Claude Debussy (1862-1918): Prelúdios e outras peças, com Nelson Freire #DEBUSSY160

160 anos de Debussy

Claude-Achille Debussy (Saint-Germain-en-Laye, 22 de Agosto de 1862 — Paris, 25 de Março de 1918)

Vi que algumas pessoas pediram este CD, mesmo sujeitas a levar um esporro como resposta. Recebi o disco recentemente e ele estava lacrado até agora – nem quis saber de escutá-lo enquanto o copiava via Windows Media Player porque tinha/tenho/terei realmente mais o que fazer. Muito menos gosto de postar CDs quando estes são recém-lançados porque acho isso o cúmulo do pão-durismo por parte do ouvinte/admirador, mas decidi ser caridoso. Espero que tenha valido a pena meu esforço e que o número de downloads exploda.
CVL (2009)

Lucia Branco, a principal professora de piano de Nelson Freire em sua infância, foi quem lhe apresentou Debussy, e ela lhe alertava sobre o risco de tocar lento demais. Mais tarde, Debussy criaria uma grande proximidade com Guiomar Novaes, grande intérprete de Debussy – aliás o compositor ouviu e elogiou a jovem pianista recém-chegada em Paris. Guiomar também tinha uma relação com a música de Debussy em que os andamentos não pendiam para o lento: às vezes o colorido das escalas de tons inteiros pode estimular uma abordagem mais relaxada e calma, mas ao mesmo tempo é preciso manter o fluxo das coisas andando, ao menos na abordagem de Debussy por Freire e por esses dois pianistas que ele amava apaixonadamente: Guiomar Novaes e Walter Gieseking.

Nelson Freire não era o tipo de músico que grava integrais. (Disse ele para o IPB: “não gosto de fazer sempre a mesma coisa, me aborrece… Por isso acho também que recital de piano deve ser uma coisa variada, se não é muito entediante chegar lá e ouvir o mesmo estilo o tempo todo.”) O livro I de Prelúdios de Debussy, os Noturnos e Prelúdios de Chopin, a Prole do Bebê de Villa-Lobos  estão entre os poucos ciclos que ele abordou por inteiro. Ele tinha um vínculo profundo com essas obras, que o acompanharam por décadas, muitas vezes como bis nos recitais, assim como Poissons d’or, das Imagens. Neste álbum gravado por Nelson aos 63 anos, ele também toca o ciclo de inspiração infantil Children’s Corner, que o René postou recentemente na orquestração de André Caplet, amigo e colaborador de Debussy.
Pleyel (2022)

Claude Achille Debussy (1862-1918), Música para Piano

1. Préludes – Book 1 – 1. Danseuses de Delphes (Lent et grave)
2. Préludes – Book 1 – 2. Voiles (Modéré)
3. Préludes – Book 1 – 3. Le vent dans la plaine (Animé)
4. Préludes – Book 1 – 4. Les sons et les parfums tournent dans l’air du soir (Modéré)
5. Préludes – Book 1 – 5. Les collines d’Anacapri (Très modéré)
6. Préludes – Book 1 – 6. Des pas sur la neige (Triste et lent)
7. Préludes – Book 1 – 7. Ce qu’a vu le vent d’ouest (Animé et tumultueux)
8. Préludes – Book 1 – 8. La fille aux cheveux de lin (Très calme et doucement expressif)
9. Préludes – Book 1 – 9. La sérénade interrompue (Modérément animé)
10. Préludes – Book 1 – 10. La cathédrale engloutie (Profondément calme)
11. Préludes – Book 1 – 11. La danse de Puck (Capricieux et léger)
12. Préludes – Book 1 – 12. Minstrels (Modéré)
13. D’un cahier d’esquisses
14. Children’s Corner – 1. Doctor Gradus Ad Parnassum
15. Children’s Corner – 2. Jimbo’s Lullaby
16. Children’s Corner – 3. Serenade for the Doll
17. Children’s Corner – 4. The Snow is Dancing
18. Children’s Corner – 5. The Little Shepherd
19. Children’s Corner – 6. Golliwogg’s Cakewalk
20. Suite Bergamasque – 3. Clair de Lune

Nelson Freire, piano
Recording: Hamburg, June 11-15 2008

BAIXE AQUI – DOWNLOAD HERE

Debussy é muito feio, vamos de Freire então.
Mais uma foto de mar ilustrando postagem de Debussy

CVL (2009) e Pleyel (2022)

51 comments / Add your comment below

  1. Quinta-Feira, 26 de Março de 2009 | Versão Impressa

    Nelson recria o gênio de Debussy

    Em fase mágica de sua carreira, pianista faz registro de exceção do compositor

    João Marcos Coelho

    Os pianistas costumam chatear-se quando se diz isso, mas há certas obras que deveriam ser proibidas para menores de 50 anos. O Cravo Bem Temperado, talvez Mozart e as últimas sonatas de Beethoven estão entre elas. E, com certeza, a produção pianística de Claude Debussy (1862-1918). A razão é simples: não basta martelar as notas corretamente. A partitura, neste caso, é mero guia de navegação para águas profundas da criação artística. É esta a razão que faz do mais recente CD do pianista Nelson Freire um registro de exceção. Aos 64 anos, ocupa lugar especialíssimo entre os grandes do mundo em seu instrumento e vive um momento mágico em sua longa carreira. E, sobretudo, desfruta da plena forma física e uma total maturidade artística.

    Não é de hoje a intimidade de Freire com Debussy, mas nesta gravação essa afinidade sobressai de modo mais notável. O compositor, que abominava o caráter percussivo do piano (“é preciso esquecer que o piano tem martelos”), não só equalizou melodia e harmonia, mas entronizou esta última como núcleo preferencial de sua escrita para o instrumento. E de modo libertário. Sua música recusa o melodismo fácil e explora padrões de ressonância. Não à toa, tinha um piano Blüthner com uma corda extra acima das convencionais, permitindo sonoridade mais rica.

    Nelson, em estado de graça, recria a impressão que o próprio Claude Debussy provocou em Alfredo Casella, que tocou com ele e o viu interpretando estes prelúdios do Livro I que o pianista brasileiro acaba de gravar. Casella dizia que parecia que Debussy tocava diretamente nas cordas do instrumento, sem nenhum mecanismo intermediário. “O efeito era um milagre de poesia.” É o que deslumbra, por exemplo, no modo como Nelson toca Voiles, o prelúdio nº 2.

    Já se repetiu à exaustão que o piano de Debussy é feito de meias-tintas, com refinadas gradações entre o pianíssimo e o forte com dois ff, no máximo. O próprio compositor preferia os pianos de armário, por sua potência sonora menor, e, quando tocava num de cauda, não abria a tampa. “É necessário afogar os sons”, recomendava. Este é outro mérito de Nelson: o balanço relativo das dinâmicas, a ênfase às vezes numa nota só dentro do acorde, o uso exato dos pedais. Ele praticamente realiza, para espanto de nossos ouvidos, a utopia da superação do mecanismo do piano, como queria Debussy. E isso, convenhamos, não é pouco. Ao realizar tal façanha, Nelson Freire posta-se na linha direta de sucessão de debussystas ilustres como Walter Gieseking e Arturo Benedetti Michelangeli.

    Alfred Cortot, o célebre pianista francês, tocou alguns desses prelúdios para Chou-Chou, a filha querida de Debussy, um ano após sua morte, em 1919. Perguntou-lhe em seguida se era assim que seu pai os tocava. “Sim, mas papa ouvia mais…” Numa palavra, como Nelson sabe ouvir bem essa música de perfume tão específico e a recria com o seu recatado esplendor sonoro. O Livro I dos Prelúdios, de 1909, sucedeu a composição da deliciosa e bem-humorada suíte Children?s Corner, dedicada no ano anterior a Chou-Chou. Debussy desenhou a capa da primeira edição e pediu à filha “ternas desculpas pelo que vai se seguir”.

    Não precisava. Esse homem irônico, ríspido e mal-humorado, mostra aqui que também sabia rir. Como, aliás, um amigo parisiense disse de seu contemporâneo Erik Satie, “desconfie das pessoas que jamais riem – elas não são sérias”. Essas seis peças interessantíssimas estão entre as criações mais conhecidas do compositor. A impecável execução de Nelson jamais resvala para a banalidade. Desde o Doctor Gradus ad Parnassum, ironizando Clementi, até a célebre Golliwogg?s Cake-Walk, em que ele encaixou uma caricatura dos primeiros compassos de Tristão e Isolda, de Wagner, seu desafeto maior.

    É incrível como o emprego hipnótico do intervalo dissonante de segunda não machuca os ouvidos, só induz ao torpor. Porém, o mais interessante talvez sejam os paralelos entre ao menos dois prelúdios e duas peças de Children?s Corner. Debussy usa appogiaturas e staccatos típicos de violão tanto na La Sérénade Interrompue dos Prelúdios quando na Serenade for the Doll. Por outro lado, a sensação de imobilidade de Des Pas Sur la Neige reaparece em The Snow Is Dancing, apesar das semicolcheias nas mãos alternadas. Duas peças isoladas completam o CD, solitário lançamento clássico nacional de 2009: D?Un Cahier d?Esquisses, de 1903, feita de acordes livremente encadeados; e o hit Clair de Lune, da Suíte Bergamasque, de 1890, uma vinheta que condensa suas melhores qualidades. São pouco mais de 60 minutos de uma gravação excepcional, em que Nelson Freire recria o segredo do gênio de Debussy.

  2. Aproveitando que o SAC funcionou tão rapidamente, gostaria de pedir qualquer coisa da dupla Liszt-Horowitz (de preferência a Sonata em Si menor, se não for pedir muito) que inexplicavelmente (criminosomente até) ainda não apareceu neste blog.

  3. Já diz um velho ditado: “A gente dá o pé e aí querem a mão”…

    Quem pedir algo novamente (em algum post meu) nos próximos dois meses, eu deleto o comentário, dependendo de meu humor.

  4. CVL, o PQP há cerca de um ano e meio atrás ficou um pouco “azedo” e chegou a prometer a postagem de um cd do Amado Batista! Disse ainda que a Clara postaria um do Roberto Leal, mas nunca chegou a tanto. Comentei então que eles postasse a Anne Sofie cantando hits do ABBA.
    Luciano

  5. CVL, o PQP há cerca de um ano e meio atrás ficou um pouco “azedo” e chegou a prometer a postagem de um cd do Amado Batista! Disse ainda que a Clara postaria um do Roberto Leal, mas nunca chegou a tanto. Comentei então que eles postassem a Anne Sofie cantando hits do ABBA.
    Luciano

  6. Ah, gente, que besteira! Eu adoro o ABBA!
    Mamma mia, CVL, here I go again: deliciosa postagem! É de se cantar: how can I forget you? Mamma mia…

  7. Estava pesquisando no blog e vi que vocês só postaram a Sinfonia nº 09 “Novo Mundo” do Dvorak. E as demais? Gostaria que postassem também.

    Dvorak é um compositor maravilhoso!!!!

  8. Grande Sertão (Veredas?), muito obrigado pela postagem.
    A música de Debussy é uma das maiores possibilidades de perfeição do artístico. É como se a música carregasse a vida, como se diluísse e absorvesse o mundo, do qual somos meros adereços. Pra mim Bach, Beethoven e Debussy são os maiores. Não entro no mérito da contribuição com novas visões musicais, mas da música sentida. Dentre os três, Debussy, para mim é ainda mais especial.

  9. Agradeço a todos vocês pela acolhida à postagem. O número de downloads foi animador até aqui.

    Vamos ver de forma podemos intensificar a postagens de compositores impressionistas.

  10. Agora a pouco assisti o Nelson Freire na Rede Cultura tocando estes Prelúdios do Debussy (e de ‘bônus’, Villa-Lobos [‘Lenda do Caboclo’ e ‘Dança do Índio Branco’]). Nem preciso dizer mais nada… Bravo!

  11. “La Cathédrale Engloutie” superou todas as expectativas. O Nelson cria uma imagem tão definida em todos os prelúdios e ainda assim parece estar tocando com tanta naturalidade, como se ele tivesse presenciado cada uma das “cenas” sugeridas pelos Prelúdios, de simples pegadas na neve (Prelúdio no. 6) à dança de um ser mitológico (Prelúdio no. 11).

    Sem querer parecer incoveniente, gostaria de pedir mais postagens do Nelson Freire e de outros pianistas brasileiros, principalmente Arnaldo Cohen (os CDs dele tocando Liszt são superiores).

  12. Ontem a noite encontrei o site e fiz o download deste disco.

    Foi uma ótima noite, em que a fantasia e o brilho da vida voltou apareceu com calor em uma gelada noite de inverno sulino!

    Muito obrigado por posta-lo!

  13. Querido cvl…o link parece estar corrompido, pois demorademora até aparecer página não disponivel…estranho que não tenham outros falando o mesmo…será que o sacs explodiu? hehe. Tô tentando desde ontem a noite! veja o que pode ser, please…e thanks!

  14. Meu querido, sendo conciso: limpei a memória, mas continuo não conseguindo baixar este do Freire….o estranho é que consegui baixar sem problemas o do Alfred Schnittke…vc poderia fazer a gentileza de tentar baixar aí pra me confirmar…ou desmentir?
    Grato.

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