Bizet (1838-1875): Carmen (Highlights) – Jessye Norman – Orchestre National de France & Seiji Ozawa ֍

Georges Bizet

Carmen (Highlights)

Jessye Norman

Neil Schicoff

Simon Estes

ONF & Seiji Ozawa

Georges Bizet morreu sem ver o sucesso de sua obra prima – Carmen – uma ópera que é um marco na história da música. Apesar de ter sido precoce e ter tido seu talento musical reconhecido ainda criança, Georges Bizet demorou toda sua (curta) vida para conquistar a oportunidade de compor sua grande ópera. Ele deixou também as óperas Le pêcheurs de perle (1863), que tem o exotismo do oriente, e La Jolie fille de Perth (1867), que tem as características da opéra-comique e um libreto para lá de ruim.


Opéra-Comique é um teatro de ópera em Paris que abrigava um tipo de ópera leve, com números musicais bem recortados, com diálogos declamados, oriundas de espetáculos que eram apresentados em feiras. Este gênero operístico recebeu assim este nome. Seus principais compositores foram Gluck, Boieldieu, Auber, Grétry. La fille du regimento, de Gaetano Donizetti é um típico exemplo.


As críticas recebidas nesta última ópera deram um último empurrão e ele se propôs a abandonar este estilo que chamou ‘escola de flonflons, trilos e falsidades’.

Em 1869 casou-se com Geneviève Halévy, filha de Jacques Fromental Halévy, professor e compositor de ópera (compôs La juive). Neste período Bizet também andou ocupado com as coisas do mundo. Nasceu seu filho e ele serviu na Guarda Nacional, durante o cerco de Paris, na guerra com a Prússia.

Em 1872 ele compôs a música incidental para a peça L’Arlesienne e compôs a ópera de um ato, Djamileh, baseada em um conto oriental. A música incidental é ótima e marca sua evolução. A ópera não fez grande sucesso, mas a música é mais do que interessante e lhe valeu um contrato com o Opéra-Comique para uma ópera com libreto à sua escolha. Bizet se encantou com um conto de Prosper Mérimée sobre a Carmencita. Mérimée era ele mesmo um digno personagem de romance. Amores e duelos, viagem à Espanha para escrever sobre obras de museus para o jornal do pai, em Paris. Ele preferiu mais o ambiente fora dos museus e conviveu com as pessoas comuns. Sua história sobre Carmen envolve ciganas, soldados, contrabandistas, um toureiro, muita paixão, ciúmes e uma tragédia.

Bizet arranjou que os libretistas fossem Henri Meilhac e Ludovic Halévy (primo de sua mulher) que deram uma abrandada na história original, criaram Micaela, uma mocinha ingênua, que vem em busca de Don José, e cuja inocência faz contraponto à Carmen. Apesar de tudo, a estreia não foi um sucesso. A audiência esperava mais uma opéra-comique e não estava preparada para tantas novidades. Pessoas comuns, uma mulher empoderada escolhendo quem amaria, muito além dos típicos enredos de então. Além disso, Carmen segue a tradição dos diálogos falados entre os números musicais, mas à medida que a trama se aprofunda, os personagens vão se aproximando mais e mais da tragédia final. Assim, Carmen é precursora do verismo, estilo realístico que estava por surgir, como nas óperas Cavalleria rusticana (Mascagni – 1890), Pagliacci (Leoncavallo – 1892), Andrea Chénier (Giordano 1896) e a sublime Tosca (Puccini – 1890).

Um dia antes de morrer, Bizet assinou um contrato para que sua ópera fosse apresentada em Viena. Essa apresentação tornou Carmen conhecida no mundo todo e reconhecida finalmente também em Paris como uma obra prima.

Carmen é uma cigana que trabalha com suas amigas (Frasquita e Mercedes) em uma fábrica de cigarros. Don José é um cabo da Companhia Dragões de Alcalá e acaba seduzido (oh…) pela cigana. Deixa-a fugir (ela vive se metendo em confusões) e vai preso por isso. Micaela é uma jovem que mora na vila natal de Don José e vem trazer-lhe uma carta de sua mãezinha (dele, Don José).

Ao sair da prisão, Don José vai à taberna de Lillas Pastia atrás de Carmen (esse rapaz realmente não tem juízo). É claro, atrás dela também estão o toureiro (toreador…) e o Tenente da Guarda, um tal de Zuninga. Ia-me esquecendo, na taberna também estão os contrabandistas Dancairo e Remendado, que com as ciganas planejam seus atos ilícitos. Carmen espera atrair Don José para que se junte a eles. Uma desavença (ah, Carmen…) entre Zuninga e Don José o coloca definitivamente no mau caminho. Esse Don José está realmente encrencado.

Mais um ato, agora nas montanhas, ambiente dos contrabandistas, mas todos se encontram novamente – as ciganas (que estão lendo a sorte nas cartas… a sina de Carmen é nada boa), os contrabandistas, Don José. Aparece o toureiro, ciúme atiça Don José, mas tem a turma do ‘deixa disso’ e aparece Micaela, que avisa Don José da eminente morte de sua mãezinha. Este vai embora, mas avisa Carmen que voltará.

No último ato descobrimos que Carmen tornou-se amante de Escamilho, que vai enfim trabalhar… pobres touros. A última cena é o encontro dos ex-amantes, Carmen e Don José, que termina de maneira trágica.

Nesta seleção temos uma ótima impressão de tudo: a abertura é uma prova dos muitos dons de Bizet. Você ouvirá um microcosmo da ópera (1). Em seguida temos a Habanera (2), na qual Carmen faz sua declaração de mulher livre e que o amor é um pássaro rebelde! Mais adiante, ela também afirma que é um menino cigano que nunca conheceu lei… Ao final da ária, Carmen lança uma flor para Don José.

No próximo número, Carmen agora seduz definitivamente (como se precisasse) Don José, falando da taberna de Lillas Pastia (3).

Agora as ciganas cantam e dançam na taberna (4). Depois temos a ária do toureador, Escamilho nos conta tudo sobre a dura e saborosa vida do mata-touros (5).

Temos também um número com várias pessoas cantando (6), as ciganas, os contrabandistas…

Don José também é brindado com uma das mais lindas árias da ópera, a Ária da Flor, na qual ele se mostra desesperadamente apaixonado por Carmen (7). Na sequência (8), Carmen usa essa declaração para conseguir que ele se una aos contrabandistas (tsc, tsc, tsc).

Um momento que gosto em particular é quando a ciganas vêm a sorte nas cartas. A insistência da morte aparecendo para Carmen faz contraponto com a frivolidade das outras sinas: amor e fortuna (9).

Antes do número final, temos uma linda ária de Micaela, a meiga jovenzinha que vem em busca de Don José. Essa personagem foi introduzida na ópera pelos libretistas e não é criação do conto original de Mérimée (10).

A última faixa mostra como Bizet se distanciou do gênero leve e realmente inaugura uma nova maneira de compor óperas. São dez minutos que começa com o famoso tema do toureiro, interrompido por um trágico anúncio do que se seguirá. As vozes são levadas aos seus extremos (11). Você precisa ouvir isso tudo…

Georges Bizet (1838 – 1875)

Carmen (Highlights)

  1. Abertura (Prelude)
  2. “Mais nous ne voyons pas la Carmencita” – “L’amour est un oiseau rebelle” (Habanera) – Carmen
  3. “Près des remparts de Séville…Tais-toi” – Carmen
  4. “Les tringles des sistres tintaient” – Carmen, Mercedes e Frasquita
  5. “Votre toast, je peux vous le rendre” – “Toréador, en garde” – Escamilho
  6. “Nous avons en tête une affaire!” – Vários
  7. “La fleur que tu m’avais jetée” – Don José
  8. “Non, tu ne m’aimes pas!” – Carmen e Don José
  9. “Mêlons! Coupons!” – “En vain, pour éviter les répon- ses amères” – Carmen, Mercedes e Frasquita
  10. “Je dis que rien ne m’épouvante” – Micaela
  11. “C’est toi!” “C’est-moi!” – Carmen e Don José

Jessye Norman (Carmen)
Mirella Freni (Micaëla)
Neil Shicoff (Don José)
Simon Estes (Escamillo)
Ghylaine Raphanel (Frasquita)
Jean Rigby (Mercédès)
Gérard Garino (Le Remendado)
François Le Roux (Le Dancaïre)
Choeurs de Radio France
Orchestre National de France
Seiji Ozawa

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MP3 | 320 KBPS | 138 MB

Jessye Norman

Aproveite!

René Denon

PS: Se você quiser aprofundar sua experiência, poderá ouvir a gravação integral acessando essa postagem aqui:

In memoriam Jessye Norman (1945-2019) – Georges Bizet (1838-1875) – “Carmen”, ópera em quatro atos

2 comments / Add your comment below

  1. Interessante texto, René Denon, com notável síntese da ópera. Além de curiosas e comoventes informações, como o contrato realizado à véspera da morte de Bizet, que consagraria a ópera, em Viena… E ser precursora do verismo. Cumprimentamos também o Vassily, pela bela homenagem à Jessye. Abraços!

    1. Olá, Alex!
      Obrigado pela mensagem!
      Admiro imenso suas postagens sobre as óperas de Verdi, especialmente agora que as mais conhecidas estão surgindo.
      Aqui a ideia atrair aquelas pessoas que sentem alguma atração pelas óperas, mas não sabem onde começar…
      Forte abraço do
      René

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