Ludwig van Beethoven (1770-1827) – As 32 Sonatas para piano – John O’Conor (8/9)

519ZGuJ2TBLChegamos ao penúltimo CD da série e à colossal, mastodôntica, ___________ [insira aqui seu adjetivo superlativo favorito] Sonata Op. 106, vulgo “Hammerklavier”.

Como a peça dispensa apresentações, vou incorporar o espírito de alguém que nada mais tem a fazer além de chover no molhado. Escolho o de Anton Schindler, o factotum de Beethoven, notório por muito atochar em sua biografia do compositor e adulterar os cadernos de conversação que o Mestre, completamente surdo, usava para se comunicar, e que serviram de base para pesquisas biográficas. Já imbuído do espírito do famoso trouxão, faço aqui algumas perguntas bestas:

– O título “Sonata für das Hammerklavier” (“sonata para o piano de martelos”) explicita o instrumento preferido do compositor numa época em que o pianoforte, o clavicórdio e o cravo eram usados para tocar as sonatas de Beethoven. Se o título também foi usado para a Sonata Op. 101, por que o apelido colou somente na Op. 106?

– Se já na Sonata Op. 90 Beethoven começou a preferir indicar o andamento e as indicações de expressão em seu alemão nativo a fazê-lo no italiano de praxe, por que na mamútica, transcendental “Hammerklavier” ele voltou a recorrer à língua do Petrarca?

– Quando descreveu a fuga final como “a tre voci, con alcune licenze” (“a três vozes, com algumas licenças”), estaria Ludwig imaginando que alguém realmente se importaria com as liberdades que tomou em relação às estritas regras da forma, em vez de se chocar, como até hoje nos chocamos, com esta mais difícil e complexa de todas as fugas para teclado?

– Será possível algum dia escutar alguma interpretação plenamente satisfatória desta obra enorme e horrendamente difícil? E, se ela já existe, qual é? (para mim, a versão de Pollini era a preferida até escutar aquela do MAGO Sokolov, que algum dia postarei aqui)

– Vocês têm interesse de escutar uma versão da “Hammerklavier” para orquestra? Ou vão me crucificar de cabeça para baixo por isso?

Cartas para a redação.

LUDWIG VAN BEETHOVEN (1770-1827)

SONATAS PARA PIANO, VOL. VIII – JOHN O’CONOR

Sonata no. 27 em Mi maior, Op. 90

01 – Mit Lebhaftigkeit und durchaus mit Empfindung und Ausdruck [“com vivacidade e ao longo [de todo o movimento] com sentimento e expressão”]
02 – Nicht zu geschwind und sehr singbar vorgetragen [“não tão rápido e executado de maneira cantável”]

Sonata no. 28 em Lá maior, Op. 101

03 – Etwas lebhaft und mit der innigsten Empfindung [“algo vivaz, com o mais profundo sentimento”]
04 – Lebhaft, marschmäßig [“vivo, como marcha”]
05 – Langsam und sehnsuchtsvoll [“lento e saudoso”] – Geschwind, doch nicht zu sehr und mit Entschlossenheit [“rápido, mas não demais, e com muita determinação”]

Sonata no. 29 em Si bemol maior, Op. 106, “Hammerklavier”

06 – Allegro
07 – Scherzo: Assai Vivace
08 – Adagio sostenuto
09 – Largo: allegro risoluto – Fuga a tre voci, con alcune licenze

John O’Conor, piano

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Vassily Genrikhovich

1 comment / Add your comment below

  1. Eu diria, marteliana, ou melhor, titânica… se bem que titânica é a primeira sinfonia do Mahler. Na verdade, essa sonata leva a forma da sonata a alturas nunca antes vistas. Acho o arco do terceiro movimento, adagio sostenuto, uma obra divina, especialmente se ouvida na gravação do Gilels, para a DG. Lembro-me do dia em que comprei o CD, há muitos anos, na época em que foi lançado.
    Mas, quanto a uma versão orquestral da Hammerklavier, qual foi mesmo o martírio de São Paulo? Eu provavelmente passarei ao largo. Mas, há quem goste, e por que não? Se bem que não consegui chegar ao fim do disco do Uri Cane reinterpretando as Variações Diabelli. E olha que ele está acompanhado do Concerto Köln… os caras são sérios e competentes.
    Abraços e mais uma vez obrigado pela oportunidade de ouvir o ciclo do O’Connor, muito bom mesmo…. e é isso o que mais interessa.
    Mário

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