinos africanos de onde saíram os escravos brasileiros, e um lamentoso jongo (ritmo precursor do samba) cantado pelo fagote, emulando um canção para distrair o trabalho e para amenizar a saudade que o escravo sentia de sua terra.

O segundo movimento resgata a atmosfera zombeteira dos escravos que caçoavam do senhor deles, sem este saber, enquanto levavam-no na cadeira de arruar (de andar pela rua) para ver as festividades profanas. O terceiro movimento, misterioso e triste, evoca o luto pelos que morreram nas manifestações de 1792, o qual se sente ao se quedar ante o panteão do museu ouropretano.

A retirada da Laguna (1971), a obra mais extensa do Guerra, foi baseada no livro de Visconde de Taunay (escritor, militar, historiador, político e também compositor, tendo apreço por Leopoldo Miguez e Carlos Gomes, e a quem meus colegas do tempo de escola chamavam de Visconde do Tonel), que por sua vez relata um dos episódios mais desastrados [e desastrosos] das tropas brasileiras na Guerra do Paraguai.

Este registro tem valor por trazer o próprio compositor como regente. Pertence a uma série lançada pela Funarte, primeiro em vinil depois em CD, na qual os autores regiam suas obras. Apesar de bem orquestrada e de bom apelo cinematográfico, a suíte é meio naïf, como a Sinfonia Brasília. É uma obra que valeria uma nova gravação, com uma grande orquestra e um bom maestro, para fazê-la render melhor.

Tributo a Portinari (1991) foi a última grande criação de Guerra-Peixe, escrita enquanto ele usufruía de uma bolsa da Fundação Vitae. A orquestração belipisciana continua pragmática e indefectível, disposta à la Beethoven mas tratada à la Copland, vinte anos depois da Retirada, do Museu e do Concertino. Podem observar que, independente da linha estética seguida, seus alunos – como Ernani Aguiar e Guilherme Bauer – a adotaram, devido sobretudo à economia (facilita a contratação de músicos).

Cordas sem divisi, madeiras aos pares, nunca com clarone ou contrafagote, sem recorrer ao piano e à harpa, raramente solicitando a celesta, usando dois ou três trompetes, quatro trompas e dois ou três trombones, dispensando por vezes à tuba, utilizando no máximo três percussionistas e reservando ostinati únicos aos tímpanos. E nunca repetindo uma seção anterior da peça sem modificá-la minimamente: A voltará como A’ (A linha), não como A.

Quatro quadros do mais célebre pintor que tivemos no Brasil serviram de base para a obra: Família de Emigrantes (na verdade, Retirantes), Espantalho, Enterro na rede e Bumba-meu-boi. Acontece que não existe somente uma tela que equivalha à cada título – pode fazer o teste no site da Fundação Portinari. E sobre cada movimento desse “Quadros de uma exposição” brasileiro (se bem que pela ausência de um tema ao estilo do Promenade, tal título cabe melhor ao “Museu”, pela sua “Entrada”) teria não sei quantas linhas a dizer; vamos adiante, que é melhor.

Quando da inauguração de Brasília, abriu-se um concurso para premiar uma sinfonia que tivesse a cidade como tema. Camargo Guarnieri tava escrevendo a dele, mas foi chamado para integrar o júri e arquivou a idéia até estrear sua Sinfonia n° 4 (1963). JK tinha encomendado a Tom e Vinícius tal sinfonia programática, mas por contratempos diversos a Sinfonia da Alvorada (1960) só foi ouvida em 1966 (e pela segunda vez vinte anos depois), uma verdadeira porcaria que vai ficar aqui mofando na minha discoteca.

Por não sei que cargas d’água, não se concedeu o primeiro lugar no referido concurso e o segundo foi dividido entre Guerra-Peixe, com a Sinfonia n° 2 (1960), Cláudio Santoro e José Guerra Vicente. É a obra mais ampla da fase nacionalista do Guerra, já adentrando na universalista; não vejo muita coisa de especial nela, exceto pelas palavras de JK no último movimento, no mais parafraseador estilo “Um retrato de Lincoln”, de Copland.

Por fim, o Concertino para violino e orquestra de câmara (1972), atendeu a um pedido de Cussy de Almeida, violinista e então maestro da Orquestra Armorial. No entanto, Cussy nunca executou a obra porque Guerra-Peixe confiou a première a Stanislaw Smilgin. O Concertino nem é a cara da Orquestra Armorial; se ele fosse escrito na fase nacionalista do Guerra, aí sim – mas o Movimento Armorial nasceu em 1970.

A presente gravação estava nos meus arquivos em mp3 que baixei da net. O LP de onde saiu o Concertino contém três peças breves para piano – as peças para violão e Espaços sonoros, o dono do disco juntou ao criar um CD caseiro. Decidi não excluir essas partituras não sinfônicas pela raridade delas.

Excelente semana.

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I. Museu da Inconfidência (Impressões de uma visitação em 1966)
1. Entrada (Andante)
2. Cadeira de arruar (Allegro moderato)
3. Panteão dos inconfidentes (Larghetto)
4. Restos de um reinado negro (Vivace)
Orquestra do 18° Festival de Música de Londrina, regida por Norton Morozowicz

 

II. A retirada da Laguna
1. Partida para os campos
2. Pantanais
3. Alegria em Nioaque
4. Laguna
5. Uma noite calma
6. Incêndio – depois, o temporal
7. Esperança no Campo das Cruzes
8. A morte do Guia Lopes
9. Regresso pacífico
10. Canção à fraternidade universal
Orquestra Sinfônica da Rádio MEC, regida por Guerra-Peixe

 

IIIa. Tributo a Portinari
1 – Família de Emigrantes
2 – Espantalho
3 – Enterro na Rede
4 – Bumba-Meu-Boi
IIIb. Sinfonia n° 2 – Brasília
5 – Allegro ma non troppo: O candango em sua terra – A caminho do Planalto – Recordações que o acompanham – Chegada alegre
5 – Presto: Trabalho
7 – Andante: Elegia para o ausente
8 – Allegretto con moto: Manhã de Domingo – Allegretto: Tarde infantil – Andante: Desce a noite – Presto: Volta ao trabalho – Moderato: Inauguração da cidade – Allegro ma non troppo: Apoteose
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Coral da OSPA, regidos por Ernani Aguiar, Narrador: João Antonio Lopes Garcia
Texto: Juscelino Kubitschek, trecho do discurso da inauguração de Brasília

Concertino para violino e orquestra de câmara
1. I. Allegro comodo
2. II. Andantino
3. III. Allegro un poco vivo
Orquestra não identificada, Regência: Guerra-Peixe, Violino: Stanislaw Smilgin

Peça p’ra dois minutos
4. Peça p’ra dois minutos
Suíte n° 2 – Nordestina
5. I. Violeiros
6. II. Caboclinhos
7. III. Pedinte
8. IV. Polca
9. V. Frevo
Miniaturas n° 4
10. Miniaturas n° 4 – Allegretto – Adágio – Presto
Sônia Maria Vieira, piano

Lúdicas
11. Lúdicas n° 5
12. Lúdicas n° 10
13. Prelúdio n° 1
14. Prelúdio n° 2
15. Prelúdio n° 5
16. Peixinhos da Guiné
Sebastião Tapajós, violão

Espaços sonoros
17. Estático
18. Dinâmico
Trompa: Francisco de Assis Silva, Piano: Sarah Higino

Está tudo junto num arquivo só: BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

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CVL
Repostado por Bisnaga

Jorge Antunes (1942) – ¡No se mata la Justicia!

Dom Óscar Arnulfo Romero Galdámez (1917-1980) tornou-se arcebispo de San Salvador, capital de El Salvador, em 1977. Nomeado por Roma por seu perfil conservador, Monsenhor Romero, como ficou conhecido, passou a conviver mais de perto com os fiéis e a observar pela ótica deles os abusos do exército salvadorenho, que temia um golpe de estado por parte de guerrilhas esquerdistas.

Com as incômodas denúncias – em suas homilias, à imprensa e a quem quer que fosse – de violação aos direitos humanos, incluindo assassinatos de clérigos, começou a receber ameaças de morte. Em 24 de março de 1980, “finalmente” (pro conforto dos militares), Monsenhor Romero tomou um tiro mortal no coração, de um milico anônimo, durante uma missa numa capela perto da Catedral de San Salvador, e virou mártir de imediato.

A notícia da morte de Monsenhor Romero atraiu milhares de pessoas a seu velório, para insatisfação do exército salvadorenho. Os militares dispersaram a multidão ao custo de 42 outras mortes. Dali, deflagrou-se oficialmente a Guerra Civil de El Salvador, que durou até 1992. Até hoje, o crime não foi solucionado, graças às oligarquias que ainda comandam o país, mas a peregrinação ao túmulo de Monsenhor Romero desde então tem sido a maior da América Central.

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Jorge Antunes – carioca radicado em Brasília, ativista de esquerda, autor do hino do PSol e de um Hino Nacional Alternativo, professor da UNB e um dos mais representativos (e polêmicos) expoentes da vanguarda brasileira – ganhou um prêmio da Sociedade de Música Contemporânea Israelense e viajou para a Terra Santa em 1980, onde passou quatro meses (em Jerusalém e num kibutz), desenvolvendo os rascunhos do tributo que estava concebendo ao arcebispo assassinado.

A referência à cor violeta advém da teoria cromofonética de Jorge Antunes, que relaciona uma cor do espectro solar a cada uma das notas diatônicas. De acordo com essa teoria o violeta equivale à nota mi, que predomina também em Ritual Violeta.

A Elegia violeta para Monsenhor Romero é uma das peças mais impactantes da música clássica nacional. Esta gravação péssima, que me parece ser a única, e o coral não tão bem ensaiado não reduzem a força da obra, desde a simulação do peso do tiro mortal em Monsenhor Romero, no acorde inicial do piano, e os gritos de desespero simulado nas cordas, até a última frase que o coral canta (a do título do CD).

“Não se mata a Justiça!” foi a resposta que o arcebispo deu a um repórter da TV Globo que o entrevistou em San Salvador, o qual perguntou-lhe se não tinha medo de morrer devido às denúncias contundentes que fazia.

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Falo en passant somente da obra mais importante – e, de longe, a mais atrativa – desse CD de Jorge Antunes; para saber sobre as demais, dêem uma olhada no encarte. Muito engenhosa, para se mencionar, é a Cromorfonética, que você pode confundir com uma obra eletroacústica, mas, com uma segunda ouvida, perceberá que é para coro misto.

Estou aqui em Brasília, tentando achar o Café do Rato Preto através do endereço que meu gerente me deu, já que nunca estive na capital federal:

Quadra SHIS Trecho 50 Lote 200

Acontece que o Google Earth acusou “galáxia não localizada” e não sei o que fazer no momento. Acho que daqui mesmo do aeroporto JK vou-me embora pra… Pra não sei onde… Talvez Santa Catarina, talvez Recife, talvez Rio, talvez Buenos Aires…

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1. Elegia violeta para Monsenhor Romero (1980), para dois solistas infantis, coro infantil, piano obligato e orquestra de câmara

Coro Infantil do Kibutz Hatzerim e do Conservatório de Música de Beer-Sheva
Solistas: Hagit Shapira e Ruth Halifa
Piano obligato: Mariuga Lisbôa Antunes
The Israel Sinfonietta
Regente: Jorge Antunes

2. Cromorfonética (1969), para coro a capella

Coro Pro-Arte Ensemble Graz
Regente: Karl Emst Hofmann

3. Proudhonia (1972), para coro misto e fita magnética

Coro: Les Douze Solistes des Choeurs de l’ORTF
Regente: Marcel Couraud
Gravação: 16/04/1973, no Festival de La Rochelle 1973 – Rencontres Internationales d’Art Contemporain Salle Oratoire, La Rochelle, France

Rimbaudiannisia MCMXCV (1994), para jovens cantores solistas, coro infanto-juvenil, orquestra de câmara, luzes e máscaras.
4. Rimbaudiannisia MCMXCV – I. Expiation pour Cumiqoh
5. Rimbaudiannisia MCMXCV – II. Voyelles
6. Rimbaudiannisia MCMXCV – III. Ditirambus

Choeur La Maîtrise de Radio France  Orchestre Philharmonique de Radio France  Regente: Arturo Tamayo

7. Ritual violeta (1999), para saxofone tenor e sons eletrônicos

Sax: Daniel Kientzy

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CVL

Padre Penalva (1924-2002) – Ágape II e Drummondianas

Caminhando aqui em Curitiba, soube através de um amigo que, bem pertinho da Catedral e da filial do Café do Rato Preto, havia um sebo superlegal. Lá, achei essa raridade do Padre [José de Almeida] Penalva, natural de Campinas, mas radicado na capital paranaense. Pensei que, apesar de contemporâneo, fosse escutar algo à la Padre José Maurício, já que ambos foram sacerdotes (são aquelas imagens que formamos para preencher nosso vazio de informações e que ao virem à realidade se mostram equivocadas).

Que surpresa ao ouvir o Ágape II, principalmente pelo turbulento movimento final e pelo recitante, que intercala orações em grego inteligível ao texto cantado em latim. Depois vi que no encarte do CD que o compositor dizia que essa era a peça que melhor o retratava. Lendo-se as palavras do próprio Padre Penalva (no programa do I Festival Penalva, em 2003), percebe-se que ele não tinha a menor cara de conservador, pelo menos na estética musical:

“Passei pela Vanguarda. Vivi e me decidi por ela. Depois, me apaixonei pela Pós-Vanguarda, que significou uma revolução contra o exclusivismo da Vanguarda. Hoje estamos num paraíso: cada um pode compor da maneira que quiser: pode-se escrever um acorde perfeito ao lado de um cluster, empregar melodias folclóricas dentro de um tecido atonal! Durante muito tempo escrevi música não figurativa que nem eu mesmo entendia, uma música hermética. Hoje prefiro uma música que comunique, que atinja. Acho que a música tem que passar emoção. Eu mesmo sou assim: eu preciso da emoção, eu sinto emoção! Sempre usei todos os meios novos não por eles mesmos, mas subjugando-os à idéia, ao texto, à mensagem. As novas técnicas servem para aumentar a palheta, os recursos usados em direção a este objetivo maior que é a idéia”.
(José Penalva, 1993)

Padre Penalva pertenceu a uma linha de clérigos brasileiros ligados à composição erudita e que foram também membros da Academia Brasileira de Música, linha que inclui o pernambucano Padre Jaime Diniz (antecessor de Penalva na Cadeira 27), o Frei Pedro Sinzig, austríaco naturalizado brasileiro, e o Padre João Batista Lehmann, alemão (sucessor de Sinzig na Cadeira 05).

Por sinal, vocês sabiam da existência da ABM? Pois é, ela (fundada por meu pai em 1945) nunca cogitou a admissão de Roberto Marinho em suas fileiras, daí a falta de mídia da qual não sofre sua correlata na área das Letras. Por sinal, apesar de ela não ser de música clássica ou popular, nominalmente, só entram maestros, compositores, intérpretes e musicólogos de extensa trajetória, ou seja, é preciso no mínimo ser musicalmente alfabetizado. Uma vez perdida, entra um crítico (Luiz Paulo Horta, recentemente admitido na ABL, é membro da ABM há anos e passou a ser a primeira pessoa a integrar ambas as instituições).

As seis Drummondianas, a outra obra original de Penalva no CD, são belas canções para coro feminino com piano ou coro misto à capela. Dentre as cantadas por coro misto, Sub usa um recurso de estilo ouvido de Cromorfonética de Jorge Antunes, chiados diversos imitando um fundo acusmático sobre o qual pairam as vozes principais, e Sinal de apito, peça de música-teatro, segue a trilha das peças corais de Gilberto Mendes.

No mais, as outras peças deste CD do competente Madrigal Vocale não são muito inspiradas. Le regard de Dieu é uma adaptação coral de “um tema do terceiro movimento do segundo concerto para piano” de Scriabin com texto de Teilhard de Chardin. O resto são arranjos de canções folclóricas e populares – na Mini-suíte Arlequim, uma releitura de três clássicos da MPB, tem até uma descaracterização total de Menina, de Paulinho Nogueira. Dá pra passar sem essa.

O texto abaixo também foi extraído do programa do I Festival Penalva.

“José de Almeida Penalva nasceu em Campinas, São Paulo, a 15 de maio de 1924 e faleceu em Curitiba, Paraná, a 20 de outubro de 2002. Sacerdote, compositor, professor, musicólogo, escritor, foi, para todos os que tivemos o privilégio de conhecê-lo, um exemplo de vitalidade e vigor na sua busca por abrir novos caminhos para os seus contemporâneos em direção a uma música sem fronteiras ou preconceitos.

“Na sua grandeza tanto na música quanto na sua humanidade, deixou-nos um modelo de seriedade, sinceridade e simplicidade. Foi um dos mais importantes compositores brasileiros da segunda metade do século XX. Sua música apresenta uma singularidade especial, principalmente quanto à exploração das linguagens (antiga e nova, sacra e secular) e à densidade e à intensidade expressivas.

“Construiu um discurso próprio e inserido no seu tempo, em que comenta e compreende a realidade humana no seu lirismo, na sua leveza e, ao mesmo tempo, no seu drama e na sua busca pela verdade. Autor de uma obra extremamente expressiva, compôs desde música de câmara e peças solísticas para piano até obras orquestrais e corais.

“Usa os mais diversos idiomas contemporâneos, como a música tonal orgânica e inorgânica, dodecafônica, atonal, tonal/modal livre e matérica, que combina a elementos da música brasileira e de épocas passadas, como o canto gregoriano, a polifonia renascentista, o romantismo de Brahms, a música de Schönberg e Webern. Sua produção mais recente integra, ainda, elementos da música de Ligeti, Penderecki e, principalmente, o ecletismo de Schnittke.

Dentro de um discurso que o próprio Penalva classifica de pósvanguardista, faz uma releitura das formas e das linguagens do passado modificando-as, metamorfoseando-as e combinando-as com técnicas da vanguarda e da pós-vanguarda de maneira livre, individual e atual. Sua obra demonstra, de um lado, um compositor preocupado com o lado reflexivo e filosófico da criação; de outro, um músico de humor refinado e de profunda humanidade”.

Elisabeth Seraphim Prosser
Comissão Organizadora do I Festival Penalva

Ágape II

01. Metanóia
02. Doxa
03. Páter
04. Eirene

05. Le regard de Dieu
Scriábin – Transcrição para coro de Padre Penalva – Texto de T. de Chardin

Drummondianas

06. Hotel Toffolo
07. A qualquer tempo
08. A mulinha
09. Sub
10. Sinal de apito
11. Quero me casar

Arranjos de Padre Penalva

12. Casinha pequenina (Tradicional)
13. Cantiga por Luciana (Paulo Tapajós e Edmundo Souto)
14. Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro)

15. Mini-suíte Mania das pessoas

16. Mini-suíte Arlequim

Madrigal Vocale
Regência: Bruno Spadoni

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